quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Hoje é dia do sagrado jejum de Sri Putrada Ekadasi dia 13/01/2022. Jejum de grãos.

 

  Yudhishthira Maharaja disse:  "ó Senhor, explicaste tão bem as glórias do auspicioso Saphala Ekadashi, que ocorre durante a quinzena obscura do mês de Pausha (dez/jan).  Agora por favor seja misericordioso para comigo e explique o Ekadashi da quinzena luminosa deste mês.  Qual é seu nome, e que Deidade deve ser adorada neste dia sagrado?  ó Purushottama, ó Hrshikesha, por favor também conta-me como podes ser satisfeito neste dia." O Senhor Sri Krishna respondeu:  "ó rei, para benefício de toda humanidade, relatarei para ti como observar jejum no Pausha-sukla Ekadashi.
 
   Conforme expliquei anteriormente, todos devem observar as regras e regulaçöes de Ekadashi ao melhor de sua capacidade.  Esta injunção se aplica ao Ekadashi chamado Putrada, que destrói todos pecados e nos eleva à morada espiritual.  Sri Narayana, o Senhor Supremo e personalidade original, é a Deidade adorável deste Ekadashi, e para Seu devoto fiel Ele alegremente realiza todos desejos e concede plena perfeição.  Assim entre todos seres animados e inanimados nos três mundos, não existe melhor personalidade que o Senhor Narayana.
 
   ó rei, agora narrarei para ti a história de Putrada Ekadashi, que remove todos tipos de pecados e nos torna famosos e eruditos.
 
   Uma vez havia um reino chamado Bhadravati, que era governado pelo Rei Suketuman.  Sua rainha era a famosa Shaibya.  Porque não tinha filho, ele passou longo tempo em ansiedade, pensando:  "Se não tiver um filho, quem irá continuar minha dinastia?"  Desta maneira o rei meditou numa atitude religiosa durante longo tempo, pensando:  "Onde devo ir?  Que devo fazer?  Como posso conseguir um filho?"  O Rei Suketuman não conseguia a felicidade em lugar algum em seu reino, mesmo em seu próprio palácio, e em breve estava passando mais e mais tempo dentro do palácio de sua esposa, pensando melancolicamente apenas em como conseguir um filho.
 
   Assim ambos, o Rei Suketuman e a Rainha Shaibya, estavam em grande sofrimento.  Mesmo quando ofereciam tarpana (oblaçöes de água para seus antepassados), sua miséria mútua os fazia pensar que era tão impossível de beber quanto água fervente.  Pensavam que não teriam descendentes para oferecer-lhes tarpana quando morressem.  O rei e rainha estavam especialmente perturbados por saberem que seus antepassados estavam preocupados que dentro em breve não haveria mais ninguém para lhes oferecer tarpana.
 
   Após saberem da infelicidade de seus antepassados, o rei e a rainha se tornaram mais e mais miseráveis, e tampouco os ministros, amigos, nem entes amados conseguiam alegrá-los.  Para o rei, seus elefantes e cavalos e infantaria não eram consolo, e afinal ele ficou praticamente inerte e desamparado.
 
   O rei pensou:  "Dizem que sem filho, o casamento é perda de tempo.  De fato, para um chefe-de-família sem filho, tanto seu coração e sua esplêndida casa permanecem vazios e infelizes.  Destituído de filhos, um homem não consegue liquidar a dívida que tem para com seus antepassados, os semideuses, e outros seres humanos.  Portanto todo homem casado deve tentar conceber um filho; assim ele poderá se tornar famoso dentro deste mundo e afinal alcançar os auspiciosos reinos celestiais.  
Um filho é prova das atividades piedosas que um homem realizou em suas cem vidas pretéritas, e tal pessoa obtém longa duração de vida neste mundo, junto com boa saúde e grande fortuna.  Possuir filhos e netos nesta vida prova que se adorou o Senhor Vishnu, a Suprema Personalidade de Deus, no passado.  As grandes bençãos de filhos, fortuna, e inteligência aguda podem ser conseguidas apenas por adorar o Senhor Supremo, Sri Krishna.  Isto é minha opinião."
 
