A EDUCAÇÃO EMOCIONAL COMO UMA CONTRIBUIÇÃO A PSICOPEDAGOGIA: RELATOS DE EXPERIÊNCIAS NA EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL DE ESCOLAS PÚBLICAS.
Silvar Ferreira Ribeiro – UNEB - Universidade do Estado da Bahia. DCHT – Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias - Campus XVI – Irecê/Bahia -
A Educação Emocional ainda não foi assimilada pelos currículos escolares, tanto no ensino fundamental e médio, quanto no ensino superior no Brasil. Em nosso contato diário com professores de diversos níveis do ensino, com colegas do corpo docente da universidade, e com os próprios alunos universitários que estão cursando uma licenciatura, portanto, preparando-se para a carreira docente, não notamos o interesse necessário por esse corpo de conhecimentos que evolui no campo da psicologia geral e da educação.
Participamos regularmente de eventos científicos na área de educação, congressos, seminários, mini cursos, palestras etc., e esta constatação se confirma: poucos educadores em nosso país se dedicam ao estudo, à pesquisa e à difusão de conhecimentos nesta área.
Ao desenvolver estudos na área da Psicopedagogia no curso de pós-graduação lato sensu desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em convênio com o Centro de Estudos de Pessoal do Exército Brasileiro – CEP – EB, optei pelo estudo deste tema buscando prestar à Psicopedagogia uma contribuição real no campo de atuação escolar do psicopedagogo.
Acredito ser a escola o lócus privilegiado da participação do profissional psicopedagogo, especialista dedicado ao estudo da aprendizagem como processo e de suas variações, freqüentemente rotuladas de “distúrbios de aprendizagem”, terminologia que considero inadequada e rotuladora do indivíduo aprendente, sobrecarregando-o com uma cobrança desnecessária e permitindo um desvio no estudo das causas que o levam a apresentar o comportamento que lhe custou o rótulo.
No meu entendimento o “distúrbio de aprendizagem” encontra, na maioria das vezes ambiente propício ao seu aparecimento no lar e na escola, e sua causas se encontram nas relações familiares, na inadequação da proposta curricular e das práticas educativas tradicionais das escolas que nada fazem para intervir intencionalmente nas relações de amor e competição, nos sentimentos de confiança e medo, no ânimo e na auto-estima que marcam a formação das pessoas e que, segundo [1]Aveline (1996), ocorrem diariamente na sala de aula.
Um dos motivos desta falta de atenção à Educação Emocional na escola, onde concentramos o nosso estudo, é o desconhecimento do ser humano e dos novos estudos sobre a evolução da inteligência e, por acreditarmos nisto desenvolvemos esta pesquisa, buscando resposta para o problema descrito abaixo:
A inexistência de uma visão pluralista da cognição humana é fator determinante da ausência de estratégias de ensino-aprendizagem das emoções nas escolas?
O que tentaremos revelar é que o desconhecimento da evolução do conceito de inteligências pelo educador restringe as propostas educacionais e as estratégias de ensino-aprendizagem, a atividades voltadas para as inteligências verbal e lógico-matemática, deixando de incluir as áreas da inteligência emocional e outras, prejudicando o desenvolvimento integral do educando. O estudo e a comprovação de que este fenômeno, ocorre também nas nossas escolas, poderá contribuir para indicar caminhos e ajudar educadores em geral a compreender o problema proposto.
Incluir os novos conceitos de inteligência humana no conjunto dos conhecimentos da escola torna o propósito desta pesquisa e os seus possíveis resultados uma atividade de significativa relevância.
Traçamos em nosso projeto de pesquisa três objetivos que nortearam as nossas atividades permitindo-nos delimitar o nosso interesse a uma dimensão compreensível do problema. São os seguintes:
a) Identificar a visão da inteligência humana que predomina na escola.
b) Relacionar o conjunto das atividades de ensino-aprendizagem praticadas na escola com o conceito de inteligência predominante.
c) Indicar alternativas de introdução de uma visão pluralista da inteligência humana e de atividades voltadas para a educação emocional.
