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quinta-feira, 24 de abril de 2008
O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA COGNITIVO DA CRIANÇA E DO PRÉ-ADOLESCENTE E OS NOVOS MEIOS DIGITAIS.
O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA COGNITIVO DA CRIANÇA E DO PRÉ-ADOLESCENTE E OS
NOVOS MEIOS ELETRÔNICOS DIGITAIS.
Monografia apresentada à Faculdade de Belas Artes de São Paulo,
como exigência parcial para a obtenção do titulo de
Especialista em Arte e Tecnologia, sob a orientação da Prof. Dra. Silvia Laurentiz.
São Paulo/ 2000.
Resumo
Este trabalho procurou entender como as novas tecnologias digitais podem auxiliar o desenvolvimento
da criança e do pré-adolescente entre 6 a 10 anos. Usando como base as faixas etárias criadas
por Jean Piaget, as pesquisas de teóricos da percepção e cognição como Steinberg, Arnheim e as
diferentes inteligências de Howard Gardner , desenvolvemos um CD-ROM como resultado desta
pesquisa .
Abstract
This work try to define how the new digital tecnologies can help the childhood development, for
childrens between six to ten years. Using the age bracket created by Jean Piaget as a standard, the
perception and cognition theorys by Steinberg and Arnheim and the levels of inteligence of Howard
Gardner, this CD-ROM presents the research results.
Introdução
Esta pesquisa tem como objetivo saber como o meio digital pode auxiliar o desenvolvimento intelectual
de crianças de seis a dez anos.A escolha dessa faixa etária prende-se a um trabalho que venho
realizando nos últimos três anos.
As questões que orientaram esta pesquisa foram:
Como chegar a atingir a criança e o pré-adolescente, entre seis e dez anos?
Auxiliar o desenvolvimento da inteligência espacial, através dos exercícios elaborados
, dando início ao desenvolvimento da linguagem não verbal.
Favorecer, pelo novo acesso à informação, novos estilos para o desenvolvimento
cognitivo das crianças da faixa etária estudada.
Despertar a percepção visual, utilizando o movimento das imagens, com base nos
fundamentos e Leis da Gestalt.
No primeiro capítulo, apresentamos os estudiosos da psicologia infantil e suas teorias. Como a
criança e o pré-adolescente têm seu desenvolvimento, dentro dessa faixa etária e como a inteligência
lógica e a inteligência espacial se desenvolvem e atingem o estágio final das operações mentais
formais, segundo Piaget, Steimberg e outros.
No segundo capítulo, definimos mídia, multimídia, hipermídia, e os fundamentos das novas
tecnologias do meio digital e a teoria da comunicação.Buscamos o potencial de expressão do meio
digital e como poderá ser utilizado para trabalhar a percepção e a cognição.
No terceiro capítulo, realizamos experimentos práticos em um CD-ROM (o hipertexto, a linkagem e
a interatividade) utilizando os fundamentos das leis da Gestalt, a percepção e cognição.
Na conclusão, mostramos que as tecnologias interativas do computador, com as suas memórias e
redes, simulam operações do pensamento e do raciocino, possibilitando novas relações. Só esta
característica já justificaria nossa pesquisa e qualificaria o computador como um excelente instrumento
gerador de situações e ações.
Capítulo I
Percepção e cognição
A pesquisa sobre a percepção e cognição oferece temas e teorias relevantes ao objeto de nossa
analise, que é apresentada como um recorte, no qual só utilizamos os pontos que foram aplicados ao
trabalho.
Neste capítulo, estudamos alguns teóricos do desenvolvimento humano. E, diante de tantas abordagens,
este trabalho procurou desenvolver-se segundo a classificação etária de Piaget, porém mesclando
as abordagens de outros autores. Tentamos não nos prender demais nas fases da evolução
cronológica piagentiana, pois elas não são tão rígidas e definidas, conforme outros teóricos como
Vygotsky, Chomsky e Feldman já afirmaram. Cada ser humano não tem o seu tempo de evolução
programado e determinado apenas pela idade cronológica. A evolução e o desenvolvimento são
sempre acrescidos das influências do meio em que cada pessoa vive.
Jean Piaget (1896/1980) com sua Epistemologia Genética ou Teoria Psicogenética contribuiu imensamente
para a compreensão do desenvolvimento cognitivo. Ele sabia que seus trabalhos não eram
conclusivos, mas serviriam de ponto de partida para outros estudiosos do desenvolvimento
cognitivo.
A teoria de Piaget, segundo Elkind (1998: p.113), é a:
Concepção construtivista da formação da inteligência, na qual ele explica como a criança, desde o
nascimento, constrói o conhecimento. Essa construção do conhecimento ocorre, segundo Piaget,
quando acontecem ações físicas ou mentais sobre os objetos provocando o desequilíbrio, resultando
em processos chamados de assimilação ou acomodação dessas ações e inicia-se assim a construção
de conhecimentos.
