segunda-feira, 17 de junho de 2024

Nirjala Pandava Ekadasi hoje segunda-feira.


 Certa vez Bhimasena, irmão mais novo de Maharaja Yudhishthira, perguntou ao grande sábio Srila Vyasadeva, avô dos Pandavas, se é possível retornar ao mundo espiritual sem ter observado as regras e regulaçöes dos jejuns de Ekadashi.
   Bhimasena disse: "ó mui inteligente avô, meu irmão Yudhishthira, minha querida mãe Kunti, e minha amada esposa Draupadi, bem como Arjuna, Nakula e Sahadeva, jejuam completamente no Ekadashi e seguem estritamente todas regras e regulaçöes desse dia sagrado. Sendo muito religiosos, sempre me dizem que também devo jejuar nesse dia. Mas, ó avô, eu lhes digo que não consigo viver sem comer, porque a fome é intolerável para mim. Dou bastante caridade e adoro completamente Sri Keshava, mas não consigo jejuar no Ekadashi. Por favor diga-me como posso obter o mesmo resultado sem jejuar."
Ouvindo estas palavras, Srila Vyasadeva respondeu: "Se desejas ir para os planetas celestiais e evitar os planetas infernais, deves de fato observar um jejum tanto no Ekadashi iluminado como no obscuro."
    Bhima disse: "ó avô muito inteligente, por favor ouça minha súplica. ó maior dos munis, como não consigo viver se apenas comer uma vez por dia, como conseguirei viver se jejuar completamente? Dentro de meu estômago arde um fogo especial chamado vrka, o fogo da digestão. (1) Só quando como até ficar completamente satisfeito é que esse fogo em meu estômago também fica satisfeito. ó grande sábio, talvez conseguisse jejuar apenas uma vez, portanto imploro-te que me digas qual Ekadashi inclui todos outros Ekadashis. Observarei fielmente esse jejum e espero que assim me torne qualificado para liberação."
   Srila Vyasadeva respondeu: "ó rei, ouviste de mim sobre vários tipos de deveres ocupacionais, tais como cerimônias védicas elaboradas. Na Kali-yuga, entretanto, ninguém irá conseguir observar todos esses deveres ocupacionais corretamente. Por isso contarei agora, como sem quase nenhuma despesa, se pode aguentar uma pequena austeridade e conseguir o maior benefício e resultante felicidade. A essência do que está escrito nas literaturas védicas conhecidas como os Puranas é que não se deve comer nem no Ekadashi da quinzena iluminada e nem no da obscura. (2) Quem jejua no Ekadashi é salvo de ir para planetas infernais."
   Ouvindo as palavras de Vyasadeva, Bhimasena, o mais forte de todos guerreiros, ficou com medo e começou a tremer como uma folha numa árvore banyan com vento forte. O assustado Bhimasena disse: "ó avô, que devo fazer? Sou completamente incapaz de jejuar duas vezes por mês o ano todo! Por favor conte-me sobre algum dia de jejum que possa conceder-me o maior benefício!"
   Vyasadeva respondeu: "Sem beber nem mesmo água, deves jejuar no Ekadashi que ocorre durante a quinzena clara do mês de Jyeshtha (mai/jun), quando o sol transita pelo signo de Gêmeos e Touro. Segundo as personalidades sábias, nesse dia se pode tomar banho e realizar acamana para purificação. Mas enquanto se realiza acamana se pode tomar apenas aquela quantidade de água igual a uma gota de ouro, ou a quantidade que pode submergir apenas uma semente de mostarda. Só essa quantidade de água deve ser colocada na palma em forma de orelha de vaca. Se bebermos mais água que isso, seria como se tivessemos bebido vinho.
   Certamente não se deve comer nada, pois assim fazendo quebra-se o jejum. Este jejum rígido com efeito vai do nascer do sol no Ekadashi até o nascer do sol de Dvadashi. Se uma pessoa tenta observar esse grande jejum mui estritamente, facilmente consegue os resultados de observar todos vinte e quatro jejuns de Ekadashi pelo ano todo.
   No Dvadashi o devoto deve tomar banho cedo de manhã. Então, conforme as regras e regulaçöes prescritas, e dependendo de sua capacidade, deve dar algum ouro e água a um brahmana digno. Finalmente, deve honrar prasadam alegremente com um brahmana.
   ó Bhimasena, aquele que consegue jejuar neste Ekadashi especial desta maneira, colhe o benefício de ter jejuado em todos Ekadashis durante o ano. Não há dúvida quanto a isso. ó Bhima, agora ouça o mérito específico que se consegue por jejuar neste Ekadashi. O Supremo Senhor Keshava, que segura uma concha, disco, maça, e lótus, contou pessoalmente para mim: "Todos devem refugiar-se em Mim e seguir Minhas instruçöes." Então Ele me contou que quem jejua neste Ekadashi sem beber água ou comer, se torna livre de todas reaçöes pecaminosas, e quem observa esse difícil jejum nirjala no Jyeshtha-sukla Ekadashi verdadeiramente colhe o benefício de todos outros jejuns de Ekadashi.
   ó Bhimasena, na Kali-yuga, a era da discórdia e hipocrisia, quando todos princípios dos Vedas terão sido destruídos ou grandemente minimizados, e em que não haverá a devida caridade ou observância dos antigos princípios védicos e cerimônias, como haverá algum meio de purificar o eu? Mas existe a oportunidade de jejuar no Ekadashi e ficar livre de todos pecados passados.
   ó filho de Vayu, que mais posso dizer-te? Não deves comer durante os Ekadashis iluminado e obscuro, e deves até mesmo deixar de tomar água no dia particularmente auspicioso de Jyeshtha-sukla Ekadashi. ó Vrkodara, quem quer que jejue neste Ekadashi recebe os méritos de tomar banho em todos lugares de peregrinação, dar todo tipo de caridade, e jejuar em todos Ekadashis claros e escuros. Quanto a isso não há dúvida. ó tigre entre os homens, quem quer que jejue neste Ekadashi verdadeiramente se torna uma grande pessoa e obtém toda fortuna, lucros, força, e sáude. E no atemorizante momento da morte, os terríveis Yamadutas, cuja tez é amarela e negra, e que brandem grandes maças e giram no ar místicas cordas pasha, recusar-se-ão a se aproximar. Em vez disso, tal alma fiel será imediatamente levada para a morada suprema do Senhor Vishnu pelos Vishnudutas, cujas formas trascendentalmente belas vestem maravilhosas roupas amareladas e que seguram um disco, maça, concha e lótus em suas quatro mãos. É para obter todos esses benefícios que se deve certamente jejuar neste mui importante Ekadashi, até mesmo de água."
