terça-feira, 16 de janeiro de 2024

O Inferno está cheio ou vazio? As assustadoras revelações de Santa Francisca Romana sobre o Inferno




“Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque vos digo que muitos procurarão entrar, e não conseguirão” (Lc 13, 22-30)“Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque vos digo que muitos procurarão entrar, e não conseguirão” (Lc 13, 22-30)

“Portanto, são poucos os que se salvam, em comparação com os muitos que perecem”. (Santo Agostinho)

O tema teológico do inferno frequentemente aparece na opinião pública, mas a forma como se lida com ele depende da circunstância e do interesse neste campo de guerra de narrativas. Um exemplo disso foi durante as últimas eleições, quando sites como o UOL buscaram uma doutrina radicalmente conservadora quando o candidato “padre” Kelmon disse que “Lula iria para o Inferno” e que ele, como sacerdote, estaria livre disso. Para os especialistas do UOL, um padre ou qualquer um de nós pode ir para o inferno. Só faltou um especialista que atestasse a impossibilidade de Lula ir para o Inferno.

Mas como a oportunidade faz o ladrão, em tempos de comentários sobre o suposto “sonho” de um “Inferno vazio”, mencionado pelo Papa Francisco, muitos são levados a formidáveis demonstrações de indignação, embora não apliquem sua zelosa crença na condenação eterna ao despejarem toda sorte de desaforos contra o Santo Padre e sobre todo o clero. O temor parece ser o de que sejam condenados pela opinião de seus pares da direita, mas jamais da condenação eterna real e concreta. Mas como compreender a fala do Papa?

Primeiro, é importante ressaltar que Francisco alertou não ser um dogma de fé, talvez devido a uma assistência especialíssima do Espírito Santo, propriedade do Pontífice. Pois devemos concordar que os tempos de confusão nos quais vivemos já vão altos demais para uma brincadeira como esta.

Ocorre que a ideia de que a salvação seria algo muito fácil e a condenação, extremamente rara e difícil de se “alcançar”, é um dos itens elencados por São Pio X como parte da ideologia do modernismo. Ao mesmo tempo, a tendência de parte essencial do clero conciliar na aposta na filosofia personalista como chave de uma nova evangelização levou a interpretações subjetivistas sobre o destino eterno das almas.

O personalismo foi uma aposta para a expansão e manutenção da relevância do discurso católico no mundo moderno, diante de uma cada vez mais incompreendida teologia doutrinária tradicional. Na verdade, muitos teólogos modernos até afirmam que o inferno não existe, o que outros, por receio de irem contra um dogma, dizem que ele estaria vazio.

A ideia por trás disso é que, se Deus é misericórdia, então isso implicaria diretamente na ausência ou crescente limitação do tamanho do inferno, dada a natureza expansiva da misericórdia divina. Acreditando-se muito misericordiosos, porém, esses teólogos apenas manifestam sua falta imensa de caridade para com o próximo, esquecendo-se (ou fingindo esquecer-se), de que o tamanho do inferno é diretamente proporcional à misericórdia de Deus. Afinal, o que poderia ser mais torturante para um condenado do que a presença de Deus ou a convivência com Ele nos céus, a recordar a todo instante da sua iniquidade em vida? Portanto, quanto maior é a negação de Deus, maior o tamanho do Inferno e a quantidade de almas lá depositadas, justamente por misericórdia. Mas sobre a inexistência do inferno, em sua tese mais radical, não foi justamente a misericórdia de Deus que nos fez livres para amá-lo? Como poderíamos ser livres se não existisse a possibilidade, assim como a da convivência eterna com Ele, a separação eterna?

Mas qual é o efeito (para não dizer da intenção) de se minimizar as penas do Inferno, essa palavra que se tornou tão fora de moda na pastoral da Igreja de hoje? O efeito é a presunção de salvação, pecado grave ao qual a alma vai aos poucos se apartando de Deus e da capacidade de reconhecê-Lo.

Assim como São João Paulo II e Bento XVI, o cardeal Georges Pell é mais um da turma dos ex-modernistas arrependidos, que assistiu assustado à devastadora influência do otimismo clerical da sua geração.

“Como tantos outros, eu acreditava que (quase) todas as pessoas seriam salvas. Mas fui obrigado a repensar minha posição. Retornei aos ensinamentos de Jesus no Novo Testamento e descobri que eles não apresentavam garantias suficientes para meu otimismo”, escreveu em um artigo republicado recentemente no site do padre Paulo Ricardo de Azevedo.

O cardeal, próximo de Bento XVI, reconhece que a ala conservadora do Concílio estava certa. “Infeliz e inesperadamente, após uma série de reviravoltas brutais em toda a Igreja, provou-se que os ‘profetas da desgraça’, explicitamente rejeitados no Concílio, estavam certos”, escreveu.

Dito isto, creio ser de utilidade pública um trecho do livro Tratado do Inferno, da italiana Santa Francisca Romana, retirado do site Totus Tuus Mariae.

Na vida dessa mística italiana, as visões ocupam um lugar saliente. A propósito do que a Santa viu sobre o inferno, o célebre escritor católico francês Ernest Hello apresenta um apanhado sucinto e sugestivo em sua obra “Physionomie des Saints”, o qual exporemos abaixo.