Os antigos consideravam as crianças como pequenos adultos só que com menos informação. Supunham
que seus processos de pensamentos fossem os mesmos que os dos adultos.
A partir de Piaget, sabe-se que a criança não imita nada, ela está buscando conhecer o mundo. Ela é
uma solucionadora de problemas. Constantemente ela está testando e experimentando uma nova
solução para conhecer o mundo. Nas observações que fez das crianças, Piaget classificou-as em
diferentes estágios, registrando seus comportamentos.
Sua classificação inicia-se com o estágio sensório motor, no qual a tarefa do bebê é conhecer o
mundo físico através do sistema sensório (visão e audição) e do sistema motor (mãos, boca). Esta
fase vai até os dois ou três anos. Daí, até os 6 anos, as crianças vivem num mundo diferente do bebê,
pois estão no denominado estágio semiótico ou simbólico. Depois, entre os 5/6 e 7/8 anos, a criança
entra na fase pré-operacional. Nela, a criança não só é capaz de caminhar, correr e pular, mas de
falar e usar símbolos (como desenho, gestos, números) para referir-se ao mundo e compreendê-lo. É
capaz de criar um pensamento que representa e resulta no uso de um objeto para representar outro.
É quando usa um pau como um cavalinho. A criança sonha, usa a imaginação, imita um objeto
presente e um ausente. A criança ainda não consegue colocar-se no lugar de outra, sua visão do
mundo é ainda egocêntrica.
O início das operações concretas se dá simultaneamente com o início da escola regular, entretanto, a
criança torna-se capaz de operações mentais não por causa da escola, mas porque atinge maturidade
para isso. Ela realiza operações concretas no plural porque é capaz de pensar no conjunto, mas não
simultaneamente no
conjunto e nas partes.
Na escola secundária, por volta dos 11/12 anos, a criança alcança o estágio das operações formais.
Consegue pensar em um mundo hipotético, resolve problemas mentalmente, lida com elementos de
um mundo não concreto, mas formado por teorias e conceitos. O jovem já tem capacidade para
pensar sobre pensamentos, idéias e conceitos. O jovem tem consciência das variáveis de um problema.
Ele avalia e pensa.
Nesta pesquisa nos fixamos no estágio das operações concretas intuitivas, constituído por crianças
entre 6 a 10 anos, que são as de nosso interesse.
Níveis Mentais
0 à 2/3 anos De 2/3 anos à 5/6 anos - 5/6 anos à 7/8 anos - 7/8 anos á 11/12 anos
11/12 anos
Operatório abstrato
Operatório concreto
Intuitivo
simbólico
Sensor motor
Crianças de cinco a sete anos estão no Período Intuitivo, segundo a classificação de Piaget. Estão
centradas na construção topológica, na fase do pensamento simbólico, na época das coleções, das
seriações, das classificações e correspondências. Nesse período, passam à geometria projetiva,
iniciam-se na métrica euclidiana. Devem concluir o processo de alfabetização iniciado no período
anterior, dando grande importância ao levantamento da complexidade e variedade do real, como as
paisagens, objetos, coisas, instrumentos e pessoas.
As crianças entre 7 a 10 anos estão no Período Operatório Concreto. É a fase da conclusão das
noções de conservação, como: substância, peso, volume, velocidade, tempo, espaço. Neste período
resolvem exercícios de agrupamentos concretos e redes matemáticas. Usam a Geometria Euclidiana
e têm interesse no funcionamento das máquinas.Trabalham o sistema métrico e as operações aritméticas
fundamentais. Iniciam uma dinâmica de grupo, com a construção de regras. Iniciam-se intensamente
na leitura e no desenho técnico.
Para Piaget, o Período Operatório Abstrato é formado por crianças de 11/12 anos em diante. É a
fase das grandes discussões e quando se intensificam as dinâmicas de grupo e as grandes amizades.
Para entender o desenvolvimento dos sistemas de perceber, fazer e senti, iremos especificar os
princípios segundo os quais esses sistemas continuam a se desdobrar. O desenvolvimento do conceito
de objeto e da sensibilidade permite ao ser humano recapitular o período sensório-motor no nível
dos símbolos.
O início do desenvolvimento simbólico é a linguagem, que se desenvolve nos primeiros anos de vida.
Já as crianças maiores, quando envolvidas com a arte, criam e percebem os objetos simbólicos.Os
objetos artísticos são únicos na medida em que utilizam variados aspectos e habilidades do indivíduo-
primitivo do mesmo modo que refletem também o individuo completo e multifacetado.