   Quando os outros Pandavas ouviram sobre os benefícios a serem obtidos por seguir Jyeshtha-sukla Ekadashi, resolveram observá-lo exatamente como Srila Vyasadeva o havia explicado a seu irmão Bhimasena. Todos Pandavas observaram-no evitando comer ou beber qualquer coisa, e assim até o dia de hoje é conhecido como Pandava-nirjala Ekadashi. (3)
   Srila Vyasadeva continuou: "ó Bhima, portanto deves observar este importante jejum para remmover todas tuas reaçöes pecaminosas passadas. Deves orar à Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Sri Krishna, desta maneira: "ó Senhor de todos semideuses, ó Suprema Personalidade de Deus, hoje vou observar Ekadashi sem tomar qualquer água. ó ilimitado caridade durante este Ekadashi, se por alguma razão ou outra não puder, então deverá dar a algum brahmana qualificado um tecido ou um pote cheio d'água. De fato, o mérito obtido por dar só água iguala aquele obtido por dar ouro dez milhöes de vezes por dia.
   ó Bhima, o Senhor Krishna disse que quem quer que observe este Ekadashi deve tomar um banho sagrado, dar caridade a uma pessoa digna, cantar os santos nomes do Senhor num japa-mala, e realizar algum tipo de sacrifício recomendado, pois por fazer estas coisas neste dia se recebe benefícios imperecíveis. Não há necessidade de realizar qualquer outro tipo de dever religioso. Observância só deste jejum de Ekadashi promove a pessoa à suprema morada de Sri Vishnu. ó melhor dos Kurus, se doarmos ouro, tecido ou qualquer outra coisa neste dia, o mérito que se obtém é imperecível.
   Lembra-te, quem quer que coma grãos no Ekadashi se torna contaminado pelo pecado e na verdade come apenas pecado. Com efeito, já se tornou um comedor de cachorros, e após a morte irá sofrer uma existência infernal. Mas aquele que observa este sagrado Jyeshtha-sukla Ekadashi e dá algo em caridade certamente obtém a liberação do ciclo de repetidos nascimentos e morte e alcança a morada suprema. Observar este Ekadashi, que vem junto com Dvadashi, liberta a pessoa do horrível pecado de matar um brahmana, beber bebida alcoólica e vinho, ter inveja do próprio mestre espiritual, e ignorar suas instruçöes, e continuamente contar mentiras.
   Além do mais, ó melhor dos seres, qualquer homem ou mulher que observa este jejum devidamente e adora o Senhor Supremo Jalashayi (Aquele que dorme sobre a água), e que no dia seguinte satisfaz um brahmana qualificado com doces agradáveis e uma doação de vacas e dinheiro - tal pessoa certamente agrada ao Supremo Senhor Vasudeva, tanto que cem geraçöes anteriores em sua família indubitavelmente vão para a morada do Senhor Supremo, muito embora possam ter sido muito pecaminosos, ou de mau caráter, e culpados de suicídio. De fato, quem observa este Ekadashi andará num glorioso aeroplano celestial (vimana) até aquela morada.
   Quem nesse dia dá a um brahmana um pote d'água, uma sombrinha, ou calçados certamente vai para o céu. De fato, aquele que simplesmente ouve estas glórias também alcança a morada transcendental do Senhor Supremo, Sri Vishnu. Quem quer que realize a cerimônia shraddha para os antepassados no dia da lua obscura chamado amavasya, particularmente se ocorre na época do eclipse solar, indubitavelmente obtém grande mérito. Mas este mesmo mérito é obtido por quem simplesmente ouve esta sagrada narrativa - tão poderoso e tão querido pelo Senhor é este Ekadashi.
   Deve-se limpar os dentes devidamente e, sem comer ou beber, observar este Ekadashi para agradar o Supremo Senhor Keshava. No dia depois de Ekadashi se deve adorar a Suprema Personalidade de Deus em Sua forma como Trivikrama oferecendo a Ele água, flores, incenso, e uma luminosa lamparina acesa. Então o devoto deve orar de coração: "ó Senhor dos senhores, ó salvador de todos, ó Hrsikesha, senhor dos sentidos, tenha a bondade de conceder-me a dádiva da liberação, embora não te possa oferecer nada mais que este humilde pote cheio d'água." Então o devoto deve doar o pote d'água a um brahmana.
   ó Bhimasena, após observar este jejum de Ekadashi e doar os artigos recomendados conforme sua capacidade, o devoto deve alimentar brahmanas e depois disso honrar prasadam silenciosamente.
   Srila Vyasadeva concluiu: "Recomendo grandemente que jejues neste auspicioso, purificante Dvadashi devorador de pecados, da maneira como descrevi. Assim ficarás completamente livre de todos pecados e alcançarás a morada suprema."
   Assim termina a narrativa das glórias de Jyeshtha-sukla Ekadasi, ou Bhimaseni-nirjala Ekadasi, do Brahma-vaivarta Purana.
1. Agni, o deus do fogo, descende do Senhor Vishnu através de Brahma, de Brahma a Angirasa, de Angirasa a Brhaspati, e de Brhaspati a Samyu, que era pai de Agni. Ele é o porteiro encarregado de Nairrtti, a direção sudeste. Ele é um dos oito elementos materiais, e tal como Parikshit Maharaja, é muito perito em examinar coisas. Examinou Maharaja Sibi uma vez virando um pombo. (Para mais informação vide Srimad-bhagavatam de Srila Prabhupada 1.12.20 significado).
Agni se divide em três categorias: Davagni, o fogo na madeira; Jatharagni, o fogo da digestão no estômago; e Vadavagni, o fogo que cria neblina quando correntes quentes e frias se misturam no oceano. Outro nome para o fogo da digestão é Vrka. Era este poderoso fogo que residia no estômago de Bhimasena.
2. Conforme declarado no Srimad-bhagavatam 12.13.12 e 15, o próprio Bhagavatam é a essência de toda filosofia Vedanta (sara-vedanta-saram), e a mensagem inequívoca do Bhagavatam é plena rendição ao Senhor Krishna e a prestação de serviço devocional amoroso a Ele. Observar Ekadashi estritamente é um grande auxílio neste processo e aqui Srila Vyasadeva está simplesmente sublinhando para Bhima a importância do Ekadashi.
3. Embora astrologicamente o jejum caia no Dvadashi, na civilização védica ainda é conhecido como Ekadashi.



