Desde que o ideólogo Aleksandr Dugin passou a ser cortejado pela direita e pela esquerda, no Brasil, muitos conhecedores das doutrinas que ele professa ficaram assustados. Afinal, trata-se de um antigo divulgador da obra de Aleister Crowley, na Rússia, criador do Partido Nacional Bolchevique, de inspiração nazista, filho de um agente da KGB e autor da obra mais influente na academia militar russa. Mas isso é apenas o que é amplamente conhecido.
De repente, este era o homem que passou a ser chamado para falar sobre “tradição” e no qual pareciam estar sendo apostadas todas as fichas contra o globalismo ocidental hegemônico. Já falamos sobre qual a tradição à qual Dugin é filiado. Mas está na hora de ser mais claro ainda.
Depois de dar uma entrevista ao canal Estúdio 5º Elemento, ligado a especuladores financeiros e outros gurus do meio influencer direitista, Dugin apareceu no site petista Brasil247, que tem como colunista o líder do movimento duguinista Nova Resistência, Raphael Machado. Da mesma forma, Breno Altman, conhecido por seu site Opera Mundi, antigamente financiado por George Soros, reclamou de uma “patrulha ideológica” petista que estaria o impedindo de entrevistar Dugin. Altman é conhecido por entrevistar José Dirceu e líderes da esquerda nacional e internacional, sempre em um think tank estratégico para pensar alternativas de interesse da esquerda.
Não é estranho que esquerdistas se vinculem com Dugin, afinal, o russo é devoto de toda a tradição metafísica que construiu a mentalidade revolucionária, como veremos. Já para católicos, porém, isso se torna mais problemático. Afinal, estamos falando de um ideólogo que defendeu abertamente a destruição do catolicismo na Polônia pela via do fortalecimento da maçonaria no país. Este é o universo em que supostos cristãos estão entrando para “lutar contra o globalismo”. Mas a luta contra o globalismo, segundo Dugin, deve ser feita “organizando assassinatos, sabotagens e incêndios”.
Disse Dugin em uma entrevista assustadora:
“Deve-se destruir o catolicismo a partir de dentro, e para isso deve-se fortalecer a maçonaria polonesa, apoiar certos movimentos laicos decadentes, promover um cristianismo heterodoxo e antipapista. O catolicismo jamais poderá ser absorvido por nossa tradição, a menos que assuma um caráter nacionalista e antipapista. Se a Polônia tivesse uma loja como a Golden Dawn irlandesa, com líderes como William Butler Yeats ou Maud Gonne, que eram católicos, mas também ocultistas fanáticos inspirados na cultura celta, então poderia haver alguma esperança no catolicismo polonês.… Essas pessoas seriam capazes de derrubar o catolicismo por dentro e redirecioná-lo para algo mais heterodoxo e até mesmo esotérico. Meus amigos na Polônia me dizem que todos os seus grupos têm ligações com o Telema ou as ideias de Aleistair Crowley.”
Para entender um pouco sobre as ideias desse russo misterioso com cara de Rasputin, é preciso sondar as raízes espirituais e o caminho pelo qual Dugin se tornou uma “boa opção” tanto para a direita quanto para a esquerda. Isso passa pelo desconhecimento a respeito do que é gnosticismo, conjunto de doutrinas que abarca o esoterismo ocidental e oriental. Esta é, pois, a tradição da qual Dugin se serviu para entrar na política e promover a imanentização combinada de várias escatologias regionais para instrumentalizá-las a serviço da Rússia. Essa é a forma tradicional de criação das ideologias revolucionárias, segundo Eric Voegelin, um autor muito difundido por Olavo de Carvalho, mas aparentemente ainda desconhecido dos conservadores.
O que é gnosticismo?
Há no esoterismo duas correntes chamadas de via da mão direita e via da mão esquerda. Ambas são consideradas ramos ou caminhos do mesmo tronco do gnosticismo, uma corrente sincrética segundo a qual o universo material teria sido criado por uma emanação imperfeita do Deus supremo chamada demiurgo, para aprisionar o homem privando-o da centelha divina, que tornaria o homem como Deus. Para libertá-lo, a Serpente ofereceu o fruto proibido (a desobediência) como caminho de alcance da gnose, que é o conhecimento dessa natureza divina no homem: o conhecimento do bem e do mal.