A inteligência lógica matemática e a inteligência espacial atingem, na pré-adolescência, uma expressão
mais madura, passando dos mapas mentais para as operações simbólicas tão necessárias para o
desenho. Nesse período, a criança confronta os objetos, organizando-os, reordenando-os e avaliando-
os e é desse modo que ela adquire o conhecimento.As operações de segundo nível, no plano
simbólico, só ocorrem na adolescência.
A criança entre 6 e 10 anos pode igualar dois conjuntos com base em números. De fato, para isso,
ela cria dois conjuntos mentais ou de imagens mentais. Ela é capaz de comparar, contrastar o número
de um conjunto com o número de outro conjunto, mesmo que eles não sejam idênticos em aparência.
Ela pode somar e subtrair sempre confirmando a equivalência dos conjuntos. Começa a
entender operações com a mesma moeda, fazer compras, fazer trocas com amigos, jogar cartas,
jogar em computador.
Para as operações das formas lógico-matemáticas da inteligência, utiliza o manuseio dos objetos,
mas também pode realizar mentalmente, internalizando-os após algum tempo. Com o crescimento,
passa a realizar operações mentais formais. Pode, assim, operar não apenas objetos, mas também
palavras, símbolos ou seqüências simbólicas. Desenvolvem a capacidade de manipular símbolos a
cada equação algébrica, palavras no raciocínio silogístico, tanto na formação de hipóteses científicas
como no procedimento formal.
Jean Piaget demonstrou que crianças não são capazes de conservar a idéia de quantidades com os
líquidos. Em sua pesquisa, ele comprovou que a criança entre 6 e 10 anos tem dificuldade em comparar
os volumes líquidos. Percebe o volume dos líquidos com base no suporte que os contem, isto
é, em dois copos de tamanhos diferentes, mas com mesmo volume, a criança de 8/9 anos diz que os
dois são iguais e a de 5/6 anos diz que o copo mais fino tem menor volume de líquido.
Nos últimos anos, vários estudiosos influenciados pelas considerações culturais e pelos estímulos na
área da educação, argumentaram que Piaget centrou-se em apenas um modo de uso da mente.
Portanto, hoje temos que considerar a capacidade do indivíduo se desenvolver em diferentes culturas
e de estar exposto a vários tipos de sistemas educacionais.
David Feldman (Beyond Universals in Cognitive Development-1994)argumenta que a visão de
Piaget foi limitada demais ao focalizar as categorias kantianas de tempo, espaço e número, que
podem ser encontradas universalmente e desenvolver-se independentemente dos ambientes culturais.
Feldman aponta três tipos adicionais para o desenvolvimento humano, áreas que merecem nossa
análise. Ele os classifica por domínios sobre o chamado domínio cultural, ele afirma que, ao vivermos
em certa cultura, devemos conhecê-la bem e que recebemos, durante a infância, lições ensinadas
e aprendidas por toda a sociedade e que passam para todos como um valor de domínio universal.
Quanto ao chamado domínio baseado nas disciplinas , Feldman afirma que são aqueles que podem
ser dominados ao longo dos anos dentro de uma cultura, como estudar biologia, jogar xadrez.E, por
último, há o domínio único, que está na área das habilidades e capacidades e tem sido buscado e
dominado por um único individuo.
Em uma visão mais global, percebemos que os indivíduos evoluem para serem capazes de executar
vários tipos diferentes de operações, em diferentes conteúdos. Quase todos podem achar seu caminho.
Os caminhos buscados são sempre um conjunto da dotação inata, das oportunidades culturais e
da quantidade de prática e motivação.Um dos cientistas sociais mais influentes deste século, o lingüista
Noam Chomsky, que trabalhou muitos anos no Massachusetts Istitute of Technology. Começou
tentando escrever uma gramática para a linguagem, na verdade para todas as linguagens. Assim,
desenvolveu uma série de idéias sobre a cognição muito necessárias para aqueles que estudam o
desenvolvimento intelectual. Segundo Chomsky, as habilidades de linguagem surgem porque os
humanos possuem uma “faculdade de linguagem”, assim como possuem órgãos que permitem que
seus corpos funcionem bem. Toda criança tem a capacidade e a facilidade de aprender a falar não
porque os pais são bons professores, mas porque possuem regras e princípios abstratos que lhes
permitem compreender a língua que é falada ao seu redor.