Nirjala Ekadasi, Sri Ganga Mata Goswamini etc,



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Miniaula sobre socialismo e comunismo com Olavo de Carvalho

domingo, 16 de junho de 2024

Bençãos e Glórias do Srimad Bagavat Gita Gita Mahatmia lendo capítulo 6. PodCast.











Hoje é dia do sagrado desaparecimento de Baladeva Vidyabushana dia 16/06/2024 domingo.

Baladeva Vidyabhusana, o Vedantista Gaudiya

5 R (artigo - Sucess¦o Discipular e Mestre Espiritual) Baladeva Vidyabhusana, o Vedantista Gaudiya - dia 8 (5303) (bg)

Dayananda Dasa e Nandarani Devi Dasi

A história do surgimento do Govinda-bhasya, o comentário ao Vedanta-sutra dos seguidores de Sri Chaitanya.

Suas vozes nasceram juntamente com o Sol. Era cedo pela manhã em uma escola de uma vila indiana. Os garotos encontravam-se sentados em impecáveis fileiras atrás de manuscritos de folha de palmeira. Enquanto cantavam suas regras gramaticais, lições de retórica e aforismos lógicos a fim de memorizá-los, cada garoto cantava alto o suficiente para ouvir sua voz sobre a voz do garoto ao lado, o que resultava em um confuso misturar de vozes estridentes.

Esta escola, na qual estudou Baladeva no começo do século XVIII, muito se assemelhava a escolas rurais que existiram na Índia por milhares de anos. O sistema perdurou porque era efetivo, produzindo eruditos brilhantes e disciplinados, e Baladeva estava entre os melhores deles.

Antes de ir para a escola, Baladeva, o filho de um mercador, viveu por muitos anos próximo à cidade Remuna, Orissa. De lá, foi estudar com o grupo de panditas na escola mencionada, que se situa idilicamente às margens do rio Chilkahrada. Os viçosos campos e florestas oriás providenciavam fartamente frutas, legumes e grãos para uma dieta completa e variada. Os garotos estudavam muito, brincavam muito e cresciam confiantes, saudáveis e com boa discriminação.

Quando os estudos de Baladeva na escola chegaram ao fim, ele não quis retornar para casa e trabalhar no mercado de seu pai. Ele queria ser um estudioso – não um estudioso ordinário, mas um verdadeiro acharya, alguém que pode ensinar sabedoria divina. Um pandita precisa dominar lógica, filosofia, medicina ou cosmologia, mas um acharya precisa saber as escrituras que transmitem a sabedoria mais profunda. Baladeva decidiu estudar filosofia e teologia. Ele se tornaria um vedantista, uma autoridade nos milenares livros védicos de conhecimento. Ele não conseguia pensar em nenhuma outra maneira mais grandiosa pela qual poderia beneficiar a si mesmo ou os demais.

Em busca de um preceptor, Baladeva saiu em peregrinação pelos tirthas, locais sagrados, onde se encontrou com monges e eruditos. Em Mysore (atual Karnataka), sudoeste da Índia, chegou a um eremitério de homens santos que também se chamavam tirthas, seguidores do santo e estudioso Ananda Tirtha (1197-1273 d.C.),  conhecido no passado como Madhvacharya. No monastério, ou matha, Baladeva estudou o Vedanta e dominou as artes do debate e da retórica. Esses talentos ser-lhe-iam de grande utilidade em um desafio que ele teria de enfrentar no futuro, quando ainda muito jovem.

O desafio com que Baladeva se depararia é de suma importância na história do vaishnavismo gaudiya, a escola espiritual à qual a ISKCON, o moderno movimento Hare Krishna, pertence.

