sábado, 9 de setembro de 2023

Ida e Volta ao Inferno: Excertos dos capítulos 30 e 31 do terceiro canto do Srimad-Bhagavatam

Ida e Volta ao Inferno

Kapiladeva

Excertos dos capítulos 30 e 31 do terceiro canto do Srimad-Bhagavatam

Assim como uma massa de nuvens desconhece a poderosa influência do vento, uma pessoa absorta em consciência material desconhece a poderosa força do fator tempo, que a está arrastando. Qualquer coisa que o materialista produza, com grande dor e esforço, em troca da dita felicidade, a Suprema Personalidade de Deus, como o fator tempo, destrói, em virtude do que a alma condicio­nada se lamenta. O materialista desorientado não sabe que seu próprio corpo é impermanente e que os atrativos do lar, da terra e da riqueza, que estão relacionados com este corpo, também são temporários. Somente por ignorância ele pensa que tudo é permanente.

A entidade viva, seja qual for a espécie de vida em que apareça, encontra nela um tipo específico de satisfação, e nunca tem aversão a estar situada em tal condição. A entidade viva condicionada sente-se satisfeita em sua própria espécie de vida em particular. Enquanto está iludida pela influência encobridora da energia ilusória, ela sente-se pouco inclinada a deixar seu corpo, mesmo que esteja no inferno, pois ela sente deleite no gozo infernal.

Uma Vida Comprometida com a Ilusão

Semelhante satisfação com seu padrão de vida deve-se à profundamente arraigada atração pelo corpo, esposa, lar, filhos, animais, riqueza e amigos. Em semelhante associação, a alma condicionada julga-se completamente perfeita.

Embora sempre esteja ardendo em ansiedade, um tolo assim sempre executa atividades malignas de toda sorte, com uma esperança que jamais será satisfeita, a fim de manter sua dita família e dita sociedade. Ele entrega o coração e os sentidos a uma mulher, que falsamente o enfeitiça com maya. Ele desfruta de abraços solitários e conversas com ela, e fica encantado com as doces palavras de seus filhinhos. O chefe de família apegado permanece em sua vida familiar, que é cheia de diplomacia e política. Sempre disseminando misérias e controlado por atos de gozo dos sentidos, ele age somente para neutralizar as reações de todas as suas misérias e, se consegue neutralizar tais misérias com sucesso, pensa que é feliz.

Ele consegue dinheiro cometendo violência em diferentes lugares e, embora o empregue a serviço de sua família, ele próprio come apenas uma pequena porção do alimento assim adquirido, e vai para o inferno por aqueles para quem ganhou o dinheiro de maneira tão irregular.

Quando sofre reveses em sua ocupação, ele tenta repetidamente aprimorar-se, mas, quando se frustram todas as suas tentativas e ele se vê arruinado, ele aceita dinheiro dos outros devido à cobiça excessiva. Deste modo, o homem desventurado, mal sucedido em manter os membros de sua família, é destituído de toda beleza. Ele sempre pensa em seu fracasso, enchendo-se de profundo pesar. Vendo-o incapaz de sustentá-los, sua esposa e outros não o tratam com o mesmo respeito de antes, assim como fazendeiros avarentos não concedem o mesmo tratamento a seu gado velho e ocioso. O chefe de família tolo não sente aversão pelavida familiar, embora seja mantido por aqueles a quem um dia sustentou.

Deformado pela influência da velhice, ele se prepara para encontrar-se com a morte fatal. Assim, ele permanece em casa como um cão de estimação e come qualquer coisa que lhe seja dada com displicência. Atacado por muitos males, tais como dispepsia e perda de apetite, ele come somente pequeníssimos bocados de alimento, e se torna um inválido, que não pode mais trabalhar. Nessa condição doentia, seus olhos esbugalham-se devido à pressão interna do ar, e suas glândulas ficam congestionadas com muco. Ele tem dificuldade de respirar e, ao exalar e ao inalar, produz um som parecido com “ghura-ghura”, um ruído dentro da garganta.

Dessa maneira, ele tomba nas garras da morte e jaz, cercado por lúgubres amigos e parentes, e, embora queira falar com eles, já não consegue, porque caiu sob o controle do tempo. Assim, o homem que, com sentidos descontrolados, dedicava-se a manter uma família, morre em grande aflição, vendo seus parentes chorarem. Ele morre de maneira muito patética, entre grandes dores e sem consciência.

