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domingo, 17 de março de 2019
Hoje domingo dia 17/03/2019 é dia de jejum Ekadasi ou Amalaki Ekadasi
O rei Mandhata certa vez disse para Vasistha muni:
-Ó grande sábio, bondosamente seja misericordioso comigo e descreva o jejum sagrado que irá me beneficiar eternamente.
Vasistha muni respondeu:
-Ó rei, por favor ouça enquanto lhe descrevo o melhor de todos os dias de jejum, Amalaki Ekadasi. Aquele que fielmente observa o jejum neste Ekadasi, alcança muita riqueza, livra-se dos efeitos de todos os tipos de pecados e obtém a liberação. Jejuar neste Ekadasi, é mais purificante do que doar mil vacas em caridade a um brahmanaqualificado. Portanto, por favor me ouça atenciosamente, enquanto lhe descrevo a história de um caçador, que embora se ocupasse diariamente em matar animais inocentes para sua subsistência, obteve a liberação observando o jejum noAmalaki Ekadasi, e seguindo as regras e regulações prescritas de adoração.
Havia uma vez um reino chamado Vaidisa, onde todos os brahmanas, ksatriyas, vaisyas e sudras estavam igualmente capacitados com o conhecimento védico, grande força corporéa e inteligência apurada. Ó leão entre os reis, em todo reino havia vibrações de sons védicos, nenhuma pessoa sequer era ateísta e ninguém era pecador. O governador deste reino era o rei Pasabinduka, um membro da dinastia soma, a lua. Ele também era conhecido como Citraratha, e era muito religioso e veraz. Está dito que o rei Citraratha, tinha a força de dez mil elefantes, que ele era muito rico e conhecia as seis ramificações do conhecimento védico (nota 1) perfeitamente.
Durante o reinado de maharaja Citraratha, nem sequer uma pessoa em seu reino, tentava se desviar do seudharma (dever ocupacional). Assim, perfeitamente ocupados em seu próprio dharma, estavam todos os brahmanas,ksatriyas, vaishyas e sudras. Nem miséria nem pobreza eram vistas neste reinado, e não havia secas nem enchentes. As pessoas prestavam serviço amoroso à Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Vishnu, tal como fazia o rei, o qual também prestava serviço especial ao senhor Shiva. Além disso, duas vezes por mês, todos jejuavam no Ekadasi.
Desta maneira, ó melhor dos reis, os habitantes de Vaidisa viviam muitos anos em grande felicidade e prosperidade. Abandonando todas variedades de religião materialista, eles se dedicavam completamente ao serviço amoroso ao Senhor Supremo Hari.
Uma vez, no mês de Phalguna, chegou o santo jejum do Amalaki Ekadasi, que estava conectado com oDvadasi, portanto Maha Dvadasi. O rei Citraratha realizou que este jejum em particular, iria conceder um grande benefício especial. Assim, ele e todos os habitantes de Vaidisa, observaram este Ekadasi sagrado mui estritamente, seguindo cuidadosamente todas as regras e regulações pertinentes.
Após banharem-se em um rio, o rei e todos os seus súditos foram a um templo do Senhor Vishnu, onde havia uma árvore Amalaki. Primeiramente, o rei e seus principais sacerdotes ofereceram a árvore um pote com água, e também um fino dossel, bem como ouro, diamantes, rubis, pérolas, safiras e incenso aromático. Então eles invocaram e adoraram o Senhor Parasurama com essas orações:
-Ó Senhor Parasurama! Ó filho de Renuka! Ó ser totalmente satisfeito! Ó libertador dos mundos! Bondosamente venha até esta santa árvore e aceite nossas humildes reverências.
Então eles oraram para a árvore Amalaki:
-Ó Amalaki! Ó cria do senhor Brahma! Você pode destruir todos os tipos de reações pecaminosas. Por favoraceite nossas respeitosas reverências e estes humildes presentes. Ó Amalaki! Você é realmente a forma do brahmam, e você certa vez foi adorada pelo Senhor Ramachandra em pessoa. Quem quer que lhe circungire, livra-se imediatamente de todos os pecados.