Os Gaudiyas em Vrindavana

À época de Baladeva, os vaishnavas gaudiyas, ou seguidores do Senhor Chaitanya Mahaprabhu, estavam bem estabelecidos em Vrindavana, a cidade da Índia setentrional onde o Senhor Krishna atuara Seus passatempos infantis cerca de cinco mil anos atrás. A vida naquela região, entretanto, era frequentemente insegura. Por milhares de anos, o distrito de Vrindavana-Mathura foi periodicamente invadido e saqueado. Contudo, a despeito dessas calamidades, Mathura sempre floresceu como um centro de comércio e cultura. Toda religião antiga do norte da Índia considerava Mathura uma cidade importante.

Em 1512, o Senhor Chaitanya chegou a Mathura. Ele viu que os locais onde Krishna havia desfrutado de Seus passatempos estavam então obscurecidos, em virtude do que passou dois meses localizando e identificando-os. Desejoso de reconstruir Vrindavana e rededicá-la a Krishna, enviou Rupa Gosvami e Sanatana Gosvami, dois de Seus principais discípulos, para a cidade sagrada.

Rupa Gosvami e Sanatana Gosvami desempenharam com sucesso a missão do Senhor Chaitanya em Vrindavana. Eles não apenas reconstruíram os locais sagrados da vida de Krishna, mas também escreveram livros que apresentavam a doutrina do Senhor Chaitanya de uma maneira apropriada tanto para estudiosos quanto para leigos. Srila Jiva Gosvami, sobrinho e discípulo deles, continuou a obra. Ele supervisionou a construção de templos magníficos para a adoração a Krishna, escreveu exaustivos tratados filosóficos sobre a filosofia da consciência de Krishna e distribuiu os manuscritos religiosos dos Gosvamis de Vrindavana ao longo do mundo vaishnava. Em grande parte devido aos esforços de Jiva Gosvami, os vaishnavas gaudiyas foram exitosos no estabelecimento de Vrindavana como o principal local do vaishnavismo no norte da Índia.

Vrindavana sempre foi uma terra sagrada de peregrinação, mas, sob o patronato gaudiya, vicejou como um poderoso centro religioso por 150 anos. Templos e gurus gaudiyas eram dominantes em Vrindavana, mesmo na época da chegada de Baladeva no começo do século XVIII.

Govinda Deixa Vrindavana

Infelizmente, a pacífica liderança dos gaudiyas não pôde prosseguir. Em 1669, o soberano mongol Aurangzeb decretou que os templos e esculturas, ou Deidades, hindus deveriam ser destruídos. As Deidades, sacerdotes e peregrinos estavam em perigo, e os fiéis devotos de Krishna pararam de visitar Vrindavana. Muitos daqueles que tiveram coragem de expressar sua fé foram açoitados ou mortos.

Subsequentemente, os sacerdotes vaishnavas apelaram às dinastias hindus do Rajastão por proteção para si mesmos e para as suas Deidades. A proteção foi concedida, e gradualmente as Deidades migraram para o leste, de modo a estabelecerem-Se em Mewar e em Amber, a antiga capital Jaipur. Todavia, sem Deidades, brahmanas e peregrinos, Vrindavana-Mathura perdeu muito de sua glória.

Uma das principais Deidades de Vrindavana era Govinda, uma imagem de mármore negro de sessenta centímetros de Krishna em Seu aspecto original como um vaqueirinho. Srila Rupa Gosvami O encontrou enquanto escavava os locais sagrados de Vrindavana. Posteriormente, informados de que o exército de Aurangzeb buscaria destruir o esplêndido templo de sete andares de Govinda, os sacerdotes secretamente mudaram a Deidade para o Radha-kunda, um lago sagrado amplamente conhecido como um dos locais mais sagrados no distrito de Mathura.

Transcorrido um ano no Radha-kunda, os sacerdotes transferiram seu refúgio divino para Kaman, uma cidade fortificada no distrito de Mathura, onde um complexo apropriado poderia ser construído para Govinda. Por mais de trinta anos, Ele e duas outras Deidades, Gopinatha e Madana-mohana, permaneceram em Kaman. A maior parte dos peregrinos, no entanto, evitava os regentes mongóis e um clã de pessoas locais chamadas jats, as quais se ergueram contra os mongóis.

Os reis rajputs de Amber viram-se no pivô do conflito entre os mongóis e as guerrilhas jats. Os reis aliaram-se aos mongóis contra os jats, mas patrocinavam as Deidades de Vrindavana, as quais os mongóis queriam destruir.

Ram Singh, o rei de Amber, ordenara em 1671 que Govinda fosse transferido para Kaman, que estava então sob a jurisdição de Amber e Jaipur, embora se situasse no distrito de Mathura. É dito que a transferência fora intencionada como temporária: as Deidades retornariam a Vrindavana quando a agitação política se amainasse. Govinda, todavia, não retornou a Vrindavana. Após trinta e três anos em Kaman, Ele fez outra viagem, desta vez para Amber.

Pouco tempo após o falecimento de Ram Singh, seu filho, Visnu Singh, acompanhou-o para a vida pós morte. Agora, sentou-se no trono de Amber um rei infante, um precoce rei de onze anos de nome Jai Singh, que havia sido condecorado na corte mongol em Agra com a idade de sete anos. Sob o reinado de Jai Singh, Govinda foi transferido em 1707 para a vila chamada Govinda-pura, imediatamente fora de Amber.

O Desafio dos Ramanandis

O novo lar de Govinda tinha pouco em comum com a floresta de Vrindavana, onde vivera formidavelmente. Em Vrindavana, um local sagrado vaishnava, Govinda era irrivalizavelmente o Senhor Supremo. Seu sacerdote, que vinha na linha direta de Rupa Gosvami, o reconhecido líder dos vaishnavas em Vrindavana, desfrutava de irrivalizada autoridade no concernente a questões sobre a filosofia e a prática de bhakti, o serviço devocional a Krishna.