Sendo, portanto, o caminho principal da gnose o conhecimento, ele pode ser alcançado por um grande número de caminhos secretos, agrupados em duas vertentes principais, a da mão direita e da esquerda. Mas o que elas indicam?
A direita é o ramo da ascese, isto é, a libertação do mundo material por meio da sua negação. Já a esquerda, também chamada de Via Sinistra, baseia-se na afirmação de tudo a partir do critério individualista, de uso e abuso do mundo material com o fim da sua destruição. Nele encontram-se as doutrinas satanistas por excelência, baseadas no princípio “seja feita a minha vontade”. É o caminho do individualismo esotérico, magia sexual, incluindo uso de drogas e toda sorte de extremos sensíveis.
A via da mão direita se define como uma corrente gnóstica “tradicional”, no sentido esotérico de associação com religiões tradicionais, ainda que em chave gnóstica, que busca o autoconhecimento, a negação de si mesmo e a ascese, mas também associado a objetivos altruístas ou supostamente virtuosos. Também chamados de magos de linha branca, ou loja branca, incluem práticas de curandeirismo e magia protetora. Apesar disso, porém, as diferenças são sutis e ambíguas do ponto de vista cristão.
Afinal, pode-se dizer que o globalismo, por sua ideologia pacifista, ambicionaria um método ascético de coletivismo, contra toda forma de ganância e enriquecimento etc, retórica comum no marxismo. O ecologismo também o aproxima supostamente de uma doutrina naturalista, um neopaganismo pacífico, o tradicional “paz e amor”. Isso de fato se relaciona com o caminho da mão direita. No entanto, como sabemos muito bem, isso é profundamente enganador, já que é a cultura da morte que resulta das ideologias identitárias e profundamente individualistas das teses feministas do globalismo.
Isso fica evidente já que ambos os caminhos buscam o contato com o que ocultistas como Kenneth Grant chamam de “deus oculto individual”, também conhecido como “poder do subconsciente”, segundo Carl Jung.
De maneira geral, embora autores como René Guénon critiquem violentamente as correntes de mão esquerda, ele mesmo fez parte de grupos pouco tradicionais (no sentido que dá ao termo) no passado, tendo renegado depois e atacado aquilo que considerou como “contra-iniciação”. A ambiguidade dessa condenação de Guénon ao ocultismo, porém, pode ser matéria para outro artigo. Portanto, a via da mão direita é sempre um disfarce bastante comum para práticas bem diversas que, no mínimo, servem de chamariz para uma busca egocêntrica por uma espiritualidade pessoalizada, ainda que se nutra de um marketing altruísta em redes sociais de “coachings sistêmicos” da nova era.
Toda a espiritualidade da nova era, que domina a modernidade, se disfarça muito bem com uma roupagem ligada ao caminho da mão direita, de linha branca, ocultando sob um véu de boas vibrações o profundo abismo espiritual no qual afunda seus ingênuos curiosos por meio de exotismos estéticos orientalistas ou retóricas científicas. Dugin nao é diferente.
Um exemplo de via da mão esquerda é o próprio “ex-guru” de Dugin, o bruxo britânico Aleister Crowley (iniciado na mesma loja maçônica que Guénon, uma coincidência intrigante). Crowley defendia práticas de magia sexual e até pedofilia, abuso de drogas e toda sorte de extremos para gerar, como ele chamava, “companheiros espirituais”, que no jargão guenoniano pode ser chamado de resíduos psíquicos. Isso é o que nós católicos chamamos de evocar demônios ou “forças sutis da natureza” em benefício próprio, isto é, em uma prática de individualismo hedonista, que também pode ser associado à prática política — luta pelo poder.
Dugin está associado intimamente ao caminho da mão esquerda. Isso é comprovado não apenas pela conclusão lógica de suas práticas e difusão de crenças contraditórias, mas pelas próprias palavras dele.
O tradicionalismo perenialista foi, durante muito tempo, o cartão de visitas de Dugin para acessar as altas esferas do poder na Europa, forjando com isso a própria direita europeia que hoje está em suas mãos. Em seguida, a sua adesão a Heidegger foi entendida como um afastamento do tradicionalismo. No entanto, esse perenialismo continua sendo a base metafísica com a qual o russo espalha a sua contra-iniciação de mão esquerda. Para ele, o melhor intérprete de Guénon é Herman Wirth, o criador da SS nazista, um conhecedor do passado germânico e fiel guia, segundo ele, nos resgates de tradições locais para instrumentalização política, marca característica do caoísmo oportunista da mão esquerda.
