domingo, 25 de agosto de 2024

A Apreciação de Srila Prabhupada a Ramanujacarya

Originalmente publicado em Back to Godhead [Volta ao Supremo], revista fundada por Sua Divina Graça Srila Prabhupada no ano de 1944

Artigo referente à edição do bimestre de março/abril de 2006

A Apreciação de Srila Prabhupada a Ramanujacarya

Srila Prabhupada’s Appreciation of Sri Ramanujacharya

pelo Dr. A.D. Srirangapriya Ramanujadasan

“Encontramos excelente abrigo nos pés de lótus de Sri Ramanujacarya porque seus pés de lótus são a mais poderosa fortaleza no combate à filosofia Mayavadi”. (Carta de Srila Prabhupada datada de 22 de novembro de 1974)

Srila Prabhupada é o pioneiro e o mais proeminente entre os atuais representantes da Madhava-Gaudiya Vaisnava sampradaya (escola). Sri Ramanujacarya (1017-1137) era integrante da Sri Vaisnava sampradaya. Por que, então, Srila Prabhupada reverencia Sri Ramanujacarya? Ademais, na atual Era das Desavenças, o que a atitude de Srila Prabhupada perante Sri Ramanujacarya nos ensina acerca de união e etiqueta?

Primeiramente, embora Srila Prabhupada não fosse um teólogo pós-modernista, que ensinou “tudo dará no mesmo”, ele não era sectarista. Ele afirmou que Deus é a Pessoa Suprema e que nós somos seus servos eternos. Ele apreciava tal sentimento fosse ele expresso no Judaísmo, no Cristianismo, no Islamismo ou mesmo em termos existenciais. 1

“O processo empreendido na busca talvez seja diferente de acordo com o país ou com o clima, mas se a meta última é Deus, então esse processo é aceito como religião. Na religião cristã, eles estão buscando por Deus sob as diretrizes de Jesus Cristo, que disse: ‘Ame a Deus’. Ele mesmo se apresentava como filho de Deus. Muhammadan, Maomé, também se apresentava como servo de Deus. Assim, todos são aceitos”. [VedaBase: Srimad-Bhagavatam 6.1.40 – Surat, 22 de dezembro de 1970]

Vide também VedaBase: Room Conversation with devotees about Twelfth Canto Kali-yuga e Conversation with Guests – 15 de junho de 1974, Paris; VedaBase: Soren Aabye Kierkegaard.

Daí ele naturalmente apreciar as diferentes religiões dentro do prisma de sua própria tradição Védica.

Dentro da gama de crenças conhecida como Hinduísmo, todavia, Srila Prabhupada teceu uma distinção fundamental entre o posicionamento Mayavada e o Vaisnava. 2

“Há, portanto, duas sampradayas: a sampradaya Mayavadi e a sampradaya Vaisnava”. [VedaBase: Srimad-Bhagavatam 3.25.4 – 4 de novembro de 1974, Bombaim].

“Sri Caitanya Mahaprabhu então disse: mayavadi bhashya sunile haya sarva nasa. Mayavadi bhasya se refere ao comentário de Sankara ao Brahma-sutra, o Shariraka-bhashya. Se você ouvir o Shariraka-bhasya você será amaldiçoado, e viverá uma vida sem Deus. Por isso, tal comentário foi proibido por Caitanya Mahaprabhu. Todas as sampradayas Vaisnavas – Ramanuja Sampradaya, Madhvacarya Sampradaya, todas – discordam do comentário Sariraka-bhasya de Sankaracarya ao Brahma-sutra”. [VedaBase: Bhagavad-gita 13.8-12 – 30 de setembro de 1973, Bombaim]

Vide também: VedaBase: Spiritual Master and Disciple: The Qualifications and Characteristics of the Spiritual Master.

VedaBase: Srimad-Bhagavatam 5.5.2 — 11 de abril de 1975, Hyderabad.

VedaBase: Answers to a Questionnaire from Bhavan’s Journal — 28 de junho de 1976, Vrndavana.

VedaBase: A Perfeição da Renúncia 3.2.

VedaBase: Lecture on Science of Krishna — 14 de abril de 1975, Hyderabad

VedaBase: Room Conversation With John Lennon, Yoko Ono, and George Harrison —11 de setembro de 1969, Londres, em Tittenhurst.

Mayavada é o nome popularmente atribuído à filosofia Advaita (monismo absoluto) de Adi Sankaracarya (788-820), e Mayavadis se refere a seus seguidores.

A Filosofia de Adi Sankaracarya

Enquanto Srila Prabhupada era altamente crítico à filosofia Mayavada 3

“Caitanya Mahaprabhu diz que a filosofia de Buddha é indubitavelmente ateísmo, mas a filosofia de Sankara é um ateísmo muito perigoso, pois ele aceita o Vedanta e prega o ateísmo. Ele de alguma forma aceita... Usando o Vedanta, ele prega o ateísmo. Por isso eles [os mayavadis] são mais perigosos”. [VedaBase: Sri Caitanya Caritamrta, Adi-lila 7.109-114 – 20 de fevereiro de 1967, São Francisco]. (Caitanya Mahaprabhu é aceito pela Madhva-Gaudiya Vaisnava-sampradaya como o próprio Deus em Sua encarnação mais perfeita e completa).

Para uma elaboração acerca do posicionamento de Srila Prabhupada, vide: VedaBase: Ensinamentos do Senhor Caitanya, Capítulo 25.

, ele reconhecia os significativos méritos da missão de Adi Sankaracarya. A Índia Medieval se sujeitou à influência do Budismo; e a fé no Ser Supremo, na alma imortal, e nos Vedas, Upanisads e no Bhagavad-gita tornou-se fraca. Felizmente, Adi Sankaracarya reviveu a fé popular nestes conceitos. Infelizmente, sua filosofia minou os fundamentos do teísmo devocional.

A filosofia de Adi Shankaracarya priorizava três frases dos Upanisadsneti neti (Candogya Upanisad 1.6.1), tat tvam asi (Candogya Upanisad 6.8.7), e aham brahmasmi (Brihadaranyaka Upanisad 1.4.10). Sua interpretação dessas frases é encontrada em seu Sariraka-bhasya.

