Resumo do capítulo
O senso e o sensível
A beleza da arte e seus discursos:
- O belo artístico, o gosto individual (“ gosto não se discute”).
- Surgimento da “estética” (1750): Tenta sistematizar racionalmente a diversidade de experiências da beleza na arte.
- O filósofo alemão Alexander Baumgarten (1714-1762) que cunhou o termo e remeteu seu significado à percepção por meio dos sentidos e/ ou sentimentos.
”Dentro deste contexto, estética é a ciência da sensibilidade, na verdade uma ciência de exceção, já que via a algo que pode se mostrar vago e obscuro.”
Vago: Indefinido; incerto.
Obscuro: confuso; desconhecido.
Segundo o texto de Charles Feitosa, “A arte de pensar a Arte”, o termo “estético” aponta para o que chamou de preconceito, partindo do pré suposto de que a crença da capacidade de apreciar a beleza se dá exclusivamente pelos órgãos do sentido. Para Charles, é evidente que a arte apele mais aos sentidos e aos sentimentos do que à reflexão e à racionalidade.
A arte e para sentir e não para pensar.
Feitosa acha que há questionamento quanto a essa afirmação, pois haveria uma “participação imprescindível da inteligência da fruição da beleza na obra de arte”. A arte é apenas visual. Se for tocada perderia sua estética da obra, interrompendo-a.
“A experiência sensível de um toque pode, portanto, impossibilitar a percepção da obra como uma coisa bela”. Com isso a estética da arte sem a “interpretação de quem vê ou ouve, sem a construção de sentido por aquele que percebe, não há beleza, nem obra de arte”. Ou seja, segundo Charles, a experiência do belo na arte envolve uma mistura entre o senso (o que está relacionado ao pensamento, à racionalidade e à significação) e o sensível (tudo que se refere aos sentidos, aos afetos e sentimentos). Essa mistura não se sabe em que condições e qual organização se dá. Essa contrariedade na história da filosofia da arte é compreendida nas tentativas de decifrar o mistério nela contida.
“ Não é possível comer o belo. Podemos até apreciar a disposição harmônica de um prato da culinária japonesa ou francesa, mas a partir do momento em que começamos a mastigar, o prato deixa de nos agraciar pela sua beleza, mas sim pelo seu aspecto palatável” (Charles Feitosa).
“Por que as obras de arte são feitas para os olhos e os ouvidos em geral e não para o nariz, os dedos ou língua? Por que não é possível comer ou cheirar o belo? Provavelmente porque a visão e audição são considerados os sentidos mais ativos, aqueles que mais se aproximam do pensamento e da razão. Existe em nossa cultura uma certa hierarquia dos sentidos”.
A obra de arte são mais para os olhos (pintura) e para os ouvidos (música) do que a ligação entre o senso e sensível.
-Senso: Faculdade de pensar e raciocinar.
-Sensível: Dotado de sensibilidade, que se sente.
No século XX iniciaram uma quebra da “aristocracia da visão a da audição na arte”, passando a dar vida ao manipular a arte. Com isso integra-se o tato à experiência estética e destrói à relação passiva entre obra e observador. Dando vida a arte.
A verdade na Arte:
A arte segundo pensamentos de Platão ocorre quando não há mais a necessidade básica de em uma sociedade. Contribuindo para o bem-estar geral, é uma troca de necessidades. A idéia de Platão em “A República”, história de uma cidade em que há a necessidade de que a sociedade tenha cumpridas as tarefas básicas, tais como saúde, educação e trabalho, começa a surgir desejos luxuosos, desnecessários. Segundo Platão, é nesse momento que surgem os artistas na cidade; poetas, músicos; dançarinos, pessoas que não desempenham nenhuma função considerara útil. Para o filósofo os artistas são o excesso de uma cidade em que tudo funciona segundo um sistema de necessidades racionais.
O luxo, que é a arte, carrega uma dupla ameaça, segundo Platão:
Ameaça epistemológica e ética: “ O artista é um fabricante de imagens fantasmas que desviam os olhos do cidadão das verdadeiras idéias, que só podem apreensíveis pelo pensamento”. Para o filósofo, isso estimula as paixões, afetos e emoções, que, se perderem o controle, podem levar a uma catástrofe.
“A arte só deveria ser praticada por crianças, mulheres, escravos ou loucos, enfim, somente aqueles que não têm nada a perder”.
Platão acha que isso pode levar um cidadão livre a correr riscos, ao ter contato com a arte. A boa convivência em sociedade depende de pende de uma a-phatia (grego quer dizer paixão).
“Por isso os artistas não são apenas luxo, mas também lixo, devendo ser expulsos da cidade, para que esta possa continuar a ser expulsos da cidade, para que esta possa continuar a ser uma sociedade justa e feliz”. (A República, 606a).
A arte é a imaginação e não cópia da realidade, pois na realidade pode-se, além de apreciar com os olhos, deleitar-se na obra. (Wagner Lemos)
“A idéia de que a arte deve imitar a realidade começou a ser questionada já na modernidade, embora ainda tenha seus defensores mesmo no século XX” (Charles Feitosa)
A expulsão dos artistas de “A República é, em princípio, a indicação de que para Platão a arte pouco ou nada tem a ver com a verdade, mas apenas com a ilusão e a superfície.
Obs: Apesar da superfície de que a arte seja perniciosa para a cidade, Platão aceita em “A República” que as crianças sejam educadas com música, desde que ela estimule a disciplina e o controle do corpo, como as marchas e os cânticos de guerra.
A utilidade da arte
Para Aristóteles a arte é verdadeira, tanto do ponto de vista epistemológico, quanto moral. Abandonando a idéia de que a arte é imitação, passando a ser um intermédio entre reinterpretação. Contra Platão que acredita que a “imitação” é ela mesma uma atividade inferior e que inferioriza aquele que a pratica. Aristóteles acha normal a “reinterpretação” da realidade ou um prazer quando se aprende algo de novo sobre o mundo.
Segundo Aristóteles, a “reinvenção” não é apenas imitação de objetos já existentes e sim, de coisas possíveis que ainda não tem, mas podem ou devem ter realidade. Nesse sentido, a arte não é apenas reprodução, mas invenção do real. Exemplos clássicos seriam as caricaturas e a comédia. Aristóteles acredita também que a poesia trágica fornece uma abordagem mais inteligente da realidade do que a história. A história mostra como as coisas aconteceram, em quanto a tragédia, como as coisas realmente poderiam acontecer e em certa medida.
O efeito purificador
Aristóteles considera a arte necessária, pois ela provoca um efeito denominado “catarse”( é a purificação das almas por meio da descarga emocional provocada por um drama). Através da música, do teatro e da poesia o espectador é incentivado a sentir fortes emoções, tais como o medo, a piedade ou o entusiasmo, sem cair em descontrole ou desespero. Após a “catarse” vem o alívio e a sensação de equilíbrio.
“A arte não apenas é capaz de nos trazer saber, ela tem também uma função edificante e pedagógica.”
Aristóteles traz a poesia trágica e a comédia que não chegou até nós. Ele aprovava o riso como uma da forma de purgação dos males da alma e o reconhecia como uma das formas de acesso a uma atitude crítica diante da realidade. Por outro lado, Platão não via com bons olhos a comédia e identificava em uma face risonha os primeiros sintomas da loucura ou de uma animalidade descontrolada. (A República, 379a)
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