Após oferecer essas excelentes orações, o rei Citraratha e seus súditos, permaneceram despertos por toda noite, orando e adorando de acordo com as regras e regulações relativas ao jejum de Ekadasi. E foi durante esta hora auspiciosa do jejum e oração, que um homem muito irreligioso aproximou-se da assembléia. Um homem que mantinha-se, e a sua família, matando animais. Oprimido pelo cansaço e pecados, o caçador viu o rei e os habitantes de Vaidisaobservando o Amalaki Ekadasi, através da vigília por toda noite; do jejum e da adoração ao Senhor Vishnu, naquele belíssimo local da floresta, o qual estava iluminado por muitas lâmpadas brilhantes. O caçador então escondeu-sepróximo, maravilhado com aquela visão extraordinária perante ele. Ele pensou: "O que está acontecendo ali?" O que ele viu naquela linda floresta, embaixo da sagrada árvore Amalaki, foi a deidade do Senhor Damodara sendo adorada sobre uma asana de um pote dágua. E o que ele ouviu, eram os devotos cantando os sagrados sons descrevendo as formas e passatempos transcendentais do Senhor Sri Krishna. Apesar dele ser um matador firmemente irreligioso de animais e pássaros inocentes, ele passou toda noite muito surpreso com o que estava vendo na celebração do Ekadasi e ouvindo a glorificação ao Senhor Supremo Sri Krishna.
Logo após o nascer do sol, o rei e toda sua comitiva real, incluindo os sábios da corte e todos habitantes, completaram a observação do Ekadasi e retornaram para a cidade de Vaidisa. O caçador então retornou a sua cabana e tomou com alegria a sua refeição. No decurso do tempo o caçador morreu, mas o mérito que ele obteve por jejuar noAmalaki Ekadasi e ouvir a glorificação à Suprema Personalidade de Deus, e também por ter sido forçado a permanecer acordado por toda noite, tornou-o elegível a renascer como um grande monarca capacitado com muitas quadrigas, elefantes, cavalos e soldados. Seu nome era Vasuratha, o filho do rei Viduratha, e ele governou o reino de Jayante.
O rei vasuratha era forte e destemido, tão refulgente como o sol e belo como a lua. Na força ele era comoVishnu, e em perdão ele era como a terra. Muito caridoso e sempre veraz, o rei Vasuratha sempre prestava serviçodevocional amoroso ao Senhor Supremo, Sri Vishnu. Ele portanto, tornou-se muito bem versado no conhecimento védico. Sempre ativo nos afazeres do estado, ele desfrutava de cuidar muito bem de seus súditos, como se eles fossem seus próprios filhos. Ele não gostava do orgulho em ninguém e costumava esmagá-lo se o visse. Ele executou muitos tipos de sacrifícios e sempre garantia que os necessitados de seu reino, recebessem caridade suficiente.
Um dia, enquanto passeava na floresta, o rei Vasuratha perdeu-se. Perambulando por algum tempo e eventualmente ficando esgotado, ele descansou sobre uma árvore e usando seus braços como travesseiro, dormiu profundamente. Enquanto ele dormia, alguns bárbaros tribais vieram até ele e lembrando a sua muita antiga inimizade contra o rei, eles começaram a discutir entre si as várias maneiras para matar o rei que dormia:
-É por causa dele que nossos pais, mães e cunhados, netos, sobrinhos e tios foram mortos e nós fomos forçados a vagar desamparadamente como loucos. Dizendo assim, eles se prepararam para matar o rei Vasuratha com várias armas, tais como: Lanças, espadas, flechas e cordas místicas.
Mas nenhuma dessas armas mortais pode sequer tocar o rei que dormia, e assim os tribais comedores de cães e incivilizados ficaram temerosos. Este medo debilitou a força deles e logo perderam aquele pouco de inteligência que tinham, e se tornaram quase que inconscientes com a confusão e fraqueza. Subitamente uma bela mulher apareceu do corpo do rei, surpreendendo os aborígenes. Decorada com muitos ornamentos e emanando um perfume maravilhoso, usando uma vistosa guirlanda ao redor do seu pescoço, com as sobrancelhas curvadas de uma maneira terrivelmente irada e com seus olhos vermelhos ferozmente abrazantes, ela assemelhava-se à morte personificada. Com seu cakraincandecente ela rapidamente matou todos os bárbaros tribais, os quais tinham tentado matar o rei enquanto dormia.
Então, logo o rei acordou vendo todos os tribais mortos ao redor dele, ele ficou atônito, e exclamou:
-Todos esses são meus inimigos! Quem os matou tão violentamente? Quem é meu grande benfeitor?
Naquele mesmo momento, ele ouviu uma voz do céu:
-Você pediu alguém que lhe ajudasse. Então quem é aquele que pode ajudar os sofredores na miséria? Este é somente Sri Kesava, a Suprema Personalidade de Deus, aquele que salva todos que se rendem a ele sem nenhum motivo egoísta.
Após ouvir estas palavras, o rei Vasuratha ficou dominado de amor pela Suprema Personalidade de Deus. Ele retornou a sua capital e governou ali como um segundo Indra, sem quaisquer obstáculo.