De acordo com ele, neti neti (“não isso, não isso”) significa que o universo físico, a pluralidade de almas individuais, bem como um Deus pessoal, são ilusórios. A realidade última é destituída de atributos e características (nirguna ou nirvishesha Brahman) 4

4 Adi Sankaracarya cita os seguintes versos para fundamentar sua afirmação: Mukunda Upanisad 1.1.6, Brhadaranyaka Upanisad 3.8.8, Svetasvatara Upanisad 4.11 e 4.19.

. Todas as representações de Deus com personalidade, forma e passatempos (saguna Brahman ou isvara), embora essenciais para a fé de neófitos, são, em última instância, ilusões a serem transcendidas. 5

5 Esta é a teoria de duas vias de Adi Sankaracarya de um Brahman superior (nirguna) e um inferior (saguna), baseada em sua interpretação do verso 3.2.11 do Vedanta-sutra: na sthanato’pi parasya ubhayalingam sarvatra hi. Adi Sankaracharya relega todas as referências escriturais a saguna Brahman a um status inferior [Vide comentários de Adi Sankaracarya aos: Brihadaranyaka Upanishad 2.3.1; Katha Upanishad 3.15; Vedanta-sutra 2.1.27, Vedanta-sutra 2.11.14-20, Vedanta-sutra 3.2.14; Chandogya Upanishad 8.1.5, Chandogya Upanishad 8.3.2; Svetasvatara Upanishad 4.10, Svetasvatara Upanishad 6.11 e 6.16; Taittiriya Brahmana 2.8.9]. De acordo com Adi Sankaracarya, ajnana ou avidya projetam sobre o nirguna Brahman o (irreal) mundo das aparências, por exemplo:

(a) Nirguna Brahman + avidya = Um Deus pessoal (saguna Brahman ou isvara), a pluralidade de almas e o universo físico.

(b) Um Deus pessoal, a pluralidade de almas, o universo físico = uma ilusão para ser transcendida [Vide comentário de Adi Sankaracarya ao Chandogya Upanisad 6.1.4].

Uma vez que avidya ajnana são sinônimos de maya (poder ilusório), a teoria de Adi Sankaracarya tornou-se conhecida, posteriormente, como “Mayavada”.

Adi Sankaracarya também cita o Chandogya Upanisad 6.2.1: sad eva saumya, idam agra asid, ekam eva advitiyam: “No começo (antes do universo se manifestar) havia o Ser sozinho, um único, sem outro”. Adi Sankaracarya afirma que isso prova por fim que apenas o Brahman sem forma e atributos (nirguna) é real. Tudo o mais (inclusive o saguna Brahman) não teriam existência real.

Sri Ramanujacarya refuta a teoria de duas vias de Adi Sankaracarya afirmando que a interpretação do verso sthanato’pi parasya ubhayalingam sarvatra hi dada por Sankaracarya para fundamentar sua teoria não tem suporte das escrituras. Ademais, a palavra ubhayalingam deveria ser aceita em seu sentido literal de que o Brahman tem dois conjuntos de características: (i) ser livre do mal e da imperfeição (nirdoshatva) e (ii) possuir inumeráveis qualidades auspiciosas (kalyanagunatmakatva). Sri Ramanujacarya cita o paradigmático verso 8.1.5 do Chandogya Upanisad, no qual o Brahman é claramente descrito como livre do mal (apahatapapma), da aflição (vishoka), etc., e como sendo possuidor de atributos de personalidade tais como ser aquele “cujos desejos são auto-satisfeitos” e aquele “cujos desejos sempre se realizam”. (satyakama, satyasamkalpa).

Em relação a sad eva saumya, idam agra asid, ekam eva advitiyam, Sri Ramanujacarya aceita o significado literal. No começo, só havia o Brahman; ele criou a partir de si mesmo este universo (real), pois não havia nada mais que ele pudesse ter usado. Isso é confirmado pelo Taittiriya Brahmana (2.8.9.6):

kimsvid vanam ka u sa vriksha asset
yato dyava-prithivi nishtatakshun
manishino manasa pricchataitat
yad adhyatishthad bhuvanani dharayan

brahma vanam brahma sa vriksha asit
yato dyava-prithivi nishtatakshun
manishino manasa prabravimi vo brahmadhyatishthad bhuvanani dharayan

Assim, para Sri Ramanujacarya, advitiyam, ou “sozinho”, significa que o Brahman era tanto o criador quanto a substância a partir da qual esse universo nasceu. Ele constrói sua posição tendo por fundamento inúmeras escrituras, como:

Vedanta-sutra, 1.4.23: prakritis ca pratijna drishtanta anuparodhat

Vedanta-sutra 1.4.26: atmakriten parinamat

Vedanta-sutra 1.4.27: yonis ca hi giyate

Mundaka Upanishad 1.1.7:

yathorna-nabhin srijate grihnate ca
yatha prithivyam oshadhayan sambhavanti
yatha satan purushat kesha-lomani
tathaksharat sambhavatiha vishvam

Doravante, longe de ser um ser impessoal, a linha seguinte do verso advitiyam atribui ao Brahman o ato de “pensar e decidir” se tornar vários – uma indicação clara de personalidade: tad aikshata bahusyam prajayeyeti.

As almas “individuais” são, em última instância, idênticas a esse Brahman não diferenciado, daí tat tvam asi “Tu és isso” 6

Adi Sankaracarya busca embasamento em vakyanvayadhikarana (Vedanta-sutra 1.4.19 e 22) e em amsadhikarana (Vedanta-sutra 2.3.43-53).

aham brahmasmi (“Eu sou Brahman”)

A Antítese de Sri Ramanujacarya

Sri Ramanujacarya estudou a filosofia Advaita e então compilou um imenso e meticuloso trabalho contra essa. 7

É importante frisar que Sri Ramanujacarya ataca a doutrina Advaita de Sri Sankaracarya e não todo o seu trabalho literário ou missão, menos ainda sua pessoa. Há aspectos do trabalho de Adi Sankaracarya, fora da doutrina Advaita – como stotras devocionais e estabelecimento de majestosos centros de adoração – que são respeitados e apreciados por todos os Vaisnavas.

De fato, sua postura em sua última grande obra, Bhaja Govindam, revela que ele nunca quis que sua filosofia Advaita/Mayavada fosse vista de forma isolada, nem que fosse priorizada na vida de seus seguidores. Adi Sankaracarya informa a seus seguidores que filosofia e especulação mental são, por fim, inúteis sem devoção verdadeira pela Pessoa Suprema. Por exemplo:

bhaja govindam bhaja govindam
bhaja govindam mudha-mate
samprapte sannihite kale
na hi na hi rakshati dukrin-karane

“Adore Govinda, adore Govinda, adore Govinda, ó tolos! Regras gramaticais (e polêmicas subseqüentes) não salvarão vocês no instante da morte”.

