Mora em Limerick, Irlanda (2010–presente)1 ano
Algo em torno de 3,287,263 km², um pouco maior que a Argentina e menos da metade do tamanho do Brasil, porém tem uma população de 1,393 bilhão, enquanto o Brasil tem "apenas" 214 milhões. Índia e Brasil são respectivamente o 7° e 5° maiores países do mundo em área.
Densidade
468,7 hab./km²
BRASIL
Natalidade
QUINTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2019
A Índia é muito menos violenta do que o Brasil
Maurício Andrés Ribeiro
Ao se caminhar nas cidades indianas tem-se maior sensação de segurança do que ao circular nas cidades brasileiras. As estatísticas de criminalidade e segurança confirmam em números essa percepção. A Índia é muito menos violenta do que o Brasil.
A Índia tem mais de 1 bilhão e trezentos milhões de habitantes, quase sete vezes mais do que a população brasileira. Os índices de homicídios são nove vezes menores na Índia do que no Brasil. O Brasil tem 55.574 homicídios por ano e 26,74 mortes por 100 mil habitantes; na Índia, há 3,21 homicídios por 100 mil habitantes, com 41.623 mortes.
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| Estupros e agressões sexuais por 100 mil pessoas. No Brasil o índice é alto e crescente; na Índia é baixo e estável. |
| Os números absolutos de estupros são muito menores na Índia ( 33.707 casos em 2013) do que no Brasil (49.929 casos em 2013). |
No Brasil o índice de estupros e agressões sexuais tem aumentado, enquanto na Índia permanece baixo e estável. Tanto no Brasil como na Índia grande parte dos estupros ocorrem no ambiente doméstico, privado. Quando ocorrem estupros coletivos e públicos na Índia há reação social vigorosa contra a violência com as mulheres.
| Os índices de estupro por 100.000 habitantes são quatro vezes mais baixos na Índia (5.7 por 100.000 habitantes) do que no Brasil (24.44 por 100 mil habitantes em 2013). |
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| Protesto em reação à violência contra mulheres. |
A população carcerária na Índia é menor do que a brasileira tanto em números absolutos como em percentual da população total. (População carcerária na Índia – 33 por 100 mil habitantes - 418.536 encarcerados; população carcerária no Brasil –- 342 por 100mil – 607.731 presos)
O número de habitantes por policial é muito maior na Índia do que no Brasil. ( No Brasil há 358 habitantes por policial; na Índia há941). Isso resulta na menor necessidade de investir em presídios, prisões, contratação de policiais, custos com a segurança no orçamento e em melhor qualidade de vida, e sensação de segurança. A Índia mantem um nivel de criminalidade bem mais baixo, com menor investimento em aparatos de segurança.
Em praticamente todos os indicadores a violência na Índia é menor do que no Brasil, exceto para a ocorrência de suicídios. Diferenças no modo de lidar com a vergonha, a honra e a dignidade, bem como os impactos do uso de pesticidas na agricultura podem explicar essa maior incidência de suicídios na Índia.
A menor criminalidade e violência na Índia não se deve a investimentos em presídios, penitenciárias, forças policiais ou militares, ou ao encarceramento da população. Tampouco se deve apenas à redução de desigualdades que ocorreu depois da Independência em 1947.
Não são os freios e aparatos externos que reduzem a violência, mas a autolimitação interna, cultural, psicológica, espiritual a se cometer crimes e violências. Na Índia a autolimitação vem de dentro para fora, do senso de consciência e responsabilidade. Isso é produto de milhares de anos de aprendizado de convivência social que foi transmitido de uma geração para outra. Mais consciência significa menos violência e mais segurança. Uma consciência mais evoluída induz mudanças de atitudes na relação com os outros. Várias crenças contribuem para tal resultado. Assim, por exemplo, existe a crença de que toda ação produz consequências e de que aquele que pratica boas ações é recompensado e aquele que pratica mas ações é punido, seja nesta encarnação presente ou em outras vidas. Tal crença é um freio e uma autolimitação para a prática de más ações pois, pela lei do carma, a lei da ação e reação, quem errou paga, não há como escapar. Outra crença, de que Deus está dentro de cada um, como uma centelha divina, ajuda a cultivar esse lado positivo e inspirador do ser humano e não apenas o seu lado animal e voltado para conquistas materiais.
Do mesmo modo, é dada importância ao grupo e à comunidade que aprova ou reprova comportamentos e atitudes e isso tem valor, induz os indivíduos a se autolimitarem ou a pensarem duas vezes antes de cometer um crime ou uma violência.
Os fatores estruturais de caráter cultural e espiritual são os que mais ajudam a explicar essa baixa incidência de violência e criminalidade na Índia. Alinhamos entre os fatores que levam à redução da violência:
1. Ambiente de liberdade de expressão democrática, que alivia tensões e as canaliza construtivamente.
2. Valorização das estruturas familiares - Na ausência de um estado provedor de bem estar social, a família é a instituição que oferece colchão de proteção, de seguridade e assistência. Em famílias estendidas há relações de respeito e confiança nos mais velhos. É praticado o casamento arranjado, e muitos jovens colocam nas mãos dos pais conduzir essa decisão crucial para suas vidas. A família é a mais resiliente e duradoura instituição do país, cultivada com senso de lealdade para com os deveres e valores do grupo comunitário ou casta ao qual se pertence.
3. Há o efeito benéfico de valores culturais baseados em princípios filosóficos tais como a ahimsa (não-violência), praticada na luta politica por Gandhi e na vida cotidiana; crença no karma (lei que rege a repercussão de nossas ações positivas e negativas em nosso próprio destino); e aparigraha (desprendimento em relação às coisas materiais). A aplicação do princípio da tolerância, a facilidade de conviver com a diferença e respeito à diversidade. A produção cultural, na mídia e no cinema, é fortemente relacionada com a transmissão da cultura indiana.
4. Ainda é forte a visão de mundo espiritualizada, que crê que Deus está dentro de cada um. Ao invés de cada pessoa se identificar com o corpo físico, identifica-se com o espírito único que está dentro de cada um.
No campo da paz e da não-violência é proveitoso para os brasileiros conhecer a experiência indiana e aprender com ela.










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