domingo, 16 de janeiro de 2022

O esquilo listrado e a parte de cada um. O dedo de Rama.

O esquilo listrado e a parte de cada um


O Ramayana é um texto clássico indiano formado por 24 mil versos! É uma grande narrativa composta por centenas de pequenas histórias que se interligam por um fio condutor. Tudo acontece contra ou a favor do Dharma, uma lei cósmica e imutável para os deuses e homens.  O cerne da narrativa é uma história de amor entre o Príncipe Rama e sua amada Sita. Na verdade, Rama é um avatar de Vishu (Sr. Narayana) e Sita um avatar da deusa Lakshmi (deusa da fortuna).

Certa ocasião, quando Rama e Sita estavam refugiados na floresta Dandaka ela foi sequestrada pelo “Demônio” Ravana e conduzida, à força, num carro alado até o Reino de Ravana em Lanka. A narrativa toda gira em torno desse fato. Rama empregou todas as suas forças e juntou forças aliadas para trazer Sita de volta.

A terra de Lanka ficava muito distante, ao sul da Índia. Além da distancia, era protegida pelas águas do mar. Graças ao esforço e habilidades de Hanuman, o deus macaco, o esconderijo de Sita foi encontrado. Hanuman era filho do deus-vento (Vayu) e podia voar pelos ares. Isso possibilitou sua viagem até a distante terra de Lanka. Mas, esse foi só o começo da luta. Era preciso trazer Sita de volta. Enquanto, isso, Rama permaneceu em vigília durante muitos dias. Olhava para ao mar e perguntava a si mesmo: Como irei transpô-lo? Ele, no entanto, havia jurado por si mesmo, que nunca deixaria o sentimento de tristeza abatê-lo. Então, pediu aos deuses Samudra (Oceano) e Varuna (deus das águas), que viessem ao seu encontro e lhe dessem uma luz. O oceano permanecia mudo.  Mas Rama era um homem de ação. Desafiou o silêncio do mar quando disparou contra ele uma poderosa flecha. A seta voou silvando e rasgando as águas. Conchas marinhas e pedras aquáticas, fumegantes voaram pelos ares. Rama chamou os ventos. Ondas pesadas  ergueram-se e a água transformou-se num redemoinho. Foi assim, que ele acabou sendo atendido pelo deus do mar.

Samudr (deus oceano), não pode ficar indiferente diante das atitudes de Rama. Levantou-se, pesadamente, de seu leito e depois de um diálogo com o herói deu-lhe a dica  de que ele precisava. Falou de Nala, o macaco filho de  Viswakarman (arquiteto celeste e senhor das artes). Contou-lhe que Nala nascera com um defeito. Tudo o que ele atirasse na água não afundaria. Estava ali, o segredo para a construção da ponte que o levaria a Lanka.  Uma “senhora ponte”, de aproximadamente, cem léguas! Com a permissão de Samudra e a ajuda de homens e animais Rama deu início à obra. Nala lançava as pedras na água e os demais bichos iam entrelaçando-as e finalizando o trabalho.

Para contruir a ponte Rama convocou uma legião de macacos, coordenada por Sugriva e um grande número de ursos coordenados por Jambavan.  No décimo quinto dia a ponte estava pronta e Lanka poderia ser atacada. Isso é que foi determinação!

Enquanto os grandes bichos carregavam pedras enormes, quase pisavam num grupo de esquilos que caminhavam, nervosamente, de um lado para outro da construção. Até que alguém percebeu aquele vai e vem  de esquilos e quis investigar o que eles faziam. Então, perceberam que os esquilos molhavam-se na água e em seguida rolavam-se na areia da praia. Depois disso corriam sobre a ponte balançando seus corpinhos para que a areia pudesse cair entre as pedras unindo-as com firmeza. Dessa maneira, mesmo sem serem percebidos, prestaram um grande serviço. Ao saber disso, Rama quis agradecê-los de forma original. Deslizou três dedos pelas costas dos bichinhos. É por isso que, até hoje, os esquilos indianos carregam três listras pretas sobre as costas. São as marcas dos dedos de Rama. Um sinal de gratidão àquelas criaturinhas tão pequenas que prestaram um grande trabalho na construção da ponte.

O ensinamento moral dessa história não é difícil de ser notado: Não importa o seu tamanho. Cada um, à sua maneira, pode contribuir para o bem de todos!

Imagem de denkendewolke por Pixabay 

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