Srila Prabhupada se referia a Adi Sankaracarya como um “personalista disfarçado” que pregou o impersonalismo Mayavada meramente para o cumprimento de uma meta parcial:

“Sankaracarya é a encarnação do Senhor Sankara, o Senhor Siva. O Senhor Siva é Vaisnavanam yatha sambhuh, o melhor dos Vaisnavas. Assim, os devotos sabem que Sankaracarya era, em seu coração, um Vaisnava, mas ele teve de pregar como um Avaisnava porque ele tinha que livrar a Índia do Budismo. Essa era sua missão”. [VedaBase: Srimad-Bhagavatam 6.2.16 – 19 de setembro de 1975, Vrndavana].

Vide também: VedaBase: Consciência de Krsna: Culto Hindu ou Cultura Divina? Ciência da Auto-realização; VedaBase: Seguir os Passos das Pessoas Santas, Néctar da Devoção; VedaBase: Carta a Damodar.

Seu Sri-bhashya, um comentário à mesma obra comentada por Adi Sankaracarya, estabelece os fundamentos do Vaisnavismo.

Quanto a neti neti, Sri Ramanujacarya aponta que Adi Sankaracarya interpretou o texto desconsiderando seu contexto. A passagem do Chandogya Upanisad descreve primeiramente o universo, a pluralidade das almas, o Ser Supremo com atributos como glória, beleza e ternura. Aí vem a frase neti neti. Mas a história não encontra seu fim aí. A passagem continua e atribui mais qualidades ao Ser Supremo: na hy-etasmad iti, nety-anyat param asti (“Não há ninguém superior ou maior do que o Brahman supramencionado”), e descreve o Brahman como satyasya satyam (“o mais real dos reais”). 8

Vide Brihadaranyaka Upanisad 2.3.1-6: dve vava brahmano rupe murtam chaivamurtam ca tasya haitasya purushasya rupam yatha maharajanam vaso yatha pandv-avikam yathendragopo yathagny-archir yatha pundarikam yatha sakrid vidyutam sakrid vidyutaiva ha va asya srir bhavati ya evam veda athata adesho neti neti. na hy etasmad iti. nety anyat param asti. atha namadheyam satyasya satyam iti. prana vai satyam tesham eva satyam.

Considerando todo o contexto, Sri Ramanujacarya afirmou que neti neti não fundamenta o conceito de nirvishesha ou nirguna Brahman de Sankaracarya; senão que neti neti significa que o Ser Supremo não é equivalente à descrição que lhe foi dada, mas é, sim, muito mais do que isso: Suas glórias não podem ser adequadamente descritas. 9

Considere o Kena Upanisad 1.5: yad vachanabhyuditam yena vag abhyudyate tad eva brahma tad viddhi nedam yad idam upasate.

Quando a literatura védica descreve o Brahman como nirguna, sua intenção não é negar os atributos do Brahman, mas, insistir que sua forma é transcendental e destituída das imperfeições encontradas nas coisas materiais. 10

10 Na cosmologia Vedântica, a criação material (prakrti) é caracterizada por três modos (gunas). O Brahman é nir-guna no sentido de estar acima desses três modos.

Não há nada nem ninguém igual, superior ou maior do que ele. Ele é possuidor de personalidade 11

11 Vide Vedanta-sutra 1.1.5: ikshateh na ashabdam. Sri Ramanujacarya frisa que desejo e escolha claramente implicam um ser pessoal e não uma força impessoal. 

, forma 12

12 Vide comentário de Sri Ramanujacarya ao Vedanta-sutra 1.1.21: parasyaiva brahmanan [...] divyarupamapi svabhavikam asti

, e atributos divinos 13

13 Vedanta-sutra 1.1.21: antan tad dharmopadeshat, e sua passagem correspondente no Chandogya Upanishad 1.6.6.

; é a morada de todas as excelências 14

14 Vedanta-sutra 1.2.2: vivakshita-gunopapattes ca, juntamente com Chandogya Upanishad 3.14.1

, tais como bem-aventurança 15

15 Vedanta-sutra 1.1.13, anandamayo abhyasat

, imortalidade, poder criativo 16

16 Vedanta-sutra 1.1.1: janmadyasya yatah

, onisciência 17

17 Vide comentário de Sri Ramanujacharya ao Vedanta-sutra 1.2.23, também Brihadaranyaka Upanishad 3.8.8

, conhecimento eterno e infinito 18

18 Satyam jnanam anantam brahma, Taittiriya Upanishad 1.2.2

, desejo infalível e auto-satisfação 19

19 Satyasamkalpa, anadarah. Vide Chandogya Upanishad 1.4.1

; ele é refulgente, macio como lã e tem olhos de lótus 20

20 Brihadaranyaka Upanishad 2.3.6.

. Não importa o quanto se esforce para glorificar esse saguna Brahman, o glorificador não conseguirá descrevê-lo apropriadamente e terá, por fim, de assumir: neti neti21

21 A lógica aplicada por Ramanujacarya para refutar a interpretação monisto-impersonalista de Adi Sankaracarya de neti neti pode ser aplicada a todos os outros textos e argumentos similares apresentados por Adi Sankaracarya.

Quanto a tat tvam asi, Sri Ramanujacarya argumenta que Adi Sankaracarya foi muito precipitado em afirmar absoluta igualdade entre a alma e o Brahman. Sri Ramanujacarya cita vários textos que distinguem a alma e Deus. 22

22 Alguns dos mais significativos:

(a) Vedanta-sutra 1.2.11: guham pravishtau atmanau hi tad darshanat, e seu equivalente no Katha Upanishad 1.3.1:

ritam pibantau sukritasya loke
guham pravishtau parame parardhe
chaya-tapau brahma-vido vadanti
pancagnayo ye cra trinaciketah

(b) Vedanta-sutra, 1.3.7: sthity-adanabhyam ca, e sua passagem correspondente no Mundaka Upanishad 3.1.1:

dva suparna sayuja sakhaya
samanam vriksham parishasvajate
tayor anyan pippalam svady atti
anasnann anyo ’bhichakashiti

