terça-feira, 22 de abril de 2008

A História Da Infância.


Abordagem Sobre A História Da Infância
 
Há inúmeras literaturas que tentam resgatar a historia da infância e teorizam sobre ela, mostrando sua dinâmica ao longo dos tempos. Nas abordagens de Áries (1986), ela faz um estudo cronológico partindo da Idade Media. Seus estudos mostram que nessa época não havia lugar para a infância, desde muito cedo a criança já fazia parte do mundo do adulto. Aos sete anos, o menino era entregue ao homem para ser educado, aprendia a montar cavalos, a atirar e a usar o arco e a flecha e táticas de guerra, e a instrução das meninas ficava a cargo das mães.

No século XIII, a primeira referencia sobre a criança é representada em forma de anjinhos, através de estatuas e pinturas. A segunda referencia, a criança e representada sob a forma, a aparência de um rapaz jovem, era a idade em que o menino era educado nos mosteiros, preparado para ajudar na celebração da missa. Noutro período, surge outra referencia de criança que seria o modelo e o ancestral de todas as crianças pequenas da historia da arte e da humanidade – o menino Jesus – uma dedução do adulto em miniatura.

No final da Idade Media as cenas de gênero infantil não se consagra á descrição exclusiva da infância, mas tinham nas crianças seus personagens principais, que nos sugere duas idéias de infância:

1ª idéia mostra que na vida cotidiana crianças e adultos se misturavam em reuniões de trabalhos, passeios e jogos, as crianças participavam dos mesmos jogos e brincadeiras dos adultos.

2ª idéia mostra que os pintores e escultores da época retratavam as crianças pela sua graça e beleza, crença na pureza infantil.

As crianças desde cedo aprendiam as profissões com suas famílias ou em casas de aprendizes e trabalhavam em oficinas. Neste período também, não se tinha noção de família, a organização familiar é um construto histórico e social, constituído gradativamente através de regras estabelecidas até chegar á organização monogâmica. A família nuclear aparece coma ascensão da burguesia.

No século XVII, Idade Moderna, a infância é vista como uma fase sem importância, os adultos não se apegavam ás crianças por considerá-las uma perda eventual, pois elas morriam com muita facilidade devido á situação de negligencia em que viviam.

A visão de infância como uma etapa do desenvolvimento do ser humano, que tem características próprias, bem definidas é uma idéia moderna. Ela surge no contexto social e histórico da modernidade, com a redução dos índices de mortalidade infantil, graças ao avanço das ciências e ás mudanças econômicas.

A descoberta da infância, no século XVIII, e sua evolução pode ser acompanhada através de pesquisas, pinturas, estatuas, fotos, objetos e brinquedos da época. A infância que antes não passava de uma loteria entre a vida e a morte, agora se encontra amparada no seio da família, devendo a criança ser educada e protegida desde a mais tenra idade, dentro dos princípios que regem a sociedade.

Descobrem-se que a criança tem necessidades próprias, carece de cuidados, amor e respeito – ROUSSEAU E FREBEL -. A idéia de infância, que precisa ser paparicada e moralizada nasceu no interior das classes medias que se formavam no interior da burguesia. Esse sentimento de infância, de preocupação e investimento da sociedade e do adulto sobre a criança, de criar formas e regulação de infância e família, são idéias que surgiram com a modernidade.

Estudos sociológicos sobre a infância, a forma como olhamos e nos relacionamos com ela, tem afirmado que ela é, enquanto categoria social, uma idéia moderna, construída histórica e socialmente.

Ate este século,a idade da vida correspondia a etapas biológicas e funções sociais, onde a adolescência se confundia com a infância e estava ligada á idéia de dependência. Só se tornava independente ao sair da dependência dos pais. Meninos e meninas usavam os mesmos trajes. Esse habito durou ate 1770 nos paises da Europa, no Brasil, prevaleceu até 1930.

A infância tomou seu lugar na historia alcançado pelo avanço dos conhecimentos, na valorização de seus direitos na vida familiar e social e nas instituições de modo geral.

O sentimento de infância surge no Brasil no século XIX, com a necessidade instrução i ampliação das escolas para atender as massas. No inicio o atendimento á infância foi marcado pela idéia de assistencialismo e amparo ás crianças necessitadas, com o objetivo de diminuir a mortalidade infantil desvalida ou moralmente abandonada.

Não há uma infância única, igual para todas as crianças, nem para as que vivem num mesmo período histórico, num mesmo pais, ou cidade, ou bairro, rua ou casa. Nem todas vivem da mesma forma no que diz respeito ás condições sócio-culturais e econômicas.

Até 1930 não havia nenhuma iniciativa do governo brasileiro em prol da educação infantil.


Só a partir de 1932, com o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, é que surgem estabelecimentos de atendimento á infância, a cargo de particulares, mas não atendiam crianças da camada popular, eram escolas para a elite brasileira. O atendimento á camada popular fora da família para os filhos que ainda não freqüentavam o ensino primário, estava vinculado á questão da saúde, tinha um caráter assistencial-patoral.

A LDB, Lei 4.024/61, Art. 23, aponta a criação de jardins de infância, destinada aos menores de sete anos, no Plano de Assistência ao Pré-escolar-PAPE, sob a influencia do Fundo Nacional da União para a Infância e Adolescência, e no UNICEF, que era um programa de assistência emergenciais para as massas, de baixo custo financeiro.

O modelo de educação infantil adotado a partir da década de 70, é um modelo voltado para a educação da camada popular menos favorecida. A educação infantil só passou a fazer parte da Educação Básica Nacional, e a ser motivo de preocupação dos órgãos que legislam sobre educação após 1988, com a Constituição Federal/88, Art. 208, que determina o dever do Estado com a educação, e em especial a infantil, que será efetivada mediante a garantia de atendimento em creches e pré-escolas para crianças de 0 a 6 anos. Este foi o grande marco na historia da educação brasileira.

A infância brasileira recebeu também o apoio do Estatuto da Criança e do Adolescente e da LDBN/96, que determina: todas as instituições de educação infantil sejam integradas aos Sistemas de Ensino Nacional.

O desenvolvimento integral da criança depende de cuidados e de necessidades que estão relacionados á dimensão afetiva, hábitos higiênicos, alimentação, saúde e a forma como esses cuidados e essas necessidades são oferecidos, e os conhecimentos que se tem a respeito de seus procedimentos. Na busca da identidade da educação infantil, o desafio é afirmar a necessidade de se integrar educação e cuidados, que é a especificidade dessa modalidade de educação: cuidar e educar a criança pequena. Nas instituições de educação infantil, o cuidado e a educação são vistos como funções complementares e indissociáveis aos cuidados e á educação dada no âmbito da família.



BASILIO, L. C. KRAMER, S. Infância, educação e direitos humanos.São Paulo: Cortez. 2003. 135p.

ARIÉS, Philippe. Historia social da criança e da família. Rio de Janeiro. Zahar.1986.

KUHLMANN, M. J. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. 2 ed. Porto Alegre. Mediação. 2001.210p.

CRUZ, S. H. V. Infância e educação infantil: resgatando um pouco de historia. UFV. 2000.

ARCE, A. FRIEDRICH FROEBEL. O pedagogo dos jardins de infância. Petrópolis. Vozes 2002. 117p.


Artigo de,
REGINA CELIA DE FREITAS SOBREIRA
TITULAÇÃO: PEDAGOGA
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