quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Mill, Jonh Stuart:


"Para que o mal triunfe, basta que os homens de bem se omitam." (Discurso inaugural na Universidade de St. Andrews, 1867)

John Stuart Mill (1806-1873), filho de James Mill, autor de Elementos de Política Econômica e Historia da Índia, recebe de seu pai severa educação. Aos 3 anos de idade seu próprio pai lhe ensinou matemática, latim e grego; aos oito era familiar de Euclides, Heródoto e Platão no original; aos doze era hábil no tratado de lógica aristotélica; e aos quinze estudou Psicologia e Direito Romano.

Em 1822, Mill começou a trabalhar como escrivão de seu pai no departamento de examinadores da Casa da Índia, e seis anos mais tarde foi promovido ao posto de examinador assistente. Até 1856 ele foi encarregado das relações da companhia com o estado principesco da Índia. Com o decorrer do tempo, tornou-se chefe do departamento de examinadores, posição que manteve até a dissolução da companhia em 1858. Mill viveu em Saint Véran, perto de Avignon na France, até 1865, quando ele entrou no Parlamento como membro de Westminster. Não conseguindo reeleger-se na eleição geral de 1868, ele retornou a França, onde estudou e escreveu até sua morte, em Avignon, no dia 8 de maio de 1873.

John Stuart Mill, o mais eminente do grupo de filósofos britânicos do século XIX, propôs e desenvolveu a doutrina do utilitarismo. Ele foi um reformador social, um defensor da liberdade tanto política quanto pessoal e um filósofo e lógico de considerável importância. Seu trabalho On Liberty, publicado em 1859, discute os sistemas legais e governamentais. Na introdução do seu ensaio dizia que a única liberdade que merece o nome de liberdade é aquela em que cada um procurando o seu próprio interesse não prejudica o próximo a conquistar o dele. Acha ele que as pessoas devem ser livres, mas muitas vezes acontece que os governos são constituídos de forma arbitrária. É a partir daí que discute todo o problema envolvido entre a autoridade e a liberdade.

O ponto inicial da sua filosofia foi o trabalho de Jeremy Bentham, reformador radical que primeiro disseminou a ideia "da maior felicidade para o maior número", como um princípio moral. Isto ficou conhecido como o princípio da utilidade. No Utilitarismo Mill desenvolve este princípio como uma teoria moral que provê a direção de como viver virtuosamente. A doutrina da utilidade, disse ele, "assegura que as ações são certas na proporção que elas tendem a promover felicidade, erradas quando elas tendem a promover o inverso da felicidade".

Sua primeira obra foi publicada em 1822 e, durante toda a vida, escreveu sobre uma extensa gama de assuntos. System of Logic apareceu em 1843 e, imediatamente, estabeleceu-lhe fama. Mill alegava ser, em Economia, um puro ricardiano, mas, na sua principal obra, Principles of Political Economy (1848) (Princípios de Economia Política), o seu pensamento se revelou extremamente original. Trata-se de uma revista compreensiva da ciência econômica tal como se apresentava nos seus dias e logo se tornou obra básica do gênero. Sua maior contribuição para a análise econômica, no entanto, está contida nos Essays on Some Unsettled Questions in Political Economy (Ensaios Sobre Algumas questões Não Resolvidas de Economia Política), escrita em 1829, quando ele tinha apenas 23 anos, e publicada em 1844.

Sua influência no mundo das idéias foi marcante. Observe que abordou quase todos os assuntos de interesse social. Assim, ele teve um grande impacto sobre o pensamento britânico do século XIX, não somente em filosofia e economia mas também nas áreas de ciência política, lógica e ética.

Fonte de Consulta

COLLINSON, D. Fifty Major Philosophers, a Reference Guide. London and New York, Routledge, 1995.

SELDON, A. e PENNANCE, F. G. Dicionário de Economia. 3. Ed., Rio de Janeiro, Edições Bloch, 1977.

COMMINS, S. e LINSCOTT, R. N. The World’s Great Thinkers - Man and the State: the Political Philosophers. New York, EUA, Random House, 1947.

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John Stuart Mill foi uma criança prodígio: desde os 3 anos de idade já estudava grego; o latim veio depois, quando completou 8 anos, seguido por lógica e economia política no início da adolescência e mais adiante história, direito e filosofia.