Chomsky, Fodor e outros, em 1975, contestaram as idéias de Piaget de que não existe nenhum
“conhecimento geral” ou “operações de pensamento subjacentes”, afirmando que cada faculdade
mental e cada domínio de conhecimento têm suas próprias regras e princípios. Desprezaram também
os estágios de desenvolvimento da aprendizagem, dando mais valor ao conhecimento chamado de
“inato”, que é desencadeado pelo meio ambiente. Essas declarações não abalaram as afirmações de
Piaget, mas demonstraram diferentes caminhos para a pesquisa do desenvolvimento da inteligência.
Essa nova postura gerou a chamada abordagem dos constrangimentos, criada por Carey & Gelman,
(1991) e por Hirrschfield& Gelmam (1994).
Os que adotaram a abordagem dos constrangimentos tentaram descobrir as formas iniciais de conhecimento,
aqueles que estão presentes no nascimento ou logo depois, preocupando-se com as expectativas
e questionamentos preferidos pelas crianças na medida em que crescem.
Piaget afirma que o desenvolvimento infantil inicia-se no zero, e os teóricos do constrangimento
afirmam que se inicia já com alguns conhecimentos.Essas divergências devem ser sentidas como
novas linhas de trabalho, no processo da informação, nos módulos mentais, nos constrangimentos
como reações admissíveis ao método piagentiano.
Ainda sobre o desenvolvimento infantil, há uma teoria formulada por Lev Vygotsky. Ele se refere à
origem cultural das funções humanas, isto é, considera que elas se originam nas relações do indivíduo
com seu contexto sócio cultural. Para Vigotsky cultura é parte estrutural da natureza humana e
se dá através da internalização do modo como se operam as informações. O cérebro é um sistema
aberto que pode servir a novas funções, sem que seja necessário ser transformado. Ele entende que a
relação do homem com o mundo não é uma relação direta, pois é mediada por meios, que são “ferramentas
auxiliares”, criadas pela espécie humana.
Outra linha de pesquisa que trata da cognição é a de Robert J. Steirnberg, no livro Psicologia
Cognitiva. Ele pesquisou e estudou a maneira como as pessoas aprendem, recordam, pensam e
percebem as informações.
Com base nessa leitura, tentamos esclarecer o progresso e o direcionamento desse grupo de pesquisadores
do desenvolvimento da inteligência dentro da psicologia, na linha cognitivista.
A psicologia cognitiva tem suas raízes na filosofia e na fisiologia. Juntas, elas formaram os princípios
dessa psicologia, beneficiando um dos seus campos, o da cognição, que investiga a linguagem, a
inteligência artificial, a psicologia biológica e a antropologia.
Para esses estudos, são utilizados vários procedimentos, inclusive o experimental, as técnicas psicológicas,
os auto - relatos, a observação da natureza, simulações computadorizadas e a inteligência
artificial.
Alguns dos principais problemas nesse campo centralizaram-se em como alcançar o conhecimento:
usando tanto o raciocínio ou desenvolvimento teórico, como o empirismo para obtenção de dados,
para conduzir uma pesquisa básica à procura do insight fundamental sobre cognição e a sua aplicação
no mundo real. Os psicólogos cognitivos estudam as bases da cognição tanto quanto as imagens
mentais, a atenção, a percepção, a memória, a linguagem, a resolução de problemas, a tomada de
decisões, o raciocínio e vários outros aspectos do pensamento humano.
Sternberg afirma que a atenção abrange toda a informação que uma pessoa está manipulando e que,
a consciência compreende apenas as variações mais restritas da informação que ela está consciente
de manipular. A atenção possibilita-nos utilizar criteriosamente nossos recursos cognitivos ativos e
limitados para responder rápido e corretamente aos estímulos que nos interessam e para lembrar
informações importantes. O conhecimento consciente permite-nos monitorar as nossas experiências
passadas e presentes, percebendo um desenrolar contínuo de experiências, como planejar e controlar
nossas futuras ações. Pela percepção inconsciente, podemos processar ativamente a informação, sem
estarmos consciente ao fazer isso. Em alguns casos, Robert Sternberg afirma que podemos considerar
a intuição como exemplo desses fenômenos. O fenômeno na ponta da língua também pode ser
considerado como um processo pré - consciente. A memória não ocorre a despeito da nossa capacidade
de evocar informações relacionadas. Os cognitivistas também observam diferenças na atenção,
classificando-as como conscientes e pré-conscientes.
No período em que a criança vai dos 6 a 10 anos, através dos jogos educativos e de ação, podemos
reforçar o processo de alfabetização e estimular o raciocínio lógico, segundo os pesquisadores da
cognição e da percepção. Howard Gardner diz que jogos de encaixe, labirintos, quebra-cabeça de
peças grandes e liga pontos são altamente recomendados para essa faixa etária. A pedagoga Silvia
Fichmann, especialista em tecnologia aplicada à educação e coordenadora das equipes consultivas da
Escola do Futuro da Universidade de São Paulo, (www.futuro.usp.br http://www.futuro.usp.br ),
afirma que, praticando essas atividades no computador, a criança tende a apurar a percepção visual,
a orientação espacial e a coordenação combinada dos olhos e das mãos.
