O cisne negro é um conceito criado pelo filósofo Nassim Taleb. Segundo ele, esse evento pode ser considerado um outlier, ou em português, “um ponto fora da curva”.
Isso significa que o evento do cisne negro pode ser considerado uma crise de extrema raridade e que provoca um impacto violento sobre o qual faz as pessoas tenderem a olhar em retrospecto.
O que é A Lógica do Cisne Negro?
A teoria do Cisne Negro se trata de um evento adverso e que vai contra aquilo que é considerado seguro, ou normal.
Eventos como crises globais, atentados terroristas em grande escala como o de 11 de setembro, a ascensão do Google, são exemplos de cisnes negros que são praticamente impossíveis de serem previstos.
No entanto, muitas pessoas, em retrospecto, constroem explicações sobre as quais fizeram o acontecimento desses fatos.
Quem é Nassim Taleb?
Nassim Taleb é economista e professor emérito na Universidade de Nova York. Taleb é de origem libanesa, nascido em 1960.
Ele é conhecido por seu trabalho em problemas de aleatoriedade, probabilidade e incerteza, principalmente no mercado financeiro.
Uma das grandes contribuições de Taleb ao mundo das finanças foi o seu livro A Logica do Cisne Negro.
Mas além do best seller, ainda houve outras obras de tamanha grandeza, como é o caso do livro Antifrágil e arriscando a própria pele.
O cerne do pensamento de Nassim Taleb se concentra na crítica aos métodos de gerenciamento de riscos utilizados pelo mercado financeiro.
Principais conceitos do livro A Lógica do Cisne Negro
Segundo Taleb, a natureza humana nunca foi preparada para assimilar cisnes negros.
A fim de que um acontecimento, para nós, faça sentido, tendemos a “forçar uma ligação lógica”, como ele diz, para amarrar fatos, através de “flechas de relacionamento” – pois é mais fácil, para nós, lembrarmo-nos de uma sequência de eventos, logicamente encadeados, do que armazenar ocorrências aparentemente díspares.
Ainda segundo Taleb, o ser humano, normalmente, é sedento por regras, e tem uma preferência por histórias compactas e que fazem alguma lógica depois de ocorridas.
O perigo dessa visão é que a simplificação foge totalmente da realidade complexa entre as relações interpessoais.
Mediocristão e extremistão
Novamente de acordo com Taleb, outra conceituação de cisne negro é quando esse evento foge a todas as simplificações impostas pelas pessoas e pelos agentes de mercado.
Num mundo cada vez mais globalizado, é muito difícil para qualquer ser humano prever um grande acontecimento, que muitas vezes depende de milhares ou até mesmo milhões de variáveis.
Para se adaptar à vida moderna, Taleb recomenda a todas as pessoas que façam o que ele denomina por prática da incerteza.
Nesse sentido, ele divide o mundo entre o Mediocristão e o Extremistão. A maioria das pessoas prefere viver no mediocristão, pois nela é onde se encontra o óbvio, o rotineiro e, sobretudo, o consenso.
Já do outro lado, uma minoria prefere viver no extremistão, onde reina o imprevisível, o diferente e o singular. Agora, tente adivinhar em qual dos dois “mundos” se está melhor equipado para encarar um cisne negro?
Acontece que viver no extremistão requer uma resistência pessoal e intelectual, evidentemente, fora do comum.
É nesse terreno onde podemos encontrar os grandes investidores e empresários de sucesso e, para eles, o sucesso não está no excesso de planejamento, mas sim num bom faro por oportunidades e num pensamento sempre independente do que é consensual.
Exemplo de cisne negro
A crise de 2008 (Crise do Subprime) foi um evento global, do qual pegou países inteiros desprevenidos, onde instituições importantes como Bear Sterns e Lehman Brothers quebraram.
Embora observando em retrospecto que os calotes e os derivativos estavam aumentando gradativamente desde 2006, a totalidade dos países desenvolvidos não esperavam que esse evento desencadeasse uma crise de proporções mundiais, muito embora, alguns muito poucos investidores estivessem se preparado para eventos desse tipo (totalmente inesperados) em suas carteiras e fundos de investimentos, fazendo caixa, ou apostando contra os índices de mercado.
