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sexta-feira, 10 de outubro de 2008
O DESAFIO DA AVALIAÇÃO NO COTIDIANO DO EDUCADOR.
O DESAFIO DA AVALIAÇÃO NO COTIDIANO DO EDUCADOR
Patrícia Valéria Bielert do Nascimento [1]
Resumo
O processo avaliativo tem sido mais um dos desafios enfrentados pelo professor no seu cotidiano escolar. O saber avaliar, como avaliar, para quê avaliar e quais as contribuições que esses instrumentos avaliativos vão favorecer a qualidade de educação que pretendemos averiguar no decorrer de nosso trabalho. O professor precisa conhecer o processo avaliativo de forma que saiba identificar as diversidades culturais dos alunos. Entender que estamos buscando uma avaliação qualitativa, visando à formação integral do aluno cidadão, para que ele saiba atuar na sociedade de forma digna, solidária e competente. Mas, para que isso ocorra é importante que o professor se conscientize de que avaliar é mais um desafio que pretendemos vencer de forma processual e dinâmica, tendo a capacidade de mudar nossos instrumentos avaliativos, proporcionando aos alunos prazer em aprender e a construir novos conhecimentos. A arte de ensinar e de aprender estão nas mãos do educador que busca inovar e acredita que o conhecimento universal possa ser compartilhado, incluindo os cidadãos na sociedade.No entanto, as mudanças somente ocorrerão quando nós professores buscarmos, por meio da pesquisa, investigar novas formas de viabilizar o processo avaliativo, visando à formação do aluno cidadão e trazendo para a sala de aula prazer em ser avaliado com qualidade e profissionalismo.
Palavras-Chave: avaliação qualitativa; quantitativa e formativa; desafio.
Avaliar é um processo difícil de executar na prática educativa. O professor, muitas vezes, não tem condições de mensurar e nem de qualificar o conhecimento de seus alunos. Procura, através dos instrumentos avaliativos, formas diferenciadas para averiguar se de fato o aluno aprendeu ou não o novo conhecimento. Mas, há momentos que essas averiguações dão certo e há momentos que ficam a desejar, do ponto de vista dos objetivos esperados pelo professor na sala de aula.
De acordo com Haydt (2002, p. 10-11):
Durante um certo tempo, o termo avaliar foi usado como sinônimo de medir... Mas essa abordagem, que identificava avaliação com medida, logo deixou transparecer sua limitação: é que nem todos os aspectos da avaliação podem ser medidos. (...) Testar significa submeter a um teste ou experiências, isto é, consiste em verificar o desempenho de alguém ou alguma coisa... (...) Medir significa determinar quantidade, a extensão ou o grau de alguma coisa, tendo como base um sistema de unidades convencionais. (...) Avaliar é julgar ou fazer apreciação de alguém ou alguma coisa tendo como base uma escala de valores.
Entender a distinção entre testar, medir e avaliar é de fundamental importância para o professor. Verificar o desempenho dos alunos, descrever os fenômenos das descobertas e interpretar os resultados, ora de forma qualitativa, ora quantitativamente é necessário para que o processo ensino-aprendizagem ocorra de forma significativa na vida acadêmica do aluno.
Mas, nos preocupamos com a formação do professor que ainda se detém em valores quantitativos e se esquece, que está averiguando aprendizagens significativas de seres humanos complexos e multiculturais. Estaria o professor da graduação, da Pós-Graduação preocupado com o que os seus alunos estão aprendendo? Como estão aprendendo? Hoje com as exigências curriculares, percebe-se que o professor tem tentado ser um professor inovador em se tratando da questão avaliativa, mas ainda tem muito que aprender.
Aprender que o universo do conhecimento é amplo e complexo. Compreender que somos seres humanos inacabados e estamos buscando a melhoria da qualidade de ensino, constantemente. O tentar modificar o processo avaliativo nas instituições não é tão simples quanto parece. Requer dos profissionais da educação uma conduta, uma ética profissional, um diagnóstico da realidade na qual está inserido, e mais que isso, compreender o seu aluno em suas dificuldades e possibilidades.
A avaliação é um processo contínuo e permanente na vida de todos os atores envolvidos na arte de educar. Somos avaliados no decorrer de todo o processo. Precisamos de apoio, ajuda, orientação, e até mesmo de um pouco de solidariedade ao avaliarmos e sermos avaliados. O olhar de si e do outro tem que ser interpretado, conforme os objetivos que se pretende alcançar, no decorrer da construção dos conhecimentos.
É interessante analisar outros autores como Bloom, Hastings e Madaus (1983) que conceituam o processo avaliativo como sendo: «[...] a avaliação é um método, um instrumento; portanto ela não tem um fim em si mesma, mas é sempre um meio, um recurso e como tal deve ser usada». Fica parecendo que a avaliação, enquanto instrumento de averiguação de aprendizagens, só se torna fidedigna à medida que o aluno consegue expor seus pensamentos fundamentados numa escrita convencional, facilitando ao professor quantificar os resultados. Mas, na realidade as coisas não funcionam de forma tão precisa, quanto aparentam.