Indo ao Inferno

No momento da morte, ele vê os mensageiros do senhor da morte aparecerem ante ele, com os olhos cheios de ira, e, com grande temor, ele defeca e urina.

Assim como os agentes policiais do estado prendem um criminoso para ele ser punido, uma pessoa ocupada em gozo criminoso dos sentidos é semelhantemente capturada pelos Yamadutas, que a amarram pelo pescoço com fortes cordas e cobrem-lhe o corpo sutil para que possa ser submetida a rigorosos castigos.

Enquanto é carregado pelos mensageiros de Yamaraja, ele sente-se oprimido e suas mãos tremem. Ao passar pela estrada, ele é mordido por cães, razão pela qual pode lembrar-se das atividades pecaminosas de sua vida. Deste modo, ele fica terrivelmente aflito. Sob o sol escaldante, o criminoso tem que passar por estradas de areia quente com florestas em chamas dos dois lados. É chicoteado nas costas pelos carrascos por ser incapaz de caminhar e é afligido pela fome e pela sede, mas, infelizmente, não há água potável, nem abrigo, nem lugar de descanso na estrada. Enquanto passa por esta estrada rumo à morada de Yamaraja, ele cai de fadiga, e às vezes perde a consciência, mas é forçado a levantar-­se novamente. Dessa maneira, ele é rapidamente levado à presença de Yamaraja. Deste modo, ele tem de passar por noventa e nove mil yojanas dentro de dois ou três segundos, e depois é imediatamente submetido aos castigos torturantes que está destinado a sofrer.

Ele é posto no meio de tições de madeira incandescente, e ateia-se fogo aos seus membros. Em alguns casos, ele é forçado a comer sua própria carne ou dá-la a comer aos outros. Suas entranhas são arrancadas pelos cães de caça e abutres do inferno, muito embora ele ainda esteja vivo para ver isso, e ele fica sujeito ao tormento de serpentes, escorpiões, mosquitos e outras criaturas que o mordem. Em seguida seus membros são amputados e despedaçados por elefantes. Ele é atirado violentamente de cumes de colinas e, ademais, é mantido cativo ou na água ou numa caverna. Homens e mulheres cujas vidas giravam em torno da prática de vida sexual ilícita são postos em muitas espécies de condições miseráveis nos infernos conhecidos como Tamisra, Andha-tamisra e Raurava. Às vezes se diz que experimentamos céu ou inferno neste planeta, pois os castigos infernais às vezes são visíveis também neste planeta.

Holocausto. Possível exemplo de vida infernal na Terra.

Após deixar este corpo, o homem que manteve a si e aos membros de sua família através de atividades pecaminosas sofre uma vida infernal, e seus parentes também sofrem. Solitário, ele vai às mais escuras regiões do inferno após abandonar o corpo atual, e o dinheiro que adquiriu, invejando outras entidades vivas, é o dinheiro da passagem com a qual ele deixa este mundo. Assim, pelo arranjo da Suprema Personalidade de Deus, o mantenedor dos parentes é posto numa condição infernal para sofrer por suas atividades pecaminosas, assim como um homem que perde sua riqueza.

Portanto, uma pessoa que está muito ansiosa por manter sua família e seus parentes somente mediante métodos negros vai muito certamente à mais escura região do inferno, que é conhecida como Andha-tamisra. Tendo passado por todas as condições miseráveis e infernais, e tendo passado em ordem regular pelas mais baixas formas de vida animal anteriores ao nascimento humano, e tendo sido assim purgado de seus pecados, ele renasce mais uma vez como ser humano nesta Terra.

A Alma no Ventre

Sob a supervisão do Senhor Supremo e segundo o resultado de seu trabalho, a entidade viva, a alma, é forçada a entrar em um ventre através da partícula do sêmen masculino para assumir um tipo de corpo em particular.

Na primeira noite, o esperma e o óvulo se misturam, e, na quinta noite, a mistura fermenta-se, transformando-se numa bolha. Na déci­ma noite, ela desenvolve-se, assumindo uma forma parecida com aquela de uma ameixa, após o que se transforma gradualmente num pedaço de carne ou num ovo, conforme o caso.