Em um texto intitulado “O gnóstico”, publicado no Brasil em 2012 no site Legio Victrix, tradicional apoiador do ideólogo, não sobram dúvidas quanto à adesão ao caminho da mão esquerda, mesmo adotado por Hitler ao apresentar ao mundo o emblema da “suástica sinistrógira” que indicava a direção tomada, o que foi compreendido por todo o mundo do esoterismo e do ocultismo.
Para que não reste mais nenhuma dúvida sobre o gnosticismo de mão esquerda, podemos ler nas próprias palavras de Dugin, em seu texto disposto aqui na íntegra, no qual considera tachativamente que: “apenas este caminho é o único e verdadeiro”.
A humanidade sempre teve dois tipos de espiritualidade, dois caminhos – “Caminho da Mão Direita” e o “Caminho da Mão Esquerda”. O primeiro é caracterizado pela atitude positiva para com o mundo circundante, o mundo é visto como harmonia, paz, equilíbrio, bondade. Todo o mal é visto como um caso particular, um desvio da norma, algo dispensável, transitório, sem profundas razões transcendentais. O Caminho da Direita é também chamado de “O Caminho do Leite”. Não fere pessoa, a preserva da experiência radical, a retira da imersão em sofrimento, do pesadelo da vida. Este é um caminho falso. Ele leva a um sonho. Quem segue por ele, não chegará a lugar algum…
O segundo caminho, o “Caminho da Mão Esquerda”, vê tudo em uma perspectiva invertida. Não a “tranquilidade láctea”, mas o sofrimento negro; não a calma silenciosa, mas o drama tortuoso e impetuoso de uma vida angustiante. Este é “O Caminho do Vinho”. Ele é destrutivo e terrível, a raiva e a violência reinam lá. Para quem está seguindo por este caminho, toda a realidade é percebida como o inferno, como o exílio ontológico, como tortura, como a imersão no coração de alguma catástrofe inconcebível originária das alturas do espaço. Se no primeiro caminho tudo parece tão bom, no segundo – muito mal. Este caminho é monstruosamente difícil, mas apenas este caminho é verdadeiro. É fácil tropeçar nele, e é ainda mais fácil de perecer. Ele não garante nada. Ele não tenta ninguém. Mas apenas este caminho é o único e verdadeiro. Quem o segue – vai encontrar a glória e a imortalidade. Quem resistir – vai conquistar, vai receber o prêmio, que é maior que a vida.
Como todo gnóstico, Dugin traz a promessa da “libertação”, que foi base da política expansionista soviética, por meio da difusão de movimentos como a Organização pela Libertação da Palestina, o Exército de Libertação Nacional e, no seio da doutrina católica, a teologia da Libertação. Essa palavra, tão cara aos revolucionários desde a Revolução Francesa, vem da própria crença gnóstica, na qual a Serpente é o grande símbolo do conhecimento, principal meio de redenção da humanidade representada pelos escravizados, aprisionados neste mundo de ilusões, nesta matrix.
Falando em Matrix, não é por acaso que um dos slogans de maior persuasão no meio da direita QAnon tem sido o termo “redpill” (pílula vermelha), em referência ao filme e sua promessa de libertação dos engodos da realidade. O gnosticismo impresso no imaginário cultural do Ocidente, por meio da cultura popular resultado da lenta absorção de crenças orientalistas, é ativado facilmente pela sedução duguinista que levará a todos a enfileirarem-se nas correntes de Prometeu, no conflito final que arrastará almas ao inferno, finalmente visto como “libertação” de Deus.
Não temos perdoado ninguém, não temos esquecido nada. Não temos sido enganados pelas mudanças de cenário social e atores políticos. Nós temos uma memória muito boa, temos braços “muito longos”. Nós temos uma tradição muito severa. Labirintos da vida, espirais de idéias, vórtices de raiva. (Dugin, o gnóstico)
A porta de entrada para o fosso abissal lovecraftiano, cujo conhecimento enlouquece, é o guenonismo, os estudos de religiões comparadas sem um critério claro, mantido por jovens carentes de sentido e de tradição, fatalmente levados a um simulacro de tradição que falsifica a verdadeira ao oferecer um falso benefício: o conhecimento.