-Portanto, ó rei Mandatha! "Concluiu o venerável Vasistha muni," Qualquer pessoa que observe o santoAmalaki Ekadasi, indubitavelmente obterá a morada suprema do Senhor Vishnu, tão grande é o mérito religioso adquirido pela observação deste sagrado dia de jejum.
Assim acaba a narração das glórias do Phalguna-sukla Ekadasi ou Amalaki Ekadasi
do Brahmanda Purana.
-NOTA-
1) As seis ramificações conhecimento védico são: O sistema karma mimansa de Jaimini; O sistema sankhya do Senhor
Kapila, o filho de Devahuti; A filosofia Nyaya de Gautama e Kanada; A filosofia mayavada de Astavakra; Os yogas
sutras de Pantajali e a filosofia Bhagavata de Srila Vyasadeva.
-FIM-
Amalaki Ekadasi Jejum 8
fonte; https://jejum-ekadashi.blogspot.com/2019/03/amalaki-ekadasi-8.html
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sábado, 16 de março de 2019
sexta-feira, 15 de março de 2019
Lava jato agora é da alçada da justiça eleitoral. MEU DEUS E AGORA?
Obrigado pela visita, volte sempre.
Juízes Eleitorais podhttps://direitodiario.com.br/juizes-e... advogar?
Constituição Federal de 1988
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros, escolhidos:
I - mediante eleição, pelo voto secreto:
a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal;
b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça;
II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal.
Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o Corregedor Eleitoral dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça.
Raquel Dodge arquiva pedido de suspeição de Gilmar em relação a Paulo Vieira e Aloísio Nunes
https://congressoemfoco.uol.com.br/ju...
Lava jato agora é da alçada da justiça eleitoral. MEU DEUS E AGORA?
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Constituição Federal de 1988
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros, escolhidos:
I - mediante eleição, pelo voto secreto:
a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal;
b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça;
II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal.
Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o Corregedor Eleitoral dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça.
Raquel Dodge arquiva pedido de suspeição de Gilmar em relação a Paulo Vieira e Aloísio Nunes
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quinta-feira, 14 de março de 2019
quarta-feira, 13 de março de 2019
segunda-feira, 11 de março de 2019
Leonardo Padura: Qual o futuro do jornalismo?
“O jornalismo é uma necessidade social”, determina Leonardo Padura, considerado um dos melhores autores de Cuba. O escritor criou roteiros para o cinema e atuou por 15 anos na área do jornalismo investigativo.
Porém, a análise de Padura sobre o futuro do jornalismo não é nada boa. Elementos que eram fundamentais ao jornalismo se perderam nos últimos anos. Categorizações, avaliações, linhas editoriais, chefes de redação, tudo foi bagunçado, argumenta o escritor cubano.
Ainda, a mudança do papel para a tela transformou radicalmente a relação da informação com o leitor, diz ele. A quantidade de opiniões e de fatos circulantes é imensa e o poder de um nome na análise dos fatos foi se reduzindo. Paradoxalmente, a chamada “grande mídia”, os veículos mais tradicionais, se reduziram a alguns poucos grupos, que detêm grande poder.
Em meio a este diagnóstico assumidamente pessimista, Leonardo Padura reflete sobre possibilidades e sobre o futuro da profissão neste mundo de telas e de pós-verdades.
Confira abaixo a fala do escritor e assista ao vídeo no final do texto.
Leia, também, a visão do Nobel de Literatura, Mario Vargas Llosa, sobre este mesmo tema. Clique aqui para ler o artigo de Llosa, “O jornalismo na civilização do espetáculo”
Leonardo Padura | Qual o futuro do jornalismo?
O jornalismo é uma necessidade social. Não só para informar, mas também porque é um espaço onde se pode fazer uma reflexão mais ou menos imediata sobre o que está acontecendo na realidade.
A literatura sempre precisa de um espaço de tempo para refletir e transformar isso em uma linguagem artística. O jornalismo trabalha com um certo imediatismo e tem uma presença muito onipresente, porque, hoje em dia, com os meios que existem, bom, não é preciso ter apenas o jornal de papel.
Se você quiser ler o Le Monde ou qualquer jornal de qualquer lugar do mundo, você o tem na internet. O que acontece é que estamos em um momento em que houve uma mudança de plataforma, que é também uma mudança de paradigmas, que também é uma mudança econômica no jornalismo, que de alguma forma perdeu a função que por quase cem anos a imprensa teve.
