O pressuposto do pensamento confucionista é que o homem pode atingir a perfeição através da educação e, conhecendo o caminho dos antigos, chegar a uma vida virtuosa que lhe permita comportar-se corretamente, conforme seu papel na sociedade.
1) FormaçãoO ponto de partida é a
formação do indivíduo. Através do ensinamento e da autodisciplina, o indivíduo chega ao conhecimento e à prática da virtude; descobre sua autêntica natureza, interioriza as disposições do
Tian (Céu) , podendo assim agir com espontaneidade, sem necessidade da coação de leis para fazer o bem. Chegando a esse ponto, ele é um homem superior ou verdadeiro e tem o poder de influenciar positivamente sobre os outros, transformando-os.
Sacerdote taoísta durante um rito Jiao |
2) FamíliaO primeiro âmbito em que o ser humano se forma e aprende a agir com autenticidade é a
família.
O filho aprende com os pais, especialmente no exercício da piedade filial
(xiao), ou seja, o filho deve aos pais respeito, obediência, deferência, sustento na velhice, enquanto o pai dá ao filho, proteção e ajuda em sua formação.
3) SociedadeO segundo âmbito é a sociedade, onde se aprendem e se praticam as virtudes sociais, sobretudo, a justiça
(yi), a generosidade para com os outros, o perdão
(shu) e a benevolência
(ren). Esta última é uma virtude fundamental no pensamento confucionista, cujo extenso significado compreende tudo o que torna o homem verdadeiramente bom.
4) EstadoÉ no Estado, que coincide
com sociedade ou mundo civil, em contraposição a uma condição de não civilização, que o homem aprende e pratica a virtude da lealdade-fidelidade
(zhong).
Os súditos, especialmente os funcionários públicos, devem ser leais ao soberano que, por sua vez, se compromete em administrar o Estado e governar o mundo, não por uma rigorosa aplicação das leis, mas pelo exercício das virtudes. Se o soberano for virtuoso, o Estado permanecerá estável, a sociedade irá se manter ordenada, a família viverá na harmonia; da mesma forma, se as relações familiares forem corretas, a ação na sociedade também o será e o mundo viverá em paz.
Oferta de alimentos a Tudigong |
E bom frisar ainda que a família e Estado-mundo são semelhantes: o Estado é uma grande família abrangente em cujo vértice está o rei , o Filho do Céu
(Tian) que governa seus súditos como um bom pai.
No confucionismo, as duas virtudes mais importantes são: a benevolência
(ren) que emana do coração, centro da personalidade, e torna o homem verdadeiramente homem e a maneira correta de agir e de relacionar-se com os outros
(li).
Sem o ren, vive-se o formalismo, sem o
li, cai-se na rudeza e na barbárie. As ações humanas virtuosas feitas com o
ren e o
li são o cumprimento das ordens do
Tian (Céu) que se difundem sobre a terra, tornando-a humana e fazendo emergir as normas e os princípios que permeiam a realidade.
Síntese do pensamento confucionistaCom as últimas afirmações, entramos já numa interpretação do pensamento original de Confúcio, elaborada especialmente por seus discípulos Mêncio e Dong Zhongshu. Nessa síntese, aparecem de maneira sistemática, as relações no interior de uma tríade confucionista: o
Céu que cobre e produz, a
Terra que alimenta o
Homem, único ser que pensa e possui uma vontade consciente.
Devoto da divindade budista Guanyin, cumprindo seus votos feitos aos espíritos |
O homem, porém, é entendido não como indivíduo, mas como gênero humano que é representado e encarnado no imperador, o Filho do Céu. O soberano governa por um mandato que lhe é concedido pelo Céu
(Tianmings) e somente permanecendo em harmonia com ele, consegue manter a boa ordem da sociedade e da natureza. Assim, compreende-se o homem, ao mesmo tempo, subordinado a uma ordem que lhe é superior e artífice da harmonia entre o céu e terra, entre a sociedade a natureza.
