terça-feira, 1 de junho de 2010

MATEMÁTICA: A GRANDE VILÃ NAS SÉRIES INICIAIS


MATEMÁTICA: A GRANDE VILÃ NAS SÉRIES INICIAIS
Nádia Antonia Cabral Dos Santos
RESUMO
O presente estudo objetivou investigar os motivos pelo quais as crianças têm tanta dificuldade em aprender matemática e teve como objetivos específicos: Analisar o ensino da matemática na Educação infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental; Descrever os conteúdos a serem trabalhados em Matemática e Conceituar como ensinar Matemática na Educação infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental. O desejo pelo tema surgiu pelo fato de, durante o curso, a matemática ter sido abordada de forma clara e objetiva, desvelando algumas limitações próprias, causadas pela forma como foi trabalhada a matéria nas séries iniciais, assim despertando um interesse maior pela mesma. Buscando compreender essa problemática foi realizada uma pesquisa bibliográfica que se fundamentou nos estudos de Kramer (2003), Piaget (1967, 1975) e nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (1997). Utilizou-se a pesquisa de campo, onde foi realizada observação de professores em sala de aula, da rotina semanal e um questionário que foi respondido pelos professores. A pesquisa revelou que as crianças têm dificuldade em aprender matemática por conta das atividades propostas pelos professores, que priorizam atividades de mera repetição. Essa postura pode ser devido a sua formação inicial e continuada, pois a rede municipal de ensino prioriza em seus cursos de formação continuada o aprofundamento em leitura e escrita.
Palavras-chave: Matemática, Pensamento lógico, Resolução de problemas.
1.INTRODUÇÃOO presente trabalho foi realizado na linha de pesquisa de Didática na área de Metodologias do Ensino de Matemática, com o tema Matemática: a grande vilã nas séries iniciais. Esse tema foi escolhido, pela necessidade do aprofundamento da disciplina, pois ainda hoje, mesmo com as mudanças nos métodos de ensino e os avanços das pesquisas na área, a matemática continua sendo um desafio e motivo de medo entre as crianças nas séries iniciais.
A pesquisa teve como objetivo geral analisar os motivos pelo quais as crianças têm tanta dificuldade em aprender matemática, e como objetivos específicos: Analisar o ensino da matemática na Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental; Descrever os conteúdos a serem trabalhados em Matemática e Conceituar como ensinar Matemática na Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental.
O desejo pelo tema surgiu pelo fato de, durante o curso, a matemática ter sido abordada de forma clara e objetiva, desvelando algumas limitações próprias, causadas pela forma como foi trabalhada a matéria nas séries iniciais, assim despertando um interesse maior pela mesma. Um exemplo disso, é que os dois projetos de intervenção feitos durante os estágios supervisionados foram de matemática, um sobre Resolução de Situações-problemas na Educação Infantil, e o outro sobre Geometria: Corpo e espaço no Ensino Fundamental.
Durante os estudos para a elaboração dos projetos de intervenção, percebeu-se que o conhecimento matemático não se constitui num conjunto de fatos a serem memorizados; que aprender números é mais do que contar, muito embora a contagem seja importante para a compreensão do conceito de número; que as idéias matemáticas que as crianças aprendem nas séries iniciais serão de grande importância em toda sua vida escolar e cotidiana.
A metodologia utilizada neste trabalho foi a pesquisa de campo, a qual foi desenvolvida na rede municipal de Ilhéus-Bahia, na Escola Nucleada do Banco do Pedro que atende a Educação Infantil, o Ensino Fundamental de nove anos e a EJA (Educação de Jovens e Adultos). A escola está localizada na região rural do município. Para que se alcançassem os objetivos definidos foram coletadas atividades desenvolvidas pelos professores, no trabalho com matemática, para posterior análise dos conteúdos que os mesmos priorizam em suas aulas de matemática, analisou-se o planejamento semanal de trabalho dos professores, procurando perceber que conteúdos de matemática são desenvolvidos pelos mesmos. Os 9 professores “sujeitos” da pesquisa responderam a questionário, para que expressassem sua concepção sobre a matemática, como ela deve ser ensinada e que conteúdos eles priorizam para fazê-lo. Além disso, observou-se os mesmos em suas salas de aula para posterior comparação com as respostas do questionário. Dos professores pesquisados, 6 tem nível superior completo e 3 com nível superior incompleto cursando. Todos têm de 5 a 25 anos de atuação nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Os questionários foram aplicados na própria escola no mês de outubro.
Após o trabalho de campo, as entrevistas foram analisadas mediante o referencial teórico de autores como Kramer (2003), Piaget (1967, 1975) e os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (1997). Em Piaget (1967, 1975) foi pesquisado o desenvolvimento lógico- matemático, em Kramer (2003) o papel da escola na formação das crianças e no PCN os conteúdos a serem trabalhados nas aulas de matemática. Além dessa introdução a pesquisa foi desenvolvida em mais três capítulos: Um Capítulo de Revisão de Literatura que está dividido em quatro tópicos: O primeiro tópico intitulado Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático apresenta os estágios do desenvolvimento infantil na perspectiva de Jean Piaget. O segundo tópico tem como título O Ensino da Matemática na Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental. Neste tópico apresenta-se a perspectiva atual do Ensino da Matemática. O terceiro tópico tem o título de Conteúdos a serem trabalhados em matemática e o quarto tópico é intitulado Como ensinar Matemática na Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental. Este último tópico discorre sobre as metodologias de ensino utilizadas pelos professores nas aulas de Matemática. Um Capítulo intitulado Procedimentos Metodológicos e Análise e discussão dos dados. Nesse Capítulo apresentam-se os dados coletados na pesquisa de campo e sua análise à luz do referencial teórico utilizado na fundamentação da pesquisa. E o último Capítulo apresenta as Considerações Finais da pesquisa.
Essa pesquisa pretende contribuir para que as discussões sobre Matemática sejam ampliadas, uma vez que a disciplina é pouco discutida nas escolas e nos cursos de formação continuada.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO LÓGICO-MATEMÁTICO
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A idéia que se tem sobre criança não é uma coisa estática nem uniforme e vem se alterando ao longo da história. Idéias distintas sobre criança podem conviver na sociedade num dado período. Nem sempre as crianças foram vistas como seres que tem especificidades, durante um longo período na história elas foram tratadas como sendo adultos em miniatura, hoje percebe-se que a criança vê, compreende e experimenta o mundo de forma particular. Diante disso afirma-se que as crianças elaboram os conhecimentos com base nas interações com o meio em que vivem e com as pessoas com as quais convivem. A construção do conhecimento é uma coisa dinâmica produzida a partir dos significados atribuídos pela criança à realidade. De acordo com KRAMER
Com base em tais pressupostos, a educação na visão piagetiana deve possibilitar à criança o desenvolvimento amplo e dinâmico desde o período sensório-motor até o operatório abstrato. A escola deve, assim, levar em consideração os esquemas de assimilação da criança (partir deles), favorecendo a realização de atividades desafiadoras que provoquem desequilíbrio (“conflitos cognitivos”) e reequilibrações sucessivas, promovendo a descoberta e a construção do conhecimento. Nesta construção, as concepções infantis (ou hipóteses) combinam-se às informações provenientes do meio, na medida em que o conhecimento não é concebido apenas como espontaneamente descoberto pela criança, nem como transmitido mecanicamente pelo meio exterior ou pelo adulto, mas como o resultado dessa interação onde o sujeito é sempre ativo. (KRAMER, 2003, p. 30)
Pode-se afirmar que o conhecimento é construído pela criança a partir de sua ação. A partir das idéias de Piaget afirma-se que a ação da criança sobre o objeto do conhecimento é essencial para que ela se aproprie do objeto. Ainda de acordo com Piaget o desenvolvimento da criança passa por determinados estágios que apresentam características próprias. Os estágios percebidos por ele em sua pesquisa são: Sensório motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal.
O estágio sensório motor que vai de zero a dois anos de idade não será abordado nesta pesquisa visto que nos deteremos aos períodos em que a criança geralmente já está inserida no sistema de ensino. Serão analisados com mais profundidade os estágios pré-operatório e operatório concreto, os quais correspondem ao período em que as crianças estão na Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental.
O estágio pré-operatório proposto por Piaget vai dos dois aos seis ou sete anos de idade, período da Educação Infantil e entrada no Ensino Fundamental que merece extrema atenção dos educadores quanto ao desenvolvimento do pensamento lógico-matemático.
Nos estudos de Piaget (1967) percebe-se que a criança a partir dos dois anos de idade começa a utilizar-se de instrumentos para atingir determinados objetivos. A partir do desenvolvimento da representação interna a criança passa a ser capaz de representar os objetos com símbolos.
A principal característica desse estágio do desenvolvimento é o surgimento da capacidade simbólica. Essa capacidade em suas múltiplas facetas como linguagem, imaginação e jogo simbólico representa um enorme avanço no desenvolvimento cognitivo da criança que deixa a inteligência prática com base em ações reais passando a uma inteligência simbólica, interna onde a manipulação da realidade não ocorre de forma direta, mas através de imagens mentais e conceitos. Nesse momento a criança começa a representar objetos ausentes através de símbolos, imagens e palavras. É um momento de grandes possibilidades para o desenvolvimento infantil, pois liberta a criança da atuação apenas com coisas concretas e imediatas como na inteligência prática.
Este período pré-operatório, conforme o nome diz, não abrange um verdadeiro estágio, pode ser considerado como um subestágio: é o período de preparação para as operações concretas. Neste período de preparação, que vai desde o aparecimento da função simbólica à constituição das operações concretas Piaget (1967) distingue duas etapas: a que corresponde ao pensamento simbólico e conceitual e a do pensamento intuitivo. Nesse período pré-operacional as ações da criança já têm uma certa função representacional, mas o pensamento ainda está essencialmente preso às questões perceptivas.
Para Piaget (1967), no inicio da inteligência representativa, a criança ainda está longe de chegar aos conceitos propriamente ditos, suas primeiras noções na sua aquisição da linguagem são chamadas de “pré-conceitos”. Para o autor, estes pré-conceitos têm a particularidade de estar em um ponto entre a generalidade do conceito e a individualidade dos elementos. Ele cita vários exemplos que mostram que a criança dois a três anos oscila entre a classe genérica e os representantes particulares. Por um lado, a criança desta idade não possui ainda a idéia de uma classe geral, pois não é capaz de articular toda a classe e as subclasses. Por outro lado, a conservação individual do objeto, conseguida em nível prático causa alguns problemas em nível representativo. Estes fenômenos são para Piaget (1967) ações imediatas entre fenômenos diferentes, ainda não há a busca do por que e do como do fenômeno
Os pré-conceitos ainda não são conceitos lógicos. Para Piaget (1967) eles se encontram relacionados aos esquemas de ação correspondentes, centrados no individuo e, por isso, passíveis de diversas deformações. Por outro lado, estão ligados ao símbolo imaginado. Estes pré-conceitos chegam a evocar grande quantidade de objetos mediante elementos privilegiados da coleção que são concretizados por uma imagem.
A partir dos quatro anos, aproximadamente, uma nova estruturação cognitiva torna-se possível e é marcada, segundo Piaget (1967), pela possibilidade de manter com a criança uma conservação contínua e de propor-lhe experiências nas quais manipula objetos diversos. Nesta idade se inicia a maioria das experiências piagetianas mais conhecidas (conservação, seriação, horizontalidade, ordem etc.) no estudo das diferentes categorias do conhecimento (lógica, causalidade, espaço, tempo, acaso, número etc.).
Piaget (1967) caracterizou o pensamento e o comportamento de uma criança pré-operacional como egocêntrico, ou seja, a criança tem o seu ponto de vista como único, e descarta as idéias dos outros. Este egocentrismo é uma característica do pensamento infantil. As crianças deste período não aceitam o ponto de vista de outra pessoa que seja diferente do seu. É uma característica que diminui lentamente quando a criança lida com o pensamento de outras crianças que estão em conflito com o seu.
Outra característica do pensamento pré-operacional é a que Piaget chamou decentração. Uma criança diante de um estímulo visual tende a fixar sua atenção sobre alguns aspectos perceptuais do objeto, ou seja, a criança percebe, apenas, um dos aspectos de um determinado objeto. Ela não relaciona entre si os diferentes aspectos, dessa forma, não vê mais de uma dimensão do objeto ao mesmo tempo, provocando desta maneira uma deformação de juízo ou do raciocínio. Essa característica concentra-se na dificuldade que a criança destas idades tem para descentrar-se de algum aspecto privilegiado da situação que tem diante de si e de considerar mais de um aspecto ao mesmo tempo- pensamento transdutivo.