Para atingir estes objetivos selecionamos algumas questões relevantes para os problemas propostos, às quais tentamos responder a partir da análise das respostas dadas pelos professores ao questionário da pesquisa. As questões são as seguintes:
a) A visão da inteligência humana do professor está fundamentada em conceitos tradicionais e privilegia apenas as áreas verbal e lógico-matemática?
b) O professor da escola pública tem conhecimento da visão pluralista da inteligência humana?
c) A escola propõe atividades educativas destinadas ao aprendizado das emoções?
d) Quando são desenvolvidas atividades de caráter sócio-educativo, a exemplo de jogos, cantos, danças, há uma intencionalidade de desenvolvimento de emoções ou apenas de proporcionar diversão e entretenimento?
e) Estariam os professores receptivos ao aprendizado e à introdução de uma nova concepção de inteligência nas escolas?
Resumo da Base teórica - A Educação Emocional
Os estudos da emoção humana, nos dias de hoje, experimentam mudanças significativas devido ao surgimento de novas teorias científicas e ao advento da evolução tecnológica que permitem a um só tempo aumentar a produção em volume de conhecimentos e alcançar a descoberta de fenômenos antes impossíveis de serem observados ou mesmo concebidos.
Dentre as ciências que se destacam nesta escalada da revolução científico-tecnológica encontram-se a neurologia e psicologia que a partir dos novos recursos tecnológicos, hoje disponíveis, vêm empreendendo uma verdadeira quebra de paradigmas em seus campos de estudos e, notadamente, nas descobertas dos infinitos e intrigantes segredos contidos na mente humana.
Neste trabalho, o nosso foco de interesse é a Educação Emocional que se fundamenta em um desses novos conceitos científicos: A Inteligência Emocional. É a partir de um conjunto de novos conhecimentos que desejamos estudar o nosso tema, buscando analisar as atividades educativas desenvolvidas nas escolas públicas e perceber se há nelas alguma intencionalidade de promover o aprendizado das emoções.
Desenvolveremos um estudo teórico sobre a evolução do conceito de inteligência humana e em seguida um estudo empírico sobre o conceito de inteligência segundo a visão dos professores das séries iniciais das escolas públicas, buscando afirmar a nossa hipótese de que a escola, continua privilegiando aspectos limitados da inteligência em seus currículos e que desconhece as novas teorias da inteligência humana. Segundo Goleman, “... o lugar do sentimento na vida mental foi, ao longo dos anos, surpreendentemente, desprezado pela pesquisa, fazendo das emoções um continente pouco explorado pela psicologia científica”. (Goleman: 1995).
A nossa opção pela teoria da Inteligência Emocional, desenvolvida pelo psicólogo e neurologista, professor da Havard University , Daniel Goleman, nos remete a um breve histórico dos estudos da inteligência humana, e particularmente a uma breve análise de uma outra teoria recente e não menos revolucionária: A Teoria das Inteligências Múltiplas, de autoria do professor Howard Gardner, um estudioso do cérebro humano que atua na mesma universidade, que fundamenta os achados desta pesquisa.
Metodologia
O reconhecimento da complexidade dos fenômenos sociais e da existência de transformações profundas que caracterizam o mundo contemporâneo demanda uma nova forma de olhar o significado do ato de pesquisar em educação. Neste estudo buscaremos desenvolver uma noção de pesquisa como práxis procurando um caminho que venha privilegiar a participação democrática dos sujeitos da pesquisa, numa abordagem participativa e colaborativa, tendo como eixo a reciprocidade, pois entendemos que uma vertente importante de um estudo desta natureza é a capacitação, convertendo o esforço da pesquisa numa oportunidade de construção coletiva do conhecimento do objeto pesquisado, a fim de subsidiar as soluções a serem encontradas conjuntamente.
Inicialmente será construído e partilhado um referencial teórico através de uma pesquisa bibliográfica buscando analisar a evolução dos conceitos de inteligência humana e relacionar estes conceitos com a prática pedagógica das escolas públicas municipais de Mutuípe – Bahia. Este corpo teórico e os resultados das análises dos dados serão discutidos com os professores após a redação final da monografia com o propósito de enriquecer as suas conclusões, de contribuir com o desenvolvimento do interesse destes professores pelo tema e de provocar reflexões sobre as suas práticas educativas.
