Pondé e a Paranoia Bullying
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Entro
em sala de aula várias vezes na semana. Daí vem muito do que penso
acerca dos modismos perniciosos que assolam o mundo da educação. E
daí também vem o fato de que, apesar de ser pessimista (nada tem de
chique no pessimismo, apenas para quem não o conhece por dentro e o
confunde com um estilo melancólico de se vestir), não desisto da vida e
vou morar no bosque de “Walden” (ou algo semelhante), como fez o
filósofo americano Thoreau no século 19.
Hoje
vou comentar um caso específico de moda que em breve provavelmente vai
destruir qualquer liberdade e espontaneidade na sala de aula: a
“paranoia bullying”.
Se
atentarmos para o que o Ministério Público prepara como controle da
vida escolar “interna”, veremos, mais uma vez, a face do totalitarismo
via hiperatividade do poder jurídico. Ao invés de atacar o que deve ser
atacado (o lixo que é a escola no Brasil, porque o Estado arrecada
impostos como um dragão faminto, mas não dá nada em troca), o Estado e
seu braço armado, o governo socialista que temos há décadas, que adora
papos-furados como cotas raciais e bijuterias semelhantes, invade o
espaço institucional do cotidiano escolar com sua vocação maior e
eterna: o controle absoluto da vida nos seus detalhes mais íntimos.
E
ninguém parece enxergar isso, muito menos a pedagogia e sua vocação,
nos últimos anos, para livros bobos da moda e palestrantes de autoajuda.
Quando ouço alguma “autoridade pública em bullying”, sinto que estou
diante de um inquisidor, que, como todos, sempre se acha representantes
do “bem”.
Seria
de bom uso dar aulas de história dos perfis psicológicos dos grandes
inquisidores, como Torquemada e Bernard de Gui, para essas “autoridades
públicas” em invasão da vida íntima das pessoas e das instituições. Eles
descobririam sua ascendência direta do grande inquisidor de Dostoiévski
(“Irmãos Karamazov”).
Em
breve, a melhor solução para o professor será a indiferenPça preventiva
para com os alunos. Melhor uma aula burocrática e avaliações
burocráticas do tipo “múltipla escolha” ou “diga se é falso ou
verdadeiro”, mesmo nas universidades, porque assim o aluno não poderá
acusar o professor de “desumanidade” ao reprová-lo, ou pior, acusá-lo de
bullying porque desconsiderou sua “cultura de ignorante”, mas que
“merece respeito assim como Shakespeare”.
Os
“recursos” contra reprovação logo se transformarão em processos contra
“bullying intelectual”. E os fascistas do controle jurídico da vida
terão orgasmos.
Atitudes
como estas destroem a autoridade da instituição, dos profissionais que
nela trabalham e transformam todos em reféns da “máquina jurídica”. O
resultado é que família e escola perdem autonomia. O que este novo
coronelismo não entende é que existe um risco inerente ao convívio
escolar e que as autoridades imediatas, professores e coordenadores é
que devem agir, e não polícia ou juízes.
Na
minha vida como aluno em universidade tive duas experiências com dois
professores que hoje poderiam ser enquadradas facilmente neste papinho
de “tratamento desumano”, mas que foram essenciais na minha vida
profissional e pessoal. A primeira, quando era um aluno da medicina na
Universidade Federal da Bahia, ocorreu no dia em que perguntei a um
professor como um paciente terminal via o fato de que ele ia em direção
ao nada. Ele disse: “O senhor está na aula errada, deveria estar na aula de filosofia“.
Isso, numa faculdade de medicina, significa mais ou menos que você não
tem a natureza forte o bastante para encarar a vida como ela é.
A
segunda, já na faculdade de filosofia da USP, aconteceu quando um
professor me deu zero e disse para procurá-lo. Ao me ver, no meio da
secretaria e na frente de vários funcionários e alunos, ele disparou:
“Suas ideias são ótimas, seu português é um lixo”.
Em
vez de preparar a polícia para prender bandidos que assaltam casas e
restaurantes aos montes, o governo prefere brincar com essas bijuterias,
fingindo que cumpre sua função de garantir a segurança pública. Será que isso é medo de enfrentar os criminosos de verdade?
Luiz Felipe Pondé (jornal FSP – 18.06.2012) | Fonte original deste artigo: AQUI
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