A REBELIÃO DAS MASSAS: Jose Ortega y Gasset
APRESENTAÇÃO
Nélson Jahr Garcia
"A Rebelião das Massas", obra prima de José Ortega y Gasset, começou a ser publicado em 1926 num
jornal madrilenho ("El Sol").
Retrata as grandes transformações do século XX, especialmente na Europa, com ênfase no processo
histórico de crescimento das massas urbanas. Não se refere às classes sociais mas às multidões e
aglomerações. Tendo esse contexto como pano de fundo, Ortega discute temas, aparentemente contrários
A rebelião das massas.
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entre si, mas que se fundem (ou devem fundir-se) numa unidade de sentido. É assim que contrapõe
individualismo e submissão ao coletivo; comunidade, nação e estado; história, presente e porvir; homens
cultos e especialistas; poder arbitrário e respeito à opinião pública; juventude e velhice; guerra e
pacifismo; masculino e feminino.
São tópicos que, inevitavelmente, nos induzem à reflexão crítica. Em alguns casos são apresentados
de forma extremamente provocativa.
Referindo-se ao poder do dinheiro, minimiza seu significado e afirma:
"É, talvez, o único poder social que ao ser reconhecido nos repugna. A própria força bruta que
habitualmente nos indigna acha em nós um eco último de simpatia e estima. Incita-nos a rechaçá-la
criando uma força paralela, mas não nos inspira asco. Dir-se-ia que nos sublevam estes ou os outros
efeitos da violência; porém ela mesma nos parece um sintoma de saúde, um magnífico atributo do ser
vivente, e compreendemos que o grego a divinizasse em Hércules."
Discutindo o fato de que os antigos gregos expressavam um certo desprezo pelas mulheres, acaba por
concluir que estas acabaram se masculinizando:
"A Vênus de Milo é uma figura másculo-feminil, uma espécie de atleta com seios. E é um exemplo de
cômica insinceridade que tenha sido proposta tal imagem ao entusiasmo dos europeus durante o século
XIX, quando mais ébrios viviam de romanticismo e de fervor pela pura, extrema feminilidade. O cânone
da arte grega ficou inscrito nas formas do moço desportista, e quando isto não lhe bastou preferiu sonhar
com o hermafrodita."
Sobre a guerra, chega a afirmar:
"O pacifismo está perdido e converte-se em nula beateria se não tem presente que a guerra é uma
genial e formidável técnica de vida e para a vida."
Sua interpretação do modelo escravista é bastante sugestiva:
"Do mesmo modo, costumamos, sem mais reflexão, maldizer da escravidão, não advertindo o
maravilhoso progresso que representou quando foi inventada. Porque antes o que se fazia era matar os
vencidos. Foi um gênio benfeitor da humanidade o primeiro que ideou, em vez de matar os prisioneiros,
conservar-lhes a vida e aproveitar seu labor."
São essas aparentes contradições que estimulam nosso espírito crítico. Ortega defendeu suas
concepções com vigor, fundamentos sólidos e uma lógica irreprensível. Em poucos momentos foi
totalmente conclusivo, mas deixou uma enorme abertura para que possamos repensar as idéias que
defendeu em seus dias, adaptando-as ao nosso tempo e ao que viveremos no futuro.
BIOGRAFIA DO AUTOR
José Ortega y Gasset nasceu em Madrid, a 9 de maio de 1883.
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