quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Cartilha Sodré para baixar completa, de Benedicta Sthal Sodré


Cartilha Sodré para baixar completa, de Benedicta Sthal Sodré

Cartilha de Alfabetização Sodré  (Benedicta Sthal Sodré), chegou a vender mais de 6 milhões de exemplares em suas 273 edições e marcou uma geração. As pessoas que com ela estudaram são saudosas de seu pequeno livro de leitura, que hoje em dia passou a valer muito. Só para se ter idéia, um exemplar pode chegar a custar de 500 a mil  reais!
Exatamente por isto estou colocando aqui a cartilha para quem deseja matar as saudades e não dispõe de tanto para dar em um livro didático, mesmo que ele seja muito querido e tenha feito parte de sua vida. Aproveite e mate a saudade das lições, como a famosa lição "a pata nada" que muita gente não esquece até os dias de hoje. Segue abaixo um histórico da cartilha.


Histórico da primeira versão, aquela da garotinha de tranças:


Capa da Cartilha Sodré , (1ª ed., 1940)


219.e. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1951. [Não foi possível localizar a editora que publicou as primeiras edições, cuja 1a. edição é de 1940. A partir da 46a. edição, de 1948, a Cartilha Sodré passou a ser publicada pela Companhia Editora Nacional. Conforme dados da editora, de 1948 até 1989, data da última edição, a 273a., foram produzidos 6.060.351 exemplares. Em 1977, ela foi remodelada por Isis Sodré Verganini. Além da alteração no formato da cartilha, foram acrescentadas mais de 30 páginas.] Diário de Lições. Delphina Spiteri Passos [Caderno do professor indicando como se deveria trabalhar em sala de aula com a Cartilha Sodré, lição da para.]




A edição que está disponível aqui não é aquela primeira, foi reformulada. Porém não perde o significado, continua sendo maravilhoso poder ter contato ainda hoje com um material com a Cartilha Sodré, de Benedicta Sthal Sodré!









Clique NO LINK abaixo para baixar a cartilha sodré completa


















SEGUE UM ARTIGO QUE ACHEI INTERESSANTE, DE ROMILDO SANTANA:

ROMILDO SANT'ANNA
Maravilhosa cartilha Sodré


Era uma brochura grampeada na dobra. Na capa fosca e esverdeada, uma menina de tranças sorria pra gente e convidava à ventura das primeiras letras. Com 64 páginas, tinha tamanho pouco maior que as cadernetas que marcavam o fiado no empório, ou os almanaques que nos entretinham em viagens de trem. A autora, nossa heroína, era Benedicta Stahl Sodré, identificada com letras miúdas na capa. Ela e Dona Celina, a primeira professora, parece que adivinhavam a sílaba à frente nas veredas de sentenças complicadas e escuridões da vida. Nossa cartilha alcançou quase 300 edições e multidão de exemplares vendidos, bem baratinhos.

Recordo a primeira lição. Era da pata e, lógico, tinha uma pata branca flutuando no lago. “A pata nada. Pata-pá, nada-ná”, repetíamos em voz alta olhando a figura e letras de professora. Reconhecemos o “p”, o “n” e a primeira vogal, aquela da abelha. Depois vieram o “g” de gato, o “m” dum macaco contente e o “z” de Zazá zanzando em fim de ano. O método de ensino – dizem os pedagogos – era o fônico, que associava as letras e seus desenhos ao som dos vocábulos. Com alegria de aprender, desafiávamos em batalhas gritantes a turma da sala ao lado, bradando em coro: “ Vovô viu a uva! Vovô viu a uva!”. E eles, que aprendiam na Caminho Suave, respondiam ruidosos tropeçando em consoantes: “O rato roeu a roupa do rei de Roma!”. A Suave não era grampeada nem parecia caderneta. Achávamos bonita, maiorzona, com um casal de crianças na estrada apontando com o dedo o futuro. Mas soava meio estranha, talvez porque não a tivéssemos. A criançada da turma de lá, com a qual competíamos também em caligrafia e aritmética, não escondia serena inveja da nossa cartilha, a velha e simplezinha Sodré.

