Salário? Grave erro. Aquilo que é obtido por alguém que sai da autossuficiência agrícola para vender seus produtos no mercado não é um salário, mas, sim, um lucro. Ou um prejuízo. Lucros ou prejuízos são obtidos apenas por empreendedores. Por definição, portanto, essa pessoa poderia ser um agricultor ou um profissional liberal qualquer em alguma cidade.
O salário é uma forma de pagamento que surge apenas quando um capitalista entra em cena. O capitalista é a pessoa que irá fazer uso de bens previamente produzidos, colocando-os em empreendimentos arriscados. Ele é aquele que compra ou paga por um bem ou serviço para, apenas mais tarde, vender algo cujo valor total é maior do que a soma das partes utilizadas nesse processo. E isso poderá ser determinado somente se o produto for vendido: este é o único sinal — um sinal ausente em economias socialistas — de que a sociedade está criando valor agregado.
Smith erra sobejamente quando chama de salários aquilo que empreendedores obtêm quando comercializam bens nas cidades. Um salário só passa a existir quando uma pessoa contrata uma outra, pagando-lhe regularmente uma quantia fixa. Podemos chamar isso de 'o pacto do capitalismo', pois significa que o empregado agora faz parte do risco empreendedorial assumido pelo capitalista. Em troca, o empregado recebe uma renda fixa (diária, mensal etc.) — ou seja, um salário.
Empregados assalariados não têm possibilidade de auferir lucros, porém — e ainda mais importante — estão livres de prejuízos. Com efeito, os empregados têm mais chance de receber renda do que o capitalista. O fazendeiro, por exemplo, deve pagar os salários de seus empregados mesmo que tenha havido uma geada no dia anterior à colheita. Os empregados, por sua vez, estão isentos do ônus do prejuízo. Tampouco pode o fazendeiro, para sermos justos, compartilhar com eles seus lucros. Uma empresa farmacêutica irá vender seus produtos somente quatro ou cinco anos após a ideia inicial de se criar esses novos produtos. Nesse meio tempo, ela terá de pagar salários para centenas, talvez milhares, de pessoas. O salário é pago hoje independentemente de como serão as vendas futuras.
Assim, o problema — brilhantemente ensinado pelo professor George Reisman — é que o erro compartilhado por Smith e Marx gerou a ideia de que, para obter lucros — a famosa "mais-valia" exploradora —, os capitalistas tinham de manter para si parte do salário de cada empregado. A realidade é outra. A realidade é que a riqueza é criada por aquele indivíduo que sabe como transmitir suas visões, arriscar recursos e reconhecer oportunidades — tudo isso ao mesmo tempo em que ele cria uma renda regular para terceiros durante esse processo.
O capitalismo cria uma classe média mundial. Antes dos capitalistas, todos tinham de assumir por completo todo o risco de uma dada atividade. Já hoje, podemos delegar os riscos para aqueles que são mais ambiciosos e mais capacitados para atividades empreendedoras, já sabendo que, no final do mês, receberemos nossos contracheques. Tal arranjo é infinitamente mais produtivo e eficaz. Em última instância, é ele quem elimina a pobreza.
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Juan Fernando Carpio mora em Quito, Equador, possui mestrado em Economia Empreendedorial pela Universidad Francisco Marroquin, da Guatemala e é o presidente do Instituto para la Libertad, um think tank libertário equatoriano.
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=909
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