Durante muitos anos, o tema avaliação de aprendizagem foi trabalhado em diferentes perspectivas. E se pensarmos um pouco mais...Como estaria sendo trabalhado hoje? A avaliação tradicional vem ainda deixando seus «ranços» na educação. São poucos profissionais da educação que procuram, pesquisam e tentam modificar suas práticas avaliativas, objetivando a aprendizagem do aluno, procurando mediar seus conhecimentos em prol de sua formação.
A avaliação enquanto processo de diagnose e formação torna-se um desafio para os professores que tentam inovar seus instrumentos e estratégias avaliativas. Quando abordamos a avaliação diagnóstica, estamos nos referindo àquela realizada no inicio do ano letivo, que tem a intenção de verificar o domínio dos conteúdos dos alunos e o domínio ou não dos pré-requisitos, que são necessários para dar continuidade ao processo ensino-aprendizagem. No entanto, são poucos os professores que se preocupam com essa avaliação. No início do ano letivo, já iniciam suas atividades com «disciplina nova e vamos adiante»... «se não viram, já foi. Esse é um novo ano». Isso é o que mais escutamos dos alunos com relação aos professores, no cotidiano escolar. Ou então por parte dos alunos: «aquele professor não deu isso...»; «nós vimos, mas não aprendemos nada de nada...». Respostas evasivas, que não são compreendidas pelo professor, que está iniciando suas atividades naquele contexto.
A problemática continua. A avaliação não é compreendida pelos professores como um processo dinâmico e construtivo. Avaliar para quê? Por quê? É mais um serviço burocrático que temos que fazer. A reclamação é tamanha no preenchimento de fichas e de dados. Mas, por que tanta reclamação se o próprio professor não sabe nem quem é o nº 34 da chamada? Ele considera o seu aluno como mais um número que tem que ser quantificado, no decorrer de sua história. Não há uma consciência de que estamos trabalhando com seres humanos que possuem sentimentos, que pensam, que sabem de seus direitos e deveres, pois, são cidadãos universais.
E ainda nos preocupamos com a formação integral do aluno cidadão, comprometido com a cidadania. Que cidadania é essa que se faz acontecer dentro das instituições escolares, sendo que os alunos ainda não possuem o direito de sugerir alternativas para mudança do processo avaliativo? Há momentos que temos que rever nossos paradigmas com relação às nossas ações no pensar e no fazer pedagógico da sala de aula. Somos mediadores do conhecimento e precisamos rever o processo avaliativo que utilizamos no cotidiano.
Não estamos nos referindo a dizer não às Diretrizes Curriculares Nacionais, mas estamos dizendo que a própria lei dá ao professor e à instituição uma flexibilidade para que se desenvolva a pluralidade cultural em nossas escolas e incentiva a formação integral do homem cidadão. Isso quer dizer que podemos fazer a diferença na aplicabilidade de nossas avaliações no decorrer da história educacional. Podemos ser agentes transformadores e pesquisadores de saberes da prática docente, que irão proporcionar prazer e alegria ao educando que busca o conhecimento, incansavelmente.
De acordo com Freire (1981 p. 52):
O desenvolvimento de uma consciência crítica, que permite ao homem transformar a realidade, é cada vez mais urgente. Na medida em que os homens, dentro de sua sociedade, vão respondendo aos desafios do mundo, vão também fazendo história, por sua própria atividade criadora.
Mudar é preciso e necessário para saber conviver em pleno século XXI. Mudar nossos paradigmas com relação ao que fomos e ao que somos; ao que aprendemos no passado e ao que estamos aprendendo no agora; sendo assim, torna-se um desafio "aprender a aprender", "aprender a ser" e "aprender a fazer" (Delours, 2000, p. 89-99) o processo ensino-aprendizagem ocorrer na sala de aula. Reavaliar nossos conceitos, concepções e valores traz para o nosso mundo real uma visão multidimensional do nosso ser. É preciso ter sabedoria, coragem, determinação, prudência, serenidade para atuar na escola de hoje que é dinâmica, transformadora.
As mudanças não ocorrem por um acaso. Elas obedecem à evolução da humanidade e ao desejo de transformação, levando o homem a atuar no universo de forma progressista. O conhecimento tem chegado de forma assustadora no universo escolar. Com o processo de globalização as informações estão conectadas em rede, e nós não conseguimos acompanhar esse universo informativo que está chegando a todo o momento. E como avaliaríamos tais informações, sendo professores?
É muito complexo entender e compreender essas questões que não deixam de ser avaliativas em nossa vida. Quantas vezes, na sala de aula, o aluno traz informações das quais, nós não estamos preparados para responder? O aprender a ouvir o aluno e estar participando com ele do processo ensino-aprendizagem é outro desafio que teremos que enfrentar no cotidiano escolar.