Outra característica do pensamento pré-operacional é a reversibilidade. Piaget (1967) insistiu neste aspecto do pensamento pré-operatório e fez da reversibilidade um dos requisitos da operação. Uma cognição é reversível, se é capaz de prosseguir um certo caminho e um certo sentido e fazê-lo depois em sentido inverso para encontrar o ponto de partida. As cognições pré-operatórias (conceitos, juízos, raciocínios), por estarem próximas das ações e da realidade concreta e por constituírem uma série de experiências sucessivas com dificuldade de organização de conjunto, carecem da mobilidade própria dos atos mentais reversíveis.
Piaget (1967) nos deixou uma grande riqueza de reações e propósitos infantis. As representações ou explicações das crianças pequenas (com seis ou sete anos de idade) dos fenômenos do meio manifestam uma mesma dificuldade: diferenciar com clareza o próprio eu do mundo exterior. Essa característica geral do pensamento infantil nessas idades pode manifestar-se sob diferentes formas: fenomenismo, finalismo, artificialismo e animismo.
No fenomenismo a criança estabelece um laço entre fenômenos que são vistos como próximos. Já no finalismo, cada coisa tem uma função e uma finalidade que justificam sua existência e suas características. No artificialismo as coisas são consideradas como produto da fabricação e vontade humanas. E por fim, no animismo, a criança dá vida aos objetos, ou seja, percebe coisas e fenômenos sem vida como viventes e conscientes.
A criança nesta fase acha que tudo tem vida e é capaz de sentir. Com isso, Piaget (1967) ressalta que as crianças de todas as culturas atravessam as mesmas seqüências de estágios, embora haja algumas diferenças quanto à aquisição de conceitos específicos.
Outro estágio do desenvolvimento infantil apontado por Piaget é o estágio das operações concretas. Nesse estágio a um avanço qualitativo no pensamento infantil. A partir dos sete até os onze ou doze anos de idade (período correspondente a esse estágio) a criança passa a representar mentalmente o objeto sem a necessidade de manipulá-lo, mas ainda depende do mundo concreto para elaborar o pensamento.
Uma característica marcante nesse estágio é a aquisição da noção de conservação, onde a criança passa a ser capaz de perceber que algumas características se mantêm, mesmo com a ocorrência de uma transformação. Um exemplo disso é despejar o conteúdo de um copo em outro de forma diferente e perguntar à criança se a quantidade do líquido continua a mesma. Nesse estágio diferente do anterior a criança já responde de forma afirmativa, pois é capaz de fazer a operação inversa e compreende que a quantidade é uma característica que permanece mesmo com a mudança do formato do copo.
Nesse estágio a criança pode fazer a classificação de objetos partindo de critérios definidos, pode seriar objetos de um grupo a partir de uma determinada relação e consegue perceber a quantidade de elementos num conjunto, mesmo que estejam dispostos de forma diferente. (conseguem perceber a quantidade de palitos estando eles colocados junto uns dos outros ou bem separados entre si). Nesse estágio de acordo com BATISTA:
Inicia-se a capacidade de reflexão (pensar antes de agir). Em nível de pensamento, a criança consegue: estabelecer corretamente as relações de causa e efeito e de meio e fim; seqüenciar idéias ou eventos; trabalhar com idéias sob dois pontos de vista; formar o conceito de número. (BATISTA, 2006, p. 11, 12)
A criança também já consegue explicar coisas que acontecem observando os vários aspectos da situação e se distanciando daquilo que ela própria faz. É também no estágio das operações concretas que a criança começa a superar o egocentrismo (tudo é centrado nela própria) e passa a ter a capacidade de participar de jogos de regras, os quais exigem a cooperação com os parceiros de jogo e colabora para a sua adaptação ao meio social. Pode-se concluir as idéias sobre o estágio das operações concretas nas palavras de BATISTA:
Inicio da construção lógica, isto é: a capacidade da criança de estabelecer relações que permitam a coordenação de pontos de vista diferentes. No plano afetivo, significa que ela será capaz de cooperar com os outros, de trabalhar em grupo e ter autonomia pessoal. Já no plano intelectual surge uma nova capacidade: as operações, isto é, ela consegue realizar uma ação física ou mental dirigida para um fim (objetivo) e revertê-la para o início. (BATISTA, 2006, p. 11)
Após esse estágio dos doze anos em diante a criança entra no estágio das operações formais. Nesse estágio ela passa a ser capaz de pensar de forma completamente abstrata sem depender da presença do objeto, mesmo que de forma representada como nas operações concretas. É nesse estágio que as crianças passam a conseguir pensar sobre coisas que não acreditam e podem construir hipóteses sobre as coisas.
Os estudos de Piaget representam grande contribuição para a educação porque demonstrou que as crianças têm uma forma própria de pensar e que esse pensamento se desenvolve a partir das interações com o meio. Para Piaget são as próprias crianças quem constroem o seu conhecimento atuando de forma ativa sobre o objeto a ser conhecido. Esses estudos levaram os educadores a repensarem sua forma de ensinar. Especialmente no que diz respeito ao ensino da matemática os estudos piagetianos representaram uma revolução, pois mostraram que é mais importante desenvolver o pensamento lógico que memorizar numerais e operações aritméticas.
2.2. O ENSINO DA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL.Ensinar e aprender matemática tem se tornado tarefas cada vez mais complexas diante dos anseios de formar, também por meio da matemática, cidadãos mais críticos e participativos na sociedade da qual fazem parte. No entanto, os modos como um professor conduz os processos de ensino e de aprendizagem são determinados não só pelo modo como os professores encaram o “ser cidadão”, mas, sobretudo, sobre o modo como entendem a “matemática” e os próprios processos de “ensinar e aprender”. Deste modo, algumas reflexões iniciais são importantes, pois influenciam e determinam o modo de agir dos professores em sala de aula.
Se o professor entende a matemática como mera disciplina do currículo ou apenas como uma linguagem com suas regras próprias e imutáveis, podemos entender o ensinar matemática como transmitir uma série de informações sobre esta linguagem e dos modos corretos de utilizá-la, bem como entender o aprender matemática como o “memorizar” tais regras próprias da linguagem. Nessa perspectiva, o objetivo do ensino da Matemática nas séries iniciais é que os alunos reconheçam a Matemática como uma linguagem e a utilizem em contextos onde as quatro operações aritméticas, por exemplo, se fazem presente. Contextos esses em que o uso de uma calculadora seria eficiente.
Entender a matemática como uma dentre tantas outras estratégias criadas pelos homens para entender e explicar sua realidade, para tomar decisões baseadas na interpretação desta realidade, implica em encarar seu ensino como um modo de possibilitar aos alunos espaços de discussões sobre diferentes temas de interesse dos mesmos sobre suas realidades. Espaços estes em que os conteúdos matemáticos possam ser utilizados pelos alunos para os mesmos interpretarem, refletirem, preverem e intervirem na realidade. Segundo KRAMER 2003:
Neste sentido, a proposta está voltada à educação para a cidadania: suas metas básicas são a cooperação e a autonomia, as crianças são encaradas como pequenos cidadãos e cidadãs, e o trabalho escolar é entendido como o que deve garantir o acesso aos conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade e formar, simultaneamente, indivíduos críticos, criativos e autônomos, capazes de agir no seu meio e transformá-lo. (KRAMER, 2003, p. 13)
Aprender matemática, nessa perspectiva, poderia ser entendido como “construir” diferentes estratégias de resolução de problemas assim como o “compreender” diferentes conteúdos matemáticos necessários para se resolver problemas. Esses modos de encarar a Matemática podem contribuir para que se atinja o objetivo de formar cidadãos que frente a obstáculos e problemas que utilizam de argumentos matemáticos, saibam agir consciente e ativamente, de modo a exigir seus direitos e intervir quando necessário. É essencial compreender que “as crianças são pessoas que se desenvolvem psicologicamente, apresentando características próprias, no decorrer do seu desenvolvimento, do ponto de vista lingüístico, sócio-afetivo, lógico-matemático e psicomotor”. (KRAMER, 2003, p.13).
Uma proposta de trabalho de matemática para as séries iniciais deve encorajar a exploração de uma grande variedade de idéias matemáticas, não apenas numéricas, mas também aquelas relativas à geometria, às medidas e as noções de estatística, de forma que as crianças desenvolvam e conservem com prazer uma curiosidade acerca de matemática, adquirindo diferentes formas de perceber a realidade.
Dentro dessa proposta incorporam-se contextos do mundo real, as experiências e a linguagem natural da criança no desenvolvimento das noções matemáticas, sem, no entanto, esquecer que a escola deve fazer o aluno ir além do que parece saber, deve tentar compreender como ele pensa, que conhecimentos traz de sua experiência no mundo e fazer as interferências no sentido de levar cada aluno a ampliar progressivamente suas noções matemáticas.
É preciso ainda reconhecer que os alunos precisam de um tempo considerável para desenvolver os conceitos e as idéias matemáticas trabalhados pela escola e também para acompanhar encadeamentos lógicos de raciocínio e comunicar-se matematicamente. Isso significa que nas aulas de matemática nas séries iniciais o contato constante e planejado com as noções matemática em diferentes contextos, ao longo de um ano e de ano para ano é essencial.
Nesse contexto, a perspectiva de que o ensino e a aprendizagem da Matemática se dá no processo de investigação de situações problemáticas do interesse dos alunos. Neste sentido, os alunos são construtores de seus conhecimentos e aprenderem Matemática não por uma imposição do professor, mas por uma imposição que fazem a si mesmos diante do interesse de resolver um problema.
Atenta-se para a importância dos professores utilizarem diferentes representações de um mesmo conceito matemático de modo a possibilitar que os alunos diferenciam a representação em si do conceito matemático representado. Ressalta-se, ainda que, os professores das séries iniciais devem enxergar-se, também, professores de Matemática, Português, Ciências, etc. Nesse sentindo, conhecer tanto os conteúdos quanto as metodologias inerentes a estas áreas, pode fazer do professor um profissional mais autônomo, consciente e reflexivo, o que, por sua vez, pode formar alunos críticos e participativos, os quais, por meio do exercício da cidadania, podem construir um mundo mais justo e fraterno.
2.3. CONTEÚDOS A SEREM TRABALHADOS EM MATEMÁTICA.
O ensino da matemática na escola vai além dos numerais, das operações, até por que tem um grande caminho até chegar a esse ponto. A criança antes de chegar na escola, tem uma vivência, conhecimentos prévios que devem ser levados em conta, não só em outras disciplinas, mas principalmente em matemática. Em seu cotidiano ela vivencia várias situações envolvendo números, quantidades, espaço e formas. Segundo os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (RCN):
Utilizando recursos próprios e pouco convencionais, elas recorrem a contagem e operações para resolver problemas cotidianos, como conferir figurinhas, marcar e controlar pontos de um jogo, repartir balas entre amigos, mostrar com os dedos a idade, manipular o dinheiro e operar com ele etc. Também observam e atuam no espaço ao seu redor,e aos poucos, vão organizando seus deslocamentos, descobrindo caminhos, estabelecendo sistemas de referência, identificando posições e comparando distâncias. Essa vivência inicial favorece a elaboração de conhecimentos. (BRASIL, 1998, p.207)
Essa vivência contribui para que a criança estabeleça alguns conceitos matemáticos, para que ela resolva problemas com facilidade e elabore estratégias lógicas. No fazer matemático a criança expõe idéias próprias e escuta a dos outros, procura validar seu ponto de vista, antecipar experiências não realizadas, aceitar erros, buscar dados para resolver problemas, entre outras coisas. Quando isso acontece ela toma decisões, tem autonomia, se torna um cidadão. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN):
Os alunos trazem para a escola conhecimentos, idéias, e intuições, construídos através das experiências que vivenciam em seu grupo sociocultural. Eles chegam à sala de aula com diferenciadas ferramentas básicas para, por exemplo, classificar, ordenar, quantificar e medir. Além disso, aprendem a atuar de acordo com os recursos, dependências e restrições de seu meio.( BRASIL, 1997, p.30)
A escola não leva esses conhecimentos em consideração, tomando como partida o abstrato, fazendo com que a criança mecanicamente aprenda, sem antes saber os conceitos, sem ajudá-las a organizar os seus conhecimentos. A memorização tem forte tendência na disciplina na escola, pois acredita-se que a criança tem que memorizar os numerais, um por um, associando numerais a quantidade de figuras, como duas a duas flores por exemplo. Outro equívoco da escola é a idéia de que apenas manipulando objetos concretos a criança vai formular o raciocínio abstrato, como se o professor fosse apenas um organizador de situação de aprendizagem nos quais os materiais concretos servem como uma auto-instrução, quase como se ele fosse o próprio conhecimento. Ela age sobre o concreto, organizando seu conhecimento. Conforme o RCN:
Na realidade, toda ação física supõe ação intelectual. A manipulação observada de fora do sujeito está dirigida por uma finalidade e tem um sentido do ponto de vista da criança. Como aprender é construir significados e atribuir sentidos, as ações representam momentos importantes da aprendizagem na medida em que a criança realiza uma intenção. (BRASIL, 1998, p. 209/210)
Entre os caminhos para “fazer Matemática” os Parâmetros Curriculares Nacionais – Matemática (BRASIL, 2000) destacam a Resolução de Problemas, as tecnologias de Informação, a História da Matemática, os jogos e o trabalho em grupos cooperativos. São recursos simples que exigem apenas um pouco de coragem, paciência e acima de tudo boa vontade por parte dos professores. Entretanto, na maioria das vezes, ignoram-se tais recursos, mesmo os mais simples. Trata-se, sob a nossa óptica, de considerar que para a diversidade dos alunos a que dirigimos os conhecimentos oferecem diferenças que residem nas capacidades e nas motivações para aprender, o que supõe uma adaptação individualizada de objetivos, conteúdos, métodos de ensino, organização da aula, avaliação etc., iniciativas facilitadoras do ajuste dos mesmos à suas necessidades de aprendizagem. O caso do recurso à resolução de problemas é mais complexo, ainda.
Apontado como eixo organizador do conhecimento em Matemática, a resolução de problemas, quando apresenta temas motivadores e próximos à realidade do aluno, abre espaço para a elaboração de diferentes procedimentos, comparação de resultados, estruturação do pensamento, entre outras habilidades, que valorizam o processo de resolução e não somente as respostas corretas. Além disso, os problemas poderiam auxiliar diretamente o processo de letramento, afinal, envolvem elementos pouco aproveitados como a escrita, a leitura, a criatividade e a comunicação. Entretanto, “[...] tradicionalmente, os problemas não têm desempenhado seu verdadeiro papel no ensino, pois, na melhor das hipóteses são utilizados apenas como forma de aplicação de conhecimentos adquiridos anteriormente pelos alunos”. (BRASIL, 2000, p. 42).
Uma proposta de trabalho de matemática para as séries iniciais deve encorajar a exploração de uma grande variedade de idéias matemáticas, não apenas numéricas, mas também aquelas relativas à geometria, às medidas e as noções de estatística, de forma que as crianças desenvolvam e conservem com prazer uma curiosidade acerca de matemática, adquirindo diferentes formas de perceber a realidade. Segundo o PCN:
Assim, por exemplo, ao estudarem números, os alunos podem perceber e verbalizar realização de inclusão, como a de que número par é natural; mas observarão que a recíproca dessa afirmativa é verdadeira, pois nem todo número é natural é par. No estudo das formas, mediante a observação de diferentes figuras triangulares, podem perceber que o fato de um triângulo ter ângulos com medidas idênticas às medidas idênticas dos ângulos de um outro triângulo é uma condição necessária, embora não suficiente, para que os dois triângulos sejam congruentes.[...] A proporcionalidade, por exemplo, está presente na resolução de problemas multiplicativos, nos estudos de porcentagem, de semelhança de figuras, na matemática financeira, na análise de tabelas, gráficos e funções. O fato de que vários aspectos do cotidiano funcionam de acordo com leis de proporcionalidade evidencia que o raciocínio proporcional é útil na interpretação de fenômenos do mundo real. (BRASIL, 1997, p.54)
A seleção de conteúdos a serem trabalhados pode se dá numa perspectiva mais ampla, ao procurar identificar não só os conceitos, mas também os procedimentos e as atitudes a serem trabalhados em classe, o que trará certamente um enriquecimento ao processo de ensino e aprendizagem.
2.4. COMO ENSINAR MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL.
O ensino de Matemática costuma provocar duas sensações contraditórias, tanto por parte de quem ensina como por parte de quem aprende: de um lado, a constatação de que se trata de uma área de conhecimento importante; de outro, a insatisfação diante dos resultados negativos obtidos com muita freqüência em relação à sua aprendizagem. Nota-se, em geral, certo descontentamento na análise de indicadores sobre a situação do processo ensino-aprendizagem da Matemática.
Os alunos, apesar de manterem uma boa relação com certos conteúdos matemáticos antes da escolarização, mesmo sem assim reconhecê-los, mostram na escola certa resistência à disciplina, fruto de crenças e convenções sociais e culturais, que impedem de reconhecer a Matemática como parte integrante de suas vidas. Os professores das séries iniciais não têm formação específica na disciplina e a formação recebida, em geral, não possibilita uma abordagem segura dos conteúdos de modo que se perdem em modelos tradicionais pautados por procedimentos imitativo-repetitivos que não dão conta de instigar nos alunos a vontade de aprender.
Tradicionalmente, a prática mais freqüente no ensino de Matemática era aquela em que o professor apresentava o conteúdo oralmente, partindo de definições, exemplos, demonstração de propriedades, seguidos de exercícios de aprendizagem, fixação e aplicação, e pressupunha que o aluno aprendia pela reprodução. Considerava-se que uma reprodução correta era evidência de que ocorrera a aprendizagem. Partindo do pressuposto de que a Matemática é instrumento necessário para sustentação de diversas áreas do conhecimento e se insere de forma marcante em nossas vidas
A aprendizagem matemática é condicionada por sua estrutura interna. A natureza do processo de sua construção obriga a voltar periodicamente sobre os mesmos conteúdos com níveis de complexidade, abstração e formalização crescentes. Quando o aluno inicia a construção de noções matemáticas, o faz tornando-as coesas com a situação concreta em que se apresentam. Isso afiança a necessidade de uma apresentação formal a partir do próprio ambiente e a impossibilidade de argumentar sobre situações abstratas sem o devido critério. Registre-se, por outro lado, que geralmente os critérios utilizados pelos professores para avaliar as crianças nas séries iniciais do ensino fundamental, envolvem aspectos como comportamento, participação e desempenho nas provas. Sem dúvida que entre estes critérios há a predominância do desempenho nas provas sobre os outros, afinal, é crença geral que as provas objetivas determinam o que o aluno aprendeu ou não.
Essa postura avaliativa, entretanto pode ser modificada quando o trabalho do professor é diversificado em relação a recursos didáticos e metodologia, a avaliação pode ser realizada levando-se em conta a postura do aluno frente ao conhecimento, ou melhor, durante o processo de construção do conhecimento. Além disso, nem sempre exatidão é sinônimo de compreensão, assim como, nem sempre respostas erradas significam incompreensão. Sendo assim, “[...] a tarefa do avaliador constitui um permanente exercício de interpretação de sinais e indícios” (BRASIL, 1997, p. 59), que estão além do desempenho em exames e provas. Convém salientar que se na escola assumirmos tanto ao ensinar como ao avaliar, que fazer Matemática é mais do que fazer contas, não só poderíamos conseguir que as crianças adquirissem conhecimentos como também ofereceríamos a oportunidade de que elas se apaixonassem por essa invenção humana que é a Matemática. Essa visão da Matemática torna sua aprendizagem significativa.
Falar em aprendizagem significativa é assumir que aprender possui um caráter dinâmico, exigindo que as ações de ensino direcionem-se para que os alunos aprofundem e ampliem os significados que elaboram mediante suas participações nas atividades de ensino e aprendizagem. Nessa concepção, o ensino é um conjunto de atividades sistemáticas cuidadosamente planejadas, nas quais o professor e o aluno compartilham parcelas cada vez maiores de significados com relação aos conteúdos do currículo escolar, ou seja, o professor guia suas ações para que o aluno participe em tarefas e atividades que o façam aproximar-se cada vez mais dos conteúdos que a escola tem para lhe ensinar. No entanto, esse planejamento deve ser flexível e aberto a novas perguntas e a diferentes interesses daqueles estabelecidos inicialmente, os quais podem modificar momentaneamente os rumos traçados, mas que garantam o ajuste essencial para sincronizar o caminhar do ensino com o da aprendizagem. De acordo com o PCN:
Além de organizador, o professor também é consultor desse processo. Não mais aquele que expõe todo o conteúdo aos alunos, mas aquele que fornece informações necessárias, que o aluno não tem condições de obter sozinho. Nessa função, faz explanações, oferece materiais, textos, etc. (BRASIL, 1997, p. 40)
A proposta de trabalho em matemática se baseia na idéia de que há um ambiente a ser criado na sala de aula que se caracterize pela proposição, investigação e exploração de diferentes situações-problema por parte dos alunos. Também acreditamos que a interação entre os alunos, a socialização de procedimentos encontrados para solucionar uma questão e a troca de informações são elementos indispensáveis nas aulas e matemática em todas as fases da escolaridade. Assim, desde a escola infantil, deve ser preocupação do professor o desenvolvimento do respeito pelas idéias de todos, a valorização e discussão do raciocínio, das soluções e dos questionamentos dos alunos.
Outra função do professor é como mediador, ao promover a confrontação das propostas dos alunos, ao disciplinar as condições que cada aluno pode intervir para expor sua solução, questionar, contestar. Nesse papel é responsável por arrolar os procedimentos empregados e as diferenças encontradas, promover o debate sobre resultados e métodos, orientar as reformulações e valorizar as soluções mais adequadas. Ele também decide se é necessário prosseguir o trabalho de pesquisa de um dado tema ou se é o momento de elaborar uma síntese, em função das expectativas de aprendizagem previamente estabelecidas em seu planejamento. Atua como controlador ao estabelecer as condições para a realização das atividades e fixar prazos, sem esquecer-se de dar o tempo necessário aos alunos.
Como um incentivador da aprendizagem, o professor estimula a cooperação entre os alunos, tão importante quanto à própria interação adulto/criança. A confrontação daquilo que cada criança pensa com o que pensam seus colegas, seu professor e demais pessoas com quem convive é uma forma de aprendizagem significativa, principalmente por pressupor a necessidade de formulação de argumentos (dizendo, descrevendo, expressando) e a de comprová-los (convencendo, questionando). Além da integração entre professor e aluno, a interação entre alunos desempenha papel fundamental na formação das capacidades cognitivas e afetivas. Em geral, explora-se mais o aspecto afetivo dessas interações e menos sua potencialidade em termos de construção de conhecimento.
A ação pedagógica em matemática organizada pelo trabalho em grupos não apenas propicia troca de informações, mas cria situações que favorecem o desenvolvimento da sociabilidade, da cooperação e do respeito mútuo entre os alunos, possibilitando aprendizagens significativas.
Outro aspecto importante no ensino e aprendizagem da matemática é a organização do espaço e o ambiente em sala de aula. Sem dúvida, o trabalho em classe tem uma importância bastante grande no processo de aprendizagem, pois é nesse espaço que acontecem encontros, trocas de experiências, discussões e interações entre as crianças e o professor. Também é nesse espaço que o professor observa seus alunos, suas conquistas e dificuldades. Desta forma, é preciso que as crianças sintam-se participantes num ambiente que tenha sentido para elas, para que possam se engajar em sua própria aprendizagem. O ambiente da sala de aula pode ser visto como uma oficina de trabalho de professores e alunos, podendo transformar-se num espaço estimulante, acolhedor, de trabalho sério, organizado e alegre.
Sabe-se que enquanto vive em um meio sobre o qual pode agir, discutir, decidir, realizar e avaliar com seu grupo, a criança adquire condições e vive situações favoráveis para a aprendizagem. Por isso, o espaço da classe deve ser marcado por um ambiente cooperativo e estimulante para o desenvolvimento dos alunos, bem como deve fornecer a interação entre diferentes significados que os alunos apreenderão ou criarão das propostas que realizarem e dos desafios que vencerem. Nesse sentido, os grupos de trabalho tornam-se indispensáveis, assim como diferentes recursos didáticos. O ambiente proposto é um ambiente positivo, que encoraja os alunos a propor soluções, explorar possibilidades, levantar hipóteses, justificar seu raciocínio e validar suas próprias conclusões. Dessa forma, nesse ambiente, os erros fazem parte do processo de aprendizagem, devendo ser explorados e utilizados de maneira a gerar novos conhecimentos, novas questões, novas investigações, num processo permanente de refinamento das idéias discutidas.