(c) Vedanta-sutra, 1.1.16, 17: na itara anupapatten, bheda vyapadesachcha

(d) Vedanta-sutra, 1.1.21: bheda vyapadesachcha anyan

(e) Vedanta-sutra, 1.2.3: anupapatteshtu na shariran

(f) Vedanta-sutra, 1.2.22: viseshana bheda vyapadeshabhyam ca na itarau

(g) Vedanta-sutra, 1.3.4, 5: pranabhrichcha, bhedavyapadeshahccha

(h) Vedanta-sutra, 1.3.18: itara paramarsat sa iti cenna asambhavat

Ademais, o terceiro adhyaya [do Sariraka-bhashya] explica como a jiva atma, a fim de obter a liberação, deve meditar no Paramatma, o que reafirma a distinção entre ambos. Vide também Mundaka Upanisad (3.1.2):

samane vrikshe purusho nimagno
’nisaya sochati muhyamanan e
jushtam yada pashyaty anyam isam
asya mahimanam iti vita-shokah

A identidade trazida por tat tvam asi deve respeitar essa distinção fundamental. A alma é diferente de Deus e, ao mesmo tempo, una com Deus como sua parte. Toda a criação vem de Deus – janmadyasya yatah (Vedanta-sutra 1.1.2) –, que a sustenta através de sua onipresença. O Vedanta-sutra 1.2.18 é decisivo: antaryamyadhidaiva – (adhiloka) – adishu tad-dharma-vyapadesha. “O governador interno dos deuses, (dos universos) e de todos os demais seres, como mencionado na passagem do Upanisad, é Brahman, porque as qualidades se sujeitam a Ele”. 23

23 A passagem do Brihadaranyaka Upanisad 3.7.18 correspondente afirma: yan prithivyam tishthan prithivya antaro yam pritivi na veda yasya prithivi shariram yan prithivim antaro yam ayaty esha ta atmantaryamy amritah

Assim como a alma individual reside no corpo sem ser conhecida pelo corpo (que é mantido pela alma e existe para o interesse da alma), da mesma forma Deus reside na alma (e em tudo o mais) como Paramatma, ou antaryami24

24 Essa é a estrutura “corpo-alma” de Sri Ramanujacarya. O universo inanimado e as almas animadas são o corpo de Deus, de acordo com a definição de “corpo” dada em: yasya chetanasya yaddravyam sarvatmana svarthe niyantum dharayitum ca sakyam taccheshataika svarupam ca, tat tasya shariram (Sri Bhashya 2.3.18).

Deus é o centro da vida da alma, e a razão para a sua existência. A alma é eternamente relacionada a Deus como sua parte, ou amsha. Assim como os raios solares são unos com o sol e dependentes dele, igualmente a alma é dependente de Deus para sua existência. 25

25 Vedanta-sutra 2.3.43: amsho nana vyapadeshat anyatha cha ’pi dasakitavaditvam adhiyata eke

Daí o conceito parcial de identidade: tat (Deus) tvam (tu, a alma individual) asi (és)

Quanto a aham brahmasmi, Sri Ramanujacarya concorda com Adi Sankaracarya que, ao obter a liberação, a atma manifesta sua natureza essencial como una com o Ser Supremo. 26

26 Vedanta-sutra 4.4.1: sampadyavirbhavan svena shabdat; e Vedanta-sutra 4.4.4: avibhagena drishtatvat

A alma deve se identificar com Deus, não com a matéria. Mas, novamente, Adi Sankaracarya clama a igualdade absoluta violando inúmeros versos dos Upanisads. Sri Ramanujacarya, respeitando tanto a identidade quanto a diferença, explica que, no estado de vida liberada, a alma manifesta as qualidade de Brahman, tais como ser livre do nascimento, morte, impureza, ignorância e dor, e experimentar uma bem-aventurança sem paralelo. Neste estado de completa absorção em Deus, e dotada de visão espiritual, a alma percebe Deus em toda a parte 27

27 Vide Brihadaranyaka Upanishad, 2.4.9-16, especialmente: yatra hi dvaitam iva bhavati tad itara itaram pasyati tad itara itaram jighrati tad itara itaram rasayate tad itara itaram abhivadati tad itara itaram srinoti tad itara itaram manute tad itara itaram sprisati tad itara itaram vijanati yatra tv asya sarvam atmaivabhut tat tena kam pashyet tat tena kam jighret tat kena kam rasayet tat kena kam abhivadet tat kena kam shrinuyat tat kena kam manvita tata tena kam shprishet tat tena kam vijaniyat

, e todos os nomes e pronomes (aham, etc.) são percebidos como referente a Deus. 28

28 Vide comentário de Sri Ramanujacarya ao Vedanta-sutra a partir de 1.1.30: shastra-drishtya tupadesho vamadevavat, e também seu comentário ao verso 1.3.7; também Vedanta-sutra 1.4.28: etena sarve vyakhyata vyakhyatah.

Todo traço de ahamkara (eu) e mamakara (meu) deixa de existir, e passas-se a experimentar somente Deus. Daí: aham brahmasmi.

A alma, enquanto compartilha da bem-aventurança de Deus, permanece subordinada a ele. 29

29 Vide comentário de Sri Ramanujacarya ao Vedanta-sutra 4.4.21: bhoga-matra-samya-lingach cha

Deus é infinitamente onipresente (vibhu), e a alma é eternamente diminuta (anu) 30

30 Vide Svetasvatara Upanishad:

balagra-shata-bhagasya
shatadha kalpitasya cha
bhago jivan sa vijneyah
sa chanantyaya kalpate

; Deus cria inumeráveis universos, e a alma não. 31

31 Vide comentário de Sri Ramanujacarya ao Vedanta-sutra 4.1.17: jagad-vyapara-varjam prakaranat asannihitatvachcha

É significativo que Adi Sankaracarya clame que a alma em seu estado liberado imerja no Brahman e se torne absolutamente una a ele. Todavia, Sri Ramanujacarya enfatiza que, mesmo em seu estado liberado, a alma mantém-se distinta e como um servo amoroso de Deus. O Vedanta-sutra 4.4.9 não diz que a alma não tenha mais senhor, senão que diz que ela não tem mais outro senhorata eva cha ananyadhipatih. A alma liberada se ocupa unicamente no serviço eterno a Deus. 32

32 A transformação da alma, de escrava do karma e dos desejos egoístas para serva exclusiva de Deus, é o tema da bela canção de Ramanujacarya: Sharanagati gadya.