Hoje em dia, o espaço tradicional do jornal não tem mais a função que tinha até 20 anos atrás. Atualmente, as redes sociais, os blogs, as edições digitais dos jornais mudaram completamente esse modo de se relacionar entre o jornalismo e o leitor.
Mas é também um território que, de tão democrático, o território digital tem a possibilidade de que qualquer um possa intervir nele. As categorizações foram perdidas, as avaliações foram perdidas.
Sempre em um jornal havia uma figura que era o diretor ou o chefe de redação, que era um mediador entre o jornalista e o leitor. Porque tentavam manter uma linha editorial e uma qualidade no que se dizia.
Hoje, há uma grande confusão, porque todo mundo opina e todo mundo publica. No Facebook e no Twitter circulam uma enorme quantidade de opiniões, às vezes de informações, e isso torna muito difícil ter o peso da opinião que os jornais tinham até alguns anos atrás.
Além disso, como aconteceu todo esse fenômeno, muitos jornais, jornais de prestígio buscaram alternativas econômicas e uma das alternativas econômicas foi, inclusive, aposentar, para retirar dos jornais os antigos jornalistas que ganhavam salários melhores e trazer jovens recém-formados para ocupar esses espaços sem ter a experiência, o conhecimento que esses outros jornalistas acumularam ao longo dos anos.
É preciso repensar o jornalismo. Eu também estou um pouco pessimista sobre isso, porque nós não podemos, por princípio, não podemos restringir a liberdade de expressão. Esse é um princípio. Mas, por princípio, também deveríamos respeitar a verdade e a confiança do leitor.
Hoje falamos em pós-verdades ou falsas verdades. Em suma, falamos sobre coisas que são inimagináveis ou que aconteciam apenas em espaços muito diabólicos da comunicação.
Mas, hoje isso se estabeleceu como parte do jogo da informação, da opinião que circula, e faz com que grandes confusões sejam geradas.
Acrescenta-se a isso que também houve uma concentração da informação, de outro tipo de informação, da supostamente mais autorizada em grandes grupos editoriais que são grandes grupos de poder e que são grandes lobbies econômicos. Isso faz com que o interesse de um setor social ou econômico específico domine a informação em determinados espaços, que podem ser desde jornais, televisão, estações de rádio e espaço na internet.
Então, há realmente uma situação em que acredito que os mais afetados são as pessoas que consomem notícias, os leitores. Porque, de cada história, há muitas verdades e somos incapazes de saber qual é a verdade que mais se aproxima da verdade.
Leonardo Padura, em "El Hombre que Amaba a los Perros", traz uma preciosa lição sobre a degradação dos valores individuais pelo comunismo
A Editora Boitempo publicou em tradução o romance de Leonardo Padura, “El Hombre que Amaba a los Perros”, com o título de “O Homem que Amava os Cachorros”.
Eu teria preferido “Cães”, porque, ao lidar com uma língua irmã da sua própria, o tradutor deve ter o bom gosto e bom senso de escolher, seja palavras de igual raiz com significado idêntico nas duas línguas, seja palavras que inexistem no idioma original, jamais palavras idênticas com significado diverso. “Cachorro”, em espanhol, é “filhote”. Talvez o tradutor achasse que “cão” é termo do vocabulário “burguês”.
Mas o problema maior não é esse. Dedicada eminentemente à promoção de ideias e autores comunistas, a equipe da Boitempo mostrou que é capaz de traduzir e divulgar um dos grandes romances do século, ganhando algum dinheiro com ele, sem se deixar afetar pelo seu conteúdo no mais mínimo que seja.
É um caso de insensibilidade literária que raia a psicastenia. Pois raramente, no mundo, o comunismo, não nos detalhes do imensurável horror físico que produziu, mas nas profundezas da deformidade psicopática que o inspira, foi descrito em termos tão cruamente realistas como nesse livro: é uma imagem do inferno ou, para usar as palavras do autor, algo que se parece “antes a um castigo divino do que a uma obra de homens”.
Com base em farta documentação, só complementando-a com a especulação imaginativa nos pontos onde isso é indispensável, o livro conta a história dos últimos anos de vida de Leon Trotski e do seu assassino, Ramon Mercader, paralelamente à do narrador, um escritor cubano reduzido à impotência criadora pelas imposições da burocracia castrista empenhada em tudo rebaixar e mediocrizar.
Os três são homens que apostaram tudo no socialismo e aos quais só resta, no fim da história, a consciência amarga da “vida inteira que poderia ter sido e que não foi”.