Para finalizar as considerações sobre a organização do espaço e do ambiente, sublinhamos o papel da comunicação entre os envolvidos no processo de trabalho da classe. A comunicação define a situação que vai dar sentido às mensagens trocadas, ela não consiste apenas na transmissão de idéias e fatos, mas, principalmente, em oferecer novas formas de ver essas idéias, de pensar e relacionar as informações recebidas de modo a construir significados. Explorar, investigar, descrever, representar seus pensamentos, suas ações são procedimentos de comunicação que devem estar explícitos na organização do ambiente de trabalho com a classe. Exatamente porque representar, ouvir, falar, ler, escrever, são competências básicas de comunicação, essenciais para aprendizagem de qualquer conteúdo em qualquer tempo, sugere-se que o ambiente previsto para o trabalho contemple momentos para produção e leitura de textos, trabalhos em grupo, jogos, elaboração de representação pictóricas e a elaboração e leitura de livros pelas crianças. Variando os processos e as formas de comunicação, ampliamos a possibilidade de significação para uma idéia surgida no contexto da classe. A idéia de um aluno, quando colocada em evidência, provoca uma reação nos demais, formando uma rede de interações e permitindo que diferentes inteligências se mobilizem durante uma discussão.
O trabalho do professor, nessa perspectiva, não consiste em resolver problemas e tomar decisões sozinho. Ele anima e mantém a rede de conversas e coordena ações. Sobretudo, ele tenta discernir, durante as atividades, as novas possibilidades que poderiam abrir-se à classe, orientando e selecionando aquelas que favoreçam a aproximação dos alunos aos objetivos traçados e à busca por novos conhecimentos.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
A presente pesquisa foi realizada na cidade de Ilhéus – Bahia, em uma escola da Rede Municipal de Ensino que está localizada na região rural. É considerada de médio porte, atendendo alunos de situação financeira e social carente. Oferece a Educação Infantil, o Ensino Fundamental de nove anos e a EJA (Educação de Jovens e adultos). Participaram dessa pesquisa 9 professores, estes atuam com crianças de 4 a 14 anos de idade aproximadamente. Sendo que 8 são do sexo feminino e 1 do sexo masculino. Das professoras, 5 tem curso superior completo, e tem entre 4 e 8 anos de atuação nas séries inicias. As outras 3 tem superior incompleto, com tempo de atuação semelhante as que tem superior completo. O professor tem curso superior completo e 25 anos de atuação nas séries iniciais. A coleta de dados foi realizada através de um questionário (APÊNDICE A) em que os professores responderam por escrito. O referido questionário com perguntas abertas com o objetivo de que eles expressassem sua concepção sobre a matemática, como ela deve ser ensinada e que conteúdos eles priorizam para fazê-lo.
Após uma primeira conversa, comecei a coleta de dados de forma sistemática recolhendo algumas atividades de matemática que foram desenvolvidas com os alunos (ANEXO A), em seguida recolhi os questionários respondidos pelos professores. Na maioria das atividades coletadas para efeito de análise, os blocos de conteúdos citados nos PCNs não são trabalhados, mesmo os professores tendo respondido no questionário que os conhece, só dão prioridade a números e operações, e ainda o fazem totalmente descontextualizado. São atividades de repetição e memorização. Há uma preocupação entre os professores que os alunos aprendam os numerais, e as quatro operações, como se os outros blocos de conteúdos não fossem importantes para a aprendizagem de matemática. Em relação a importância, função social e de quais os blocos de conteúdos a serem trabalhados em Matemática, o PCN diz:
Há um razoável consenso no sentido de que os currículos de Matemática para o ensino fundamental devam contemplar o estudo dos números e das operações(no campo da Aritmética e da Álgebra), o estudo do espaço e das formas(no campo da Geometria) e o estudo das grandezas e medidas(que permite interligações entre os campos da Aritmética, da Álgebra e da Geometria).O desafio que se apresenta é o de identificar, dentro de cada um desses vastos campos, de um lado, quais conhecimentos, competências, hábitos e valores são socialmente relevantes; de outro, em que medida contribuem para o desenvolvimento intelectual do aluno, ou seja, na construção e coordenação do pensamento lógico-matemático, da criatividade, da intuição, da capacidade de análise e de crítica, que constituem esquemas lógicos de referência para interpretar fatos e fenômenos.Um olhar mais atento para nossa sociedade mostra a necessidade de acrescentar a esses conteúdos aqueles que permitam ao cidadão”tratar” as informações que recebe cotidianamente, aprendendo a lidar com dados estatísticos, tabelas e gráficos, a raciocinar utilizando idéias relativas à probilidade e à combinatória( BRASIL, 1997, p. 53).
Nas respostas dos questionários percebi que os professores, aos responderem a questão de como ensinam matemática, procuram fazer o discurso que a rede de ensino exige: de que a matemática deve ser trabalhada de acordo com a realidade do aluno, utilizando situações cotidianas para que os alunos possam discutir e interagir. Como relata uma professora “Trago para a ‘rodinha’ situações cotidianas para que as crianças possam refletir, discutir e em seguida fazer o registro”, diz “M. A.”. Essa é uma fala recorrente nas respostas dos questionários, porém, ao analisar as atividades propostas por eles, percebi que essas atividades não levam em consideração a realidade do aluno, e em sua maioria é totalmente descontextualizada. Desse modo, é fundamental que o professor, antes de elaborar situações de aprendizagem, investigue qual é o domínio que cada criança tem sobre o assunto que vai explorar, quais as possibilidades e as dificuldades de cada um para enfrentar este ou aquele desafio. Utilizar o conhecimento prévio é tão importante nas aulas de matemática quanto seus conteúdos. Segundo os PCNs:
É importante salientar que partir dos conhecimentos que as crianças possuem não significa restringir-se a eles, pois é papel da escola ampliar esse universo de conhecimentos e dar condições a elas de estabelecerem vínculos entre o que conhecem e os novos conteúdos que vão construir, possibilitando uma aprendizagem significativa (BRASIL, 1997, p. 63).
Quando perguntados se os alunos têm dificuldade em aprender matemática, todos responderam que sim; quando questionados sobre o porquê disso acontecer, as respostas foram variadas: responsabilizaram desde as metodologias das aulas de reforço que os pais contratam que são totalmente diferentes do trabalho em sala de aula, até a existência de algum bloqueio por parte da criança.
Constatei na pesquisa que um dos maiores motivos das crianças terem dificuldade em aprender matemática é que os professores não trabalham a disciplina em um contexto abrangente e não valorizam o conhecimento prévio das crianças. As necessidades cotidianas fazem com que os alunos desenvolvam uma inteligência essencialmente prática, que permite reconhecer problemas, buscar e selecionar informações, tomar decisões e, portanto, desenvolver uma ampla capacidade para lidar com a atividade matemática. Quando essa capacidade é potencializada pela escola, a aprendizagem apresenta melhor resultado. Segundo o PCN:
No entanto, apesar dessa evidência , tem-se buscado, sem sucesso, uma aprendizagem em Matemática pelo caminho da reprodução de procedimentos e da acumulação de informações; nem mesmo a exploração de materiais didáticos tem contribuído para uma aprendizagem mais eficaz, por ser realizada em contextos pouco significativos e de forma muitas vezes artificial.( BRASIL, 1997, p. 38)
A comparação das respostas dos professores e as atividades só confirmaram essa afirmativa. Essa postura do professor não é por conta de formação, pois a maioria dos professores tem formação de curso superior, e os que não tem já estão terminando. Atribuo à formação inicial que é deficiente e inadequada, pois se prioriza nas escolas a leitura e a escrita, e não levam em consideração que as mesmas podem também ser trabalhadas em Matemática.
Mas a vitalidade da Matemática deve-se também ao fato de que, apesar de seu caráter abstrato, seus conceitos e resultados têm origem no mundo real e encontraram muitas aplicações em outras ciências em inúmeros aspectos práticos da vida diária: na indústria , no comércio e na área tecnológica.[...] Em outras áreas do conhecimento, como Sociologia, Psicologia, Antropologia, Medicina, Economia Política, embora seu uso seja menor que nas chamadas ciências exatas, ela também constitui um subsídio importante, em função de conceitos, linguagem e atitudes que ajuda a desenvolver.(BRASIL, 1997, p. 27)
O professor tem que reconhecer que ele é um incentivador da aprendizagem, ele tem o papel de estimulador da cooperação, e que a aprendizagem significativa só vai ocorrer à medida em que ele proporcionar um ambiente de trabalho que estimule o aluno a criar, comparar, discutir, rever, perguntar e ampliar idéias.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há muito se discute a concepção tradicionalista de ensino e sua ênfase em uma Matemática excessivamente abstrata, formal, mecanizada, expositiva e descontextualizada. No entanto, ela constitui ainda a concepção adotada por boa parte dos professores, pais e pela sociedade de maneira geral, e domina, em grande parte, livros, programas e ações em sala de aula. Diante desta perspectiva, os alunos apresentam um bloqueio cada vez maior em relação ao conhecimento matemático.
Valendo-se de argumentos que caracterizam a Matemática como ciência que trata de verdades infalíveis e imutáveis, a maioria dos professores mantém uma prática voltada somente à transmissão de conhecimentos, que pouco significado tem à criança. São poucos os que orientam sua prática de forma a apresentar a Matemática como ciência dinâmica para incorporação de novos conhecimentos, flexível e maleável às inter-relações entre os seus vários conceitos e os seus vários modos de representação e, também, permeável aos problemas nos vários outros campos científicos.
Desta mesma forma, são raros os casos em que a metodologia utilizada pelos educadores ultrapassa as aulas expositivas. Observou-se, no entanto, indícios de que o processo de ensino e aprendizagem em Matemática não precisa se restringir à mera exposição de informações, ao contrário, o trabalho em Matemática deveria ser orientado de forma a envolver o aluno no processo de construção do conhecimento. Para tanto, o professor pode utilizar os blocos de conteúdos, e para desenvolvê-los recorrer a diferentes recursos como jogos, brincadeiras, tecnologias de informação, História da Matemática e Resolução de problemas, sendo que este último mantém-se como eixo organizador do processo de ensino e aprendizagem em Matemática, e constitui-se como ferramenta fundamental para uma aprendizagem contextualizada e significativa.
Portanto durante a pesquisa pude observar que as crianças têm dificuldade em aprender matemática por conta das atividades propostas pelos professores, que priorizam as de repetição, sequenciação, cópia de numerais, escrita por extenso e realização cálculos sem valorizar a construção do conhecimento e outros blocos de conteúdos além de números e operações. Essa postura pode ser devido a sua formação inicial e continuada, pois a Rede Municipal de ensino prioriza em seus cursos de formação continuada o aprofundamento em leitura e escrita. O objetivo do ensino da matemática na Educação Infantil e Séries iniciais do Ensino Fundamental não é nem formar futuros matemáticos nem dar aos alunos instrumentos que só lhe serão eventualmente úteis muito mais tarde, e sim contribuir para o desenvolvimento geral de suas capacidades de raciocínio, de análise e de visualização.
Referências
ANDRADE, Klesia Garcia; BATISTA, Cleide Vitor Mussini; CAVA, Laura Célia S. Cabral; MOURA, Delgado Paschoal; PASCHOAL, Jaqueline Delgado. Instrumentação do Trabalho pedagógico na Educação Infantil: fundamentos e metodologias. Editora Unopar, 2008, 166 p.
BATISTA, Cleide Vitor Mussini; CRUZ, Vilma Aparecida Gimenes da; KFOURI, Samira; RAMPAZZO, Sandra Regina de Jesus; SANTOS, Adriana Regina de Jesus; ZANLUCHI, Fernando Barroso. Curso Superior de Pedagogia: módulo 2. Londrina, UNOPAR, 2006, 124 p.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria do Ensino Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997
BRASIL, Pró-letramento: Programa de Formação Continuada de Professores dos Anos/Séries Iniciais do Ensino Fundamental: matemática. – ed. Ver. E ampl. Incluindo SAEB/Prova Brasil matriz de referência/ Secretaria de Educação Básica- Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007, 308 p.
BRASIL, Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998a. V. 1 180 p.
BRASIL, Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998b. V. 2 85 p.
BRASIL, Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998c. V. 3 250 p.
CÂNDIDO, Patrícia; DINIZ, Maria Ignez; SMOLE, Kátia Stocco. Brincadeiras Infantis nas aulas de Matemática (Coleção Matemática 0 a 6 v.1). Porto Alegre: Artes Médicas, 2000, 85 p.
CÂNDIDO, Patrícia; DINIZ, Maria Ignez; SMOLE, Kátia Stocco. Coleção Matemática de 0 a 6 anos/ Resolução de Problemas v. 2. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul, 2000.
CÂNDIDO, Patrícia; DINIZ, Maria Ignez; SMOLE, Kátia Stocco. Figuras e Formas (Coleção Matemática 0 a 6 v.3). Porto Alegre: Artmed, 2003, 199 p.
KRAMER, Sônia (org.). Com a pré-escola nas mãos: Uma alternativa curricular para a educação infantil. São Paulo: Ática, 2003. 106 p
LORENZATO, Sergio. Educação Infantil e Percepção Matemática (Coleção Formação de Professores). Campinas, SP: Autores Associados, 2006, 187p.
PIAGET, Jean; SZEMINSKA, Alina. A gênese do número na criança. 2. Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense, 1967.
RAMPAZZO, Sandra Regina dos Reis; KLAUS, Melina. Instrumentação do trabalho pedagógico nos anos iniciais do ensino fundamental: fundamentos e metodologias. Londrina: Unopar, 2008. 196p.
Publicado em 19/05/2010 15:11:00