Quando a criança pilota o computador utilizando o mouse e a tela, uma operação complexa de
relacionamentos se estabelece. Uma coisa é um risco em um papel com lápis, ou montar um jogo de
encaixes, onde tudo está fisicamente em contato. Outra coisa é controlar objetos representados na
tela, movimentando o mouse sobre um suporte que está em outro plano. As crianças rapidamente
descobrem essa relação e comandam a seta do mouse com maestria. Essa nova postura da criança
frente ao computador deve ocasionar uma mudança no processo cognitivo. Neste trabalho tentamos
demonstrar essa questão com a aplicação do trabalho prático.
Os pesquisadores do desenvolvimento cognitivo querem mostrar como princípios gerais do processo
da informação aplicam-se e são usados ao longo de uma variedade de funções cognitivas, desde o
fazer julgamentos perceptivos para entender um texto escrito até o ler mapas para resolver cálculos.
A maioria dessas teorias enfatiza as mudanças do desenvolvimento na codificação, na
automonitorização e no uso de feedback.
Segundo Steirnberg, à medida que cresce, a criança pode codificar muitos aspectos de seu ambiente
e organizar suas codificações com mais eficiência. Ela consegue integrar e combinar a informação
em meios mais complexos, formando novas e cada vez mais elaboradas conexões.
Diferentes pesquisadores descobriram que toda criança pode girar objetos conhecidos mentalmente
e, quanto mais velhas essa rotação será mais rápida.É quando ela usa o raciocínio indutivo, que não
leva a uma solução única e logicamente correta, mas apenas à solução que tem diferentes níveis de
plausibilidade. A criança induz princípios gerais, baseados na observação específica.
Através do brinquedo, a criança aprende a atuar numa esfera cognitiva que depende das motivações
internas. O pensamento da criança na faixa etária (6 a 10 anos) estudada nesta pesquisa passa a ser
regido pelas idéias e não mais pelos objetos do exterior. Ela passa a utilizar matérias que representam
a realidade ausente, é o “faz de conta”.
A brincadeira representa a possibilidade de solução do impasse, pela necessidade
de um lado e, do outro, pela impossibilidade de ela executar as operações
exigidas por essa ação. Assim, através do “brinquedo de faz de conta”,
ela projeta-se nas atividades dos adultos, procurando ser coerente com os
papéis assumidos. O comportamento da criança no brincar atua no mundo
imaginário e estabelece regras a serem seguidas e cria zonas de desenvolvimento
proximal, na medida em que impulsiona conceitos e processos de
desenvolvimento (Leontiev,1988,p.121).
Na decodificação da informação visual, o movimento é analisado em separado, pela forma e pela cor.
O movimento, mais que a cor em si, dá uma sensação primária para a visão.
James J. Gibson (The perception of visual world Boston-Houghton Mifflin, 1950) estudou a visão
perspectiva em situações em que existe movimento do observador, dando-nos o exemplo de um
piloto de avião que necessita fazer cálculos para a aterrisagem partindo de campo de visão. O piloto,
nesse caso, percebe a profundidade, faz cálculos das distâncias reais em função da máquina, partindo
das distorções de sua visão e da relação da velocidade. Mudando-se o ponto de referência, as velocidades
também mudam. Portanto, para estudarmos o movimento, precisamos primeiro estabelecer o
lugar das coordenadas que irão servir de referência.
Na realidade, existem outros fatores que influenciam na visão tridimensional, tais como a observação
de paralaxe entre objetos e a comparação entre os seus tamanhos. Não podemos deixar de citar aqui
os princípios da Gestalt, criada por um grupo de psicólogos alemães (entre eles Koffka, Kohler e
Wertheimer), que se preocuparam em desenvolver uma teoria a respeito dos processos de organização
da percepção. Estudaram as maneiras como o cérebro organiza os estímulos básicos, concluindo
que a forma é a unidade primitiva da percepção.
O princípio que orientou essa investigação foi a lei de Prägnanz, que pode ser chamada de lei de
pregnância,segundo Silvia Laurentiz.O maior efeito da pregnância acontece quando nossa percepção
procura por figuras estáveis e regulares, o que é uma tendência nossa, pois, ao sermos incapazes de
achá-las, sentimos um certo mal estar.