O próprio Senhor é o caminho para se obter tal estado bem-aventurado; ele mesmo é a ponte para a imortalidade: amritasya esha setuh. 33

33 Mundaka Upanisad 2.2.5, citado por Sri Ramanujacarya em seu comentário ao verso 1.3.1 do Vedanta-sutra.

A salvação não pode ser obtida através do esforço pessoal, senão que depende da misericórdia sem causa de Deus.  

nayam atma pravacanena labhyo
na medhaya na bahudha shrutena
yam evaisha vrinute tena labhyas
tasyaisha atma vivrinute tanum svam

“Essa Identidade Suprema não pode ser obtida pela razão, intelecto ou estudo de diversos textos. Ademais, sua obtenção só é possível para aqueles que Ele escolhe”. (Katha Upanisad 1.2.23) 34

34 Considere também Katha Upanisad (1.2.20): anor aniyan mahato mahiyan atmasya jantor nihito guhayam tam akratun pasyati vita-shoko dhatun prasadan mahimanam atmanah

Em suma:

1. Deus é a Pessoa Suprema, aquele que possui inumeráveis atributos, formas e passatempos divinos. A alma individual e o universo material são reais, e expressões de sua glória.

2. A salvação é uma dádiva de Deus.

3. Livre do mundo material, a alma realiza sua verdadeira natureza espiritual como bem-aventurada serva de Deus.

Verdades Eternas

Todos os acaryas Vaisnavas concordam nesse ponto, 35

35 “Não há, portanto, diferentes conclusões entre os acaryas Vaisnavas no que diz respeito ao Senhor e aos devotos. O Senhor Caitanya estabelece que a entidade vida (jiva) é eternamente serva do Senhor e que ela é simultaneamente una e diferente do Senhor. Esse tattva do Senhor Caitanya é compartilhado por todas as quatro sampradayas da escola Vaisnava (todos aceitam o serviço ao Senhor como eterno, mesmo após a salvação), e não há acarya Vaisnava autorizado que pense que ele e o Senhor são idênticos”. [VedaBase: Srimad-Bhagavatam 2.4.21]

, e Sri Ramanujacarya lhes deu uma forte fundamentação escritural e lógica. Srila Prabhupada apreciou esse feito de erudição; enquanto que considerou os ensinamentos de Adi Sankaracarya como “necessários em determinado momento, mas não um fato permanente 36

36 VedaBase: ESC 20: O Objetivo do Estudo do Vedanta

”. Ele tratou os ensinamentos de Sri Ramanujacarya como verdades eternas a serem minuciosamente estudadas 37

37 VedaBase: Conversation with Indian Guests – 12 de abril de 1975, Hyderabad.

: “Um Vaisnava deve estudar os comentários ao Vedanta-sutra escritos pelos acaryas das quatro sampradayas – Sri Ramanujacarya, Madhvacarya, Visnu Svami e Nimbarka – porque esses comentários se baseiam na filosofia de que o Senhor é o mestre e todas as entidades vivas são Seus servos eternos. Uma pessoa interessada em estudar a filosofia Vedanta, apropriadamente, deve estudar esses comentários, especialmente se essa pessoa for um Vaisnava. Esses comentários são sempre muito apreciados pelos Vaisnavas”.

A apreciação de Srila Prabhupada a Sri Ramanujacarya era também fundamentada em bases pragmáticas. A Madhva-Gaudiya-sampradaya afirma ser o Srimad-Bhagavatam o comentário perfeito ao Vedanta Sutra e aos Upanisads. Assim, não haveria necessidade do estudo de outros comentários. 38

38 Até onde nos diz respeito, Madhva-Gaudiya Sampradaya, nossos acaryas aceitam o Srimad-Bhagavatam como o comentário perfeito ao Brahma-sutra. Bhashyam brahma-sutranam vedartha-paribrimhitam. Esse Srimad-Bhagavatam é o verdadeiro bhashya do Brahma-sutra. [...] O Srimad-Bhagavatam também é escrito por Vyasadeva, e Vyasadeva é o autor original do Brahma-sutra. Então, tendo o autor comentado sua própria obra, não haveria necessidade de outro comentário. Esse é o siddhanta Gaudiya, o siddhanta Gaudiya-Vaisnava”. [VedaBase: Bhagavad-gita 13.8-12 – 30 de setembro de 1973, Bombaim].

Todavia, Srila Prabhupada não era como vários sadhus ou babajis que ficam satisfeitos com sua iluminação pessoal. Ele era um missionário que entendia que um sucesso duradouro dependeria da obtenção de credibilidade para o seu movimento. Considere a seguinte referência de Srila Prabhupada a um famoso acontecimento histórico 39

39 Agradeço a Sua Santidade Vedavyasapriya Maharaja por chamar minha atenção para essa história.

: “Mas, algumas vezes, em Jaipur, eram lançados desafios, ‘A Gaudiya-sampradaya não tem um comentário ao Vedanta-sutra’. Então, procurou-se Visvanatha Cakravarti Thakura [para que ele escrevesse o comentário Gaudiya] [...] porque ele era um grande erudito, um erudito já de idade, que vivia naquela época em Vrndavana [...] Ele já era idoso; então ele autorizou Baladeva Vidyabhushana, ‘faça o comentário’. Não havia nenhuma necessidade, mas as pessoas estavam exigindo: ‘onde está seu comentário ao Vedanta-sutra?’. Então, Baladeva Vidyabhusana, com a ordem de Govindaji de Jaipur, escreveu o comentário ao Brahma-sutra. Seu nome é Govinda-bhashya. Assim, a Gaudiya-Brahma-sampradaya passou a também ter seu comentário ao Brahma-sutra. Foi necessário”. [Carta – 30 de setembro de 1973, Bombaim] 40

40 Comentários ao Bhagavad-gita 13.8-12

As principais autoridades de Jaipur eram os Ramanandis (um desdobramento da sampradaya Sri Vaisnava no norte da Índia) 41

41 A relação entre os Ramanandis e a sampradaya Sri Vaisnava é complexa, ou até mesmo ambígua. Alguns relatos escritos dos Ramanandis traçam uma conexão entre a sampradaya Sri Vaisnava e a Sri Ramananda, embora alguns Ramanandis posteriores (embora continuem prezando Sri Ramanujacarya) afirmam serem de uma tradição espiritual independente. No tempo de Baladeva Vidyabhusana, tal divisão dentro dos Ramanandis era, provavelmente, institucionalizada.

Para uma discussão detalhada sobre esse assunto: WILLIAM, R. Pinch. Of Saints and Simple People, Peasants and Monks in British IndiaOxford University Press, Nova Delhi.