No decorrer de um mês, forma-se uma cabeça, e, ao fim de dois meses, as mãos, pés e outros membros tomam forma. Próximo ao fim do terceiro mês, aparecem as unhas, os dedos das mãos e dos pés, os pelos do corpo, os ossos e a pele, bem como o órgão de geração e as demais aberturas no corpo, a saber, os olhos, as narinas, os ouvidos, a boca e o ânus. Dentro de quatro meses a partir da data de concepção, surgem os sete elementos essenciais do corpo, a saber, o quilo, o sangue, a carne, a gordura, os ossos, a medula e o sêmen. Ao final do quinto mês, a fome e a sede se fazem sentir, e, transcorridos seis meses, o feto, envolvido pelo âmnio, começa a mexer-se no lado direito do abdômen.

Obtendo sua nutrição da comida e da bebida ingeridas pela mãe, o feto cresce e permanece naquela residência abominável de fezes e urina, que é o lugar de procriação de todas as espécies de vermes. Tendo todo o seu corpo mordido repetidas vezes pelos vermes famintos que vivem no próprio abdômen, a criança sofre terrível agonia devido à sua fragilidade. Assim, ela desmaia vezes e mais vezes por causa da terrível condição. Devido à mãe comer alimentos amargos e picantes, ou alimentos que são demasiadamente salgados ou muito azedos, o corpo da crian­ça sofre incessantemente dores que são quase intoleráveis.

Situada no âmnio e coberta externamente pelos intestinos, a crian­ça permanece deitada num lado do abdômen, com a cabeça voltada para seu abdômen e suas costas e pescoço recurvados como um arco. Assim, a criança permanece como um pássaro numa gaiola, sem liberdade de movimento. Nessa altura, se a criança é afortunada, ela pode se lembrar de todos os incômodos de seus cem nascimentos passados, e se angustia desditosamente. Qual é a possibilidade de paz de espírito nesta condição?

Assim dotada com o desenvolvimento de consciência a partir do sétimo mês após sua concepção, a criança é empurrada para baixo pelos ares que pressionam o feto durante as semanas que prece­dem o parto. Assim como os vermes nascidos da mesma imunda cavidade abdominal, ela não consegue permanecer num só lugar.

A entidade viva nesta terrível condição de vida, atada por sete camadas de ingredientes materiais, ora de mãos postas, recorrendo ao Senhor, que a colocou naquela condição. A alma humana diz:

“Refugio-me aos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus, que aparece sob Suas várias formas eternas e caminha sobre a superfície do mundo. Refugio-me unicamente nEle, porque Ele pode dar-me alívio de todo o temor e dEle recebi esta condição de vida, que é justamente adequada às minhas atividades impiedosas. Eu, a alma pura, aparecendo agora atada por minhas atividades, encontro-me no ventre de minha mãe pelo arranjo de maya. Ofereço minhas respeitosas reverências a Ele, que também está aqui comigo, mas que é inafetável e imutável. Ele é ilimitado, mas é perceptível para o coração arrependido. A Ele ofereço minhas respeitosas reverências”.

“Estou separada do Senhor por estar neste corpo material”, ela continua, “que é feito de cinco elementos, e, devido a isso, minhas qualidades e sentidos estão sendo mal utilizados, visto que sou essencialmente espiritual. Porque a Suprema Personalidade de Deus é transcendental à natureza material e às entidades vivas, porque Ele é desprovido de semelhante corpo material e porque é sempre glorioso em Suas quali­dades espirituais, ofereço-Lhe minhas reverências”.

A alma humana continua orando: “A entidade viva é posta sob a influência da natureza material e continua sua árdua luta pela vida no caminho de repetidos nascimentos e mortes. Essa vida condicional deve-se a seu esquecimento de sua relação com a Suprema Personalidade de Deus. Portanto, sem a misericórdia do Senhor, como poderá ocupar-se novamente em transcendental serviço amoroso ao Senhor? Ninguém além da Suprema Personalidade de Deus, como o Paramatma localizado, a representação parcial do Senhor, orienta todos os objetos animados e inanimados. Ele está presente nas três fases do tempo — passado, presente e futuro. Portanto, a alma condicionada dedica-se a diferentes atividades sob Sua direção, e, a fim de nos livrarmos das três espécies de misérias desta vida condicio­nada, basta nos rendermos a Ele”.