Entender o humano, como diz Morin (2000), é complexo. A complexidade do pensamento humano liga-se a incertezas e, ao mesmo tempo, busca uma certeza no conhecimento. E o que é o conhecimento? É um aprender a ser avaliado para saber se aprendeu? Por que tantas exigências, sem nem ao menos sabemos para que servem?
O refletir, o pesquisar, o se informar sobre nós, enquanto sujeitos e objetos do conhecimento se torna necessário para compreender o humano. O professor de hoje tem consciência do que é o processo avaliativo, mas tem medo da avaliação. Tem medo de ser avaliado, criticado e de não poder argumentar sobre o processo. Tem medo do olhar do outro sobre «faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço». Ainda existem pessoas que agem dessa forma. Freire (1997) deixa claro em seu livro A Pedagogia da Autonomia, que o professor deve ensinar a corporeificação. Mas como? Se ele nem sabe o que é isso?
Corporificar é buscar ser exemplo ou mesmo referência para os alunos, hoje é importante, pois, muitos se encontram no «olhar que têm de um determinado professor que julga ser o melhor» (Freire, 1997, p.38). Mesmo essa premissa podendo ser falsa, há aqueles que nela acreditam e se fundamentam para conseguir lutar pelos seus sonhos. O professor tem que procurar levar seus alunos a pesquisarem, a se comprometerem, a se auto-avaliarem e serem avaliados pelo grupo, pois a avaliação é um processo natural no desenvolvimento humano. Buscar melhorar seus hábitos e atitudes são essenciais, para que as mudanças ocorram. Somos seres mutáveis e necessitamos de nos inter relacionarmos para transformamos nossas vidas.
Para Freire (1997, p. 44):
Não é apenas preciso mudar, o que, porém exige paciência, uma paciência que eu chamo de impaciente, que exige também conhecimento, humildade e uma pressa não demasiada apressada, quer dizer, você tem que viver um tempo em que você corre e anda também, anda quando pode, corre quando pode.
O tempo é o senhor da sabedoria. Temos que confiar em nossa capacidade de aprender a conhecer o universo cultural em que vivemos. Compreender o ser humano e suas relações no espaço em que vive. Aprender que as mudanças existem e que podemos ser pacientes em diagnosticá-las como processo de transformação ou processo de destruição de nossa própria natureza. Vivemos em um mundo dicotômico, e a partir de suas irreverências, podemos discernir o que seria melhor para a formação de um homem cidadão, político e consciente de sua formação.
Para Esteban (2003), o processo avaliativo não tem que reprovar, mas dar continuidade aos estudos assimilados pelos alunos no decorrer de formação.Para ela, a avaliação é uma prática de investigação. E cabe, a nós professores, levar os nossos alunos a buscar essa investigação, levando em consideração o erro/acerto, o fazer/refazer para aprendermos a construir nossos conhecimentos fundamentados em dados concretos.
Portanto, cabe aos professores pesquisadores, buscarem, em sua prática educacional, instrumentos avaliativos inovadores; alternativas metodológicas de desenvolver habilidades e competências de estar proporcionando aos seus alunos novos desafios, para incentivá-los a buscarem novas descobertas na arte de avaliar. O desafio de descobrir novos caminhos para se avaliar com prazer, pesquisa e descoberta de novos conhecimentos está em nossas mãos, professores/educadores. Somente eles poderão orientar os alunos na construção de novas aprendizagens, proporcionando um ensino de qualidade, visando sua formação.
Referências
ACÚRCIO, Maria Rodrigues Borges (cood.). Questões urgentes na educação. Porto Alegre/Belo Horizonte: Artmed/Rede Pitágoras, 2002. (Coleção Escola em Ação).
BLOOM, Benjamin S.; HASTINGS, Thomas; e MADAUS, George. Manual de avaliação formativa e somativa do aprendizado escolar. São Paulo, Pioneira, 1983.
DELORS; Jacques (org). Educação; um tesouro a descobrir. 4 ed. São Paulo; Cortez; Brasília, DF: MEC: unesco, 2000.
ESTEBAN, Maria Teresa (org.). Escola, currículo e Avaliação. São Paulo. Cortez, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 3ªed. São Paulo: Editora Paz e Terra S.A., 1997. – (Série cultura, memória e currículo, v. 5)
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
HAYDT, Regina Cazaux. Avaliação do Processo Ensino-Aprendizagem. 6ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2002.
HAYDT, Regina Cazaux . Entrevista com Paulo Freire, Prospectiva. Rio Grande do Sul, nº 22, set. 1994.
MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. Trad. De Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2000.
Mestre em geografia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU [1]
Professora naUniversidade de Uberaba, Instituto de Formação de Educadores, Graduação.
Bielert@uol.com.br
Fonte: http://www.uniube.br/propep/mestrado/revista/vol04/11/art02.htm
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