   Pensando assim, o rei não tinha paz.  Permanecia em ansiedade dia e noite, desde a manhã até a noitinha, e desde o momento em que se deitava para dormir à noite até que o sol nascia pela manhã, seus sonhos eram igualmente cheios de grande ansiedade.  Sofrendo tal ansiedade e apreensão, o Rei Suketuman decidiu acabar com sua miséria cometendo suicídio.  Porém percebeu que suicídio lança a pessoa numa condição infernal de renascimento, e assim abandonou essa idéia.  Vendo que estava gradualmente se destruindo através de sua ansiedade de ter um filho que o consumia totalmente, o rei afinal montou em seu cavalo e partiu sozinho para a densa floresta.  Ninguém, nem mesmo os sacerdotes e brahmanas do palácio, sabiam onde tinha ido.
 
   Nessa floresta, que era cheia de veados e aves e outros animais, o Rei Suketuman vagou sem destino, notando todos diferentes tipos de árvores e arbustos, tais como figueiras, fruta bel, tamareiras, palmeiras, jaqueiras, árvores bakula, saptaparna, tinduka e tilaka, bem como shala, tala, tamala, sarala, hingota, arjuna, labhera, baheda, sallaki, karonda, patala, khaira, shaka e palasha.  Viu veados, tigres, javalis selvagens, leöes, macacos, cobras, grandes elefantes machos no cio, elefantas com suas crias, e elefantes com quatro presas junto de seus pares.  Havia vacas, chacais, lebres, leopardos, e hipopótamos.  Contemplando todos esses animais acompanhados de seus pares e rebentos, o rei lembrou de seu próprio criadouro, especialmente dos elefantes do palácio, e ficou tão triste que impensadamente vagava no meio deles.
 
   De repente, o rei ouviu um uivo de chacal à distância.  Espantado, começou a perambular, olhando em todas direçöes.  Logo era meio-dia, e o rei começou a cansar.  Estava atormentado pela fome e sede.  Pensou:  "Que ato pecaminoso possivelmente pratiquei que agora sou forçado a sofrer assim, com minha garganta ressecada e ardendo?  Agradei os semideuses com numerosos sacrifícios de fogo e abundante adoração devocional.  Dei muitos presentees e deliciosos doces como caridade a todos brahmanas dignos.  E cuidei de meus súditos como se fossem meus próprios filhos.  Porque estou sofrendo assim?  Que pecados desconhecidos vieram me atormentar desta maneira horrivel?"
 
   Absorto em tais pensamentos, o Rei Suketuman seguia adiante com esforço, e eventualmente, devido a seu crédito piedoso, chegou a uma bela lagoa que se assemelhava ao famoso Lago Manasarovara.  Estava cheio de espécies aquáticas, inclusive crocodilos e muitas variedades de peixes, e adornado de açucenas.  Belos lótus haviam se aberto ao sol, e cisnes, grous e patos nadavam felizes em suas águas.  Perto havia muitos ashramas atraentes, onde residiam muitos santos e sábios que podia realizar os desejos de qualquer pessoa.  De fato, desejavam o bem de todos.  Quando o rei viu tudo isso, seu braço direito e olho começaram a tremer, um sinal de que algo auspicioso estava para acontecer.
 
   Enquanto o rei desmontava de seu cavalo e ficava de pé diante dos sábios, que estavam sentados na beira da lagoa, viu que estavam cantando os santos nomes de Deus em suas contas de japa.  O rei prestou suas reverências e, de mãos postas, glorificou-os.  Estava mais do que feliz por estar na presença deles.  Observando o respeito que o rei lhes oferecia, os sábios disseram:  "Estamos muito contentes contigo, ó rei.  Tenha a bondade de nos dizer porque vieste até aqui?  Que se passa em tua mente?  Por favor diga-nos o que desejas."
 