Naquela época, ser analfabeto era comum na cidade. Muita criança de ponta de vila, como nós, nem ia à escola. Mas os que a freqüentavam, às vezes de pé no chão, saíamos lendo, escrevendo e entendendo o que líamos. O boletim não era uma folha fria de computador, mas questão de honra, atestado de que nos havíamos no mundo, com notas azuis e assustadores vermelhos escritos à mão. O material escolar cabia no pequeno bornal dos garotos ou em bolsas de couro geralmente das meninas. E, sem que percebêssemos, já estávamos numa assustadora selva de Ubirajara, ou nos encantávamos com o despertar adolescente de Clarissa, fervendo em nós a puberdade, apaixonados por ela.

Hoje , alfabetização não passa de um percentual estatístico. Não havia o contingente escandaloso dos analfabetos funcionais, que crescem, garatujam nomes em títulos de eleitor, são capazes de soletrar o escrito num cartaz, mas não retêm a mensagem. Li dia desses o comunicado de um garoto bem maior que nós, naquela época: “mae tou na caza do Biau jogando game e vc nao preocupeçe ok?”. E ela, talvez, nem se preocupou.

Discute-se o decepcionante resultado escolar dos pequenos brasileiros. Pesquisa recente informa que menos de 5% dos alunos de 4ª série tiveram desempenho adequado, sabem de fato ler e escrever. Os demais revelam aproveitamento abaixo do que necessitariam para a cidadania e emancipação futura. A nova alfabetização recebe nome pomposo e retórico: construtivista. Nega ênfase à relação sonora entre letras, os desenhos e as palavras, faz da velha cartilha um exemplo tosco de antanho. Prefere que o aprendizado se faça da união entre o cotidiano da criança e as palavras a ele relacionadas. Os livros, luxuosos e caríssimos, a ostentar brilhos superficiais, fazem a festa de editores e livreiros no início de cada ano. Enfeixam boniteza arrogante e transformam filhos e pais em submissos reféns. Algumas escolas, diante de material tão sedutor – e inócuo, parece, segundo os resultados –, usam tais apetrechos pedagógicos como alavancas ornamentais a justificar o alto preço das mensalidades. Quanto ao principal, ensinar a que as crianças aprendam, parece que em alguns casos as escolas se acomodam, culpam implicitamente as crianças, o berço que tiveram ou, talvez, a sociedade com a educação geral em declínio.

Assistimos à degradação da escola pública, determinada pela apatia venal dos dirigentes políticos. Educadores desesperam-se entre salas inconvenientes e salários ultrajantes. À parte, como se fora noutro mundo, por uma criança de 5ª série, em colégio privado, cobra-se por ano letivo mais de 7.500 reais, em treze prestações. Isto porque fomentado por religiosos e entidades sem fins lucrativos. O livro de português custa 57, o de matemática, 64, os de história e geografia, 117, o de ciências, 59, mais caros que um Prêmio Nobel. São tantos e volumosos os arsenais didáticos que necessitam de mochilas com rodas pra que sejam transportados. Tudo como se matérias escolares tivessem valor pelo que pesam, proporcionais em papel-moeda. Chego a pensar que, ao dar-se conta dessa ostentação perdulária no contexto do país, uma criança adquira, inocentemente, as primeiras letras do alfabeto inclemente da segregação social. É assim mesmo – aprendem no sub-reptício – somos a casta privilegiada. A vida é nota zero em solidariedade, e salve-se quem puder! Saudade da velha cartilha enfiada no piquá.