Caída numa poça de sangue, fezes e urina dentro do abdômen de sua mãe, seu próprio corpo queimado pelo fogo gástrico da mãe, a alma corporificada, ansiosa por sair dali, conta seus meses e ora: “Ó meu Senhor, quando eu, mísera alma, libertar-me-ei deste confinamento? Meu querido Senhor, por Vossa misericórdia imotivada, despertei para a consciência, embora tenha apenas dez meses de idade. Não tenho como expressar minha gratidão por essa misericórdia imoti­vada da Suprema Personalidade de Deus, o amigo de todas as almas caídas, senão orando de mãos postas. Em outra espécie de corpo, a entidade viva percebe tudo somente por instinto; ela conhece apenas as percepções sensoriais agradáveis e desagradáveis daquele corpo em particular. Eu, porém, tenho um corpo no qual posso controlar meus sentidos e posso entender meu destino; portanto, ofereço minhas respeitosas reverências à Suprema Personalidade de Deus, por quem fui abençoada com este corpo e por cuja graça posso vê-lO interna e externamente”.

“Portanto, meu Senhor”, prossegue a alma humana, “embora eu esteja vivendo em uma condição terrível, não desejo sair do abdômen de minha mãe para cair nova­mente no poço escuro da vida materialista. Vossa energia externa, chamada deva-maya, logo captura a criança recém-nascida, e imedia­tamente a falsa identificação começa, sendo o início do ciclo de contínuos nascimentos e mortes. Portanto, sem me perturbar mais, libertar-me-ei da escuridão da ignorância com a ajuda de minha amiga, a consciência límpida. Simplesmente mantendo os pés de lótus do Senhor Visnu em minha mente, serei poupada de entrar nos ventres de muitas mães para repetidos nascimentos e mortes”.

A entidade viva de dez meses de idade tem esses desejos mesmo enquanto está no ventre. Porém, enquanto enaltece o Senhor dessa maneira, o vento que auxilia o parto impele­-a para frente, com seu rosto voltado para baixo, para que ela possa nascer. Empurrada subitamente para baixo pelo vento, a criança sai com grande dificuldade, de cabeça para baixo, sem respiração e privada de memória devido à rigorosa agonia. Assim, a criança cai ao solo, suja de fezes e sangue, e se agita tal qual um verme nascido do excremento. Ela perde seu conheci­mento superior e chora sob o encanto de maya.

Do Nascimento à Morte

Após sair do abdômen, a criança é entregue aos cuidados de pessoas incapazes de entender o que ela quer, e assim ela é pajeada por essas pessoas. Incapaz de recusar qualquer coisa que lhe dão, ela se vê sujeita a circunstâncias indesejáveis. Deitada em cama malcheirosa e infestada de suor e germes, a pobre criança é incapaz de coçar seu corpo para aliviar-se de sua coceira, isto para não falar de sentar-se, ficar de pé ou mesmo mexer-se. Em sua condição desamparada, moscas, mosquitos, pulgas e mui­tos germes mordem o bebê, cuja pele é delicada, assim como vermes menores mordem um verme grande. Privada de conhecimento, a criança chora amarguradamente.

Dessa maneira, a criança atravessa sua infância, sofrendo diferentes espécies de aflições e chega à meninice. A meninice também lhe traz sofrimentos devido aos desejos de obter coisas que nunca pode obter. E assim, devido à ignorância, ela se torna irada e pesarosa. Com o crescimento do corpo, a entidade viva, a fim de aniquilar sua alma, aumenta seu falso prestígio e sua ira e, desse modo, cria hostilidade contra pessoas semelhantemente luxuriosas.

Devido a tal ignorância, a entidade viva aceita o corpo material, que é feito de cinco elementos, como sendo ela mesma. Com essa compreensão falsa, ela aceita coisas impermanentes como sua propriedade e aumenta sua ignorância até a mais escura região.

Fim do Ciclo

Para o benefício do corpo, que é fonte de constantes incômodos para ela e que a acompanha por ela estar atada pelos laços da ignorância e das atividades fruitivas, ela executa várias ações que fazem com que se sujeite a repetidos nascimentos e mortes.

Se, portanto, a entidade viva novamente se associa com o caminho da iniquidade, influenciada por pessoas de mentalidade sensual ocupadas na busca de desfrute sexual e da satisfação do paladar, ela vai novamente para o inferno, como antes.


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