Embora a maior parte do enredo se passe no tempo de Stalin, o romancista não apela ao expediente costumeiro de trocar “comunismo” por “stalinismo”, usado para branquear a imagem do regime nas épocas subsequentes, mas mostra com muita clareza que, de um modo ou de outro, a mistura de violência assassina e mendacidade alucinante que caracterizou o stalinismo se conservou em ação em todos os países comunistas, muitas décadas depois da morte do ditador.
Padura, que nasceu e ainda mora em Cuba, publicando seus livros no México, viveu tudo isso de perto e colocou no personagem do narrador de “El Hombre que Amaba a los Perros” muito da sua experiência pessoal.
Hoje os brasileiros se espantam ante um governo que lhes rouba bilhões de reais enquanto, com a maior cara dura, continua posando de paladino da moralidade, e, rejeitado por noventa por cento da população, ainda se faz de porta-voz do “povo” contra a “elite”.
Se conhecessem algo da história do comunismo, como a trama urdida por Stalin para dar cabo de Trotski, entenderiam que a mendacidade psicopática, em proporções tão vastas que raiam o diabolismo puro e simples, não é uma invenção do PT: é inerente à mentalidade comunista em todas as épocas e lugares.
Os capítulos finais deste livro mostram o próprio assassino de Trotski, Ramon Mercader, consciente de haver jogado sua vida fora numa farsa demoníaca, concebida para fazer de Trotski, então um exilado sem dinheiro e quase sem seguidores, chutado de cá para lá por todos os governos do mundo, o todo-poderoso líder de uma conspiração global para derrubar o governo soviético com a ajuda simultânea – porca miséria! -- dos nazistas e dos americanos.
Durante décadas, Mercader foi adestrado para odiar Trotski com todas as suas forças, só para descobrir, depois, que na realidade nada sabia contra ele além de balelas e invencionices absurdas e antinaturais, injetadas em sua cabeça com violência comparável à do golpe de picareta no crânio com que ele deu fim à existência da sua vítima.
Após ter ido parar na cadeia num dos muitos expurgos que eram rotina na política soviética, o próprio agente secreto que treinou e disciplinou a mão assassina de Mercader tem, na velhice, a mesma consciência de ter servido apenas aos caprichos insensatos de um ditador enlouquecido pelo medo, que não se acalmaria antes de haver eliminado da face da Terra todos os seus inimigos reais, hipotéticos, virtuais ou totalmente imaginários.
Especialmente significativa é uma personagem secundária, a mãe de Mercader, Caridad. Mulher frígida que o marido burguês corrompe para ver se desperta nela o desejo sexual, ela se entrega então a uma vida devassa e ao consumo de drogas, chegando a uma tentativa de suicídio.
Só emerge da depressão quando encontra uma saída existencial no comunismo e reestrutura sua personalidade com base nos valores da militância, tornando-se uma combatente fanática, odiando o marido e o capitalismo como se fossem uma só entidade e contribuindo decisivamente para fazer do filho um assassino a soldo de Stalin.
Eu não poderia ter encontrado melhor ilustração para o conceito do outsider como militante, que descrevi em artigo recente neste mesmo jornal (leia aqui).
No fim, o desencanto de Caridad é o mesmo de Ramón e de seu instrutor, com a diferença de que ela não tem nem mesmo a força deles para meditar sobre a insensatez do seu passado.
O vazio, a secura, a tristeza vã e desesperançada que são tudo o que resta a esses homens quando compreendem a pantomima tola e sangrenta da qual se fizeram servidores e agentes, são a mensagem derradeira legada pelo século XX à presente geração, aí incluídos os editores brasileiros incapazes de ouvi-la.
Não é preciso dizer que perseguições em massa, cruéis e insensatas, no mais puro modelo stalinista, aconteceram também na China comunista, em Cuba, no Vietnã, no Camboja, em todos os países-satélites da URSS e por toda parte onde a opinião comunista tenha saído do subsolo psicopático que lhe é natural e conquistado um lugar de respeito na sociedade.
O modelo universalizou-se. A única coisa que varia é a dosagem respectiva da violência e da mendacidade que a fórmula da loucura comunista assume em distintos lugares do mundo.
Nos países onde não tem força bastante para tomar o poder pelas armas, o comunismo apela à estratégia gramsciana do engodo geral e, por isso mesmo, como aconteceu no Brasil, rouba mais do que mata, pelo menos até que o produto do roubo, crescendo até dimensões oceânicas, lhe assegure a posse dos meios de matar.
https://dcomercio.com.br/categoria/opiniao/mensagem-do-passado
https://www.fronteiras.com/artigos/leonardo-padura-qual-o-futuro-do-jornalismo Obrigado pela visita, e volte sempre.
sábado, 9 de março de 2019
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