Em Amber, contudo, nem todos os vaishnavas adoravam Krishna. Durante o reino de Prithviraj Singh (1503-1527), um devoto do Senhor Ramachandra chamado Payahari Krishnadasa havia se instalado em Galta, um vale próximo à atual cidade de Jaipur. Payahari foi um discípulo-neto de Ramananda, o reformador do século XIV da sampradaya (linhagem) vaishnava do sul da Índia de Ramanuja. Payahari adorava Sita-Rama, não Radha-Krishna.

Payahari havia se instalado em uma caverna no vale Galta. Ele converteu a rainha Balan Balai ao vaishnavismo ramanandi, e ela, por sua vez, convenceu seu esposo santo, o rei Prithviraj, a patrocinar o estabelecimento de um monastério ramanandi em Galta. Depois disso, Galta tornou-se a sede setentrional da seita Ramanuja.

Por seis gerações, os mahantas (líderes dos templos) ramanandis gozaram de uma privilegiada posição no reino Amber. Porém, com a chegada de Govinda em Amber e Sua popularidade com a família real, a hegemonia ramanandi viu-se ameaçada.

Para Jai Singh, a chegada de Govinda foi especialmente significativa. Apesar da presença de muitas seitas hindus em seu reino, apesar de suas próprias obrigações reais de manter sacrifícios ritualísticos védicos e purânicos e apesar da inquestionável autoridade dos sacerdotes ramanandis, Jai Singh era, acima de tudo, devoto de Govinda. A chegada de Govinda ao seu reino foi um ponto alto em sua busca espiritual pessoal.

Os sacerdotes ramanandis logo se deram conta de que, caso Govinda Se tornasse a Deidade favorita do rei, os sacerdotes gaudiyas assumiriam a autoridade religiosa em Amber. O que seria da ascendência dos ramanandis?

Os ramanandis aproximaram-se então de Jai Singh com uma queixa contra os gaudiyas. Eles questionaram a linhagem gaudiya. Na Índia, muito se preza o parentesco. Caso um indivíduo não possa provar sua legitimidade natal, ele talvez seja rejeitado como um bastardo. O mesmo padrão social se aplica a organizações religiosas. Se um grupo religioso não pode provar sua descendência a partir de uma das tradições reconhecidas, tal grupo corre o risco de ser rejeitado como ilegítimo.

Jai Singh escreveu ao mahanta do templo de Gopinatha, Shyamcharan Sharma, solicitando-lhe que esclarecesse a questão explicando a linhagem dos devotos gaudiyas. Shyamcharan respondeu com uma carta em sânscrito, citando várias escrituras e outras autoridades. Ele explicou que a linhagem gaudiya tivera início com o Senhor Chaitanya, que era o Senhor Supremo. Uma linhagem espiritual originária de Deus é, afinal, irrefutável.

Previsivelmente, os ramanandis não ficaram satisfeitos. Eles disseram: “Há apenas quatro sampradayas, não cinco. Os estudiosos estabeleceram isso com base no Padma Purana”.

É neste ponto que a nossa história nos leva de volta a Baladeva.

A Formação de Baladeva

Antes de os ramanandis queixarem-se em Amber, o jovem Baladeva, vivendo em Mysore, recebera instrução no Vedanta-sutra com os seguidores do grande vedantista Madhvacharya.

A palavra vedanta consiste em duas palavras: veda, “conhecimento”; e anta, “fim”. Desta maneira, vedanta é a culminação do conhecimento védico. Os Vedas são os mais antigos dos escritos sânscritos tradicionais compilados por Srila Vyasadeva. Vyasadeva posteriormente compôs o Vedanta-sutra, que contém em formato conciso a essência das Upanisads (os hinos filosóficos dos Vedas). Porque o Vedanta-sutra é escrito em aforismos, é necessário um comentário para compreendê-lo. O mais antigo e mais famoso comentário ainda existente é o comentário de Shankaracharya (788-820 d.C.).

Shankara foi monista; ele acreditava na unidade última entre o jiva (o ser vivo) e Deus, e ele interpretou o Vedanta-sutra de acordo. Após Shankara, quatro vaishnavas instruídos apresentaram-se no curso de muitas centenas de anos para escreverem comentários ao Vedanta-sutra. Esses vaishnavas escreveram de forma a estabelecer a dualidade entre o jiva e Deus e, deste modo, refutar o ensinamento monista de Shankara.

Esses quatro preceptores vaishnavas – Sri Ramanujacharya, Sri Nimbarka, Sri Madhvacharya e Sri Vishnusvami – estabeleceram as quatro sampradayas vaishnavas reconhecidas. Subsequentes líderes religiosos vaishnavas pertenciam a uma dessas sampradayas e eram, destarte, considerados legítimos. Ramananda alegou que sua linhagem era oriunda de Ramanuja.

Relembramos mais uma vez que Baladeva, em Mysore, havia permanecido no matha da sampradaya de Madhva e estudado o comentário Vedanta-sutra de Madhva.

Ele havia desfrutado de sua educação, mas ele desfrutava ainda mais da aplicação de seu aprendizado. Ele divertia-se em debates; nenhum desafiador era bom demais para ele. E ele estava sempre ávido pela oportunidade de esclarecer outros. Agora, após se tornar um palestrante e debatedor perito, Baladeva deixou Mysore e partiu com destino a Puri, na Orissa, onde novamente passou a residir em um matha Madhva.

