quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Arjuna e o olho do pássaro: a sabedoria do Mahabharata


Arjuna e o olho do Pássaro

Esta pequena história de sabedoria faz parte de um dos textos sagrados mais importantes do hinduísmo, o poema épico Mahabharata, e relata o diálogo entre o jovem Arjuna e seu mentor Droṇāchārya. Posteriormente, Arjuna será o guerreiro que receberá no campo de batalha os ensinamentos espirituais do próprio Krishna, a Suprema Personalidade de Deus segundo esta religião.

Os diálogos entre Krishna e Arjuna compõem grande parte da doutrina espiritual do hinduísmo, e estão registrados na obra Bhagavad-Gitā, também contido no Mahabharata

De acordo com estudiosos recentes da teologia hindu, Arjuna representaria o homem comum que busca a sabedoria divina; que, mergulhado na angústia do combate, enfrenta os inimigos que lhe afastam das vivências espirituais.

O fato de seus oponentes serem também seus próprios familiares, fazendo Arjuna desejar abandonar a batalha,  seria um simbolismo para as coisas mais queridas e amadas pelo ego, que deveriam ser todas vencidas, como a vaidade, o egoísmo, a ambição desmedida, entre várias outras. Diante da hesitação do guerreiro, Krishna exorta a necessidade da luta e da coragem.

A narrativa de “Arjuna e o olho do pássaro”, descrita mais abaixo, ocorre quando Arjuna é ainda uma criança treinando com seus primos e irmãos sob o comando de Droṇāchārya, um mestre das artes militares. Todos os jovens são príncipes que futuramente irão lutar entre si na Guerra de Kurukshetra. Existem outras versões, contudo, devido à sua simplicidade, as variações não alteram sua mensagem fundamental.

Os personagens principais, independente da versão, serão sempre Arjuna criança (ou jovem) e seu professor Droṇāchārya, conforme está registrada em sânscrito no Mahabharata e contada há mais de cinco mil anos na Índia.

Normalmente esta história é interpretada como um ensinamento sobre a importância da concentração ou das prioridades. Interpretações deste tipo não estão erradas, porém, são genéricas e podem impedir a percepção da verdadeira mensagem de qualquer conto de sabedoria: aquela que é dita especialmente para você.

Arjuna e o olho do pássaro


Em uma manhã ensolarada, um grande grupo de meninos se reuniu com seus arcos e flechas. Não eram garotos comuns. Eram os cinco Pandavas e cem Kauravas! Eram primos, e uma feroz rivalidade entre eles começou quando eram apenas crianças. Esses jovens príncipes se tornariam homens de incrível poder. Os cinco Pandavas eram até filhos de deuses!

Nesse dia, Droṇāchārya, seu mentor e especialista militar, organizou uma competição. Através de um riacho, colocou um pequeno pássaro de madeira em uma árvore. Ao retornar para os meninos, lhes disse: “Hoje quero ver quem entre vocês pode atingir o olho daquele pássaro do outro lado do rio.”

O pássaro parecia minúsculo, mas os garotos estavam confiantes de que poderiam passar no teste. Eles já não haviam derrubado grandes feras em suas caçadas antes? Como esse pequeno pássaro poderia representar um desafio tão grande? Ansiosamente, cada um dos jovens príncipes esperou que Droṇāchārya chamasse seus nomes.

Yudhisthira, o mais velho entre os Pandavas, foi chamado primeiro. Tomando posição ao lado de seu professor, puxou a corda do arco e apontou sua flecha na direção do pássaro.

“Você consegue ver o pássaro?”, disse Droṇāchārya. Querendo ser meticuloso, Yudhisthira começou a listar tudo o que podia ver: “Eu vejo o pássaro de madeira, o galho e a árvore. Eu posso ver as folhas se movendo e ainda mais pássaros sentados na mesma árvore. Eu posso ver o riacho, a grama, outras árvores e o céu.” 

Quando ele terminou, esperou pelo comando final de seu mestre para atirar. Mas Droṇāchārya disse: “Abaixe o seu arco e sente-se Yudhisthira, você não atingirá o olho do pássaro.”

Confuso, Yudhisthira silenciosamente caminhou de volta para seus irmãos sem questionar. O próximo garoto foi chamado, posicionou-se ao lado de Droṇāchārya, puxou a corda do arco, e o professor fez a mesma pergunta. O jovem deu uma resposta semelhante, nomeando tudo o que podia ver. Mais uma vez, o garoto foi avisado para guardar o arco.

O mesmo ocorreu com todos os garotos que se seguiram, que voltavam decepcionados para seu grupo, até que finalmente Arjuna foi chamado. O jovem príncipe tomou seu lugar, levantou seu arco, puxou a corda e apontou sua flecha muito seriamente. Droṇāchārya prosseguiu:

— Diga-me o que você pode ver, Arjuna.

— Eu posso ver o olho do pássaro.

— Você não consegue ver as árvores e o céu? Ou talvez o galho em que o pássaro está sentado?

— Não, senhor, eu vejo apenas o olho do pássaro.

Droṇāchārya ficou satisfeito com essa resposta. Ele lançou um olhar para a multidão de meninos, que ficou em silêncio, mas lentamente começaram a concordar quando a lição ficou clara. Então, ordenou:

— Dispare sua flecha, Arjuna!

Arjuna então disparou. Com um forte ruído a flecha atingiu o olho do pássaro. Um tiro perfeito. A ave caiu com um pequeno baque enquanto todos os garotos assistiam admirados.

AutorAlfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.




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