Inúmeros suplícios, tão variados quanto os crimes, foram mostrados à Santa em detalhes. Por exemplo, viu ela o ouro e a prata serem derretidos e derramados na boca dos avarentos. A hierarquia dos demônios, suas funções, seus tormentos, os diversos crimes aos quais presidem, foram-lhe apresentados. Viu Lúcifer, chefe e general dos orgulhosos, rei de todos os demônios e precitos, rei muito mais infeliz do que os próprios súditos.
O inferno é dividido em três partes: o superior, o do meio e o inferior. Lúcifer encontra-se no fundo do inferno inferior. A Lúcifer, chefe universal, subordinam-se três outros demônios, os quais exercem império sobre os demais:
1) Asmodeu, que preside os pecados da carne, e era antes da queda um Querubim;
2) Mamon, que preside os pecados da avareza, era um Trono. O dinheiro fornece, ele sozinho, uma das três grandes categorias.
3) Belzebu preside aos pecados de idolatria. Tudo que tem algo a ver com magia, espiritismo, é inspirado por Belzebu. Ele é, de um modo especial, o príncipe das trevas, e mediante as trevas ele é atormentado e atormenta suas vítimas.
Uma parte dos demônios permanece no inferno, a outra no ar, e uma terceira atua entre os homens, procurando desviá-los do certo caminho. Os que ficam no inferno dão ordens e enviam seus embaixadores; os que residem no ar agem fisicamente sobre as mudanças atmosféricas e telúricas, lançando por toda parte suas más influências, empestando o ar, física e moralmente. Seu objetivo é debilitar a alma.
Quando os demônios encarregados da Terra veem uma alma enfraquecida pelos demônios do ar, eles a atacam no seu ponto fraco, para vencê-la mais facilmente. É o momento em que a alma não confia na Providência. Essa falta de confiança, inspirada pelos demônios do ar, prepara a alma para a queda solicitada pelos demônios da Terra.
Assim, enfraquecidos pela desconfiança, os demônios inspiram na alma o orgulho, em que ela cai tanto mais facilmente quanto mais fraca esta. Quando o orgulho aumentou sua fraqueza, vêm os demônios da carne que atacam seu espírito. Quando os demônios da carne aumentam mais ainda a fraqueza da alma, vêm os demônios que insuflam os crimes do dinheiro. E quando estes diminuíram ainda mais os recursos de sua resistência, chegam os demônios da idolatria, os quais completam e concluem o que os outros começaram.
Todos se articulam para o mal, sendo esta a lei da queda: todo pecado cometido, e do qual a alma não se arrependeu, prepara-a para outro pecado. Assim, a idolatria, a magia, o espiritismo esperam no fundo do abismo aqueles que foram escorregando de precipício em precipício.
Todas as coisas da hierarquia celeste são parodiadas na hierarquia infernal. Nenhum demônio pode tentar uma alma sem a permissão de Lúcifer.
Os demônios que estão no inferno sofrem a pena do fogo. Os que estão no ar ou na terra não sofrem atualmente tais penas, mas padecem outros suplícios terríveis, e particularmente a visão do bem que praticam os santos. O homem que faz o bem inflige aos demônios um tormento indescritível. Quando Santa Francisca era tentada, sabia, pela natureza e violência da tentação, de que altura tinha caído o anjo tentador e a que hierarquia pertencera.
Quando uma alma cai no inferno, seu demônio tentador é felicitado pelos demais. Mas quando a alma se salva, o demônio tentador recebe insulto dos outros, que o levam para Lúcifer e este lhe inflige um castigo a mais, além das torturas que já padece. Este demônio entra às vezes no corpo de animais ou homens. Ele finge ser a alma de um morto.
Quando um demônio consegue perder certa alma, após a condenação desta transforma-se em tentador de outro homem, mas torna-se mais hábil do que foi a primeira vez. Aproveita-se da experiência que a vitória lhe deu, tornando-se mais forte para perder o homem. Santa Francisca observava um demônio em cima de alguém que estivesse em estado de pecado mortal. Confessado o pecado, via ela o mesmo demônio ao lado da pessoa. Após uma excelente confissão, o anjo mau ficava enfraquecido e a tentação não tinha mais o mesmo grau de energia.
Ao ser pronunciado santamente o nome de Jesus, Santa Francisca via os demônios do ar, da terra e do inferno inclinarem-se com sofrimentos espantosos, tanto maiores quanto mais santamente o nome de Jesus fora pronunciado.
Se o nome de Deus é pronunciado em meio a blasfêmias, os demônios ainda assim são obrigados a se inclinar, mas um certo prazer é misturado à dor causada pela homenagem que são obrigados a render.
Se o nome de Deus é blasfemado por um homem, os anjos do céu inclinam-se também, testemunhando um respeito imenso. Assim, os lábios humanos, que se movem tão facilmente e pronunciam tão levianamente o nome terrível, produzem em todos os mundos efeitos extraordinários e ecos, dos quais o homem não é capaz de compreender nem a intensidade nem a grandeza..

Autor

  • Cristian Derosa

    Jornalista, mestre em Fundamentos do Jornalismo (UFSC), escritor e autor de 4 livros sobre comunicação social e jornalismo. Co-fundador e editor do site Estudos Nacionais desde 2016.

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