Romildo Sant'Anna, escritor e jornalista, é professor do curso de pós-graduação em "Comunicação" da Unimar - Universidade de Marílía, comentarista do jornal TEM Notícias - 2" edição, da TV TEM (Rede Globo) e curador do Museu de Arte Primitivista 'José Antônio da Silva' e Pinacoteca de São José do Rio Preto. Como escritor, ensaísta e crítico de arte, diretor de cinema e teatro, recebeu mais de 40 prêmios nacionais e internacionais. Mestre e Doutor pela USP e Livre-docente pela UNESP, é assessor científico da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Foi sub-secretário regional da SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.


"..
.mando uma página da cartilha que foi usada para a
minha alfabetização no Grupo Escolar do Bairro da Granada, entre 1947 e
1949. A primeira página foi perdida, mas nós a chavámos da Cartilha da Pata Nada."



ACIMA, A FAMOSA LIÇÃO DA OSMARINA - CARTILHA SODRÉ


ACIMA, FAMOSA LIÇÃO A PATA NADA, CARTILHA SODRÉ


A VERSÃO DOS ANOS 40


FOLHA DE ROSTO CARTILHA SODRÉ ANOS 40


MAIS UMA VERSÃO A PATA NADA CARTIHA SODRÉ






Fontes da pesquisa:

Anos dourados blog, Arquivos Mário Covas São paulo, Quata. com classificados antigos, Fotos de comercialização da cartilha em sites de venda diversos, Triplov.com


Esta postagem pertence ao Espaço Educar.
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BIOGRAFIA: BENEDICTA STAHL SODRÉ - A RELEVÂNCIA DE BENEDICTA STAHL SODRÉ NO CONTEXTO

CAPÍTULO 3 A RELEVÂNCIA DE BENEDICTA STAHL SODRÉ NO CONTEXTO

3.1. BIOGRAFIA: BENEDICTA STAHL SODRÉ

A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás.

Soren Kierkegaard

Filha de imigrantes alemães, Alfredo José Stahl e Guilhermina Catarina Elizabeth Von Landgraf Stahl, Benedicta Stahl nasceu a 17 de agosto de 1900 em Ribeirão Bonito, no interior do estado de São Paulo.

Nasce em um lar pautado pelo amor, carinho e respeito mútuo. Seu nome foi escolhido em homenagem à zelosa parteira que esteve presente em seu nascimento: Benedicta - sua vida foi mesmo bendita, com o mover de Deus percebido desde o início.

Seu lar foi um lar feliz; seu pai, um comerciante muito querido na pequena cidade onde moravam; e sua mãe, uma mulher extremamente dedicada não só ao lar, mas também ao propósito de ajudar ao próximo. Um exemplo disso foi sua atitude de caridade ao adotar Maria, uma criança de apenas quinze dias, que fora abandonada pela mãe.

Quando Bêne, como era chamada pelos familiares, estava com sete anos de idade, uma tragédia se abateu sobre seu lar. Seu pai viajou para São Paulo, como de costume, para abastecer seu comércio. Dessa vez, porém, foi diferente. À noite, Guilhermina, sua mãe, sonhou que um anjo lhe apareceu e lhe entregou uma carta, na qual seu marido pedia que ela fosse para São Paulo, pois ele estava

passando muito mal e queria vê-la antes de partir. O endereço era: Santa Casa de Misericórdia, Rua da Glória.

Embora sabendo das dificuldades que iria encontrar numa cidade grande e desconhecida e tendo em mãos um endereço um tanto vago, Guilhermina corajosamente parte com a filha para a capital. Ao chegar ao hospital, informaram- lhe que de fato Alfredo Stahl estava ali hospitalizado em estado de coma, e que certamente não a poderia reconhecer.

Ao adentrar o quarto e chamá-lo pelo nome, surpreendentemente Alfredo abrira os olhos, sorrira e perguntara: “você recebeu minha carta?” Com carinho estendeu a mão até alcançar a filha e disse: “cuide bem desta menina e a faça estudar, pois ela será de grande valia para a humanidade”. Poucas horas depois, ele falecera.