Noventa e nove professores da rede pública municipal de ensino da cidade de Mutuípe - Bahia, serão os sujeitos entrevistados. Entendemos que esta população seja significativa, pois, representa 70,71% de todos os docentes em exercício no município e, conseqüentemente, permitirá uma visão abrangente do fenômeno estudado.
Os professores que participarão desta pesquisa, respondendo aos questionários e discutindo os temas propostos, são todos profissionais em exercício de regência de classe em escolas públicas municipais e estão cursando a graduação em Pedagogia com habilitação para o Magistério das Séries Iniciais na Universidade do Estado da Bahia – UNEB.
Não teremos a intenção de generalizar os resultados obtidos para todas as escolas e sim indicar referenciais para melhor compreender esse fenômeno educacional.
A coleta dos dados será realizada através da aplicação de um questionário, anexo visando obter do professor respostas às questões propostas sem estudo prévio do referencial teórico, pois é nossa intenção revelar a sua visão atual da inteligência humana, bem como a influência desta nas suas práticas educativas.
Abrangência e aspectos geo-educacionais[2].
Este estudo foi realizado no município de Mutuípe, uma cidade distante de Salvador 241 km, localizada no sul do recôncavo baiano. Sua população é de aproximadamente 20 mil habitantes e possui 274 km2 de área. Sua economia é sustentada pela atividade agropecuária e o município possui 63 escolas. Destas 55 são municipais e 05 estaduais. Apenas 03 escolas são particulares.
No ensino Fundamental da 1ª à 4ª séries, nível escolar a partir do qual desenvolvemos nossa pesquisa, existem 3211 estudantes matriculados. Este contingente, representa a grande maioria dos estudantes do município (70%), considerando-se que a matrícula total é de 4554 estudantes.
O número total de professores que atuam no ensino fundamental é de 218 assim distribuídos: 60 professores na rede estadual de ensino; 140 professores na rede municipal e 18 professores nos estabelecimentos particulares.
Considerando-se que a pesquisa inclui apenas os professores da rede municipal, os 99 (noventa e nove) participantes representam 70,71% da população estudada.
Este trabalho não encerra com este primeiro estudo, pois este grupo de professores que constitui o universo da pesquisa está matriculado em um curso de Graduação em Pedagogia com Habilitação para o Magistério das Séries Inicias do Ensino Fundamental, através de um convênio entre a Prefeitura Municipal de Mutuípe-Ba e A UNEB – Universidade do Estado da Bahia. A partir das conclusões obtidas elaboramos projetos de intervenção pedagógica nesta realidade, que inclui desde a discussão sobre o conceito de inteligência com os professores até o planejamento e execução de atividades educativas no âmbito da educação emocional, dentro de uma perspectiva de ação-reflexão-ação, visando implementar mudanças nesta realidade.
BIBLIOGRAFIA
ANTUNES, Celso. Como identificar em você e em seus alunos as Inteligências Múltiplas. Petrópolis – RJ, Editora Vozes, 2001.
BABIN, Pierre e KOULOUMDJIAN, Marie France. Os novos modos de Compreender: a geração do audiovisual e do computador. São Paulo: Edições Paulinas, 1989.
COLEÇÃO PLANETA. Inteligência Emocional. São Paulo. Editora Três. N.ºs 01, 03 e 05. 1996.
GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. Trad. Marcos Santarrita. Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 1995.
http://www.epub.org.br/cm/n05/mente/teorias.htm
http://www.uol.com.br/psicopedagogia/artigos/teoria.htm
file://C:\Mestrado\intelig-multi.html
[1] Aveline, Carlos Cardoso. Quando a escola fica mais inteligente. COLEÇÃO PLANETA. Inteligência Emocional. São Paulo. Editora Três. N.º 05. 1996.
[2] Fonte: Anuário Estatístico da Bahia – 2000.
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