quarta-feira, 26 de junho de 2024

Glenn, estou em paz e espero que também esteja. Você é um gigante do jornalismo internacional e sempre demonstrou educação no trato com os outros. Assim, me chamar de "cego ideológico que não sabe história" foge daquilo que sempre vi em você.





Glenn, estou em paz e espero que também esteja. Você é um gigante do jornalismo internacional e sempre demonstrou educação no trato com os outros. Assim, me chamar de "cego ideológico que não sabe história" foge daquilo que sempre vi em você. De qualquer modo, agradeço por gastar seu precioso tempo respondendo à provocação de um twitteiro cinquentão. Sobre não saber história básica, sabe, vez ou outra, quando escrevo para um jornalista ou para uma autoridade, sempre digo o seguinte: é só uma opinião de bêbado na calçada da esquina. O que quero dizer com isso? Simples: minhas opiniões carecem de informações dos bastidores. Então, tudo que falo é sob a perspectiva de um espectador distante, mas que sofre as consequências das movimentações de homens poderosos ou influentes, como você. Agora, outros jornalistas de peso, como , e personagens do caso como , e , escrevem e escrevem muito bem. Será que não é possível ler toda essa gente, ler seus textos e os dos grandes jornais e tirar minhas próprias conclusões? Tenho certeza de que você concorda. Agora, minhas conclusões são a verdade dos fatos? Acredito que não. Assim como acredito que nenhum dos que citei tem a verdade absoluta e irrefutável dos fatos. Com isso, espero que você tenha alguma vaga noção de que tipo de conservador fez uma provocação a uma provocação que você fez ao jornal. Vamos à história básica: Em 2019, o Intercept Brasil, talvez movido pela ética jornalística, decidiu publicar uma série de reportagens vazadas entre Moro e procuradores. Ora, Glenn, o desafio seria encontrar juízes que não tratam dos processos entre procuradores e advogados. Isso dá agilidade à justiça, que é muito lenta no Brasil. Você sabe disso. Com os vazamentos, qualquer sofista defende o que quiser. Não é mesmo? Veja só, a Constituição de 1988, em seu artigo 5º, estabelece que "são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos". Em 2008, 20 anos depois, o STF decidiu que prova obtida por meio de interceptação telefônica sem autorização judicial era ilícita e, portanto, inadmissível no processo (HC 93.050). Fui telespectador da TV Justiça e lembro de Gilmar Mendes, Lewandowski e toda a turma defenderem que provas produzidas por interceptação telefônica só devem ser admitidas com autorização judicial. Assim era o entendimento: provas ilegais são podres. Mas veio a Vaza Jato e, adivinhe: o entendimento mudou! Validadas pelo Supremo, o que vimos ali? Vimos o cotidiano de quase todos os trabalhadores no Brasil. Conversamos e tratamos dos assuntos de trabalho via WhatsApp. Criamos até grupos para isso. E a turma da Lava Jato fez exatamente isso. Concordância entre procuradores e juiz, discordâncias sobre outros pontos, fofocas, maledicências e etc. Foi dito ali o que se diz em gabinetes. Mas sofistas não se preocupam com a verdade, mas em dar tom de verdade ao que se precisa convencer. O fato é que o trabalho de vocês foi utilizado para destruir a única oportunidade que esse país teve de passar a limpo a sua história. Sinceramente, não acredito que vocês não tinham noção disso e não acredito no puritanismo jornalístico. Havia um propósito para que julgassem correto destruir a maior operação contra corrupção da história do Brasil. Qual o propósito? Não sei. Não suficiente, sabemos que a Vaza Jato foi uma gota diante de um mar de informações que vocês, ignorando o jornalismo puritano que teria motivado a necessidade do vazamento, não quiseram abrir para o público. Contraditório. Mas, o que dizer sobre a PL de anistia aos jornalistas da Vaza Jato feita por Renan Calheiros? "É triste constatar que o aperfeiçoamento das instituições brasileiras é credor da ação de hackers." — Renan Calheiros, 2021. Glenn, vocês provocaram no Renan sentimentos inexplicáveis e, cara, conhecemos o Calheiros. Entre os que seriam agraciados, o controverso Walter Delgatti, Danilo, por crime cometido segundo Código Penal: Art. 154-A e outros. Walter pegou 20 anos de cadeia por invadir celulares de integrantes da Lava Jato. Gustavo Elias dos Santos (12 anos e 9 meses de prisão); Thiago Eliezer Martins Santos (18 anos e 11 meses); Suelen Priscila de Oliveira (6 anos) e Danilo Cristiano Marques (10 anos e 5 meses). Luiz Henrique Molição obteve perdão por delação premiada negociada com a Justiça. Eita turma boa! Mereciam bustos em praça pública. O fato é que além de destruir a operação e trazer os atores antes condenados para a arena política, o vazamento parece ter coincidido com mudanças drásticas de opinião de jornalistas de peso, como Reinaldo Azevedo, por exemplo. Teria alguma relação com o mar de informações retidas pelo Intercept? Tem gente grande dizendo que sim. Por sua vez, Leandro Demori parece ter se dado muito bem. Um salário de R$ 36 mil para apresentar o talk show "Dando a Real com Demori", pela EBC controlada por quem? Por Lula. Glenn, sejamos honestos: é ético aceitar um contrato de um governo que seu trabalho, fruto de crime por terceiros, ajudou a existir? Com mais de mil políticos, autoridades, celebridades e jornalistas chantageados, segundo Paula Schmitt, ficou fácil fazer o que quiser nesse país e é aqui que chegarei ao ponto da minha provocação. Quando a fala sobre uma perigosa jurisprudência para proteger autoridades da imprensa e você, como se nada tivesse a ver com nosso estado de coisas atual, pergunta: "Sério??? Quando isso começou???" — a minha reação foi natural: começou com a Vaza Jato. E reafirmo, com muita tranquilidade: começou com a Vaza Jato. Sendo verdade esse número enorme de chantageados, o que temos no Brasil são marionetes. E daí te pergunto: quem processou Paula? Quem chamou essa menina para um debate? Quem teve a coragem de provar que são falsas as afirmações que ela faz até hoje? Quem está no comando desses pobres coitados? Há um grande chefe? Diante da falta de respostas convincentes a esses questionamentos e considerando que Paula diz a verdade, não é difícil entender a razão da paralisia do Estado diante de prisões em massa, inquéritos infinitos, da censura autorizada com a benção da senhora do 'cala boca já morreu', das mudanças de jurisprudências conforme a ocasião e toda essa coisa estranha e bizarra que estamos vendo e até nos acostumando. Se temos um Xandão, isso só parece ser possível pelo silêncio de muitos. Tivesse liberado todo o conteúdo para análise dos seus colegas jornalistas, eu não teria qualquer crítica a fazer ao Intercept. Conheço a função sagrada do jornalismo. Mas, diante da seletividade, não há sacralidade, há vulgaridade. Assim, diante do exposto, espero que a minha visão distante dos fatos tenha alguma verdade e alguma base histórica. Lembre-se: sou um bêbado na calçada da esquina. Um grande abraço para você, felicidade e muita saúde para os meninos.
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