Assim, Guilhermina com menos de trinta anos, Bêne com apenas sete anos e Maria com apenas três meses ficaram sozinhas. A mãe, contudo, não se deixou esmorecer, passou a costurar para sustentar e educar as duas crianças.

Em 1910, quando Bêne estava concluindo o curso primário em Ribeirão Bonito, sua mãe novamente teve um sonho. Daquela vez, viu um anjo confirmando o que o marido lhe havia dito no hospital: ela deveria fazer com que Bêne se formasse professora, pois ela teria uma grande missão a cumprir.

Assim, mais uma vez orientada por Deus, mudou-se para Piracicaba. Foi nessa cidade que Guilhermina conheceu o Evangelho. Uma de suas freguesas de costura a convidou para assistir a um culto na Igreja Metodista, pois naquele domingo pregaria um pastor de fora. Foi, então, à igreja pela primeira vez. Ficou

impressionada com a liturgia impecável, com as músicas muito bem ensaiadas pelo coral e com a igreja repleta.

Pelo boletim distribuído à porta, soube dos cultos às quartas-feiras, e já na semana seguinte lá estava ela. Qual não foi sua decepção ao encontrar a igreja quase vazia, sem coral, sem organista, hinos desafinados e arrastados. Ficou ensimesmada e se perguntando como poderia aquela igreja ser boa, se os próprios membros só iam nos dias de festa? Naquela semana sonhara com a passagem do caminho largo e do caminho estreito, mas não entendera o que significava. Assim, resolvera conversar com o pastor da igreja.

Quando o pastor começou a falar, ficou surpresa ao ouvir a leitura da passagem com que houvera sonhado. A pregação respondeu a todas as suas dúvidas, sem que fosse necessário ela ter feito sequer uma pergunta. Começou a freqüentar a Igreja e se dedicou intensamente ao conhecimento da Palavra de Deus. Desde então, tornou-se inteiramente consagrada ao Senhor. Depois de algum tempo, passou a dar aulas na Escola Dominical da Igreja Metodista de Piracicaba.

Numa época em que as mulheres não eram valorizadas em atividades que não as do lar e em que pouquíssimas eram as que podiam estudavar, Bêne fez seus estudos com brilhantismo no Colégio Metodista Piracicabano e formou-se professora, pela Escola Normal Sud Menucci.

Sua vocação para o magistério se fez notar desde muito cedo, pois, antes mesmo de sua formatura, com apenas quatorze anos de idade, já lecionava particularmente, o que era inusitado para sua época.

Indicada pela diretoria do Colégio Piracicabano, passou a lecionar para Emma de Morais, neta de Prudente de Morais. A família de Emma - que aguardava a chegada de uma professora mais idosa e experiente - decepcionara- se com a presença de uma menina de tranças, alegre e sorridente. As aulas se iniciaram, mas a família insegura passou discretamente a acompanhar o ensino e avaliar os resultados do aprendizado. Passado algum tempo, a família foi ao colégio agradecer pela escolha da encantadora pequena mestra que havia sido indicada.

Assim, Bêne lecionou para Emma entre 1914 e 1918, até realmente se formar professora. Em 1919, já formada professora, foi nomeada por concurso para a escola da Fazenda Água-virtuosa, região de Ribeirão Bonito, começando assim sua carreira no magistério público.

Desde o início, sua grande preocupação com a formação completa do aluno era evidente. Como cristã, sabia que a educação sempre seria fundamental para a formação do homem e para a construção do mundo – tinha sempre em mente o texto de Provérbios 22.6: “Ensina a criança no caminho em que deve andar e, ainda quando for velho, não se desviará dele”. Segundo suas próprias palavras, “do professor depende não só o futuro do país, mas da humanidade”. Cônscia de sua responsabilidade, entregou-se inteiramente a essa missão.