Nádia Antonia Cabral Dos Santos - Pedagoga, educadora  de séries iniciais de escola pública do municipio de ilhéus bahia, estudante de psicopedagogia clínica, hospitalar e institucional

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SOCIOPSICOMOTRICIDADE RAMAIN-THIERS

 

SOCIOPSICOMOTRICIDADE RAMAIN-THIERS 

Avaliação

O Programa de Avaliação Ramain-Thiers resulta da experimentação e aplicação do Método Ramain-Thiers no trabalho psicoterapêutico grupal e individual. Serve para a avaliação diagnóstica de crianças a partir de seis anos de idade e de adolescentes. Como instrumento de avaliação diagnóstica, segue os princípios básicos da Sociopsicomotricidade. As atividades propostas no Programa de Avaliação envolvem, em uma seqüência estabelecida, orientações para desenvolvimento e análise da entrevista inicial, orientação e material para uma sessão de "hora livre", programa de uma sessão de Trabalho Corporal e determinadas atividades de Psicomotricidade Diferenciada compostas por Cópia, Recorte, Entrelaçamento e Memória. O caráter projetivo do Método Ramain-Thiers é a principal fonte de sustentação, funcionalidade e eficácia do Programa de Avaliação enquanto instrumento diagnóstico.
São ao todo seis itens que compõem o material do Programa de Avaliação:
1 - Caderno de Aplicação;
2 - Caixa Ramain-Thiers para crianças, contendo os materiais básicos utilizados pelo Método e padronizados para o uso na sessão de "hora livre" e uma família de bonecos feitos em arame;
3 - Pasta Ramain-Thiers para adolescentes, contendo os materiais básicos utilizados pelo Método e padronizados para o uso na sessão de "hora livre" e uma "Apostila de Assuntos Interessantes";
4 - Seis desenhos-modelo utilizados na atividade de Cópia
a) para crianças: o carro, o sol e a lua, o aquário (AV.CR.01, 02 e 03);
b) para adolescentes: o sapo, o cachorro e o totem (AV.AD. 01, 02 e 03)
5 - Memória
a) para crianças: um jogo contendo 12 pares de peças com desenhos coloridos;
b) para adolescentes : 1 desenho-mandala e um jogo com peças para montagem do desenho-mandala;
6 - Um conjunto de linhas coloridas para a atividade de Entrelaçamento.
O objetivo do Programa de Avaliação é levar o socioterapeuta à compreensão da estrutura psíquica do sujeito através da análise dos elementos psicodinâmicos que nele são observados: a personalidade, a adaptabilidade, a integração, a imagem corporal, as estruturas do Id, Ego e Superego e, as organizações psicopatológicas. É um material que deve ser utilizado como um referencial para a construção do Perfil Sociopsicomotor do sujeito, considerando seus aspectos emocionais, corporais e sociais.
O Perfil Sociopsicomotor resulta dos entrelaçamento dos aspectos observados em cada uma das atividades desenvolvidas no decorrer da aplicação do Programa: a recorrência de determinadas atitudes; a negligência em relação a algum tipo específico de material ou de atividade, os diferentes sentimentos que experimenta frente a determinadas atividades, reações inesperadas. A análise destes aspectos leva, por sua vez, à percepção de quais são os componentes ativos das dificuldades apresentadas, bem como a observação das condições grafo-perceptivo-motoras do sujeito.

Aplicações 

A Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers é também utilizada na área de assistência social. O projeto "Assistência Global", desenvolvido pelo Núcleo Ramain-Thiers de São Paulo, promove o atendimento gratuito a estudantes de 1o. e 2o. graus da rede pública de ensino. A triagem é feita pelas coordenadoras do Núcleo Ramain-Thiers na escola, juntamente com os professores e orientadores educacionais. São aceitos para atendimento casos cujo comprometimento emocional se evidencia no comportamento ou aproveitamento escolar deficiente. O objetivo do trabalho é promover maior capacidade de socialização e desenvolvimento das potencialidades do sujeito através do contato com seus próprios limites e dificuldades, promovido pela ação terapêutica do Método. Este projeto está em funcionamento desde 1995 e vem alcançando resultados altamente satisfatórios, demonstrando a eficácia da utilização da Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers nesta população.
Outro projeto, voltado à assistências de crianças carentes em regime de internato e semi-internato, foi desenvolvido pela Dra. Sonia Grubits na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul e adotado temporariamente pela Promosul - Secretaria da Criança. O trabalho iniciou-se em 1993 e se desenvolveu em três instituições, nas quais o atendimento foi feito a crianças cuja faixa etária se situava entre os seis e nove anos de idade. O objetivo do trabalho é o de verificar as possibilidades de desenvolvimento e reconstrução da identidade infantil através da grupoterapia. Os resultados demonstraram progressos no desenvolvimento intelectual, motor, cognitivo e evidente crescimento emocional das crianças atendidas. 

Método Ramain-Thiers 

A Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers é uma técnica psicoterapêutica grupal que utiliza a psicomotricidade como instrumento para a mobilização psíquica e afetiva do sujeito e do grupo em terapia, promovendo o desencadeamento e a emergência de conteúdos psíquicos inconscientes, cuja leitura e compreensão é feita pelo socioterapeuta à luz da psicanálise. Além da teoria psicanalítica, fazem parte da estrutura teórica do Método, a psicologia social, a sociologia e a antropologia, no que diz respeito à compreensão dos fenômenos grupais. A teoria que fundamenta o Método estende-se ao estudo do movimento e percepção corporal, entendidos como parte integrante do psiquismo, ou seja, como uma extensão concreta dos conteúdos psíquicos simbólicos. Dentro desta visão, o movimento se transforma em um ato psicomotor que pode ser lido, pontuado e interpretado, pois tal qual a palavra, contém em si representações psíquicas inconscientes.
Assim, a dinâmica terapêutica grupal Ramain-Thiers estrutura-se a partir da compreensão do ser humano como um todo complexo, composto pelo psiquismo, pela ação e pelas relações sociais que estabelece. O objetivo da Sociopsicomotricidade, segundo Thiers, é promover a capacidade de atenção interiorizada, desenvolver o potencial criativo e propiciar a busca de autonomia, como elementos básicos para alcançar uma mudança de atitude.
Dentro da esfera psicoterapêutica, a Sociopsicomotricidade visa atender grupos formados por crianças, adolescentes ou adultos. Em Ramain-Thiers trabalha-se com grupos heterogêneos quanto ao tipo de comprometimento apresentado pelos componentes do grupo terapêutico. O atendimento psicoterapêutico grupal Ramain-Thiers tem se mostrado eficaz no trabalho com deficiências na área da aprendizagem, patologias da fala, distúrbios de comportamento ou desequilíbrios emocionais. Deste modo, especificamente dentro da área da educação, a Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers pode ser utilizada como um instrumento facilitador para a compreensão dos diferentes comprometimentos apresentados por estudantes nas salas de aula ou no processo de um atendimento clínico psicopedagógico, bem como no desenvolvimento de propostas de dinâmica de grupo que visem a integração e sensibilização de grupos de pais ou professores.
A sessão psicoterapêutica Ramain-Thiers estrutura-se no entrelaçamento de três tipos de atividades:
1) a de Trabalho Corporal;
2) a de atividades de expressão motora fina, denominada Psicomotricidade Diferenciada
3) a de Verbalização. 

