Enquanto a esquerda ataca hábitos e costumes, conservadores focam em um estranho mecanicismo aleatório do clima
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O grande erro da maioria dos conservadores atuais é querer jogar a irmã mais velha contra a mais nova. A modernidade cientificista é, por definição, uma etapa inicial do mesmo processo que culmina no culto à natureza, expresso por declarações recentes como a de que as enchentes no Rio Grande do Sul são “a vingança da Mãe Terra contra o estado mais comedor de carne do país”. Mas tal aproveitamento da tragédia para avançar na agenda neopagã não conta com um combate efetivo da parte conservadora, que prefere dizer que as mudanças climáticas são, na verdade, fruto de uma coincidência ou de um movimento cíclico e desconhecido, explicável pela simples ignorância humana a respeito das leis naturais.
Esta é efetivamente a agenda “negacionista” dos conservadores, que resgatam a modernidade científica contra a pós-modernidade. Ora, mas este é precisamente o inimigo mais conhecido dos ambientalistas, uma vez que toda a sua ideologia é exatamente um conjunto de argumentos elaborados para derrubar essas mesmas prerrogativas. Mas então por que os conservadores recorrem a essa arma tão inútil? A resposta é complexa, mas pode ser facilmente simplificada numa palavra: medo.
Afinal, qual a dificuldade de se retornar à cosmovisão cristã atacada inicialmente pela modernidade? A dificuldade está na histórica omissão dos conservadores que, no anseio de conciliar-se com a modernidade, incapacitaram-se moralmente para sustentar que as mudanças climáticas são, no fundo, uma resposta do próprio Deus para a imoralidade crescente. Nunca a humanidade viveu um tal grau de imoralidade como agora. Experimente quantificar o número de divorciados vivendo em segunda união, duplas homossexuais, abortos, contracepção e uma enormidade de monstruosidades que a grande maioria das pessoas acostumou-se a ver com naturalidade.
Não seria necessário recorrer a hábitos e costumes de reciclagem de lixo, como fazem os ambientalistas. Bastaria olhar para a destruição dos costumes e as aberrações sexuais que, no último requinte da vanguarda diabólica, já conduziu o mundo moderno aos rituais satânicos públicos, cultos diabólicos muitas vezes expressos em termos eufemisticamente indiferentista. A última etapa da Revolução total está muito bem explícita na atual ideologia russa, que une o gnosticismo guenoniano responsável pela islamização da Europa, com todo o lixo do misticismo neonazista, para seduzir os jovens cansados da abominação pós-moderna. O tradicionalismo das trevas é a alternativa criada pelo demônio para enlaçar conservadores e católicos.
E o que eles estão fazendo em relação a isso? Enquanto satanistas como Dugin seduzem centenas de jovens desorientados pela modernidade em busca de um sentido mais radical para suas vidas, os conservadores oferecem um “deixa disso”, uma resposta sem sal e sem força, repetindo os mesmos erros modernos contra os quais esses jovens estão sendo vacinados. Só que lutarão pelo império gnóstico e não pela Santa Igreja.
Em breve, porém, o “negacionismo do clima” será criminalizado e os conservadores terão novamente que migrar as suas queixas para a censura, defesas da liberdade de expressão etc, pautas bem conhecidas da própria esquerda e que já contam com antídotos bem simples: entre os principais defensores da liberdade de expressão na internet atualmente estão neonazistas e criminosos da internet, que serão facilmente associados aos demais reclamantes. Tudo isso por culpa do medo. O sucessivo retrocesso como estratégia de combate de narrativas. Uma tática sem dúvidas genial, que está levando a história a um caminho extremamente previsível.
A ideia é a de que, se há elementos racionais, científicos, que expliquem ou refutem as teses ambientalistas, eles são preferíveis antes de se entrar em um argumento religioso. A simples vontade de Deus, expressa tantas e tantas vezes na Biblia, se torna o último recurso. Mas será que depois de conciliar-se com o mundo em grau tão elevado haverá coragem disponível para se recorrer a Deus na última hora?
A grande ilusão da modernidade se expressa na tese da informação e do conhecimento como elemento indispensável para um “avanço” ou evolução da humanidade em direção a uma verdade final. É verdade que o próprio Santo Tomás escreveu a Suma Contra os Gentios dirigindo-se aos pressupostos leigos para convence-los. Mas vejamos a enorme diferença: se é necessário caminhar pelas premissas CORRETAS dos hereges e dos ateus para conduzi-los às conclusões corretas, isso não implica em considerar premissas FALSAS como verdadeiras na esperança de transformar a mentira em verdade tendo a mentira como meio.
Essa ideia do conhecimento, iniciado pelos anticristãos enciclopedistas, conduziu-nos à utopia da “era da informação”, já fracassada pelo imenso vácuo de trevas e ignorância que gerou. Desinformação, mentiras, fake news e um sistema inteiro de mídia montado para enganar são os efeitos desse projeto enciclopedico, cujo último suspiro foi a internet.
Ao contrário do que se pensa, a verdade não se encontra afirmando-se tudo o que possa conduzir, potencialmente, a ela. Isso gera a conclusão que estamos vendo à nossa volta, a de que todos os caminhos levam à verdade igualmente. O que nenhum conservador moderno está disposto a admitir é que a Verdade se alcança muito mais facilmente na negação de si mesmo do que na gostosa entrega aos estímulos, na orgia imaginativa sonhada apenas nos porões dos hereges medievais que a modernidade empoderou e a pós-modernidade encastelou no coração do homem moderno.
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