Não poupou esforços para melhorar o ensino, não só buscando uma maneira mais rápida e fácil de alfabetizar, mas também não se descuidando da formação dos alunos como cidadãos.

Se ainda hoje o valor que se dá à educação é precário até mesmo nos grandes centros, pode-se imaginar como essa conscientização era nula,

principalmente no interior do Estado no início do século XX. No entanto, a jovem garota de apenas dezenove anos não se deixou esmorecer. Tinha consciência de que os pais também precisavam receber orientação para se envolverem na educação dos filhos. Assim, começou um trabalho de educação junto aos pais, dando-lhes orientação sobre alimentação, higiene, civismo, religião, dentre outras informações.

Com a autorização do administrador da Fazenda Água-virtuosa, deu início a uma Escola Dominical. Nessa mesma fazenda, criou a “Liga de Abstinência” para combater o vício do fumo e do álcool, pois até mesmo crianças fumavam e bebiam. Passou a valorizar e comemorar as datas cívicas e religiosas, possibilitando aos moradores desse lugar a experiência, pela primeira vez, de assistir e participar de uma verdadeira festa de Natal.

Muitas pessoas que conheceram o evangelho nessa fazenda por intermédio de Bêne tornaram-se crentes ativos e muitos pastores hoje são netos ou bisnetos dessas famílias. Quando deixou a fazenda, a Escola Dominical contava com mais de cem alunos. Ao se remover dessa escola, recebeu inúmeras manifestações de reconhecimento e gratidão pelo seu trabalho, enaltecendo-a como uma grande mestra e uma educadora modelo, pois em tão pouco tempo transformou a vida daqueles que com ela conviveram.

Teve forte presença nas escolas de Ipauçu, Cabrália, Elias Fausto, e finalmente em São Carlos, onde lecionou no EEPG Eugênio Franco, e EEPG Cel. Paulino Carlos. Em todos esses lugares, trabalhou com o mesmo entusiasmo, dedicação e amor a Deus, o que a levou a obtenção de excelentes resultados (vide anexo I: termo de visita escolar – figura 18).

As cidades interioranas eram desprovidas de igrejas evangélicas, assim, em todas as cidades onde morou, deu início ao trabalho de evangelização em sua casa e este trabalho sempre resultou na constituição de uma igreja. Em Elias Fausto, hoje há um templo no lugar onde ela morou e deu início a uma Escola Dominical. Nessa cidade, na primeira visita feita pelo Reverendo José Borges, foram recebidos pela profissão de fé oito membros. Em Indaiatuba, por falta de pastor, Bêne chegou a oficiar um enterro.

Reverendo Guaracy Silveira também visitava de tempos em tempos as congregações por ela dirigidas a fim de proceder a rituais de batizados e casamentos. Em São Carlos, na Igreja Presbiteriana, foi professora da Escola Dominical, Diretora da Liga Juvenil, Presidente da Sociedade Auxiliadora Feminina e Superintendente da Escola Dominical. Também proferiu diversas palestras para jovens e adultos não só nessa cidade, mas também em muitas outras cidades do interior.

Foi justamente em São Carlos que ela se casou com o professor Abel de Faria Sodré, igualmente muito empenhado na lida do ensino. E teve três filhas: Hertha, Chlóris e Isis.

Sua preocupação em passar para as crianças uma formação completa sempre esteve presente em sua vida. Por essa razão, procurava ensinar-lhes as matérias básicas do curso, mas, sobretudo inculcar-lhes noções de higiene, civismo, boas maneiras, amor ao trabalho, honestidade, entre tantas outras matérias, a fim de que elas pudessem tornar-se aptas a vencer na vida.

