terça-feira, 29 de abril de 2008

A Teoria de Maslow e o Fracasso Escolar


Pirâmide de Maslow: A hierarquia de necessidades de Maslow, é uma divisão hierárquica proposta por Abraham Maslow, em que as necessidades de nível mais baixo devem ser satisfeitas antes das necessidades de nível mais alto. Cada um tem de "escalar" uma hierarquia de necessidades para atingir a sua auto-realização.

A Teoria de Maslow e o Fracasso Escolar

Por Glória Maria Veríssimo Lopes Pisandelli

18/06/2007



Introdução
O objetivo deste artigo é estabelecer uma relação entre os conceitos relativos à Teoria da Hierarquia das Necessidades do Psicólogo norte-americano Abraham Maslow, e a educação de crianças provenientes de famílias carentes. Analisamos o questionamento dual: a família é carente como conseqüência do analfabetismo ou os analfabetos são conseqüência das carências da família?
Não pretendemos oferecer a fórmula mágica para resolver este enigma, mas demonstrar a necessidade da mudança de paradigmas na educação, que se encontram na essência do problema do analfabetismo no Brasil.
As hierarquias de Maslow e as crianças de famílias carentes.
Quando estabelecemos a relação entre a Teoria da Hierarquia das Necessidades, de Maslow, e a Educação de Adultos, expressamos:
“...o adulto a ser alfabetizado está inserido na sociedade, da qual pode ou não se sentir segregado como conseqüência do seu despreparo para enfrentar, tanto os mais simples requisitos de qualificação tais como o letramento básico, ou requisitos mais complexos de leitura, escrita e interpretação de conceitos, como acontece em organizações complexas, como industrias, comércio, serviços e outros similares.” (PISANDELLI, outubro 2003).
Obviamente aos nos referirmos ao adulto analfabeto, estamos implicitamente dizendo que houve uma criança que não foi alfabetizada no momento certo e que, com o passar do tempo, transformou-se nesse adulto analfabeto. Isso nos leva a refletir sobre o princípio de causa e efeito aplicado às famílias carentes.
O questionamento neste ponto é: a família é carente como conseqüência do analfabetismo ou os analfabetos são conseqüência das carências da família? Infelizmente ambos os questionamentos são corretos. Causas e efeitos se alternam na passagem das gerações. Um círculo vicioso difícil de quebrar, principalmente nas regiões mais pobres do país. Este círculo é continuamente alimentado por um sistema político, social e educacional pernicioso e elitista que discrimina os níveis menos favorecidos através de restrições e agravado pela má utilização e desvio de recursos humanos e materiais, dificultando sobremaneira o acesso ao conhecimento a esses grupos sociais.
A respeito disso Costa escreve:
“A causa do fracasso passa, assim, a ser situada na própria criança que de vítima se transforma em réu. Dizemos vítima porque, segundo este ponto de vista, esquecemos de considerar que esta criança sofre as conseqüências de um sistema social e educacional perverso, que não lhe oferece as condições necessárias para se apropriar do conhecimento dito formal, científico ou padronizado (ou seja, o conhecimento que a escola objetiva transmitir).” (COSTA, 2003)
Maslow postula, na sua Teoria das Hierarquias, que as necessidades sociais surgem no comportamento, quando as necessidades inferiores (fisiológicas e de segurança) encontram-se relativamente satisfeitas. Entre outras, as necessidades sociais estão relacionadas às necessidades de associação, de participação, de aceitação por parte dos companheiros, de troca de amizade, de afeto e amor.
Uma família carente dificilmente apresenta suas necessidades inferiores satisfeitas, nem sequer em níveis relativos, pois não existe garantia de alimentação, moradia, repouso e segurança física do grupo familiar, entre outras.
Concordamos com Vigotski (2000) quando este afirma que as crianças, bem antes de ingressarem na escola, já trazem uma bagagem de conhecimentos e qualquer situação de aprendizado que nela vivam, será confrontada com uma história prévia.
Nessa situação de subsistência precária onde a inversão dos valores morais, sociais e de justiça apresentam-se subvertidos pela própria necessidade de sobreviver, dificilmente a “história previa” terá um final feliz.
Uma criança, fruto desse ambiente, somente poderá encontrar uma saída para seu futuro através da escola e do conhecimento de fatos e situações diferentes daquelas que está acostumado a viver, o que poderá lhe abrir as portas do trabalho e da ascensão social.
O que se espera dessa escola é que possa lhe fornecer as ferramentas necessárias para construir, degrau por degrau, a escada que lhe permitirá a quebra daquele círculo vicioso e a conseqüente passagem para níveis mais elevados dentro da escala social, subindo na hierarquia das necessidades, promovendo a auto-estima e o autodesenvolvimento.
No entanto, na opinião de Costa (2003) a realidade mostra um cenário totalmente diferente onde a escola, principal instrumento para veiculação de conhecimento, não permite que crianças pobres se apropriem deste conhecimento, já que não criam as condições mínimas necessárias para que isso ocorra. Respeitando algumas raras exceções a escola que atende à população pobre é de qualidade muito baixa, assim como outros serviços destinados a esta clientela, o que contribui para a produção do fracasso escolar e para agravar o problema, muitos profissionais simplificam a questão colocando sobre a criança a responsabilidade da não-aquisição de determinados conhecimentos, rotulando-a de incapaz. Rótulo esse que será levado pelo resto da vida.
Essa constatação, não é difícil. Essa criança, com sonhos e esperanças de conseguir na escola a tão almejada saída, encontra-se num beco. A reação é a pior possível. Desalento, insatisfação, desencanto e por sobre todas as coisas, um profundo sentimento de frustração.
Esta realidade, é observada, com raras exceções, não somente no ensino de alunos de séries superiores, mas principalmente nas séries iniciais, como a alfabetização onde o fracasso é mais freqüente em alunos de camadas sociais mais baixas e as escolas não conseguem, ou não querem enxergar que suas precárias condições de ensino é que são, na realidade as responsáveis pelo fracasso da criança.
Costa (2003) complementa:
“Enquanto as crianças de classes mais favorecidas têm oportunidade de acesso à escola desde cedo, condições de aquisição de brinquedos pedagógicos, material pedagógico diversificado, computador, livros privilegiados pela escola etc, grande parte das crianças pobres vislumbra na escola o lugar privilegiado para acesso a esses bens, tendo, na maioria das vezes, sua expectativa frustrada.”
[...]
“Aqui, o preconceito e a conseqüente baixa expectativa com relação à criança pobre têm um peso muito grande”
[...]
“[...] em entrevista com uma educadora esta me disse achar desperdício gastar tanto tempo e recursos com estas crianças, pois não se devia gastar sal com carne podre.”
Em artigo anterior, expressamos:
“Muitas crianças são identificadas como portadoras de problemas de aprendizagem quando não realizam o que se espera de uma programação de ensino. Se, o rendimento escolar da criança não corresponde às expectativas da família e da própria escola, essa criança passa a ser vista pela família, por professoras e colegas como um fracassado e muitas vezes é rotulada como alguém portador de um problema de aprendizagem.” (PISANDELLI, setembro 2003)
Qual será a expectativa de ascensão de uma criança, na Hierarquia de Maslow, quando é rotulada como deficiente ou considerada como “[...] carne podre”.? Qual modelo poderá escolher essa criança para tomar como referência, para construir seu futuro?
Mais que uma pergunta, isto se constitui em um desafio para todos nós, que embarcamos na luta para mudar essa situação. Não será através de críticas destemperadas ou comentários sarcásticos que o círculo da miséria, ignorância e pobreza será quebrado, mas mediante ações concretas, efetivas, diuturnamente implementadas, independentemente de local, valor ou grandeza.
É na luta do dia a dia contra as forças das correntes que se opõem às mudanças, que essas crianças carentes de hoje serão os homens de bem que construíram o Brasil de amanhã.
Somos plenamente conscientes de que entre muitos problemas que o Brasil terá que enfrentar para firmar-se entre as grandes nações, três são especialmente agudos e estão interligados: a pobreza e desemprego, a infância desamparada e a educação.
Mas indubitavelmente, sabemos que da educação de seu povo depende o ingresso ou não, do país no clube das nações desenvolvidas.
E é na escola que as famílias carentes depositam suas esperanças de um futuro, se não melhor, pelo menos diferente para seus filhos.
A missão da escola, como principal instrumento da transmissão de conhecimentos, é cumprir a função primordial da educação, isto é, tornar o sujeito capaz de agir conscientemente na transformação do conhecimento.
Essa é a escada que leva o homem a sua ascensão na Hierarquia das Necessidades, de Maslow.
Sejamos conscientes disso.


