Dirigido por Jean-Jacques Annaud. Com: Brad Pitt, David Thewlis, B.D. Wong, Mako, Danny Denzongpa, Jetsun Pema, Jamyang Wang Chuck, Ama Ashe Dongtse. Tenho certeza de que havia algo a aprender em Sete Anos no Tibet. Durante todo o filme esperei me deparar com alguma bela lição ou com alguma daquelas cenas emocionalmente fortes que marcam os grandes clássicos. Nada disso aconteceu. O filme nada mais é do que uma sucessão de cenas - e só. O roteiro, baseado no livro autobiográfico de Heinrich Harrer, narra sua difícil viagem pelo Tibet e seu encontro e amizade com o Dalai Lama, que tinha, na época, apenas 14 anos de idade. Mas não é só isso: Harrer é, na verdade, um poço de egoísmo. Um homem capaz de abandonar a própria esposa na véspera do nascimento de seu primeiro filho com o único objetivo de escalar o Nanga Parbat, um dos picos mais altos do Himalaia - e, consequentemente, a fama. Assim, sua convivência com o Dalai Lama se revela um verdadeiro aprendizado para ambas as partes, já que o Lama quer conhecer um pouco do estilo de vida Ocidental. Jean-Jacques Annaud, um diretor de imenso talento, peca ao não conseguir transmitir a mínima emoção em sua narrativa. O filme é completamente insípido, o que é de se espantar quando consideramos o alto potencial da história que ele tinha para contar. As conversas entre Harrer e o Dalai Lama são absolutamente superficiais e recheadas de diálogos hollywoodianos, que não se coadunam com a personalidade do líder sagrado do Tibet. Em certo momento, por exemplo, ele pergunta ao personagem de Brad Pitt: 'Você acha que algum dia as pessoas vão ver o Tibet na tela de um cinema e se perguntar o que aconteceu conosco?'. Terrível. Além disso, há um ponto, vital para a trama, que não é explicado apropriadamente em nenhum momento: por que o Dalai Lama se interessa por Heinrich Harrer, em especial, e não por seu amigo Peter Aufschnaiter? Seus cabelos loiros? Pelo que nos mostra Annaud, é o que parece. E a pergunta inversa também cabe aqui: por que Harrer se interessa pelo garoto? A única explicação que o filme fornece é que o sujeito passa a encarar o Lama como um substituto para o filho que deixou para trás. Seria até uma boa justificativa - se transmitida com competência, o que não é o caso. Mas Sete Anos no Tibet possui, em contrapartida, um visual belíssimo. A fotografia de Robert Fraisse, injustamente ignorada no Oscar, é de tirar o fôlego, bem como a direção de arte e a cenografia. A cidade sagrada de Lhasa, onde o Dalai Lama reside (e na qual nenhum estrangeiro é permitido), é maravilhosa. Aliás, considerando-se que o filme não teve sequer um milímetro de celulóide rodado na Índia, o trabalho da técnica merece reconhecimento ainda maior. As atuações são boas: Brad Pitt está muito bem como Heinrich Harrer e a culpa pela falta de emoção do filme não deve recair sobre suas costas. Seu envolvimento com o personagem é patente e sua 'transformação', relativamente convincente (digo 'relativamente' porque, como já dito, o roteiro não ajuda). Mas quem realmente surpreende no filme é David Thewlis, que interpreta o companheiro de viagem de Harrer. Thewlis é um bom ator, mas lembrem-se de que seu último trabalho havia sido A Ilha do Dr. Moreau, no qual ninguém se salva. Aqui, Thewlis dá a volta por cima e, como o roteiro não castiga muito seu personagem, seu trabalho acaba sendo o de maior impacto no filme. No geral, Sete Anos no Tibet ainda poderia ter sido salvo por uma edição mais econômica. A sensação final é a de que o filme é longo e, em alguns momentos, bem cansativo. Uma pena. Ainda tenho aquela sensação de que poderia ter me emocionado muito com esta história.
21 de Maio de 1998 |
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