Outro exemplo é o surgimento de uma pandemia que podem ter efeitos negativos. No início de 2020 não havia expectativas sobre uma pandemia que poderia assolar o mundo todo. Esse evento gerou impactos econômicos e financeiros negativos sobre o mundo.
Uma série de eventos ocorre e aquilo que era normal, ou aguardado acaba não ocorrendo e o inverso pouco provável, ou quase impossível de acontecer, ocorre.
Outro exemplo foi a empresa Long Term Capital Management, formada por vencedores do prêmio Nobel e faliu mesmo assim. Como solução, Taleb defende o que ele denomina uma sociedade, cisne negro robusto.
Isso significa uma sociedade que pode suportar eventos difíceis de serem previstos. O foco é estar preparado para qualquer evento que aconteça, e não tentar prever qual será o próximo cisne negro, que, por definição, é imprevisível.
Vale a pena ler o livro A Lógica do Cisne Negro?
Sim, o livro de Taleb traz muitos exemplos e comparações sobre como o Cisne Negro está entre nós e como tal evento pode influencia a vida de qualquer um.
Considerando que por vezes o mercado financeiro é uma espécie de Cisne Negro constante, havendo surpresas e mais surpresas periodicamente, o livro a logica do Cisne Negro se torna uma leitura interessante.
Conforme mencionado, eventos que tendem a fugir da normalidade e serem pontos da curva são, de acordo com Nassim Taleb, considerados como cisne negro e, por conta disso, quando acontecem tendem a gerar grandes reflexões, e até mesmo mudanças significativas, no que até então podia ser considerado um consenso para a maioria das pessoas.
Você compreendeu a logica do Cisne Negro? Não? Então deixe uma pergunta ao final.
Cisne Negro (Black Swan, 2010) de Darren Aronofsky
Já que estréia hoje, trago o texto de novo pra quem quiser lê-lo só depois de assistir o filme. Preciso encontrar um cinema o mais rápido possível. Essa experiência eu não quero perder por nada. É um filme imperdível. Refiz o texto com alguns detalhes a mais.
A mais fantástica experiência emocional e sensorial do ano, Cisne Negro vai literalmente evocar qualquer emoção. E já aviso logo que o filme possui aspectos que irão conta o gosto de muitos.
Aronofsky simplesmente criou mais uma obra-prima. O filme caminha para o ápice da experiência avassalarora e assombrosa daqueles que navega entre ser emocionante e terrível ao mesmo tempo. Olha que eu nunca pensei que pudesse ser extraida uma história tão interessante e emocionante em um filme de Balé. Mas corrigindo-me, Cisne Negro não é um filme sobre balé, e o esporte é apenas um pano de fundo para a experiência angustiante e tenebrosa proporcionada pelo filme.
A começar do lugar de onde foi tirada a história. O diretor, também roterista junto com Mark Heyman, trás o seu mundo cru, ferroz e real do Conto de Fadas alemão, O Lago dos Cisnes. Na trama, o autor da peça (Vincent Cassel) quer trazê-la novamente ao palco, mas desta vez numa forma mais ferroz, agressiva e sensual. É necessário todo o entendimento da fábula para que possamos entender a decadência da personagem: Uma garota virgem, pura e doce, está presa no corpo de um cisne, o Cisne Branco; ela deseja a liberdade, mas apenas o amor verdadeiro poderá desfazer o feitiço. Seu desejo é quase atendido na forma de um príncipe, mas antes que eles possam consumar o amor, a devassa irmã gêmea, o Cisne Negro, o envolve e seduz o príncipe. Devastado, o Cisne Branco se joga de um penhasco, morre e na morte, encontra a liberdade.
Essa é a base de todo o terror psicológico do filme. As fantasias, o surrealismo e as visões não são gratuitas e tudo é sincronizado pela fábula. Nina (Natalie Portman) é a escolhida para viver ambos os Cisnes, o papel que ela tanto almejava. Começamos então a acompanhar uma trajetória que no início era apenas de superação mas que ao longo do percurso consegue fazer qualquer um segurar a respiração, nos levando numa viagem ao inferno junto com a personagem. Aronofsky utilizou do que aprendeu com suas obras-primas anteriores com o inabalável O Lutador e o horror cerebral e incrivelmente perturbador Réquiem para um Sonho, e criou um filme que você simplesmente não será capaz de desgrudar os olhos.
