Vygotsky afirmava que através do brinquedo a criança aprende a agir numa esfera cognitivista, sendo livre para determinar suas próprias ações. Segundo ele, o brinquedo estimula a curiosidade e a autoconfiança, proporcionando desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção.
Cabe então descobrir novos jeitos de trabalhar com a matemática, de modo que as pessoas percebam que pensamos matematicamente o tempo todo, resolvemos problemas durante vários momentos do dia e somos convidados a pensar de forma lógica cotidianamente. A matemática, portanto, faz parte da vida e pode ser aprendida de uma maneira dinâmica, desafiante e divertida.
É sem dúvida uma forma divertida de aprender, uma vez que os desafios de lógica podem representar uma maneira lúdica e criativa de pensar matematicamente. Pessoas de todas as idades se sentem atraídas por esses curiosos problemas e se divertem ao tentar desvendar as respostas. Com nossos alunos não é diferente. Em geral, eles se interessam por quebra-cabeças e enigmas, o que já seria um bom motivo para levarmos essas atividades para dentro da sala de aula.
Outras vantagens também contribuem para que esses desafios tenham lugar garantido no planejamento do professor. Entre elas, o modo lúdico de trabalhar conceitos matemáticos e a oportunidade de promover a discussão entre os alunos e a expressão dos seus pontos de vista. Alguns professores acham que incluir jogos nos planejamentos é perda de tempo. Para eles, escola é lugar de trabalho, entendendo como trabalho o ato de preencher inúmeras folhas de exercícios sem considerar o interesse dos alunos por esse tipo de atividade.
Piaget afirmou que a interação social é indispensável para que a criança desenvolva a lógica. Por volta dos 7 ou 8 anos, as crianças têm condições de enxergar o outro e trocar idéias com ele. Essa interação proporciona o confronto de pontos de vista diferentes e exige que a criança use a lógica para defender suas idéias, desenvolvendo seu poder de argumentação e de re-elaboração de conceitos a partir da interferência do outro. E nesse caminho que leva ao desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, o jogo representa uma estratégia de trabalho preciosa.
O trabalho com a matemática em sala de aula representa um desafio para o professor na medida em que exige que ele o conduza de forma significativa e estimulante para o aluno. Geralmente as referências que o professor tem em relação a essa disciplina vêm de sua experiência pessoal. Muitos deles afirmam que tiveram dificuldades com aquela matemática tradicionalmente ensinada nas escolas, que tinha como objetivo a transmissão de regras por meio de intensiva exercitação.
Os alunos devem ser incentivados a resolver os desafios coletivamente e a criar variações do jogo, tornando-o mais fácil ou até deixando-o mais complexo. Essas variações agradam muito aos alunos, que se sentem motivados a resolver os desafios que os colegas criaram. Penso ser interessante, porém, procurar incentivar nas crianças a competição, mas de uma maneira saudável, de forma a ensinar a necessidade de se seguir regras, de não "roubar" e principalmente, de se aprender que, na vida, nem sempre se ganha.
No que diz respeito aos aspectos "didáticos" dos jogos. Podemos afirmar que a grosso modo que com os jogos de modo geral, desenvolvem a habilidade espacial, a paciência e sempre trazem alegria. Aprofundando no assunto. Moura, 1991, afirma que ''o jogo aproxima-se da Matemática via desenvolvimento de habilidades de resoluções de problemas''.
Cabe a nós educadores escolher jogos que estimulem a resolução de problemas, principalmente quando o conteúdo a ser estudado for abstrato, difícil e desvinculado da prática diária, não nos esquecendo de respeitar as condições de cada comunidade e o querer de cada aluno. Essas atividades não devem ser muito fáceis nem muito difíceis e ser testadas antes de sua aplicação, a fim de enriquecer as experiências através de propostas de novas atividades, propiciando mais de uma situação.
Os jogos trabalhados em sala de aula devem ter regras, esses são classificados em três tipos:
- Jogos estratégicos, onde são trabalhadas as habilidades que compõem o raciocínio lógico. Com eles, os alunos lêem as regras e buscam caminhos para atingirem o objetivo final, utilizando estratégias para isso. O fator sorte não interfere no resultado;
- Jogos de treinamento, os quais são utilizados quando o professor percebe que alguns alunos precisam de reforço num determinado conteúdo e quer substituir as cansativas listas de exercícios. Neles, quase sempre o fator sorte exerce um papel preponderante e interfere nos resultados finais, o que pode frustrar as idéias anteriormente colocadas;
- Jogos geométricos, que têm como objetivo desenvolver a habilidade de observação e o pensamento lógico. Com eles conseguimos trabalhar figuras geométricas, semelhança de figuras, ângulos e polígonos.
O trabalho com jogos matemáticos em sala de aula nos traz alguns benefícios:
- Conseguimos detectar os alunos que estão com dificuldades reais;
- O aluno demonstra para seus colegas e professores se o assunto foi bem assimilado;
- Existe uma competição entre os jogadores e os adversários, pois almejam vencer e par isso aperfeiçoa-se e ultrapassam seus limites;
- Durante o desenrolar de um jogo, observamos que o aluno se torna mais crítico, alerta e confiante, expressando o que pensa, elaborando perguntas e tirando conclusões sem necessidade da interferência ou aprovação do professor;
- Não existe o medo de errar, pois o erro é considerado um degrau necessário para se chegar a uma resposta correta;
- O aluno se empolga com o clima de uma aula diferente, o que faz com que aprenda sem perceber.
Mas devemos, também, ter alguns cuidados ao escolher os jogos a serem aplicados:
- Não tornar o jogo algo obrigatório;
- Escolher jogos em que o fator sorte não interfira nas jogadas, permitindo que vença aquele que descobrir as melhores estratégias;
- Utilizar atividades que envolvam dois ou mais alunos, para oportunizar a interação social;
- Estabelecer regras, que podem ou não ser modificadas no decorrer de uma rodada;
- Trabalhar a frustração pela derrota na criança, no sentido de minimizá-la;
- Estudar o jogo antes de aplicá-lo (o que só é possível, jogando).
Enfim, neste artigo procuramos mostrar como os jogos em sala de aula podem estar contribuindo no ensino da matemática, uma vez que os jogos matemáticos despertam a curiosidade dos alunos, que precisam discutir e argumentar sobre as respostas encontradas, decidir se estão corretas ou não, verificar o motivo dos seus erros e corrigi-los com o apoio do grupo. Nesse momento, os alunos têm a oportunidade de ser mais ativos e de se supervisionar mutuamente, desenvolvendo sua autonomia.
Bibliografia
MOURA, M. O. de. A construção do signo numérico em situação de ensino. São Paulo: USP,1991
PIAGET, J. A Formação do Símbolo na criança: Imitação, jogo e sonho, imagem e representação. 3d. Rio de
Janeiro. Zahar Editora, 1978.
VYGOTSKY, L A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998
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