, e Sri Baladeva (começo do século dezoito) percebeu a importância estratégica de ter a aprovação deles. O brilhante comentário de Sri Baladeva foi tão estimado pelos examinadores Ramanandis que lhe presentearam com o título de Vidyabhusana: “adornado com sabedoria”. Eles até quiseram tornar-se seus discípulos; mas Sri Baladeva Vidyabhushana recusou. Ele aclamou a sampradaya de Ramanujacarya como a pioneira em dasya-bhakti (servidão amorosa), e considerou inapropriado que os Ramanandis abandonassem tal herança gloriosa. 42

42 Esses eventos são narrados no site iskcon.comAbout Sri Baladeva Vidyabhusana.

Ortodoxia da ISKCON

Srila Prabhupada dedicou sua primeira grande obra – seu comentário ao Bhagavad-gita 43

43 Veja a dedicação na edição de 1972 da MacMillan

- a Sri Baladeva Vidyabhushana. Srila Prabhupada, assim, também estabelecia a autoridade da Madhva-Gaudiya-sampradaya (agora no ocidente), atestando que sua Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna (ISKCON) não se tratava de um novo culto, mas de um movimento ortodoxo. Srila Prabhupada também demonstrou exemplar humildade insistindo que não estava tentando superar os grandiosos mestres do passado, mas queria apenas trazer a tona seus ensinamentos:

Dr. Patel: Senhor, eu li seu comentário ao Bhagavad-gita e o de Ramanujacarya. Eles são similares.

Prabhupada: Sim.
Dr. Patel: Eu acho que você tirou o seu dali… (risos)
Prabhupada: Como eu poderia…
Dr. Patel: Estou brincando.
Prabhupada: Não, não. Nosso processo é pegar dos acaryas. Nós não estamos criando nada. Nós não somos patifes e tolos que criam coisas. Nós apenas pegamos os remanentes dos acarya e explicamos de forma que as pessoas modernas possam entender... É isso que fazemos.

Dr. Patel: São idênticos.
Prabhupada: Sim.… Se são idênticos, sou bem-sucedido. [3 de novembro de 1975, Bombaim] 44

44 VedaBase: Morning Walk – 3 de novembro de 1975, Bombaim.

Vide também: “Nosso movimento é aprovado por todos os grandes acaryas da Índia. Ramanujacarya, Madhvacarya, o Senhor Caitanya, e muitos outros”. [VedaBase: What Is a Guru?]

Vide também VedaBase, Madhya 25.26; e VedaBase, Srimad-Bhagavatam 1.2.34 – 13 de novembro de 1972, Vrndavana. 

Similaridades e Diferenças

Não restam dúvidas que existem algumas diferenças entre as sampradayas Sri Vaisnava e a Madhva-Gaudiya. Sri Vaisnavas acreditam que Sriman Narayana é a Pessoa Suprema e a origem de todas as encarnações; Madhva-Gaudiyas defendem que Sri Krsna é o Supremo, e que Sriman Narayana e os demais são suas encarnações. 45

45 Vide Sri Brahma-samhita 5.39. Considere também:

“Essa afirmação do Srimad-Bhagavatam (1.3.28) nega definitivamente o conceito de que Sri Krsna é um avatara de Visnu ou Narayana. O Senhor Sri Krsna é a original Personalidade de Deus, a suprema causa de todas as causas. Esse verso indica claramente que as encarnações da Personalidade de Deus, tais como Sri Rama, Nrsimha e Varaha são todas, indubitavelmente, pertencentes ao grupo de Visnu, mas todas Elas são ou porções plenárias ou porções de porções plenárias da original Personalidade de Deus, o Senhor Sri Krsna” [VedaBase: Caitanya-caritamrta, Adi-lila 2.67]

Portanto, Madhva Gaudiyas (a) preferem adoram Radha-Krsna a Sriman Narayana, 46

46 Comentário ao Srimad-Bhagavatam 7.9.18 – 25 de fevereiro de 1976, Mayapur.

(b) consideram Goloka Vrndavana, e não Vaikuntha, como o planeta mais elevado 47

47 Vide Sri Brahma-samhita 5.43. Considere também:

Yasodanandana: Nas outras sampradayas Vaisnavas, como a Madhva-sampradaya e a Ramanuja-sampradaya, eles não entendem que Krsna tem Seu próprio planeta, Goloka Vrndavana. Eles pensam que existe apenas Vaikuntha e nada mais.

Prabhupada: O conhecimento deles é imperfeito. No Brahma-samhita está declarado: goloka-namni nija-dhamni tale cha tasya [Bs. 5.43].

, e (c) consideram certos humores devocionais acessíveis apenas através de sua sucessão discipular 48

48 Tamala Krsna: Só para pegar o ponto de Maharaja Acyutananda, parece, então, que os Ramanujis e os Madhvites não aceitam Caitanya Mahaprabhu como a Suprema Personalidade de Deus. Então, como eles podem...

Prabhupada: Então eles não podem entender as rasas superiores [VedaBase: Conversation with Devotees – 31 de março de 1975, Mayapur].

. Há também interessantes episódios com “discussões” entre Sri Vaisnavas e Vaisnavas da Madhva-Gaudiya. Todavia, Srila Prabhupada participava de tais diálogos com grande sensibilidade e respeito mútuo. 49

49 Destaque para a conversão de Venkata Bhatta por Caitanya Mahaprabhu; vide Sri Caitanya-caritamrta, Madhya-lila, capítulo 9.

Sem comprometer sua fidelidade aos princípios peculiares à Madhva-Gaudiya-sampradaya, ele sempre frisava a unidade:

“Todas trazem a mesma conclusão. Os acaryas Vaisnavas, assim como nosso Ramanujacarya, Madhvacarya e Nimbarka, e [...] Visnusvami. Eles são todos do mesmo movimento”. (Carta datada de 19 de fevereiro de 1976, Mayapur)

“Não há diferença. Isso é Vaisnavismo. Todos os Vaisnavas entendem que Visnu é o Supremo. Às vezes acontecem coisas como entender Krsna como uma encarnação de Visnu, e às vezes entender Visnu como uma encarnação de Krsna. Isso são sampradayas... Mas seja como Krsna, seja como Visnu, Ele é o Supremo, isso é aceito por todas”. (DataBase: Discussion. 6 de maio de 1975, Perth)

“Na sampradaya Vaisnava, alguns devotos adoram Radha-Krsna, e outros adoram Sita-Rama e Laksmi Narayana. Alguns também adoram Rukmini-Krsna. Todos esses casais são o mesmo casal, e todos os devotos são Vaisnavas. Se se canta Hare Krsna ou Hare Rama, isso não é importante. A adoração aos semideus, todavia, não é recomendada”. (Ensinamentos do Senhor Kapila, verso 44)

“No verso 154 [Caitanya-caritamrtaMadhya-lila, capítulo 9], Sri Caitanya Mahaprabhu deixou isso de forma bem clara: ishvaratve bheda manile haya aparadha. ‘É ofensivo fazer distinção entre as formas do Senhor”. (Caitanya-caritamrta, Madhya-lila, 9.155, significado).