Desde o início de sua carreira, percebera que havia uma grande evasão escolar e, analisando os dados, compreendeu que o fato decorria da morosidade do processo de alfabetização. As crianças custavam a aprender a ler e, com isso, sentiam-se desestimuladas. Muitos pais concordavam com a incapacidade de seus filhos para a atividade de ler e escrever; julgavam que faltavam-lhes habilidades para isso e que deveriam, então, ser tirados da escola. Acreditavam, assim, ser mais proveitoso que esses filhos iniciassem a vida profissional.

Inconformada com essa triste realidade, Bêne começou a dedicar-se com maior afinco ao propósito de criar um método de alfabetização que se demonstrasse rápido e eficiente, que cumprisse sua função em sala de aula.

Como resultado de sua dedicação ao magistério e da sua obstinação na procura de um método de alfabetização eficiente, organizou em parceria com seu esposo o “Processo de Alfabetização Rápida”. Prontamente, certificou-se de que esse método favorecia a real alfabetização das crianças, de modo que, ao final de um ano letivo, demonstrassem o domínio das habilidades previstas.

A primeira experiência com esse novo método foi feita no Grupo Escolar da Vila Prado, hoje EEPG Bispo Don Gastão, onde seu esposo, professor Abel, era diretor. Todas as primeiras séries obtiveram, pela primeira vez, cem por cento de aprovação. Nessa ocasião, o delegado de ensino, professor Faria Neto, ficou muito impressionado com os resultados e pediu à professora Benedicta que fosse até Piracicaba para fazer palestras expositivas do método para os professores das primeiras séries de toda região.

Em 1937, Piracicaba ganhou o primeiro lugar no estado de São Paulo na porcentagem de aprovação na área de alfabetização. Com isso, os professores ficaram muito entusiasmados e manifestaram o desejo de ter uma cartilha para lhes facilitar ainda mais a tarefa de ensinar.

Tendo em vista o sucesso alcançado pelo método aplicado na região, o professor Faria Neto novamente a procurou em nome dos professores a fim de convencê-la a publicar uma cartilha, pois esse material beneficiaria não só os professores das regiões próximas, mas também de todas as regiões do Brasil – como de fato ocorreu. Para convencê-la, segundo ela mesma contava, o professor Faria Neto usou a seguinte frase: “Dona Benedicta, editar essa Cartilha é um dever que a senhora tem para com Deus e para com a Pátria”.

A publicação da Cartilha Sodré não foi um empreendimento fácil para sua autora. Além de sua condição de viúva, com três filhas pequenas – seis anos, cinco anos e dois meses e meio – e lecionando, havia também o preconceito sofrido pela mulher nessa época. Basta lembrar que as mulheres não podiam sequer sair às ruas desacompanhadas, nem se pôr à frente de negócios. Foi preciso ter muita coragem para vencer todas as dificuldades e muita certeza de que essa era uma missão que Deus lhe dera e que Ele não a desampararia.

Com sua fé, coragem e obstinação, Bêne venceu todos os obstáculos e a Cartilha Sodré foi publicada pela primeira vez pela Imprensa Metodista de São Paulo, em 1939, com 10.000 exemplares que se esgotaram rapidamente. O nome Cartilha Sodré foi uma homenagem ao seu marido, falecido em 1936, vítima de acidente de trânsito na cidade de São Paulo.

A Cartilha Sodré com seu processo de alfabetização foi uma verdadeira revolução no setor primário das escolas do País. Por conter um método simples, lógico e de fácil aplicação, – podendo comprovadamente ser aplicado até por leigos, tanto para crianças quanto para adultos – espalhou-se por todo o Brasil. Nos anos seguintes, devido ao grande sucesso, as tiragens foram aumentando, chegando ao expressivo número de 300.000 exemplares por ano, com edições totalmente esgotadas. Destarte, milhões de brasileiros foram alfabetizados por meio dessa cartilha e muitos ainda com carinho lembram-se da sua primeira lição: “A pata nada”.

Com esse método, o aluno já no primeiro semestre encontra-se alfabetizado, reservando-se o segundo semestre ao reforço da leitura. Para tanto, ela publicou as Primeiras lições úteis, cujas lições foram elaboradas de acordo com a ordem crescente das dificuldades apresentadas na cartilha.