Pouco importa se Dugin é rejeitado pelos chamados tradicionalistas guenonianos. Alegar uma discordância, mesmo metafísica, é desconhecer a forma como agem os ideólogos e ignorar o fundo do caoísmo tão flagrantemente professado, não apenas por Dugin, mas por todos os que optam pelo mal como caminho para deter um outro mal. Essa via, sendo de mão direita ou mão esquerda, não tem volta.
Quem é o filósofo russo tido como influenciador de Putin
Considerado fascista, Alexander Dugin, de 60 anos, defende a construção da “Grande Eurásia” contra o Ocidente
As tropas russas na fronteira da Ucrânia e a guerra verbal entre o Kremlin, de um lado, e os Estados Unidos e aliados europeus, de outro, trouxeram à tona o nome de Alexander Dugin. Professor do Departamento de Sociologia da Universidade Estatal de Moscou e influenciador do segmento conservador do país, Dugin é apontado como o gênio geopolítico por trás dos movimentos de Vladimir Putin.
Não há evidências de que na cabeceira do presidente da Rússia haja uma pilha de livros do ideólogo conservador. Mas há quem creia que o filósofo russo tenha peso no xadrez de Putin contra a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) desde a invasão da Crimeia, em 2014.
Dugin, de 60 anos, se diz nascido na “Mãe Rússia” no seu perfil no Twitter. Foi em Moscou. É conhecido há décadas por think-tanks norte-americanos e europeus. Entre eles, o Woodrow Wilson Center, de Washington (EUA).
Sua produção intelectual tem sido acompanhada com lupa. Está no rol de pensadores nacionalistas ortodoxos que, na esfera geopolítica, investem contra a “ordem hegemônica Atlântica” liderada pelos Estados Unidos –liberal, globalista e progressista em termos de valores sociais e costumes.
Sobretudo, está vinculado às diferentes expressões usadas para o fascismo. O ucraniano Anton Shekhovtsov, pesquisador da Universidade de Northampton, no Reino Unido, classifica Dugin como ideólogo de uma “variação do fascismo”. Alan Ingram, professor da University College London, o avalia como “neofascista”. O rótulo parece ter fundamento.
O ideólogo encontrou na afinidade religiosa do povo russo a semente de um caráter fascista genuíno. Não vê problema nisso. Mas no livro “A Quarta Teoria Política” (2009), editado no Brasil pela Ars Regia, advoga a superação do liberalismo, do comunismo e também do fascismo. Está em permanente ebulição mental.
Até o momento, não abandonou sua visão de um mundo bipolar, com a Rússia do lado que sairia vencedor.
O enunciado de seu nome traz duas diferenças em relação aos demais ideólogos nacionalistas. Dugin defende a construção da “Grande Eurásia”, aliança entre a Rússia e a China, como polo oposto ao ocidental. E não é mais uma versão de pensador superficial que se alavanca em cursos rápidos na internet e em manifestos distribuídos nas redes sociais.
Em recente artigo, de 8 de fevereiro, Dugin exprimiu euforia com a reunião de cúpula sino-russa, no dia 4 em Pequim. Para ele, significou o “fim irreversível da hegemonia ocidental”. “O recente encontro entre Putin e Xi Jinping não deixa dúvidas da seriedade da Grande Eurásia e de que essa decisão foi tomada. Daí o forte ataque do ultraliberal e globalista [Georges] Soros à China”, escreveu no blog “geopolitica.ru”, referindo-se ao megainvestidor de origem húngara.
No centro do que imagina ser a “Grande Eurásia” está a retomada da Rússia como irradiadora de poder mundial. Sempre ao lado da China. Não se remete só ao poderio da União Soviética, nos tempos da Guerra Fria (1945-1991). Também demonstra saudosismo com a “Mãe de todas as Rússias” do período czarista.
Dugin já chamou Putin de “o homem da Eurásia” –um elogio, em seu ponto de vista. Anos depois, se arrependeu. Em 2005, declarou-se desapontado com o líder por ter hesitado em adotar o eurasianismo e por se cercar de “atlanticistas” e liberais.
Defende o “Estado total” e o nacionalismo embasado no cristianismo ortodoxo. Apoia o modelo econômico orientado pelo Estado autocrático. A democracia não é um valor em sua ideologia. Deve ser descartada, assim como a forma de governo parlamentarista, o individualismo e os direitos humanos.
Para o filósofo, são repulsivos os novos “dogmas liberais” do Ocidente e recentes “formas patológicas”. Ele os enumerou no artigo deste mês: a “imposição totalitária agressiva do LGBT+, do casamento gay e outras perversões, assim como a ameaça de entregar diretamente o poder à Inteligência Artificial, no que os projetos pós humanistas das Big Tech se reduziram”.