Se o homem, em particular o imperador, transgredir as normas que regulam o universo, acontecerão catástrofes e tragédias, sinais de que o mandato do Céu foi revogado e o que o povo pode se revoltar e substituir o imperador por outro mais digno.
Nessa visão, o imperador é o sacerdote supremo daquela que podemos chamar de religião do Estado confucionista. Somente o imperador, na ausência do povo, pode oferecer sacrifício ao Céu e à Terra e promulgar o calendário, que não é simplesmente uma ordem cronológica mas um elenco dos deveres rituais que permitem a manutenção da harmonia no universo e no progresso da vida humana e social.
A vida além da morteEntre as várias práticas rituais, privilegia-se o culto aos antepassados, considerado a base primordial da "religião dos chineses". Os mortos não se transformam em divindades mas são venerados como antepassados que ainda pertencem à família ou ao clã.
Estátua de um Grande General, uma das numerosíssimas divindades populares taoístas (Taiwan) |
O culto é presidido pelo chefe da família ou do clã e realizado numa sala-templo ou simplesmente diante do altar, colocado no interior da casa, sobre o qual são expostas as tabuinhas com o nome dos antepassados.
Isso alimenta a piedade filial, que se prolonga além da morte, não somente como maneira de superar o trauma da dor, mas sobretudo, como maneira de reintegrar o defunto à unidade familiar: o antepassado continua sobrevivendo e tendo seu lugar nas gerações futuras.
O objetivo é perpetuar e reforçar a organização familiar e do clã, que poderia se perder com o passar do tempo e das gerações, mantendo viva, na consciência do indivíduo, sua pertença a um grupo histórico mais amplo.
Muito se discutiu sobre o verdadeiro caráter do culto dos antepassados, isto é, seria ele simplesmente um rito civil, com a função de manter a unidade familiar, base da sociedade chinesa, ou teria também um significado religioso, favorecendo uma experiência mística de comunhão com o espírito dos mortos?
Confucio continua vivo"Nós queremos utilizar os ensinamentos de Confúcio para acelerar os programas de modernização". Assim falou o presidente da "Sociedade Chinesa para a Educação" num encontro nacional em 1984. Dez anos antes, os ativistas da "Revolução Cultural" quiseram arrancar pela raiz toda tradição confucionista, destruíndo até o túmulo do sábio. Depois da morte de Mao Tse-tung ( 9 de setembro de 1976), Confúcio voltou a dominar, em sentido moral, a vida da China. Hoje, até as máximas autoridades políticas lembram Confúcio, apresentam-no como símbolo da identidade chinesa e consideram suas idéias uma ajuda muito válida para a modernização do país.
Chinês em oração |
Na Ásia, muitos consideram o confucionismo um fator importante no progresso acelerado dos cinco "tigres" do Extremo Oriente: Japão, Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Cingapura. Outros não concordam, pois acham que o confucionismo, com sua doutrina feita de ritualismo e de respeito à tradição, torna-se um obstáculo a todo esforço de renovação e de modernização.
Discussões à parte, o confucionismo retomou sua vitalidade não somente na China e em Taiwan, como também em todo o Extremo Oriente. No Japão, por exemplo, ultimamente, diante da decadência da vida política e dos escândalos que a marcaram, sente-se a necessidade de voltar a Confúcio e aos valores que ele colocou à base de toda autoridade e de todo poder: o governo deve ser fundado não na força bruta, nos vínculos de sangue e no interesse pessoal, mas no exemplo moral que os governantes oferecem. Em sua ação, eles devem dar mais importância não ao progresso econômico, mas à educação do povo à virtude, à estabilidade das famílias, à harmonia entre todas as classes sociais.
Em Cingapura também o confucionismo voltou como doutrina de pública moralidade, sendo ensinado nas escolas e encontrando muito espaço na mídia.
fonte
http://www.pime.org.br/mundoemissao/relgconfucion.htm: Obrigado pela visita, e volte sempre.