Em Puri, Baladeva encontrou-se com Radhadamodara Dasa, um brahmana de Kanyakubja (atual Kanpur), no centro da Índia setentrional. Radhadamodara era discípulo-neto de Rasikananda, um pregador do século XVII que estabeleceu o movimento gaudiya ao longo da Orissa. Radhadamodara, um erudito na filosofia gaudiya, explicou a Baladeva a posição do Senhor Chaitanya, apoiando seus pontos com citações do Mahabharata e do Srimad-Bhagavatam.

Radhadamodara disse: “Sri Krishna Chaitanya é o próprio Senhor Supremo. Ele veio a fim de inundar o mundo com krishna-prema, amor por Krishna. Sri Chaitanya não estava interessado no estudo de muitos comentários ao Vedanta-sutra, pois Ele considerava o Srimad-Bhagavatam, escrito pelo mesmo autor – Vyasa – como sendo o comentário natural. Assim, a partir do Bhagavata e por meio de Seu próprio exemplo, Ele ensinou que devemos servir o Senhor Supremo, Krishna, e absorvermo-nos na audição sobre Ele e na glorificação a Ele. O próprio Sri Chaitanya estava sempre absorto em krishna-prema. Ele, desta forma, não viu necessidade alguma de escrever algum livro”.

Radhadamodara aconselhou Baladeva a estudar o Bhagavata-sandarbha, de Srila Jiva Gosvami. Por dias, Radhadamodara e Baladeva se reuniram e discutiram a obra de Jiva. Baladeva notou que Jiva não era significativamente diferente de Madhva. Com efeito, as filosofias de Jiva e Madhva concordavam nos pontos mais essenciais. Ainda assim, o tratado de Jiva desenvolvia a filosofia vaishnava de uma maneira elegante e lógica que impressionou Baladeva profundamente.

Agora convencido de que a perspectiva gaudiya era verdadeira, Baladeva pediu a Radhadamodara que o iniciasse no sampradaya gaudiya. Baladeva, no entanto, já era um vaishnava iniciado, devido a que Radhadamodara não realizou uma iniciação formal, mas uma cerimônia na qual Baladeva concordou em aceitar e servir Sri Chaitanya Mahaprabhu como o Senhor Supremo. Assim, Baladeva tornou-se membro do sampradaya gaudiya.

Dominando a Filosofia Gaudiya

Baladeva então decidiu viajar para Vrindavana, o centro espiritual da seita gaudiya. Primeiramente, entretanto, ele foi a Navadvipa, onde se encontrou com os vaishnavas de lá e com eles discutiu filosofia. Todos eles disseram-lhe que estudasse com Visvanatha Chakravarti Thakura em Vrindavana. Porque Baladeva ficou muito ávido por encontrar-se com Visvanatha, ele permaneceu apenas um curto período de tempo em Navadvipa antes de dar início à viagem de quase mil e trezentos quilômetros que faria a pé até Vrindavana.

Ao chegar em Vrindavana, Baladeva logo encontrou-se com Visvanatha Cakravarti, apresentou-se e explicou sua trajetória e a história de seu encontro com Radhadamodara em Puri. Visvanatha ficou agradado com o fato de Baladeva ter-lhe buscado para estudar o Srimad-Bhagavatam e sugeriu um dia apropriado para começarem seus estudos. Ele também decidiu que Baladeva deveria estudar os rasa-shastras, obras de devoção avançada, com outro estudioso: Pitambara Dasa.

O apetite de Baladeva foi aguçado lendo o Bhagavata-sandarbha de Jiva Gosvami em Puri. Com Pitambara, Baladeva aprendeu o significado esotérico da filosofia bhagavata, como apresentado nos rasa-shastras. Ele então estudou o Chaitanya-charitamrita, a biografia do Senhor Chaitanya composta por Krishnadasa Kaviraja Gosvami. O Chaitanya-charitamrita é uma obra avançada, destinada àqueles que estudaram completamente as outras escrituras vaishnavas. Completando seu estudo dessa obra culminante, Baladeva qualificou-se para um futuro brilhante como um estudioso gaudiya.

Enquanto isso, em Ambes, os ramanandis continuavam promovendo sua guerra ideológica contra os gaudiyas. Os ramanandis não aceitaram a resposta que os mahantas gaudiyas haviam dado ao rei Jai Singh – de que Sri Chaitanya Mahaprabhu era o próprio Senhor Supremo e que Seu sampradaya situava-se, por conseguinte, acima de qualquer dúvida. Os ramanandis insistiram no princípio de sampradaya chatvarah, “existem apenas quatro sampradayas”, indicando, naturalmente, que os gaudiyas se constituíam de uma quinta e desautorizada linhagem.

Jai Singh preparou-se para o confronto religioso que ele sabia ser inevitável. Ele reuniu e estudou os escritos da seita gaudiya e os comparou aos escritos de outras sampradayas vaishnavas. Ele estudou o Bhagavata Purana e seus comentários de Sridhara Svami, Sanatana Gosvami e Jiva Gosvami. Ele entregou-se ao estudo do Vedanta-sutra e de seus comentários compostos por Shankara, Ramanuja, Madhva, Vallabha e Nimbarka. Ele também examinou as obras de Sanatana Gosvami, Rupa Gosvami, Gopala Bhatta Gosvami, Jiva Gosvami e Krishnadasa Kaviraja Gosvami, os principais teólogos da escola gaudiya. E ele leu o Gita-govinda, de Jayadeva, a poesia que frequentemente evocou expressões de amor extático em Chaitanya Mahaprabhu.