Bibliografia
CHIAVENATO, I. Teoria Geral da Administração, v 2, São Paulo, Atlas
COSTA, Dóris Anita Freire. Fracasso escolar: Diferença ou Deficiência? Psicopedagogia On line, São Paulo. Disponível em: Outubro 2003
GUALAZZI, Abordagem Comportamental da Administração, http://www.unimep.br/
MASLOW, A. Motivation and Personality, 2nd ed., Harper & Row, 1970.
NORWOOD, G. Maslow's Hierarchy of Needs, http://www.connect.net/georgen/maslow.htm, Junho, 1996.
PISANDELLI, G. M. Dificuldades de Aprendizagem: Conseqüência do Despreparo dos Professores? Psicopedagogia On line, São Paulo. Disponível em: Setembro 2003
PISANDELLI, G. M. A Teoria de Maslow, e sua relação com a educação de adultos Psicopedagogia On line, São Paulo. Disponível em: 0utubro 2003
VIGOTSKI, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

* Glória Maria Veríssimo Lopes Pisandelli
Pedagoga. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (Universidade Vale do Acaraú - UVA).
Filiada à Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp - CE).
Consultora em Psicopedagogia da CTA – Consultoria, Treinamento e Avaliações Ltda.
Membro da Diretoria do CCDS - Conselho Comunitário de Defesa Social de Tabapuá, ligado à Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará.
Coordenadora do CAPAF - Centro de Apóio Psicopedagógico à Família no CCDS.
Gestora do Programa de Avaliação e Prevenção Psicopedagógica da Comunidade - PAPPC implementado no CAPAF.
spisandelli@yahoo.com.br




Fonte: http://www.portaldapsique.com.br/

2 comentários:

Orquidéa Russo disse...

Exelente artigo, contribuiu bastante para minhas reflexões.Quanto a fala da Professora sobre o aprendizado das crianças,é proprio de quem esqueçeu de sua propria trajetória como estudante.

Blog do João Maria andarilho utópico disse...

Obrigado pelo comentário, acho o mesmo. Quanto a fala da professora, acho que ela não esqueceu e sim omitiu.

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