   O rei respondeu:  "ó grandes sábios, quem sois?  Quais são vossos nomes, ó santos auspiciosos?  Porque viestes a este lindo lugar?  Por favor dizei-me tudo."
 
   Os sábios responderam:  "ó rei, somos os Vishvedevas (1); viemos até essa maravilhosa lagoa para tomar banho.  O mês de Magha estará aqui dentro de cinco dias, e hoje é o famoso Putrada Ekadashi.  Quem deseja um filho deve observar estritamente este Ekadashi. (2)"
O rei disse:  "Tentei com tanto esforço ter um filho.  Se vós grandes sabios estais satisfeitos comigo, por bondade concedei-me um bom filho."
 
   "O próprio significado de Putrada" responderam os sábios, "é "doador de filhos".  Portanto por favor observa um jejum completo neste dia de Ekadashi.  Se o fizeres, então por nossa benção - e pela misericórdia do Senhor Keshava - certamente obterás um filho."
 
   Com o conselho dos Vishvedevas, o rei observou o auspicioso dia de jejum de Putrada Ekadashi conforme todas regras e regulaçöes estabelecidas, e no Dvadashi, após quebrar seu jejum, ele prestou suas reverências repetidamente a todos eles.
 
   Logo depois que Suketuman retornou a seu palácio, a Rainha Shaibya ficou grávida, e exatamente como os sábios Vishvedevas tinham predito, nasceu-lhes um belo filho de rosto luminoso.  No devido tempo ele se tornou famoso como um príncipe heróico, e o rei de bom grado satisfez seu filho tornando-o seu sucessor.  O filho de Suketuman cuidou de seus súditos mui conscienciosamente, assim como se fossem seus próprios filhos.
 
   Concluindo:  ó Yudhishthira, quem deseja realizar seus desejos deve observar estritamente Putrada Ekadashi.  Enquanto estiver neste planeta, quem observa estritamente este Ekadashi certamente obterá um filho, e após a morte obterá a liberação.  Qualquer pessoa que até mesmo lê ou ouve as glórias de Putrada Ekadashi obtém o mérito acumulado por realizar um sacrifício de cavalo.  É para beneficiar toda humanidade que expliquei tudo isso para ti."
 
   Assim termina a narrativa das glórias do Pausha-sukla Ekadashi ou Putrada Ekadashi, do Bhavishya Purana.
 
Notas:
1) Os dez Vishvedevas, os filhos de Vishva, são Vasu, Kratu, Daksha, Kala, Kama, Dhrti, Pururava, Madrava, e Kuru.
 
2) A palavra sânscrita para "filho" é putra.  Pu é o nome de determinado inferno, e tra significa "salvar".  Assim a palavra putra significa "uma pessoa que salva alguém do inferno chamado Pu".  Portanto cada homem casado deve produzir pelo menos um filho e treiná-lo devidamente; então o pai será salvo de uma condição de vida infernal.  Porém esta injunção não se aplica aos devotos sérios do Senhor Vishnu ou Krishna, pois o Senhor se torna seu filho, pai, e mãe.
Além do mais Chanakya Pandita diz:
   satyam  mata pita jnanam
   dharmo bhrata daya sakha
   shantih patni kshama putrah
   shadete mama vandhavah
 
"A verdade é minha mãe, o conhecimento é meu pai, meu dever ocupacional é meu irmão, a bondade é minha amiga, tranquilidade minha esposa, e o perdão meu filho.  Estes seis são os membros de minha família."  Entre as vinte e seis principais qualidades de um devoto do Senhor, o perdão é o principal.  Portanto devotos devem fazer um esforço extra para desenvolver esta qualidade.  Aqui Chanakya diz:  "O perdão é meu filho," e portanto um devoto do Senhor, mesmo embora possa estar na senda da renúncia, poderá observar Putrada Ekadashi e orar por obter este tipo de "filho".


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