Com uma montagem beirando a perfeição, que nos prepara desde o início para as arrebatadoras sequências finais e Diga-se de passagem, são as cenas mais angustiantes filmadas pelo diretor desde Réquiem. O trabalho de direção é digno de todos esses elogios que vem recebendo durante a temporada. Aronofsky simplesmente consegue nos causar sensações inexplicáveis através de sua câmera. Seja pelos seus closers perfeitos, ou pelos giros em volta de Nina. Ele faz questão de focar todos os flagelos da personagem; até mesmo provocar angústia naquelas cenas de ensaio onde os pés de Nina são focado. e este se torna o filme mais mindfuck do diretor desde Pi. A tensão aqui não é provocada com sustos, mas com situações assombrosas, que chega até mesmo nos pregar algumas peças.
Cisne Negro é a perfeita junção de coisas positivas. Aronofsky consegue de forma cruel e incrivelmente bem manejada, manipular nossas emoções como poucos. Nina é aquela típica pessoa que é capaz de tudo para chegar a perfeição e a história do Lago dos Cisnes caiu como uma luva para os planejamentos do diretor. E não pense que as coisas acontecem gratuitamente ou de forma esquemática. Se entrarmos fundo na história veremos que tudo acontece gradativamente. Nina no começo é aquela jovem santa, ou seja, um Cisne Branco, mas aos poucos, quando o dia da apresentação se aproxima, o Cisne Negro começa a se manifestar e ela já fica mais maliciosa, mais agressiva, e com mais sede da perfeição. Tudo é baseado no Conto dos Cisnes, e o diretor encaixa cada situação, cada momento e cada dificuldade de Nina dentro desta fábula, passando assim, sua mensagem. Não lembro de filme melhor que mostrasse o quão ruim podem ser as consequências da busca pela perfeição. Só mesmo Aronofsky.
Com um elenco de primeira, onde cada um tem seu espaço, incluindo Vincent Cassel e Barbara Hershey (a mãe de Nina). Mas a surpresa que tive foi com Winona Ryder, que apresentou um das cenas mais marcantes do filme. Mila Kunis também sensacional e sua presença no filme é marcante. Principalmente na tão falada cena de amor entre sua personagem e Nina. Maravilhosa cena, por sinal. Misturando prazer e tensão ao mesmo tempo. Sem contar a espetacular Trilha Sonora de Clint Mensell que deixa mais uma marca.
E agora, deixo a parte mais assombrosa para o final: A Atuação de Natalie Portman. O filme é completamente dela. Ela brilha como nunca e interpreta aqui o grande personagem de sua carreira. Chuta bundas de todas as possíveis concorrentes do Oscar. Muito difícil, mas muito mesmo, uma atriz encarnar um personagem como ela fez aqui. Ela traduz perfeitamente o que é a experiência física, emocional e sensorial. Suas expressões de sofrimento, chega a doer até em nós. Nina enfrenta todo tipo de dificuldade nos treinos. Nós vivemos tudo isso com ela. Ela consegue nos passar seu medo e insegurança tão perfeitamente que suas alucinações tornam nossa experiência tão angustiante quanto a dela. Além de ter que interpretar os dois Cisnes, o Negro e o Branco, a sensual e a meiga, a cruel e a piedosa, a atirada e a tímida, ela transmite um mudança de caráter espetacular.
No fim, resta aplaudir assim como todos os espectadores do grande espetáculo, uma obra deliciosamente delirante, recheada de cenas primorosas, muito mais assustadoras que muitos filmes de terror, inclindo a seqüência final não menos que espetacular. De maneira arrepiante e diferente, Aronofsky mostra-nos que, por vezes, na tentativa de conseguir o que queremos, corremos o risco de perder uma parte de nós que pode não ser capaz de voltar, e não percebemos o quão desesperadamente precisamos dela. Ele sempre fará o público pensar sobre o que está sendo mostrado e o que está realmente acontecendo.
Assistir os filmes do Aronofsky é sempre uma experiência memorável, e dificilmente esquecerei do dia em que assisti Cisne Negro. Nos créditos finais, é como soltar a respiração e tomar o fôlego novamente.
It was Perfect!
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