Jai Singh queria conciliar as diferenças entre as principais seitas do vaishnavismo. Ele acreditava que essas diferenças não tinham base filosófica, logo porfiar continuamente não seria de nenhuma utilidade real. Tendo completado sua pesquisa, ele compôs uma tese intitulada Brahma-bodhiniadvogando a unidade dos vaishnavas.

A atração do rei por Krishna havia sido despertada durante sua primeira visita a Vrindavana, como uma criança de sete anos de idade. Ele fora convidado a ir para lá por seu pai, o comandante militar do distrito, o qual havia sido encarregado de proteger as caravanas entre Agra e Mathura. A partir dessa pouca idade, Jai Singh passou a considerar-se devoto de Krishna. Agora, seu estudo dos escritos dos Gosvamis de Vrindavana cristalizou seus sentimentos. Sua devoção a Radha e Krishna, porém, seria testada pelos ramanandis.

“Os gaudiyas não devem adorar Radha e Krishna juntos”, os ramanandis disseram-lhe. “Radha e Krishna não são casados. Não há precedentes dEles sendo adorados juntos! Sita e Rama ficam juntos, e Lakshmi e Narayana, porque são casados. Radha e Krishna, contudo, não são casados”.

Agora os ramanandis estavam incrementando a contenda. Eles não apenas criticaram a linhagem gaudiya, mas também apontaram uma falha no método gaudiya de adoração. Os ramanandis exigiram que Radha fosse removida do altar principal e colocada em outra sala, para ser adorada separadamente.

Jai Singh enviou sua palavra aos mahantas (autoridades religiosas) dos templos gaudiyas. “Vocês têm de preparar uma resposta às críticas verbalizadas pelos ramanandis do vale Galta. Sou simpático à filosofia e à prática de vocês, mas sua resposta deve ser adequada para silenciar os panditas ramanandis, ou então serei forçado a separar Radha de Krishna”.

Os mahantas dos quatro principais templos gaudiyas de Amber enviaram sua resposta por escrito. Eles explicaram que Rupa, Sanatana e Jiva Gosvamis compartilhavam da mesma opinião acerca de Radha e Krishna: Eles podiam ser adorados ou como casados (svakiya-rasa) ou como solteiros (parakiya-rasa), dado que ambos esses passatempos (lila) são eternos. A adoração de Krishna em qualquer lila é adequada para o estabelecimento da relação eterna de um devoto com o Supremo.

Os ramanandis rejeitaram esses argumentos. Lutando por seu poder religioso e político, eles novamente buscaram por Jai Singh.

Como Radha e Krishna não eram casados, os ramanandis queixaram-se, adorá-lOs juntos era mostrar condescendência com a relação questionável dEles. Os ramanandis também criticaram os gaudiyas por adorarem Krishna sem antes adorarem Narayana.

A fim de apaziguar os ramanandis, Jai Singh disse-lhes que solicitaria aos gaudiyas que deixassem a Deidade de Radharani em uma sala separada. Ele também lhes pediria que explicassem sua transgressão da etiqueta vaishnava ao negligenciarem a adoração a Narayana, e solicitaria que provassem sua conexão com a sampradaya de Madhva.

Visvanatha Encarrega Baladeva

Visvanatha Cakravarti, um estudioso de grande renome, viveu em Vrindavana nessa época. Visvanatha nasceu em 1646, em uma vila bengali chamada Saidabad, onde passou os primeiros anos de sua vida. Assim como outros jovens aspirantes à vida renunciada, Visvanatha teve problemas com sua família, a qual lhe prometeu em casamento ainda jovem de modo a prendê-lo na vida doméstica. Como um jovem casado, Visvanatha estudou extensivamente e, enquanto vivia com sua família em Saidabad, escreveu brilhantes comentários a escrituras vaishnavas.

Durante sua vida em Saidabad, Visvanatha recebeu iniciação de Radharamana Cakravarti e estudou o Srimad-Bhagavatam e outras escrituras vaishnavas com o pai de Radharamana, Krishnacharan Chakravarti. Radharamana era distanciado por três gerações do principal preceptor de sua linha, Narottama Dasa Thakura.

Por fim, Visvanatha deixou sua família e partiu para Vrindavana, onde viveu no Radha-kunda. Ele aceitou formalmente as vestes de um renunciante e passou então a ser conhecido como Harivallabha. Ele continuou a escrever e a pregar e, por fim, tornou-se o líder da comunidade gaudiya em Vrindavana.

Quando ocorreu o evento de Govinda mudar-Se para o Rajastão em 1707, Visvanatha tinha mais de sessenta anos. O idoso erudito acompanhou interessado os desenvolvimentos em Amber. O que se daria com Govinda e Seus sacerdotes naquele ambiente pluralístico, no vórtice das forças opostas da devoção do jovem rei, do antagonismo dos ramanandis e da presença ameaçadora de muitíssimas seitas?

Visvanatha regularmente comunicava-se com os mahantas dos templos vaishnavas em Amber. Conquanto ele houvesse esperado por problemas com os ramanandis, o litígio demorou alguns anos antes de intimidar os sacerdotes gaudiyas ou afetar a adoração à Deidade. Agora, ele sabia, eles já se desesperavam diante do crescente antagonismo dos ramanandis.

Visvanatha buscou por Baladeva. “Precisamos refutar os pontos dos ramanandis”, Visvanatha disse ao seu favorito. “Não será fácil, mas podemos derrotá-los”.