Tomando uma visão panorâmica, fica claro que o respeito de Srila Prabhupada por Sri Ramanujacarya era intelectual, afetuoso e profundo. Srila Prabhupada, em suas aulas e significados autorizados, citou Sri Ramanujacarya centenas de vezes. Aqui estão alguns exemplos: quando explicando termos-chaves como sanatana dharma 50

50 VedaBase: Bhagavad-gita, Introdução

bhakti-vedanta 51

51 VedaBase: Narada Bhakti Sutra 29

, e asura 52

52 VedaBase: Bhagavad-gita 7.1 – 14 de fevereiro de 1972, Madras; VedaBase: Sri Caitanya-caritamrta, Madhya-lila 20.353-354 – 26 de dezembro de 1966, Nova Iorque.

, ou o conceito único do Pancha-tattva da Madhva-Gaudiya-sampradaya 53

53 VedaBase: Caitanya-caritamrta, Adi-lila, Introdução

; definindo vida humana como a busca pela verdade Absolua, 54

54 VedaBase: Jacques Maritain

ou fornecendo uma perspectiva correta para o varnashrama-dharma 55

55 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 5.19.19

; explicando como essa criação é real e una com Deus, e ao mesmo tempo subordinada a Ele 56

56: Ensinamentos do Senhor Caitanya, 20: O Objetivo do Estudo do Vedanta e Adi-lila 7.122

e Sua eterna propriedade 57

57 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 11.12.20

; grifando que a pluralidade de almas é um fato eterno 58

58 VedaBase: Bhagavad-gita 2.8-12 — 27 de novembro de 1968, Los Angeles.

; enfatizando a natureza real e transcendental da personalidade, forma e passatempos do Senhor 59

59 VedaBase: Caitanya-caritamrta, Adi-lila 7.110 e Stotra-ratna 12, VedaBase: Bg 7.24

; embasando a relevância singular do conhecimento escritural 60

60 VedaBase: Caitanya-caritamrta, Madhya-lila 6.135

; falando sobre a meticulosa citação de textos Vedânticos 61

61 “Você vê o comentário de Ramanujacarya ao Bhagavad-gita. Nada mudou. Mas, em cada shloka, ele traz evidências dos Vedas, dos Upanisad. Um acarya nunca muda”. [VedaBase: Interview with Professors O’Connell, Motilal Shivaram – 18 de junho de 1976, Toronto].

Vide também VedaBase: Room Conversation – 19 de janeiro de 1976, Mayapur; VedaBase: Interview with Professors O’Connell, Motilal and Shivaram — 18 de junho de 1976, Toronto; VedaBase: Evening Darshana, 6 de julho de 1976, Washington, D.F.

; reconhecendo grandes autoridades do Vedanta 62

62 VedaBase: Caitanya-caritamrta, Adi-lila 10.105

; dando exemplo de habilidades polêmicas 63

63 “Dentre os Vaisnavas, ele foi o maior acarya, Ramanujacarya... Ainda hoje, no sul da Índia, os Mayavadis e os Ramanujas têm encontros para discussões, e os Mayavadis são sempre derrotados”. [VedaBase: Morning Walk —20 de novembro de 1975, Bombaim. Vide também VedaBase: Krsna, a Suprema Personalidade de Deus 88: A Liberação do Senhor Shiva; VedaBase: Carta a Atreya Rsi — 26 de janeiro de 1972, Nairobi]

; proclamando que, em última instância, todas as escrituras glorificam a Pessoa Suprema 64

64 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 10.82.29-30

; exaltando a natureza doce do serviço devocional 65

65 VedaBase: Caitanya-caritamrta, Madhya-lila 8.57

; enfatizando que o serviço a Deus continua após a liberação 66

66 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 6.10.11

; ilustrando o poder transformador da castidade feminina 67

67 VedaBase: Bhagavad-gita 1.40 — 28 de julho de 1973, Londres

; afirmando haver completa aversão pelo prazer material após se provar bem-aventurança espiritual 68

68 VedaBase: Bhagavad-gita 16.10 — 6 de fevereiro de 1975, Havaí; VedaBase: Srimad-Bhagavatam 1.5.12-13 — 11 de junho de 1969, New Vrndaban.

indicando o caráter imaculado da moral Vaisnava 69

69 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 7.9.52 — 7 de abril de 1976, Vrndavana

, a necessidade de vairagya 70

70 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 5.5.1-2 — 7 de setembro de 1973, Stockholm

ou a audácia necessária no serviço devocional 71

71 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 1.2.5 — 16 de outubro de 1972, Vrndavana

; justificando a transcendência ao sistema de castas 72

72 VedaBase: Bhagavad-gita 2.26 — 30 de novembro de 1972, Hyderabad; VedaBase: Srimad-Bhagavatam 4.8.54

; exemplificando a distribuição liberal dos santos nomes como ápice da compaixão 73

73 VedaBase: Bhagavad-gita 6.25-29 —18 de fevereiro1969, Los Angeles; VedaBase: Bhagavad-gita 18.67-69 — 9 de dezembro de 1972, Ahmedabad; VedaBase: Srimad-Bhagavatam 4.22.11; VedaBase: Madhya 7.130; VedaBase: Path of Perfection 5: Determination and Steadiness in Yoga; VedaBase: Srimad-Bhagavatam 1.2.11 — 26 de abril de 1974, Tirupati; VedaBase: Room Conversation With John Lennon, Yoko Ono, and George Harrison — 11 de setembro de 1969, Londres, em Tittenhurst; VedaBase: Carta a Satsvarupa — 14 de novembro de 1968, Los Angeles.