Além da lei de pregnância, muitas outras foram criadas por esses pesquisadores.Na pesquisa de
doutorado da Profa. Dra. Silvia Laurentiz (1999), encontramos uma síntese sobre outras leis criadas
pela Gestalt e que são consideradas padrões de regra de nosso sistema perceptivo.Assim, temos:
A lei da similaridade, que mostra que elementos similares serão agrupados pela nossa percepção;
A lei da proximidade, que faz com que nossa percepção agrupe elementos que estejam próximos;
A lei de continuidade, que faz com que nossa percepção dê continuidade em uma linha interrompida,
percebendo seu traçado continuo;
A lei do fechamento, quando nossa percepção percebe a forma incompleta (aberta) e a fecha
completando.
A teoria da Gestalt estudou alguns experimentos com movimento e concluiu que elementos visuais
que se movem juntos acabariam agrupados pela nossa percepção e pela lei da similaridade. Esses
estudiosos também se preocuparam com a forma e o espaço, criando a lei da forma-fundo ou figurafundo.
Ou seja: nossa percepção sente uma relação entre a forma e o fundo, apesar de eles existirem
independentemente, mas percebe ser possível formarem uma só forma ou um só conjunto.O aspecto
espacial e temporal entre as coisas, para os gestaltístas, é a estrutura:
E, quando eles dizem que coisas têm contornos bem formados, podemos
concluir que coisas têm formas. E, a partir da noção de uma
coisa sobre, ou dentro da outra, descobrimos a idéia central de
Figura-Fundo. O fato de dizerem que há uma figura maior que
contém uma menor não significa negá-las individualmente. Podemos,
então, destacar duas figuras, uma figura total (chamam-na fundo) e
uma que é parte da figura maior, que está sobre ou dentro da maior
(chamam-na figura). Entre elas há uma estreita relação, figura e
fundo, embora elas existam independentemente uma da
outra.(Laurentiz, 1999, p.143)
Capitulo II
O meio digital
Para completar nossa pesquisa foi necessário fazermos um apanhado sobre alguns fundamentos dos
novos meios digitais, que serão empregados no trabalho prático.
Enormes mudanças aconteceram na civilização quando a humanidade aprendeu a se comunicar, parte
desse desenvolvimento se deve a fala que tornou possível a troca de idéias. Quando se aprendeu a
escrever, as idéias puderam ser armazenadas e preservadas para as futuras gerações. Com a invenção
da imprensa, idéias e informações começaram a circular entre pessoas e povos distantes. O início das
transmissões em rede de rádio difusão, criado originariamente para enviar e receber informação
possibilitou que novas idéias alcançassem um enorme número de pessoas simultaneamente.
Livros, jornais e televisão são meios que permitem ao usuário receber informação, mas não possibilitam
a interação com o veículo informacional. Já o computador e o desenvolvimento de interfaces
gráficas tornaram possível a apresentação de várias mídias (textos, imagens, vídeos, som), bem como
alguma interação entre o usuário e o programa, criando a hipermídia.
Nossa sociedade está saturada de informação, textos, imagens, sons e dados. Nos novos meios
digitais, essa mesma saturação do mundo real torna-se fascinante, exerce um grande poder sobre
nossa percepção e amplia nossa capacidade sensorial de perceber.Podemos, no meio digital manipular
certos dados de maneira que no mundo real seria impossível. Conseguimos manipular objetos e
imagens, movendo-os e transformando-os de maneira similar ao modo com que são tratados durante
nossa inconsciência nos sonhos.As imagens digitais são virtuais ilusórias, imateriais e atemporais,
existindo apenas em potencial no computador.
As telecomunicações são responsáveis por unir o mundo de ponta a ponta, permitindo uma troca de
conhecimentos e a descoberta das diferenças. Todos nós estamos emaranhados nessa fina rede aberta
e interativa, gerando assim um novo universo globalizado que, a cada intersecção, atualiza permanentemente
a mensagem.
Para entendermos o que é multimídia, e conseqüentemente hipermídia, precisamos começar definindo
a palavra mídia. Para Pierre Lévy:
Mídia é o suporte ou veículo da mensagem. O impresso, o rádio, a televisão
o cinema ou a Internet, por exemplo, são mídias. (1997:61)
O termo multimídia significa, em princípio, aquilo que emprega diversos
suportes, ou diversos veículos de comunicação. Hoje, a palavra refere-se
geralmente a duas tendências principais dos sistemas de comunicação dos
sistemas de comunicação contemporâneos: a multimodalidade e a integração
digital. (1997:63)
Desta forma, um CD-R para Lévy é unimídia, pois apenas um meio está sendo utilizado embora
diferentes modalidades perceptivas (audição, visão e tato) e tipos de representação (imagem, texto e
sons) estejam neste único suporte.
Entretanto se este CD-R tiver acesso direto à internet estaremos entrando no território da
hipermídia.