Trabalho Corporal 

 O principal objetivo do Trabalho Corporal é desenvolver a capacidade de atenção interiorizada (expressão utilizada por Simone Ramain). As atividades corporais propostas favorecem a formação do esquema e imagem corporal, facilitam a inter-relação do sujeito no grupo, liberam recalques corporais, despertam e refinam a sensibilidade, fortalecendo a estrutura egóica do sujeito através da ação consciente - o ato psicomotor - que realiza. 
Materiais como bolas de diferentes tipos, cores e tamanhos, sacos de areia, tecidos e fitas, bambolês, elásticos e cordas, esponjas e bastões de madeiras são utilizados como instrumentos mediadores entre o sujeito e seu corpo ou, entre um sujeito e outro. O manuseio destes diferentes tipos de materiais possibilita a percepção de diferentes níveis de tônus muscular, de diferentes sensações de peso em diferentes partes do corpo, de apoio ao solo, de equilíbrio e a mobilização dissociada de segmentos corporais, promovendo maior consciência do eu-corporal no espaço.  
Em Ramain-Thiers os aspectos emocionais são considerados fatores determinantes da qualidade das relações estabelecidas entre o corpo e o ato psicomotor, sendo consideradas, portanto, determinantes do significado da ação. De modo geral, no Trabalho Corporal Ramain-Thiers busca-se a revivescência de situações primitivas experimentadas no contato corpo-a-corpo com a mãe, em um estágio do desenvolvimento psicomotor anterior ao verbal. As propostas de Trabalho Corporal são consideradas experiências facilitadoras para a recomposição de lacunas psíquicas promovidas por falhas ambientais, decorrentes de faltas vivenciadas na relação entre mãe-bebê.  

Diferenciada 

As atividades de Psicomotricidade Diferenciada encontram-se detalhadas no material denominado Orientador Terapêutico Thiers. Há um Orientador Terapêutico Thiers para cada tipo de grupo aos quais o trabalho alcança: para crianças (OR.CR.), para adolescentes (OR.AD.) e para adultos (OR.E.). Cada Orientador Terapêutico Thiers é composto por uma série de conjuntos - agrupamentos de tipos de propostas de atividades a serem executadas. Em sua grande maioria, os materiais que compõem cada conjunto são elaborados manualmente pelo socioterapeuta. 
As atividades apresentadas nos Orientadores Terapêuticos Thiers são várias e envolvem dobraduras, cópias, trabalhos com arame, quebra-cabeças, texturas e recortes, atividades artísticas, representação de símbolos, entre outras. Ao mesmo tempo em que a execução da atividade desencadeia a projeção dos conteúdos emocionais do sujeito em seu próprio ato psicomotor, trabalha-se também com a percepção visual e tátil, com a memória, a atenção, a capacidade de discriminação de elementos e o controle motor. Nas atividades que requerem o uso do lápis, a borracha não é utilizada. Utilizam-se lápis de cores diferentes. Quando um erro é notado, do lápis grafite preto inicialmente utilizado, passa-se para o lápis vermelho, do vermelho passa-se para o lápis azul e, do azul para o verde. O erro é marcado para não ser esquecido, não ser dissimulado. É a descoberta de que, trocando as cores dos lápis, pode-se recomeçar e encontrar novos caminhos, novas saídas.  
As instruções de orientação para execução das propostas de atividades de Psicomotricidade Diferenciada são, geralmente, pronunciadas somente uma vez para o grupo. Quando há a necessidade de se repetir a instrução, isto é feito juntamente com o grupo, em uma tentativa de resgate ou reconstrução da mesma através do grupo. A instrução dada, em Ramain-Thiers, é a Lei. Ela não deve ser transgredida e tampouco dissimulada pois representa simbolicamente a entrada do sujeito na cultura, na sociedade, como um desdobramento da "proibição ao incesto", apresentada pela psicanálise.  
As atividades propostas nos Orientadores Terapêuticos Thiers mobilizam e correlacionam-se a determinados aspectos do desenvolvimento emocional do ser humano. As correlações existentes entre o ato psicomotor e os conteúdos psíquico-afetivos surgem a partir da verbalização do sujeito em relação ao que vivenciou e produziu. É através do modo como o sujeito realiza a atividade proposta que o socioterapeuta pode analisar e perceber este tipo de correlação. Observam-se alterações feitas durante a execução da atividade proposta, como por exemplo inversões, ampliações ou diminuições feitas a partir do desenho-modelo apresentado; uma execução parcial ou fragmentada; se a atividade é feita e refeita várias vezes e, principalmente, se houve a possibilidade de efetuar a troca das cores dos lápis ou utilizar o durex como elemento reparador nas atividades que envolvem o recorte. O modo como o sujeito manuseia o material também é fundamental: se é com facilidade ou com rudeza; se o transforma em algo completamente diferente daquilo que foi solicitado ou não; qual o tipo de material que escolhe para trabalhar; se há recusa em trabalhar com determinado tipo de material, ou ainda, se o material é destruído.  
A leitura psicoterapêutica feita pelo socioterapeuta com base nas verbalizações dos componentes do grupo ou a partir da observação do modo de execução da atividade, pode alcançar três formas:
1) a vertical, feita a cada componente do grupo, especificamente, 
2) a horizontal, que parte da percepção do movimento psíquico grupal,
3) a transversal, feita quando situações da realidade atravessam as verbalizações feitas pelos componentes do grupo terapêutico.

Os materiais que caracterizam o Método são:

1) o tipo de papel utilizado (quadriculado, pontilhado e triangulado);
2) pranchas de madeira perfuradas, pranchas com pregos eqüidistantes, pranchas de feltro, pranchas de cartolina e isopor;
3) prancha vasada para tear manual;
4) os materiais elaborados a partir dos Orientadores Terapêuticos Thiers
5) o lápis grafite preto, os lápis vermelho, azul e verde. 
Além destes, vários tipos de materiais são utilizados na execução das atividades de Psicomotricidade Diferenciada. Utiliza-se muito material plástico: papéis de diferentes tipos, cores e tamanhos (papel espelho, laminado, camurça, celofane, crepon, cartolina, seda, craft etc), tinta guache, tinta plástica, cola colorida, cola simples, tesoura, pincéis, lápis de cor, giz de cera, caneta hidrocor, argila, lantejoulas, tecidos. Sucatas também são muito utilizadas.   

Verbalização 

A Verbalização é o momento da sessão no qual o grupo, através de cada um de seus componentes, fala livremente a respeito do que vivenciou e executou. A postura de continência por parte do socioterapeuta, bem como a qualidade de sua "escuta terapêutica" são fundamentais para o bom desenvolvimento do grupo dentro do processo psicoterapêutico.   
Informação e Bibliografia 
NÚCLEO RAMAIN-THIERS DE SÃO PAULO
Coordenação: Ana Lúcia Mandacarú Lobo
Psicóloga, Terapeuta dos grupos de formação em Sociopsicomotricidade, Socioterapeuta Ramain-Thiers, Mestranda do Depto. de História Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Assistente de Coordenação: Beatriz Pinheiro Machado Mazzolini
Psicóloga, Psicopedagoga, Socioterapeuta Ramain-Thiers, Mestranda do Depto. de Psicologia Escolar do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.  
Referências Bibliográficas
GRUBITS,S. A Construção da Identidade Infantil - A Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers e a ampliação do espaço terapêutico. Ed. Casa do Psicólogo, São Paulo, 1996.
 
LOBO, A.L. M. e MAZZOLINI, B. P. M. Programa de Avaliação Ramain- Thiers. Ed. Casa do Psicólogo, São Paulo, 1997.
THIERS, S e cols. A Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers. Ed. Casa do Psicólogo, São Paulo, 1995. 

Quer saber mais,

Fonte; http://www.psicopedagogia.com.br/atuacao/psicomotricidade/ramain.shtml


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Uma reflexão, sobre a metodologia científica (monografia).




 Olá, amigos de blogagem e leitura  muito obrigado por nos acompanhar.
Hoje gostaria de falar sobre o ensino superior e a metodologia científica. É interessante, mas se perguntarmos para os alunos destas disciplinas, constataremos que muitos não conseguem assimilar o que é passado.  (E em sua grande maioria detesta esta matéria, o engraçado é que a maoria dos professores desta disciplina estão começamdo ou melhor são novatos. Tem exceções). Desta maneira o conteúdo é passado em sua maioria de uma forma que não atrai, a atenção. Geralmente os trabalhos são feitos, em sua grande maioria,  sem se importar com o conteúdo e sim com as regras (tem exceções é claro). Pois tem alguém doido para encontrar um erro, mais até do que encontrar bons conteúdos. Lógico que isto não se aplica a todas as instituições, mas de uma coisa tenho certeza precisamos mudar alguma coisa. As vezes um aluno faz uma citação, e dizem que a ela tem que ser assim, tem que ser assado. Ele fez uma citação, mas não foi de uma maneira correta, mas a citação esta lá. Deveriamos ter um espaço na academia para, a espontaneidade. (  imagine um  garoto que cresceu jogando bola na rua , e imagine um outro que aprendeu em uma escolhinha, poderiamos unir os dois). Isto  poderia ser feito nas Universidades. Veja uma professora/pedagoga faz uma  sondagem para ver o nível de seus alunos certo. Com estes dados  ela faz um procedimento. Mas reparemos que nas universidades não se tem isso em sua grande maioria. Poderiamos usar o método cientifico, e colher estes dados é montar uma aula. 
Sugestão, que tenhamos um blog e postemos nossa opinião sobre as coisas, ou mesmo um vídeo no youtube etc.


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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Na boca do povo Básico, simples e apetitoso: o pão é o símbolo do alimento universal por Marcia Bindo


Esta matéria da revista Vida Simples, é bem interessante para trabalhar história, a matemática, a arte. De uma maneira interdisciplinar, ou transdisciplinar. Isto com as crianças da 4ª série, ou melhor 5º ano do fundamental 1. Desta maneira usando nossa criatividade podemos expandir as disciplinas  e ao mesmo tempo dar uma aprendizagem significativa. No caso na matemática , poderiamos trabalhar a questão do tratamento da informaçãomodelagem matematica e formas geométicas, na artes poderiamos trabalhar o manuseio e formas a fruição e o aroma, na história ai tem muita coisa de cada povo.