; justificando a necessidade de templos 74

74 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 7.15.21; VedaBase: Bhagavad-gita 13.15 — 9 de outubro de 1973, Bombaim; VedaBase: Srimad-Bhagavatam 3.26.4 — 16 de dezembro de 1974, Bombaim.

; glorificando o poder da pregação 75

75 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 4.28.30

ou exaltando proezas espirituais 76

76 VedaBase: Srimad-Bhagavatam 4.21.33

. Mesmo quando explicava a seus discípulos como proceder com a tradução de seu querido Srimad-Bhagavatam 77

77 “Viraraghavacarya [um acarya Sri Vaisnava], Sanatana Gosvami, Visvanatha Cakravarti. Nós estamos apenas tentando explicar suas idéias. Nós somos muito pequenos”. [VedaBase: Room Conversation About 10th Canto – 16 de outubro de 1977, Vrndavana].

, mesmo nesse mais íntimo serviço, Srila Prabhupada considera Sri Ramanujacarya um valioso aliado. É raro encontrar, em qualquer era ou lugar, tal magnanimidade em um grande erudito.

Com escrupulosa etiqueta, Srila Prabhupada sempre reconheceu a contribuição de outras sampradayas, seja em nível filosófico, social, pessoal ou institucional. Mesmo enquanto líder sem concorrentes de um movimento mundial, ele permaneceu humilde e sempre atento às qualidades dos outros. Sua vida foi exemplar. Isso não se baseia apenas em sua pureza de coração, mas também no seu reconhecimento de si mesmo como um embaixador. Srila Prabhupada via a si mesmo como o candelabro que serviria de suporte para Sri Ramanujacarya, Madhvacarya, Sri Caitanya Mahaprabhu, e outros archotes espirituais. Ele não deixaria, e não deixou, nenhum de seus seguidores ou ilustres predecessores ficarem apagados.

Uma Comparação Salutar

Em seu significado ao Caitanya Caritamrta, Adi-lila 7.128, Srila Prabhupada escreve: “Os argumentos de Sankara, que são os dentes da filosofia Mayavadi, são sempre quebrados pelos argumentos dos filósofos Vaisnavas, como os de Ramanujacarya. Sripada Ramanujacarya e Madhvacarya quebram os dentes dos filósofos Mayavadis, que podem, portanto, ser chamados de Vidantis, ‘desdentados’”.

Há muito, muito tempo atrás, o que era o berço da cultura Védica se tornou a morada do ateísmo. As pessoas não acreditavam mais em Deus, na alma imortal, ou nos Vedas. Adi Sankaracarya formulou, então, a filosofia Advaita com o objetivo de deter essa degradação. A filosofia Advaita cumpriu bem sua função, e as pessoas estava de volta no caminho Vedântico: havia, novamente, um Ser Espiritual Supremo e Transcendental, a alma era imortal, e os Vedas Upanisads ganharam novamente autoridade.

Todavia, o gênio acabou se tornando maior que a lâmpada. O comentário de Adi Sankaracarya a neti neti, tat tvam asi e aham brahmasmi se tornou os três dentes do gênio, agora conhecido como Mayavada. Ao invés de ser o precursor do teísmo devocional, a filosofia Mayavada se tornou seu inimigo.

Sri Ramanujacarya, com a maça de seu Sri-bhashya, quebrou os três dentes da filosofia Mayavada e proclamou a era de ouro do Vaisnavismo. Aqueles que vieram após Sri Ramanujacarya, como Madhvacarya, Nimbarka Svami, Vallabhacarya e Sri Caitanya Mahaprabhu, distribuíram a devoção ao longo daquela terra.

A filosofia Mayavada caíra, mas não morrera. Por séculos ela ficou caída, lambendo as próprias feridas. Gradualmente, seus dentes renasceram mais afiados do que nunca, agora, com o suporte de diversas doutrinas não encontradas nos trabalhos originais de Adi Sankaracarya. Com o advento do colonialismo e do transporte moderno, o mundo estava se tornando uma vila global. A filosofia Mayavada viu alguma esperança nos pastos frescos, nas vilas virgens. Trazendo à vida uma tropa de gurus freelancers, a filosofia Mayavada se apresentou mundialmente como o Vedanta.

Assim, quando a filosofia Mayavada estava encontrando grande prazer: nasce um homem – um homem tão destemido quanto gentil. Armado com as obras de grandes acaryas Vaisnavas, ele perseguiu a filosofia Mayavada e provou ser ela uma grande farsa. Primeiro a América, então a Europa, África, Rússia, Austrália – em todos os lugares as pessoas foram levadas de volta ao Supremo. Talvez lhe tenha sido especialmente gratificante, junto com a ascensão mundial do Vaisnavismo, os indianos reencontrem suas próprias raízes devocionais. Por fim, ele voltou para sua amada Vrndavana, adorado por devotos de Krsna de todas as raças, cores, idades e berços – uma verdadeira Nação Unida.

O que Sri Ramanujacarya deu início no começo do milênio, Srila Prabhupada concretizou em seu final. Sri Ramanujacarya derrotou a filosofia Mayavada na Índia; Srila Prabhupada a derrotou no mundo inteiro. Sri Ramanujacarya contou com um batalhão de incansáveis Vaisnavas; Srila Prabhupada começou sozinho, sem a ajuda sequer de seus irmãos espirituais. Sri Ramanujacarya cantou bem alto os santos nomes da torre de um templo; Srila Prabhupada cantou nos subúrbios de Nova Iorque. Sri Ramanujacarya pregou para aqueles que acreditavam no athato brahma-jijnasa (Vedanta-sutra 1.1.1) 78

78 Vedanta-sutra 1.1.1

: insatisfeito com a religiosidade ritualística, pregou a busca pela espiritualidade genuína; Srila Prabhupada pregou para todos – mesmo vagabundos, drogados e mulherengos – athato brahma-jijnasa: vocês já experimentaram de tudo, agora experimentem Krsna. Sri Ramanujacarya deixou bem claro que o propósito de sua filosofia era desenvolver devoção pelo Senhor; Srila Prabhupada era a própria personificação de Bhakti e do Vedanta 79

79 O título “Bhaktivedanta” foi dado a Srila Prabhupada no ano de 1947 pela Gaudiya Vaisnava Society.

. Sri Ramanujacarya construiu uma fundação na qual todos os Vaisnavas podem se apoiar; Srila Prabhupada construiu uma sociedade na qual todos podem viver.

Tradução por Bhagavan dasa (DVS)



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