O termo hipermídia indica:
O novo meio de comunicação, formado pela interconexão mundial de computadores.
Produz novas formas artísticas, transforma a relação do usuário
com o saber, transforma as questões relativas à educação e formação, interfere
com a manutenção da diversidade das línguas e das culturas, como
também com os problemas das exclusões e das desigualdades. Fornece ao
usuário ferramentas de interação, permitindo navegar dentro dos documentos
não mais em forma linear, mas de forma interativa: ao clicar em um
botão o computador responde abrindo uma imagem, um vídeo, um som.
(Martin, 1992, p. 128).
Sendo uma nova tecnologia em desenvolvimento, a hipermídia provoca impactos nas áreas sociais e
culturais. Cria novas condições, possibilitando o desenvolvimento das pessoas e das sociedades.
Produz ligações que não se dão de um modo linear, mas que formam uma rede infinita e rizomática,
onde não se localiza o início ou o fim. Isso só existe em uma rede digital.
A hipermídia é uma tecnologia que proporciona a não linearidade e, portanto, favorece um pensamento
mais complexo, dentro de um conceito multidirecional e multidimensional. É impossível
prever o caminho do usuário, cabendo ao criador do projeto os diferentes traçados, as prováveis
portas a serem acessadas. A hipermídia é semelhante aos nossos pensamentos, mente e cérebro, que
sabemos serem dinâmicos e não lineares, percorrendo nosso sistema nervoso e todo o corpo sempre
se integrando e interagindo no todo. Montamos uma linearidade seqüencial que se entrelaça num
complexo emaranhado multidimensional.As transações de conhecimento não param de crescer.
Segundo Lévy (1999, p.167):
O ciberespaço e a cibercultura vêm dar suporte ao novo sistema educacional,
ampliando com essa nova tecnologia as funções cognitivas humanas:
imaginação, percepção, cognição.
Roland Barthes afirma que o ideal de textualidade coincide com o que conhecemos como hipertexto
eletrônico, isto é, um texto composto de blocos de imagens eletrônicas, unidas em múltiplos trajetos
e com uma textualidade aberta, eternamente inacabada e representado como rede, trama ou nexo.
James Martin explica:
Hipertexto é a expressão usada por Theodor H. Nelson nos anos sessenta, se
referindo a uma tecnologia eletrônica radicalmente nova, uma estrutura não
seqüencial, um texto que se bifurca e permite ao leitor a escolha dos blocos
de textos conectados entre si, formando pelos usuários diferentes
itinerários.Através de uma estrutura flexível, o hipertexto faz com que a
navegação de um texto seja executada de forma lógica, ao contrário de um
livro, que necessita da linearidade para sua compreensão.(Martin, 1992, p.
127).
O característico fundamental do hipertexto é ser composto de corpos de textos conectados entre si,
sem que nenhum tenha a marca de ser o primeiro na organização. O hipertexto é um sistema que
pode ser descentralizado e centralizado infinitamente, porque transforma qualquer documento ou
página que tenha uma conexão em página principal, mesmo que passageira, para orientar o usuário
na decisão da escolha do caminho a seguir.
Ao conectarmos textos verbais, imagens, sons e diagramas que facilmente se expandem, construímos
parte do trabalho que, no seu total, formará um trabalho de multimídia ou um trabalho de hipermídia.
A navegação em hipertextos é baseada em sinalizadores, ícones, que estão diretamente relacionados
com o conteúdo do texto.A ligação entre os documentos que formam o conjunto do hipertexto ou
hipermídia é chamada de “link”.
A linkagem é a forma de associar livremente um documento com outro,
formando assim uma rede que se materializa a partir da interação do usuário.
(Martin, 1992 p. 128).
Rhéaume descreve a palavra hipermídia como sendo “uma base de dados textuais, visuais, gráficos
e sonoros onde cada ilha de informação é denominada de nó ou quadro”. Cada ilha de nó deve
conter somente uma idéia, bem identificada.Sendo assim, as informações devem ser divididas em
pequenos blocos, sob um só e determinado aspecto, agrupados pela sua natureza.A navegação do
usuário, as ligações que fará entre os diferentes nós, construirá uma significação pessoal.Nos
hipertextos, existe a diversidade de acessos à informação. O mecanismo que permite ir e voltar torna
a navegação uma operação reversível, demonstrando a estrutura dos documentos.
Essa estrutura tem dois modos diferentes de utilização. O primeiro é o modo do autor, que é quem
cria os nós, e o outro é o modo do usuário, que é quem ao navegar permite as conexões dos documentos
segundo sua interpretação.O navegador tem um aspecto dinâmico na acoplagem dos documentos,
pela aproximação da informação de forma não linear, facilitando, melhorando e personalizando
a apresentação.