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É de manhãzinha quando sai a primeira fornada. Dá quase para escutar o canto do pão, estalando de quente, anunciando o começo de mais um dia. Na vitrine, espremem-se baguetes, broas, ciabatas, bisnagas, folhados, exalando seus aromas e, psiu!, chamando a atenção da freguesia.Num canto do balcão um sujeito se delicia com um singelo pingado com pão na chapa, enquanto o impaciente senhor, já na fila do caixa, não resiste e arranca um naco de pão pelando que acaba de comprar. Com água na boca a moça pede para embrulhar croissants, já a criançada quer mesmo é atacar os minipães de queijo. Assim, a padaria que nunca dorme ajuda a cidade a despertar melhor. E comprova que o pão, em todas as suas variações, é o alimento mais democrático que existe: tem para todos os gostos. E a toda hora. Estrela do café-da-manhã, tem participação especial no almoço, bate ponto no lanche e faz um bico até no jantar. É o nosso crocante companheiro de todas as refeições.
O pão é mesmo nosso velho conhecido. Foi o primeiro alimento manufaturado pelo ser humano e também é o mais simples: sua base leva apenas farinha, água e sal. Ao mesmo tempo, é o mais plural. Sua massa aceita diferentes formas, ingredientes e sabores.“O que varia é o tipo de fermentação, o tempo de descanso, o trabalho na massa e o principal: a dedicação do padeiro”, afirma Toninho Neto, um dos donos da Basilicatta, tradicional padaria paulistana fundada por seu tio-bisavô italiano em 1914 na Bela Vista. “Foram os imigrantes italianos e portugueses que transformaram o costume de fazer pães rústicos em um meio de ganhar a vida”, diz ele, enquanto retira fumegantes pães redondos do forno a lenha. No início, as padarias se concentravam nos centros urbanos, eram escassas, distantes, e os fregueses costumavam comprar peças enormes para durar toda a semana.
A popularização do francesinho de 50 gramas começou a partir dos meados do século 20, quando as pessoas passaram a comer mais fora de casa, e os lanches viraram mania. O pão francês caiu, literalmente, na boca do povo (francesinho que, aliás, deveria se chamar brasileirinho, já que é uma invenção nacional apenas inspirada nas longas baguetes francesas).
Foi só a partir da década de 90 que as padarias começaram a apostar na diversidade de pães para conquistar o paladar da clientela.Nessa época, os supermercados cresceram e criaram panificadoras internas, além de vender pães industrializados menos perecíveis, fazendo com que as padarias perdessem metade de sua participação no mercado de pães. Desde então, as padarias começaram a se reorganizar, e ampliaram seu leque de produtos e tipos de pães.E converteram- se em um fast food, digamos, mais saudável, oferecendo lanches e pães de tudo quanto é tipo e para todas as refeições. “O pão deixou de ser um acompanhamento para virar o alimento principal”, diz Dario Vianna, professor de panificação e confeitaria da Universidade Anhembi-Morumbi, em São Paulo.Hoje, 40 milhões de brasileiros vão diariamente a uma padaria, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip), e o consumo de pão por ano chega a ser em média 100 quilos por pessoa. Tanto consumo, claro, pede moderação. A partir de agosto será obrigatório pela vigilância sanitária a impressão de tabelas nutricionais nas embalagens de todos os produtos de padaria, inclusive nas embalagens de pães. “O consumidor terá, além do preço e ingredientes, a informação do valor nutricional e calórico”, diz Regina Rambaldi, técnica em nutrição e consultora gastronômica.
Do grão ao pão
Todo pão que consumimos hoje é resultado de uma herança ancestral repassada no decorrer de gerações e culturas. Os primeiros pães surgiram no início da agricultura, com o cultivo de grãos, há cerca de 12 mil anos. No começo era uma mistura de diferentes grãos moídos e água, uma pasta que era cozinhada sobre pedras quentes, formando uma massa seca e dura. Alguns milhares de anos depois, nas margens do rio Nilo, onde a produção de trigo era abundante, os egípcios perceberam que a massa dessa farinha umedecida,depois de um bom tempo, ficava mais porosa. E na hora de assar, a tal mistura crescia mais que o normal, ficando fofa e leve. Era a descoberta do processo de fermentação.
De lá para cá o pão conquistou espaço em todas as sociedades, ganhou novos formatos e ingredientes. E transformou-se em um alimento universal. “O pão é um elo de semelhança entre os homens porque é encontrado em todas as culturas. Por outro lado, cada lugar tem um jeito diferente de fazer seu próprio pão, de acordo com seus hábitos e ingredientes disponíveis na região”, conta o fotógrafo de culinária Paulo Braga, autor do livro O Pão da Paz, que reúne as receitas típicas de pão de todos os 194 países membros da ONU. Enquanto beliscamos broas de milho caseiras recémsaídas do forno, Paulo conta que a idéia surgiu depois do atentado de 11 de setembro em Nova Yorque.Pacifista convicto, decidiu escrever sobre um alimento comum a todos, que simbolizase a paz,a comunhão.Depois de um ano fermentando a idéia, o livro cresceu e ganhou forma.Agora sairá um segundo volume polvilhado de receitas de pães étnicos, regionais e religiosos das mesas do mundo inteiro.
Hora da partilha
Paulo leva ao pé da letra o símbolo do pão como alimento de comunhão: tem uma confraria de pão, a Mondo Pane.Uma vez por semana, ele se reúne com cinco amigos para fazer pão, falar de amenidades e tomar vinho. “Não há nada mais gostoso do que produzir o próprio pão, se envolver com a massa, ser presenteado pelo aroma fantástico que desprende do forno e ainda degustá-lo com bons companheiros”, diz ele. A própria palavra companheiro em latim significa “aquele com quem se compartilha o pão”. Pois se há um alimento que, por seu formato e consistência, pressupõe a divisão, ele é o pão.
O alimento ganhou caráter sagrado em muitas religiões e culturas.“Na última ceia, Jesus Cristo compartilhou com os apóstolos o pão e o vinho, representando seu corpo e seu sangue, e em uma passagem dos Evangelhos ele realiza o milagre da multiplicação dos pães para alimentar uma multidão”, conta Don Bernardo Schuler, há oito anos chefe de cozinha do Mosteiro de São Bento, em São Paulo. Lá são elaboradas algumas dezenas de unidades do famoso pão de mandioquinha, batizado de pão São Bento, uma receita secular guardada a sete chaves ­ e que desaparece como milagre da lojinha improvisada ao lado da igreja do Mosteiro. Especializado na produção artesanal de pães e bolos, Don Bernardo fala que a feitura de pão necessita um ingrediente especial: paciência. E conclui: “ É preciso tranqüilidade porque o estado de espírito interfere na qualidade da massa”.
Ofício de artesão
O padeiro Olivier Anquier pede para eu abrir alguns de seus pães com as mãos para sentir a textura mais consistente e o aroma de um pão artesanal.O francês conta que o pão rejeita a modernização, já que não suporta uma grande aceleração em sua produção. “O pão é um ser vivo, tem uma temperatura certa para render bem e, depois do trabalho, precisa de muito descanso.” Olivier é a terceira geração de padeiros de sua família e hoje produz pães para uma grande rede de supermercados em São Paulo. Explica que a diferença fundamental entre os pães considerados artesanais e os industriais está na elaboração. No pão artesanal, há maior manuseio de ingredientes e massa, quase sempre fermentada naturalmente. “Pães industriais exigem máquinas, pouco contato humano e mais produtos químicos, como melhoramentos e conservantes, para garantir vida longa ao produto”, conclui a chef de panificação Sandra Canella-Rawls, autora do detalhado livro Pão,Arte e Ciência.
Mas o pão também ganhou com as conquistas modernas. A farinha nunca apresentou tanta variedade e qualidade, e há uma gama de cereais nutritivos sendo usados nas massas. Mais bons motivos para você escolher melhor e abocanhar com gosto o pãozinho nosso de todo dia.
Multiplicação dos pães
A base de todo pão é a farinha de trigo. Mas nem por isso são todos farinhas do mesmo saco. O pão se diferencia pelo tipo de farinha de trigo usado e também pelos demais ingredientes. O grão do trigo é composto de três partes: o miolo da semente (endosperma), com mais quantidade de proteínas e carboidratos. Mais próximo da casca, o germe é onde a futura planta irá brotar. Tem vitaminas, minerais e algumas proteínas. O farelo é a casca da semente, repleta de vitaminas e fibras. Por isso, preste atenção nas características dos principais tipos de pães:
Pão branco: Feito com o grão refinado, em que só o miolo do grão é aproveitado, é pobre em vitaminas, minerais e fibras, mas rico em carboidratos, importante para dar energia ao corpo. Injustamente acusado de ser inimigo dos regimes ­ e de provocar os famosos “pãezinhos” na região da cintura ­ o pão na verdade não possui tantas calorias, se ingerido com moderação. Um pão francês têm em média cerca de 120 calorias.
Pão integral: O grão é aproveitado integralmente, por isso é rico em vitaminas, minerais e fibras. Muitos são enriquecidos com sementes de girassol, linhaça, aveia, flocos de milho, soja e farelo de trigo. As fibras ajudam o intestino a funcionar melhor, é mais nutritivo e dá uma sensação maior de saciedade. Recomendado para todas as pessoas, especialmente para quem sofre de problemas intestinais. Hoje é possível encontrar uma série de pães integrais nas prateleiras dos supermercados e em padarias.
Pão doce: São acrescentadas na massa açúcar, banha ou manteiga, ovos e leite. Por isso possui maior quantidade de gordura em relação aos outros tipos de pão.É recomendável que pessoas acima do peso controlem o seu consumo. Já os diabéticos devem optar pelos pães doces diet.
Pão fresco
Como garantir o sabor do seu pãozinho por mais tempo
Amanhecido: com o passar das horas a água presente no pão começa a evaporar. O pão resseca, vai ficando borrachento, e depois você já sabe: fica duro que nem pedra. Os pãezinhos de ontem voltam a ficar mais macios e crocantes se você respingar um pouco de água ou leite e levá-los ao forno. Mas atenção: o efeito dura pouco, então é altamente
Congelado:para congelar, coloque o pão fresco em um saco plástico, que ajuda a manter a umidade do produto, retirando todo o ar (se você não tem uma máquina a vácuo, pode usar um canudinho). Na hora de descongelar, umedeça o pão com água e leve ao forno baixo por alguns minutos. Plim! A casca volta a ganhar crocância (mas lembre-se de que o pão deve ser consumido imediatamente). Se você esperar ele descongelar naturalmente ou utilizar o microondas, o pão ficará borrachudo.
Conservado: O melhor lugar para guardar o bom e velho pão francês é no seu próprio saco de papel de padaria ­ lembrando que ele fica bom somente até o dia seguinte. Já para conservar pães artesanais você pode enrolá-los em um pano levemente úmido e guardá-los dentro de um armário. Eles duram por volta de cinco dias. Evite guardar qualquer tipo de pão na geladeira, pois o frio retira a umidade e resseca sua massa.
Ressuscitado: O pão é um alimento barato. Mas nem por isso você vai descartá-lo quando ele fica “velho”. Quando o pão endurece fica ainda melhor para preparar saborosas rabanadas, pudim-de-pão, torradinhas, croutons e farinha de rosca. Veja algumas receitas para reaproveitar os pães em: www.revistavidasimpoles.com.br
Para saber mais
Livros:
Seis Mil Anos de Pão,Heinrich Eduard Jacob, Nova Alexandria
Pão, Arte e Ciência,Sandra Canella Rawls, Senac
Pão da Paz, Paulo Braga, Senac



Fonte: http://vidasimples.abril.com.br/subhomes/comer/comer_237126.shtml?pagina=1


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Introdução a meditação - 6 partes











Introdução a meditação - 6 partes











sábado, 29 de maio de 2010

Videos em espanhol (pluralidade cultural) Entrevista sobre la dislexia

encodigo November 18, 2008Entrevista sobre la dislexia a Eduardo Herrera en Etb2.Durante la entrevista se describen los síntomas y un nuevo programa para el entrenamiento lector: la pizarra dinámica de lecto escritura.







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quinta-feira, 27 de maio de 2010

Café Cultura - Transpessoal: uma visão integral do Ser Humano



Vai fazer o que neste final de semana? Humm na sabe então ai vai um programa bem interessante pra vc de Campinas e Região. Veja abaixo.


Café Cultura - Transpessoal: uma visão integral do Ser Humano.
05 de Junho de 2010 
14h30
Livraria Cultura
Shopping Center
Iguatemi Campinas

A abordagem transpessoal parte do princípio da presença de uma Inteligência ou Consciência Universal que cria, sustenta e transforma todas as manifestações. Une e integra as visões das tradições espirituais e as contribuições das ciências contemporâneas. O Ser Humano é a manifestação corporificada desta Inteligência capaz de desvelar e vivenciar esta sabedoria inata. No seu processo de "des envolvimento"  inclui e integra os aspectos corporais, emocionais e intelectuais com as dimensões existenciais e espirituais. Um caminho que vai  do pré pessoal ao pessoal e deste ao transpessoal.


Inscrições OnlineIMG_0003.JPG
Livraria 

1º Piso
Telefone: (19) 3751-4033 / 3751-4030


LIVRARIA CULTURA
Como chegar,


Visualizar Iguatemi em um mapa maior

Fonte,http://www.unisal.br/

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Estatísticas bem trabalhadas

Matemática

Prática pedagógicaTratamento da Informação
Edição 232 | Maio 2010 Título original: Dados bem trabalhados

Estatísticas bem trabalhadas

Desenvolver boas atividades com estatística significa ensinar a moçada a coletar, organizar e interpretar dados

Beatriz Santomauro (bsantomauro@abril.com.br), de Urupês, SP
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Foto: Marcos Rosa
TRABALHO COMPLETO Na EMEF Professor Athayr da Silva Rosa, os alunos aprendem a estatística em detalhes. Fotos: Marcos Rosa

Se o fazer matemático vai muito além dos procedimentos de cálculos, não faz sentido esgotar a exploração da estatística - um conteúdo prioritário da disciplina - focando o preenchimento de tabelas e números descontextualizados na ânsia de ensinar conceitos como a média aritmética. Essa maneira de trabalhar deixa de lado um processo complexo e detalhado, que envolve diversas aprendizagens. 

