O livro da Professora Maria de Fátima Barbosa Abdala resulta dos principais resultados de sua tese de doutorado. Articula conceitos, idéias e os resultados de pesquisa para demonstrar que a formação do professor no contexto da escola é indissociável de uma melhora qualitativa do desenvolvimento profissional, que por sua vez imprime uma melhor qualidade ao contexto de trabalho. O livro apresenta, então, de forma didática os processos de aprendizagem da profissão professor e das possibilidades de ações de formação e desenvolvimento pessoal e profissional no contexto de trabalho, no caso, a escola. A estrutura do estudo se articula em quatro capítulos. O primeiro situa o conceito de necessidade como prática de definir objetivos de mudança; o segundo examina os movimentos do contexto escolar – espaço social e campo de saber e poder; no terceiro analisa a cultura da escola; o quarto capítulo enfatiza a necessidade de reflexão sobre a natureza epistemológica do conhecimento profissional. E por fim, destaca alguns aspectos a serem considerados nos cursos de formação visando à transformação da escola.
O primeiro capítulo trata as necessidades e perspectivas dos professores sobre o aprender da profissão, questiona se apreender as necessidades do professor seria uma forma de aprender a profissão.
As necessidades quando apontadas de forma consciente, por um lado, retratam a realidade e por outro podem demonstrar a intenção de transformar as condições já existentes. Essas necessidades podem ser classificadas como habituais (que retratam a rotina de trabalho) e desejadas (que se transformam em objetivos de ação e mudança).
E assim, classificando as necessidades, organizando-as, levando em consideração a forma como são enunciadas, a que campos e contextos se referem, a autora vai tecendo um feixe de relações que se articula em diferentes campos em contextos, revelando o melhor caminho de ser e estar na profissão ou como superar as necessidades transformando a realidade.
Para autora, ao buscar superar, dominar, vencer as necessidades que se apresentam, exercita-se a profissionalidade e de acordo o grau de profissionalidade dos professores amplia-se o seu olhar da e para a realidade. Essa transformação do olhar acontece quando se problematiza a profissão, o conhecimento profissional, e se resiste ao já estabelecido na realidade educacional. Conhecer, (re)fazer e transformar a realidade, leva à reconstrução permanente dos saberes da docência que por sua vez ampliarão cada vez mais o espaço das possibilidades.
O segundo capítulo apresenta a escola como contexto de formação do professor e é transpassado pela questão: A escola pode ser, então, um contexto de produção/profissionalização docente? O estudo da autora aponta afirmativamente, apesar dos problemas enfrentados pelo o professor (gestão autoritária; falta de projeto político-pedagógico; organização do currículo; falta de compromisso da escola com o desenvolvimento profissional).
Apesar dos problemas citados, a autora afirma, de acordo com seus dados de pesquisa, que é possível que o professor aprenda com esse tipo de gestão. Como? Apurando os sentidos, percebendo as regras e buscando acomodar-se a elas ou introduzindo estratégias para superar as necessidades da profissão.
A professora conclui o capítulo afirmando que ”a escola é sem dúvida, o espaço de ser e estar do professor. É lócus de ação e formação no qual os professores constroem o sentido da profissão, para reinventar instrumentos significativos de construção da realidade”.
No terceiro capítulo há a articulação dos dois capítulos anteriores, propondo a necessidade de uma cultura escolar que propicie ao professor perceber as possibilidades de desenvolvimento e novas perspectivas.
A autora apresenta, então, a necessidade da escola investir em três elementos: gestão, projeto político-pedagógico e a organização e articulação curricular, pois as práticas do professor são determinadas pelas formas como se apresentam esse três elementos, que são atravessadas pelas necessidades habituais, cruzam-se com asnecessidades desejadas e estas determinam um novo habitus, ou seja, à medida que o professor (re)conhece, (re)faz e (trans)forma por sua própria ação, a estrutura da escola, da sala de aula e da própria prática docente, ele imprime um novo habitus, através do qual, (re)estrutura as maneiras de ser e estar na profissão.
A criação de uma nova cultura no espaço da escola exige da direção uma nova forma de conduzir suas ações: uma gestão conjunta que propicie espaços para a reflexão coletiva e individual no intuito de compreender a produção cultural que ali se faz.
O capítulo quarto apresenta como se processa o conhecimento do professor sobree para o ensino. Coloca questões como: de que trata o conhecimento do professor? O que e como conhecem os professores? Quais as fontes (de onde provém), as formas (como se aproveitam as fontes) e estratégias (os significados que assume) desse conhecimento? Para a professora, as fontes, formas e categorias do conhecimento articulam a unidade teoria e a prática que constitui o trabalho do professor. Entretanto, este trabalho só será significativo se o professor perceber a realidade escolar na qual estiver inserido, pois é nela que se mobilizam experiências que o constituem como pessoa e profissional da educação.
Por fim, como conclusão, a autora aponta para a necessidade de reflexão, desde os cursos de formação inicial às ações de formação contínua, sobre a possibilidade de transformação das práticas. Para isso, propõe alguns princípios estruturantes: privilegiar nos cursos de formação e desenvolvimento profissional a análise das necessidades pessoais, profissionais e organizacionais dos professores; a escola necessita propiciar possibilidades de mudança em suas práticas; a busca, por parte da escola, de espaços e parceiros (universidade) que possibilitem tempo para o repensar conjunto da profissão.
O livro da professora Fátima Abdalla além esclarecedor sobre as questões às quais se propôs, apresenta situações ao leitor, que, se inserido em qualquer âmbito educacional, certamente se reconhecerá. E reconhecer-se neste complexo quadro de relações que é a Educação, talvez seja o primeiro passo para a conversão do olhar e encontrar o ponto de ruptura que leve a um repensar constante sobre o ser e estar na profissão.