Foi educado para defender as ideias de Bentham. Porém, não foi uma linha dura do utilitarismo.

Seu livro mais conhecido, A liberdade (1859), discute a liberdade do indivíduo em relação à sociedade e ao Estado, argumentando que "o único propósito para o qual o poder pode ser legitimamente exercido sobre qualquer membro de uma comunidade civilizada, contra a sua vontade, é o de prevenir o dano a terceiros. O seu próprio bem, físico ou moral, não justificativa suficiente". A posição de Mill não se baseava em ideias acerca de direitos, mas numa crença na utilidade: se cada um fosse em busca da própria felicidade, todos juntos conseguiriam promover o bem geral da sociedade. A maioria não deveria eliminar aqueles que discordassem dela, e a liberdade de expressão deveria ser estimulada, porque o debate genuíno permite que as pessoas examinem suas convicções. (LEVENE, Lesley. Filosofia para Ocupados: dos Pré-Socráticos aos Tempos Modernos. Tradução de Débora Fleck. Rio de Janeiro: LeYa, 2019.)

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“Foi em 1819 que ele me conduziu através de um curso completo de Economia Política. Seu íntimo e querido amigo Ricardo havia, pouco antes, publicado o livro que marcou uma época tão grandiosa da Economia Política — livro que nunca teria sido publicado ou escrito, não fora a solicitação e o forte estímulo de meu pai. (...) Não existia então nenhum tratado que incorporasse suas doutrinas de uma forma adequada para alunos. Eis por que meu pai começou a instruir-me na ciência através de uma espécie de preleções, que me ministrava em passeios ao ar livre. Cada dia expunha-me uma parte do assunto, e no dia seguinte eu lhe apresentava um relatório escrito sobre o exposto, relatório esse que meu pai me fazia reescrever várias vezes, até ele tornar-se claro, preciso e satisfatoriamente completo. Dessa maneira estudei a ciência em toda a sua extensão: e o sumário escrito, resultante do meu compte-rendu diário, serviu-lhe posteriormente como notas a partir das quais escreveu seus Elements of Political Economy. Depois disso, li Ricardo, apresentando diariamente um relatório sobre o que havia lido, e discutindo (...) os pontos colaterais que se ofereciam à medida que avançávamos.”

“Quanto ao dinheiro, sendo a parte mais complexa do assunto, meu pai fez-me ler, da mesma forma, os admiráveis opúsculos de Ricardo, escritos durante (...) a controvérsia metalista; depois desses escritos veio Adam Smith; e (...) um dos objetivos primordiais de meu pai era fazer-me aplicar à concepção mais superficial da Economia Política de Smith as luzes superiores de Ricardo, e detectar o que era falacioso aos argumentos de Smith ou errôneo em qualquer das conclusões dele. Tal método de instrução foi excelentemente projetado para formar um pensador, mas tinha que ser aplicado por um pensador tão preciso e vigoroso como seu pai. O caminho era espinhoso mesmo para ele, e certamente para mim, a despeito do forte interesse que eu devotava ao assunto. Muitas vezes ele agastava-se, muito além do justificado pela razão, com minhas falhas em casos em que não se teria podido esperar sucesso; no essencial, porém, seu método era correto, e alcançou êxito.

“Reuníamo-nos doze ou mais. O Sr. Grote emprestava um quarto de sua casa na Threadneedle Street. (...) Encontrávamo-nos duas manhãs por semana, das oito e meia até as dez, horário em que a maioria de nós tinha que partir para suas ocupações diárias. O nosso primeiro assunto foi a Economia Política. Escolhíamos como nosso manual algum tratado sistemático; o primeiro que escolhemos foi o Elements de meu pai. Um de nós lia um capítulo, ou então alguma parte menor do livro. Abria-se então o debate, e quem quer que tivesse alguma objeção ou outra observação a fazer, tomava a palavra. Nossa norma era discutir em profundidade cada ponto levantado (...) até que todos os participantes estivessem satisfeitos com a conclusão à qual haviam chegado individualmente; e aprofundar cada item (...) que o capítulo ou a conversa sugerisse, não passando nunca para outro antes de termos desatado todos os nós.” (MILL, John Stuart. Princípios de Política Econômica. "Introdução" por W. J. Ashley Edgbaston, setembro de 1909)

  


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