A tiragem de ambos os livros estava aumentando muito e a Imprensa Metodista não possuía mais estrutura física para atender à demanda tanto de impressão quanto de distribuição do material. Tornou-se necessário, por essa razão, procurar uma editora maior. Nesse ínterim, a Companhia Editora Nacional, atual IBEP-Nacional, assumiu a publicação e distribuição dos livros.

Esse não foi, contudo, o último trabalho de Benedicta Sodré. Publicou o 2º Livro Sodré, cujas lições desenvolvem o programa da História da Pátria, noções comuns e geografia, exercícios de linguagem e trabalhos manuais; o 3º e o 4º Livro Sodré, cujas lições são altamente educativas e instrutivas. Nota-se em cada um dos livros a grande preocupação não só em auxiliar o professor no cumprimento do currículo escolar, mas também em transmitir às crianças lições de civismo, educação, higiene e amor a Deus.

Das mais distantes regiões do Brasil, a professora Benedicta Sodré recebeu incontáveis manifestações de apreço. Ainda em vida, foi laureada com inúmeras homenagens: doação de seu nome a um grande número de bibliotecas e Clubes do Livro, homenagens da Câmara Brasileira, medalhas de honra ao mérito, título de Cidadã, entre tantos outros. Mesmo após sua morte, foi ainda alvo de muitas homenagens.

O valor de sua obra é apreendido pelo destaque que emprestou às condições do desenvolvimento infantil, transformando a maneira de aprender e ensinar, ajustando-as à psicologia infantil, sem que em nenhum momento se descuidasse da formação completa do educando.

O seu valor pessoal foi também inestimável, um verdadeiro exemplo de vida. Não foi só uma filha exemplar, foi também professora dedicadíssima, mãe zelosa, crente fiel e, acima de tudo, uma mulher muito à frente de seu tempo.

Mesmo sozinha, enfrentou com coragem e ousadia todas as dificuldades, desde aquelas impostas pela sociedade extremamente machista da época, até aquelas mais cotidianas de sua profissão. Venceu-as todas com um brilhantismo balizado sempre pela humildade e confiança em Deus. Assim, segundo o salmista, ela também afirmava: “Neste Deus ponho a minha confiança e nada temerei” – Salmo. 56-11.

De modo similar agiu com respeito à educação das filhas, demonstrando seu amor pela instrução e pelo progresso. Incentivou-as a cursar faculdade, coisa pouco comum na época. Foi assim que Hertha formou-se em Pedagogia (1948), Chlóris em Letras Anglo-Germânicas (1949), ambas formadas pela PUC de

Campinas; e Isis formou-se professora com apenas dezessete anos de idade (1953) pela Escola Normal Dr. Álvaro Guião, em São Carlos. Por obter o primeiro lugar na classificação de sua turma, ganhou um prêmio muito cobiçado e valorizado: “Cadeira Prêmio”, o que a levou a dedicação exclusiva ao magistério, depois vindo a desempenhar a função de coordenadora de ensino.

Hertha não se casou; Chlóris casou-se em 1953 com Sidney Alexandre Terence e teve duas filhas: Elieth e Eleny; Isis casou-se em 1956 com Jácomo Vergamini e teve dois filhos: Fernando Celso e Lenise.

Benedicta faleceu em 1972, mas sua lembrança se mantém viva até os dias de hoje. Seus livros, mesmo após a sua morte, continuaram falando muito alto daquilo que ela sempre amou: Deus, sua Pátria, sua gente, auxiliando na erradicação do analfabetismo do Brasil – sua grande preocupação. Em suma, Benedicta Stahl Sodré constitui-se um verdadeiro exemplo de mulher que jamais esmorece na luta por um ideal e que confia incondicionalmente em Deus.



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