Acrescentou a esse elenco as políticas de combate à covid, que rejeita vacina obrigatória, testagem, passaporte vacinal. “É claro que o colapso do liberalismo está perto”, completou.
Olavo de Carvalho
É questionável sua avaliação de que a ordem ocidental, tal como enxerga, esteja em decadência e prestes a colapsar. Daria margem para anos de debates contínuos. Da mesma forma é sua visão de que a China abraçaria de bom grado o projeto russo de “Grande Eurásia”. Mas sua linha de pensamento encontra eco em setores políticos e na academia de países europeus, da Ásia e das Américas.
No Brasil, inclusive, onde é um dos ícones do movimento Nova Resistência, nascido no interior de São Paulo. O grupo é defensor da “Quarta Teoria Política”, título de uma das obras de Dugin, de 2009. Assim resume sua verve em portal na internet: “resistência às políticas econômicas neoliberais, ao imperialismo atlantista, à agenda globalista e ao lobby sionista nas mídias e nos governos”.
A Vide Editorial, de Campinas (SP), publicou o livro “Os EUA e a Nova Ordem Social – Debate entre Alexander Dugin e Olavo de Carvalho”. Trata-se da versão escrita de diálogo em 14 de agosto de 2019, com áudio disponível no YouTube. Carvalho é apontado como o ideológico do governo de Jair Bolsonaro –no que tem a ver, especialmente, com suas alianças políticas no exterior e sua agenda de costumes.
Naquele artigo de 8 de fevereiro, Dugin menciona o Brasil entre os países que terão de fazer uma escolha entre a Grande Eurásia e o decadente “atlanticismo”. Das Américas, incluiu Argentina, Venezuela, Cuba e Nicarágua. Trata-se de um grupo ao qual o presidente Jair Bolsonaro mantém total aversão política. O ideólogo, porém, viu sinais de convergência nas suas futuras escolhas dessas Nações.
“Rússia e China podem dar as boas-vindas a outros candidatos [ao alinhamento com a Eurásia]: América Latina (como ressaltado durante a vista de Alberto Fernández, presidente da Argentina, a Moscou e como certamente será discutido durante a esperada visita do presidente brasileiro, Bolsonaro)”, escreveu. Bolsonaro e Fernández jamais tiveram encontro bilateral.
“O indivíduo é nada”
Dugin é autor de mais de 30 livros. “Fundamentos da Geopolítica” (1997) não é encontrado em português. A obra é tida por seus seguidores como o “manifesto do destino da Rússia”. Alguns foram traduzidos para o português no Brasil e em Portugal: “A Grande Guerra dos Continentes”, da Editora Antagonista, e “Teoria do Mundo Multipolar” e “Geopolítica da Rússia Contemporânea”, editados pela IAEGCA –não há portal dessa empresa na internet.
Sua biografia mostra períodos de engajamento mais forte com ideias fascistas, depois com o comunismo stalinista e, em alguns momentos, com o antissemitismo. Permanentemente, manteve-se em sintonia com pensamento conservador e cristão ortodoxo russo, contrário ao individualismo e ao Estado liberal.
Criou a ideia de que o Estado é “tudo e que o indivíduo é nada”.
Não é o fundador do movimento eurasiano. Abraçou-o na 2ª metade dos anos 1980, quando o poder da União Soviética desmoronava. Fez parte da organização fascista Pamiat. Saiu em 1989, quando caía o Muro de Berlim, condenando a visão monarquista e antissemita do movimento.
Aproximou-se do chamado tradicionalismo. Nos anos 1990, aprofundou seus vínculos com a órbita comunista e tornou-se ideólogo do Partido Nacional Bolchevique.
Chegou a concorrer pela legenda por uma cadeira na Duma, a Casa Baixa do Legislativo russo. Não conseguiu se eleger. No final da década, deixou o PNB e tornou-se conselheiro de Gennady Seleznyov, presidente da Duma de 1996 a 2003.
Em seguida, de Vladimir Zhirinovsky, político populista de direita e então presidente do Conselho de Segurança Nacional da Duma. O também ex-presidente da Duma Sergey Naryshkin (2011-2016), teria sido igualmente influenciado por Dugin. Se chegou direta ou indiretamente a Putin, este será mais um dos segredos do Kremlin.
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