Esquerda, reuni uma série de artigos publicados na The Salisbury
Review. Editei os artigos originais, cortando escritores como R. D.
Laing e Rudolf Bahro, que nada têm a nos dizer atualmente, e incluí
substancial material novo, dedicado a eventos cada vez mais
influentes — por exemplo, a chocante “máquina de nonsense”
inventada por Lacan, Deleuze e Guattari, o ataque escorchante a nossa
herança “colonial” feito por Edward Said e o recente renascimento da
“hipótese comunista” pelas mãos de Badiou e Žižek.
Meu livro anterior foi publicado no auge do reinado de terror de
Margaret Thatcher, quando eu ainda dava aulas em uma universidade
e era conhecido entre os intelectuais ingleses de esquerda como
proeminente oponente de sua causa, que era a causa das pessoas
decentes do mundo todo. Assim, o livro foi recebido com escárnio e
ultraje, com os críticos tropeçando uns nos outros pela chance de
cuspir no cadáver. Sua publicação foi o início do fim de minha carreira
universitária, pois suscitou sérias dúvidas tanto sobre minha
competência intelectual quanto sobre meu caráter moral. Essa súbita
perda de status levou ao ataque de todos os meus textos, falassem eles
ou não de política.
Um filósofo acadêmico escreveu à Longman, a editora original,
dizendo: “É com consternação que relato que muitos colegas aqui [i.e.,
em Oxford] sentem que a marca Longman — uma marca respeitada
— foi conspurcada pela associação com a obra de Scruton.” Ele
continuou de maneira ameaçadora, expressando a esperança de que
“as reações negativas geradas por essa publicação particular façam
com que, no futuro, a Longman pense mais cuidadosamente sobre sua
política”. Um autor de best-sellers educacionais ameaçou levar suas
obras para outra editora se o livro permanecesse nas prateleiras e,
rapidamente, os exemplares restantes de Pensadores da Nova Esquerda
foram retirados das livrarias e transferidos para meu galpão.
Naturalmente, relutei em retornar à cena de tal desastre. Gra-
dualmente, contudo, após os eventos de 1989, certa hesitação passou a
entrar na visão da esquerda. Hoje é comum aceitar que nem tudo dito,
pensado ou feito em nome do socialismo foi intelectualmente
respeitável ou moralmente correto. Talvez eu estivesse mais alerta que
o normal para essa possibilidade em função de meu envolvimento,
enquanto escrevia, com as redes clandestinas na Europa comunista.
Esse envolvimento me deixara face a face com a destruição e ficou
óbvio para a maioria das pessoas que se deram ao trabalho de também
se expor a ela que os modos esquerdistas de pensar eram sua principal
causa. Pensadores da Nova Esquerda surgiu em edições samizdat na
Polônia e na Tchecoslováquia e foi subsequentemente traduzido para
chinês, coreano e português. Aos poucos, especialmente após 1989,
tornou-se mais fácil expor minha opinião e me deixei persuadir por
meu editor, Robin Baird-Smith, de que um novo livro poderia
fornecer algum alívio aos estudantes compelidos a mastigar a
glutinosa prosa de Deleuze, a tratar com seriedade os loucos
sortilégios de Žižek ou a acreditar que há mais na teoria da ação
comunicativa de Habermas que sua inabilidade em comunicá-la.
O leitor entenderá, pelos parágrafos anteriores, que este não é um
livro de palavras moderadas. Eu o descreveria antes como
provocação. Todavia, envido todos os esforços para explicar o que é
bom nos autores que reviso, e não só o que é ruim. Minha esperança é
que o resultado possa ser lido com proveito por pessoas de todas as
vertentes políticas.
Ao preparar o livro para publicação, fui imensamente auxiliado
pelos comentários e críticas de Mark Dooley, Sebastian Gardner,
Robert Grant e Wilfrid Hodges, todos inocentes dos crimes cometidos
nestas páginas.
Scrutopia, janeiro de 2015.
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