Propor que a turma faça pesquisas simples - como determinar o perfil das crianças que estudam na escola -, colhendo as informações necessárias, e trabalhe com elas a fim de apresentar os resultados de modo compreensível é primordial. Dessa forma, todos se apropriam da linguagem estatística e não se formam meros fazedores ou leitores de gráficos. A ideia é tão valiosa que, de saída, já abre espaço para envolver os alunos em questões muito relevantes. Qual o critério de seleção e representatividade da quantidade de pessoas envolvidas na pesquisa? É melhor fazer o censo com todo o universo envolvido, para um perfil mais fiel, ou pesquisar por amostragem, apenas com uma parte dele? 

Mas atenção ao apresentar um problema contextualizado aos alunos: ele deve servir apenas de apoio para ensinar o conteúdo e dar significado a ele. "Antes de inserir conceitos extramatemáticos para abordar a estatística, o educador tem de se perguntar se a ideia fará os estudantes enfrentarem desafios próprios da área e se terão de argumentar para validar suas resoluções. A conexão entre contexto e conteúdo não é garantia para promover a aprendizagem", diz Ivone Domingues, coordenadora pedagógica da Escola da Vila, na capital paulista, e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. Por atentar a essa questão, Daniela Mazoco, professora de Matemática do 7º ano da EMEF Professor Athayr da Silva Rosa, em Urupês, a 433 quilômetros de São Paulo, foi premiada em 2009.


Foto: Marcos Rosa
TRABALHO DE COLETA Para começar, a turma sai a campo e reúne as informações que serão usadas nos cálculos

Ela estimulou os alunos a descobrir qual o gasto médio diário de água de um morador do município, colocando em jogo a média aritmética (leia a próxima página). "O trabalho dela envolve uma das medidas de tendência central de pesquisas, tal como a moda e a mediana", explica Ruy Pietropaolo, professor de Educação Matemática da Universidade Bandeirante (Uniban). Ou seja, conceitos elementares da estatística. 

Como se sabe, para calcular a média, somam-se os valores envolvidos na pesquisa e divide-se o resultado pelo número de parcelas. No caso da moda, ela é o valor (ou valores) que aparece em maior quantidade na amostra. E, quando se trata da mediana, encontrá-la significa descobrir o valor central da amostra desde que ela esteja organizada de modo crescente ou decrescente. Assim, no grupo 2, 3, 15, 19, 19, 23, 30, a média é 15,8, e a moda e a mediana, 19. "Levar o aluno a notar quais são as medidas que representam melhor o conjunto de dados leva a uma interpretação mais adequada do que foi pesquisado", diz Pietropaolo (leia a sequência didática).

Foto: Marcos Rosa
MUITAS NOVIDADES Aulas expositivas ajudam na compreensão de conceitos como média, mediana e moda

Na amostra em que os números são relativamente próximos, a média vai ser representativa da tendência da amostra, mas se houver valores extremos a média é afetada. A mediana ou a moda representam melhor a tendência central dessa amostra. Isso fica evidente quando o desafio é, por exemplo, calcular o produto interno bruto (PIB) de um país em que as desigualdades são grandes. Se o resultado for obtido com a média, os valores muito altos ou baixos podem ficar mascarados e será difícil fazer uma análise da realidade da maior parte da população. É preciso encontrar outra medida que representa melhor a amostra: a moda, se existirem valores centrais que se repetem muitas vezes, ou, caso contrário, a mediana. "A estatística é uma ferramenta que auxilia o aluno a fazer conjecturas, investigar e elaborar questionamentos", defende Maria do Carmo Mayor Fabre, formadora de professores de redes públicas de São Paulo. 

Chamar a atenção para a noção de dispersão, outra medida estatística, ainda que o trabalho com ela propriamente dito fique reservado ao Ensino Médio, também é válido. Isso porque ela permite destacar a concentração de números em torno da média. Mesmo nos casos em que a média e a mediana são iguais, notar a quantidade de resultados próximos ou distantes do número médio ou central possibilita fazer análises mais detalhadas e evita que os resultados sejam distorcidos.
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São Paulo abandona exigência para contratar professor

São Paulo abandona exigência para contratar professor
Publicado em: 26/05/2010
A Secretaria da Educação do Estado de SP autorizou a contratação de professores que não tenham prestado exame de seleção, contrariando resolução anterior, informa a reportagem de Fábio Takahashi, publicada nesta quarta-feira na Folha (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL).
Na primeira avaliação dos temporários, neste ano, o total de aprovados foi insuficiente. Mesmo reprovados foram convocados. Agora, até quem não foi examinado pode ser chamado.
Para sindicatos, a carência se deve a lei que, para evitar vínculo, afasta o professor eventual por 200 dias após um ano de aulas.
O governador Alberto Goldman (PSDB) admitiu a falta de docentes de física.
O problema é geral, afirmam sindicalistas. A secretaria confirmou deficit em exatas e diz que a norma visa prevenir eventual escassez de professores.
Fonte: UOL



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Pedagogia e didática: duas ciências independentes.Monografia


Pedagogia e didática: duas ciências independentes

Enviado por Benito Almaguer Luaiza

RESUMO
A Pedagogia e a Didática são ciências particulares autônomas? É a Didática um ramo da Pedagogia, ou suas inter-relações são parte do próprio materialismo-dialético? Qual é, não a hipotética, mas a verdadeira relação entre Educação e Ensino? Essas e muitas outras interrogantes serão respondidas sucintamente neste trabalho, que a sua vez é uma síntese de uma obra maior, que levou mais de 10 anos de pesquisas: Pedagogia e Didática: duas ciências autônomas. Reflete-se sobre as origens, as categorias, leis, princípios e métodos de pesquisas de cada uma destas ciências. Conclui-se com uma valoração prática da importância desta distinção.
PALVRAS CHAVES: Pedagogia, Didática, Educação, Ensino, Instrução.
INTRODUÇÃO
Até hoje, primeira década do século XXI, em muitos países, a Pedagogia é questionada como ciência independente, e a Didática é considerada, no melhor dos casos, como uma disciplina ou ramo dela. Por que essa situação, ainda, persiste ao longo dos tempos? Será que tem a ver com a consideração histórica de confundir os termos de educação vs instrução, educação vs ensino e instrução vs ensino?
Alguém se refere à Física ou à Química como ramos ou disciplinas matemáticas? É possível o desenvolvimento de estudos e pesquisas na Física ou na Química sem o auxilio da matemática? Não obstante, dessa dependência, os cientistas, professores, pesquisadores, não consideram uma a disciplina ou o ramo da outra. È claro que a ciência não tem fronteiras, nem divisões; é o consenso dos estudiosos, pesquisadores, cientistas que a dividem para poder aprofundar no complexo mundo científico-tecnológico. Essa taxonomia é necessária, não há dúvida disso. Mas, por que uma consideração funciona para uns e não para outros?
Esse breve questionamento, utilizando essas perguntas retóricas, tem a finalidade de provocar uma reflexão sobre a constante referência da Didática como disciplina da Pedagogia, quando a relação entre ambas muitas vezes é forçada, ambígua e artificial.
Para dar respostas, ou ao menos tentar satisfazer aos leitores com reflexões adequadas sobre o assunto, este trabalho abordará, em primeiro lugar, as origens da Pedagogia e da Didática. Podendo perceber que ainda com aspectos comuns, elas não têm a mesma origem, como ciências particulares. A Pedagogia surge como ciência particular, a partir do século XIX, enquanto, a Didática esperaria mais um século.
A seguir, se procura desvendar o porquê dessa "quase" obrigatória relação direta entre a Pedagogia e a Didática. Uma forma encontrada é analisar as tergiversações a partir dos conceitos educação, ensino e instrução. O objetivo fundamental aqui é considerar a diferença entre educação e ensino e valorar a falsa unidade entre educação e instrução.
Para poder aprofundar nas diferenças, se aborda, por um lado, a Pedagogia, seu objeto de estudo, seu sistema de conhecimentos científicos: expressados, fundamentalmente em categorias, leis e princípios, e os principais métodos de pesquisa, que sustentam a cientificidade desses conhecimentos. Logo a seguir, faz-se o mesmo com a Didática, abordando-se seu objeto de estudo, sistema de conhecimentos científicos, métodos de pesquisa e se conclui com as Considerações Finais, destacando-se a importância prática da necessária independência destas ciências.
ORIGENS DA PEDAGOGIA E DA DIDÁTICA
Diferente da Pedagogia que tem seu reconhecimento como ciência particular a partir do século XIX, a Didática em muitos países, ainda não é reconhecida como ciência independente. É considerada, erroneamente, uma disciplina técnica da Pedagogia, ou como ramo desta. Não obstante, felizmente, são muitas as comunidades científicas que a partir do século XX, deram luz verde à Didática como ciência particular. A seguir uma breve referência às origens destas duas ciências em questão.
Origem da Pedagogia
A Pedagogia, como ciência, tem uma longa história. Os seus primeiros estudos e aportes emergiram, com a origem e o desenvolvimento da própria civilização. Como também aconteceu com outras ciências, a Pedagogia viu seus primeiros grandes estudos nas obras dos clássicos da antiguidade: Platão (427-347), Aristóteles (384-322), entre outros.
Seu surgimento sustenta-se a partir da definição de seu objeto de estudo: a educação. O progresso da educação não poderia se fundamentar só com experiências do dia-a-dia e conjecturas dos pensadores. Era necessário o surgimento de uma ciência que desse a esse objeto de estudo, uma sustentação científico-tecnológico.
As obras de Comenius, Rousseau, Kant, Hegel, Herbart, Chernichevski, Pestalozzi, Diesterweg e Ushinski, entre outros intelectuais, ajudaram à independência da Pedagogia como ciência particular. Os clássicos do Materialismo-Histórico e Dialético, Marx e Engels, elaboraram os fundamentos que permitiram sustentar a cientificidade desta. Dessa forma, aos poucos, a Pedagogia vai-se diferenciando, como resultado de um longo período e processo histórico, da Teologia e da Filosofia.
A seguir uma citação da interessante obra Pedagogia de um coletivo de autores alemães que sintetiza a origem da ciência da educação, e confirmam assim, de forma sucinta, que a Pedagogia surgiu como ciência particular a partir do século XIX.
A Pedagogia tem uma longa história. Surge como ciência no momento dela ser um reflexo da manifestação social objetiva da educação. Na Antigüidade, ela tem sido encerrada em complexas apreciações sobre o mundo e o homem (Por exemplo, em Aristóteles). No Feudalismo e no Capitalismo, a Pedagogia vai-se diferenciando paulatinamente, em correspondência com a necessidade social, da Teologia e da Filosofia. No século XVI e no século XVII, nasce o primeiro sistema pedagógico como resultado da divisão, do até então estreito vínculo entre a Teologia e a Filosofia. Esta é a expressão e o resultado da luta da burguesia florescente contra o Feudalismo. Não obstante, a Pedagogia continua sua relação com a filosofia, como por exemplos: Rousseau, Kant, Hegel, Herbart e Chernichevski, ela se erige cada vez mais, como uma ciência independente, nos séculos XVIII e XIX, aproximadamente com Pestalozzi, Diesterweg e Ushinski, entre outros. (NEUNER,G. et al, 1981, p. 100).

Continue lendo parte dois final 
 


Fonte,http://br.monografias.com/trabalhos3/pedagogia-e-didatica/pedagogia-e-didatica.shtml

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Pedagoga/o pode concorrer à cargos de Inspeção Educacional com um diploma contendo as novas diretrizes do curso de 15/05/2006

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CONSELHO PLENO RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 1, DE 15 DE MAIO DE 2006. (*) Institui Diretrizes Curriculares Nacionais ...