3.-Sobre o trabalho prático:
Criação de um CD-ROM para crianças e pré-adolescentes entre 6 a 10 anos.Com exercícios e propostas
de pesquisa baseados na teoria da cognição e percepção. Proposta de trabalhos no qual o
usuário participará escolhendo seu roteiro, conectando páginas não seqüenciais e testando sua
percepção e cognição própria da faixa etária.
Conclusão:
As novas tecnologias para a produção de imagens estão criando novos modelos de visualização, e
isto provavelmente levará a novos modelos perceptivos.
A virtualidade em sentido mais fraco, classificada assim por Arlindo Machado, é quando o usuário
percorre, através de hipertextos, pesquisas e palavras-chave, por proximidade, em espaços contíguos.
Ele pode controlar seu acesso em um enorme banco de dados, como vários programas e a
maioria dos vídeos games em que, em tempo real, o usuário controla os feitos e gestos do modelo
que o representa.Mais fraco ainda é a virtualidade que, para ser atualizada, precisa ser impressa, só
existindo, portanto na memória do computador. É o que acontece nos jogos em que todo o cartucho
contém, virtualmente, uma infinidade de partidas, de seqüências de imagens diferentes, e o jogador
só vai atualizá-las, se jogar.
Um mundo virtual é um universo de possíveis calculáveis a partir de um modelo digital. O computador
e suas redes são a infra-estrutura para o mundo virtual e, cada vez que eles se tornam mais
numerosos e mais rápidos em transmissão, mais os mundos virtuais irão se multiplicar em quantidade
e variações.
Outra qualidade do meio digital é a imprevisibilidade ou casualidade. Quando o usuário “clica” sobre
uma imagem ou palavra que contenha um “comportamento”, ele é levado para outra parte do documento:
A obra interativa só tem existência e sentido na medida em que o espectador
interage com ela. Sem esta interação, da qual é totalmente dependente, ela
estava simplesmente reduzida a um gesto elementar, a obra permanece uma
potencialidade-computacional, pois é feita de cálculos-não
perceptível.(Couchot,1997, p. 139)
Os movimentos sempre foram relacionados com os processos sensoriais. Charles Peirce, um dos
fundadores da semiótica, assinala que a cada sentimento o nosso corpo corresponde com um movimento,
e como: os gestos, os movimentos da face, o suspirar ou o gemer.Na comunicação humana, a
SINESTESÍA é o estudo dos gestos e movimentos corporais, convencionais e relativos a cada
cultura. Neste trabalho, a sinestesia está sendo aplicada para desenvolver exercícios para a percepção
visual, a cognição e o raciocínio lógico.
Tânia Fraga, em Simulações Estereoscópicas Interativas, comenta:
Imerso no campo sensorial pré-definido, o indivíduo que o experimenta pode
criar novos conjuntos de relação significantes. Ele amplia as
sim o mundo imaginativo que passa a compartilhar. Tem ele, também, a
oportunidade de aumentar o seu acervo visual, de desenvolvimento e organizar
o seu raciocínio lógico e analógico e de exercitar a sua criatividade. Este
indivíduo pode mesmo aumentar o potencial de suas múltiplas inteligências,
ampliando a sua consciência sígnica.(1997, p.117)
As tecnologias interativas do computador simulam, com suas redes e memórias, operações do pensamento
e do raciocínio, gerenciando novas relações.
As descobertas ligadas à presença do computador e das interfaces trazem implicações do campo da
ciência e da construção da subjetividade entre o homem e a máquina.
Este trabalho usou os conceitos e ferramentas das mídias digitais e os conceitos da teoria da percepção
e cognição. As investigações e produtos gerados desafiam as formas tradicionais de auxiliar o
desenvolvimento das diferentes inteligências de crianças e pré-adolescentes entre seis e dez anos:
Na qualidade de gerador de informação ou conhecimento, o usuário fará
emergir, partindo do conteúdo existente, novas informações ou conhecimentos.
Ele explicitará conhecimentos implícitos no documento, tendo como
objetivo principal o processo mental que leva a surgir uma nova idéia. Para
isso, o hipertexto deve permitir gerar e manipular facilmente os estados
transitórios e instáveis do processo dos pensamentos. Possui ferramentas que
permitem ao usuário os processos mentais próprios das atividades criativas e
que são extremamente importantes para a formação do indivíduo.
(N d 1994 127)
O ambiente hipermídia é uma excelente ferramenta de trabalho que permite ao usuário se deparar
com situações de ação e criação e importante fonte de motivação, pois permite a repetição e a
intervenção no documento.
Esta pesquisa não pretende se encerrar nesta monografia.
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Fonte: google acadêmico.
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