sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Romeo Tuma ASSASSINATO DE REPUTAÇÕES UM CRIME DE ESTADO





Tuma Jr. lança livro que expõe a fábrica de dossiês petistas contra adversários

Em 'Assassinato de Reputações - Um Crime de Estado', ex-secretário nacional de Justiça revela como atores obscuros usam o governo para proteger os amigos e triturar adversários políticos

Por Da Redação
14 dez 2013, 17h34
APARELHO CLANDESTINO - Romeu Tuma Junior: "Recebi ordens para produzir e esquentar dossiês contra uma lista inteira de adversários do governo"
APARELHO CLANDESTINO - Romeu Tuma Junior:  (Paulo Vitale/VEJA)

O ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Junior lançou nesta sexta-feira o livro Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado (Editora Top Books, R$ 69,90), no qual revela como foi articulada no governo federal uma máquina para montar dossiês contra adversários. Pela natureza de suas atividades à frente da Secretaria Nacional de Justiça, de 2007 a 2010, o delegado Tuma ouviu confidências e teve contato com alguns dos segredos mais bem guardados do país, mas também experimentou um outro lado do poder – no qual, sem escrúpulos, atores obscuros usam o governo para proteger os amigos e triturar aqueles que são considerados inimigos.

O conteúdo do livro foi antecipado na edição de VEJA da semana passada, quando foi relatado como Tuma Junior recebeu ordens enquanto esteve no cargo para “produzir e esquentar” dossiês contra adversários do governo Lula. Em 2010, durante o segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, ele foi demitido do cargo de secretário por suspeitas de envolvimento com a chamada máfia chinesa.

Em uma das revelações feitas no livro, o delegado afirma que Lula foi informante da ditadura. Segundo escreveu Tuma Junior, o então líder sindical repassava dados sobre greves sob o codinome de “Barba” ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde atuava seu pai, Romeu Tuma. O petista ficou preso em 1980 por 30 dias no Dops, após greves no ABC. Ao dar informações ao governo militar, Lula garantiu “privilégios” na prisão. O livro do delegado lista como privilégios noites de sono em um sofá do Dops e uma visita à mãe, dona Lindu, que estava gravemente doente.

Procurado, o Instituto Lula informou na sexta-feira que o ex-presidente não iria fazer comentários.

Reputações – Boa parte do livro é dedicada ao que o delegado chama de “assassinato de reputações”. A obra afirma que o então ministro da Justiça e hoje governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, o assediava para que deixasse vazar documentos que prejudicariam adversários. Ele cita o caso do cartel que começou a ser investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal em 2008.

Segundo Tuma Junior, “começou a sair na imprensa que vinha informação da Alstom envolvendo os tucanos”. “Um dia chegou o documento da Suíça, em nome da secretaria. Falei para não mandarem para o Ministério Público ainda: ‘Lacrem o envelope, tragam para mim e avisemos ao ministro, porque chegou a bomba dos documentos da Alstom'”, escreve. As informações tinham como alvo principal Robson Marinho, ex-chefe da Casa Civil do governo tucano de Mário Covas. Eram relatórios enviados voluntariamente pelo país europeu. O ex-secretário de Justiça relata que os documentos, mesmo compartilhados por poucas pessoas, acabaram vazando.

Ele também critica a ação de parte dos promotores paulistas. “É importante registrar: no Ministério Público de São Paulo existe uma ala que sempre protegeu tucanos de alta plumagem”.

Tuma Júnior também acusa outro ex-ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, de pedir que o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), fosse investigado após dizer que Lula sabia do mensalão. A ordem ao ministro, diz Tuma Júnior, teria sido dada por Gilberto Carvalho, braço direito do ex-presidente. Carvalho afirma que vai processar o delegado.

O ex-secretário nacional de Justiça atribui a sua demissão do cargo, em 2010, a uma “armação” do governo Lula. Em 5 de maio de 2010, reportagens revelaram que a Polícia Federal tinha interceptado gravações e e-mails ligando-o a Li Kwok Kwen, o Paulo Li, acusado de ser um dos chefes da máfia chinesa em São Paulo.

A quadrilha era suspeita de ser especializada em contrabando de telefones celulares e venda de vistos permanentes.

“A pergunta que faço é: o que era mais importante para o Estadão noticiar? A foto do ‘chefe da máfia’, um chinês, com o secretário Nacional de Justiça na China, ou entregando um presente para o presidente Lula (…)? Eu respondo: é óbvio que, se não fosse armação do governo com o jornal, se o indivíduo fosse mesmo um mafioso, o Lula estaria na capa do Estadão e não eu”, escreve, referindo-se ao fato de o então suspeito de integrar a máfia chinesa aparecer em várias fotos ao lado de autoridades da República.

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