Baladeva enfureceu-se com a presunção das críticas dos ramanandis. “Por que devemos estabelecer a legitimidade de nossa linhagem?”, ele exigiu. “O Senhor Supremo, Sri Krishna, apareceu como o Senhor Chaitanya a fim de estabelecer a verdadeira religião para esta era de desavenças. Quando o próprio Deus origina uma tradição religiosa, quem ousaria questionar a legitimidade da mesma?”.

“Os ramanandis questionam”, Visvanatha respondeu, “e eles fundamentam sua crítica na declaração do Padma Purana de que, nesta era, há quatro sampradayas, ou linhas de sucessão discipular. O Purana diz o seguinte: sri-brahma-rudra-sanaka vaishnava-ksiti-pavanah, chatvaras te kalau bhavya hy utkale purushottama. O significado é que os quatro sampradayas vaishnavas – Sri, Brahma, Rudra e Kumara – purificam a Terra”.

“Sim”, respondeu Baladeva, “eu conheço o verso. E os ramanandis dizem que as palavras utkale purushottama significam que esses quatro sampradayas têm seus monastérios na Orissa, em Purushottama-kshetra, a cidade de Jagannatha Puri”.

“Porém, o verdadeiro significado”, prosseguiu Baladeva, “é que o Senhor Supremo, Purushottama, é a quintessência dessas quatro sampradayas. E, quando Ele aparece em Kali-yuga, Ele vive em Jagannatha Puri, como Sri Chaitanya Mahaprabhu. Desta maneira, a linhagem gaudiya não é uma quinta sampradaya, mas a essência das quatro”.

Visvanatha e Baladeva passaram a noite discutindo os outros pontos de contenda dos ramanandis em relação ao movimento do Senhor Chaitanya. Eles desenvolveram a estratégia por meio da qual derrotariam os ramanandis.

Visvanatha enviou Baladeva com Krishnadeva Sarvabhauma a Amber. A chegada de Baladeva lá foi inesperada. Ele era novo na comunidade gaudiya, desconhecido mesmo entre os mahantas gaudiyas de Amber. E ele era jovem. Ninguém, nem mesmo de sua própria tradição, suspeitava que um gigante filosófico vivia dentro da despretensiosa forma daquele santo gaudiya de Vrindavana. Baladeva encontrou dificuldades para obter uma audiência com o rei. E, quando finalmente o conseguiu, os ramanandis na corte estavam prontos para ele.

“Majestade”, Baladeva disse ao rei. “Estou aqui de modo a dar cabo das dúvidas atinentes ao sampradaya gaudiya e seus métodos de adoração”.

“Vossa alteza”, um pandita ramanandi tomou rapidamente a palavra, “solicitamos autorização para nos dirigirmos diretamente a ele!”.

Jai Singh voltou-se a Baladeva. “Vocês podem falar”, o rei disse, confiante de que, se Krishna era de fato o Senhor Supremo, Krishna providenciaria Sua própria defesa.

Os ramanandis deram início com um ataque o qual eles acreditavam que certamente garantiria sua autoridade.

“O problema”, eles disseram a Baladeva, “é que você não pertence a um sampradaya apropriado. Nós, portanto, não podemos aceitar a literatura escrita pelos seus panditas”.

“Eu sou da sampradaya de Madhva”, Baladeva declarou confiante.

“Fui iniciado em Mysore por um tirtha da ordem Madhva. Todavia, Radhadamodara Gosvami e Visvanatha Cakravarti do sampradaya gaudiya também são meus gurus. Eles me ensinaram a filosofia bhagavata”.

Os ramanandis ficaram surpresos. A iniciação Madhva de Baladeva significava que eles teriam de aceitá-lo como um sannyasi e um pandita qualificado de uma linhagem autorizada. Eles tinham a esperança, contudo, de que sua pouca idade poderia indicar alguma carência de perícia. Eles se recompuseram. “Você talvez seja do sampradaya de Madhva, mas os outros gaudiyas não o são!”.

Baladeva reteve sua dignidade e apresentou uma evidência-chave. “Este é o Gaura-ganoddesa-dipika, escrito por Kavi Karnapura há mais de cem anos. Este manuscrito detalha a nossa linhagem oriunda de Madhva”. Baladeva apresentou o manuscrito para inspeção.

Os ramanandis novamente redarguiram: “Se os gaudiyas clamam descenderem de Madhva, então vocês devem basear seus argumentos no comentário de Madhva ao Brahma-sutra. Sabemos que os gaudiyas não têm nenhum comentário próprio”.

Baladeva pensou por um momento. Os gaudiyas jamais haviam escrito um comentário ao Vedanta-sutra porque aceitavam o Srimad-Bhagavatam como o comentário natural. Vyasa é o autor de ambas as obras, e o Senhor Chaitanya ensinou que, quando o autor comenta sua própria obra, sua opinião é a melhor.

Baladeva sabia que os ramanandis rejeitariam esse argumento. Ele também sabia, entretanto, que, caso utilizasse o comentário de Madhva, ele teria dificuldades, dado que o comentário de Madhva não justificaria o estilo de adoração praticado pelos gaudiyas. Baladeva, por conseguinte, decidiu que precisaria escrever pessoalmente um comentário gaudiya. Esse comentário deveria ser baseado no comentário de Madhva, mas poderia ter algumas diferenças admissíveis. “Mostrarei a vocês o nosso comentário”, Baladeva disse. “Por favor, permitam que eu o traga”.

“Perfeitamente, solicite então o envio do mesmo”, consentiu o porta-voz ramanandi.

“Isso não será possível”, respondeu Baladeva. “Precisarei de alguns dias para escrevê-lo”.

Os ramanandis ficaram atônitos. Seria Baladeva capaz de produzir um comentário dentro de poucos dias? Que audácia! Contudo, caso Baladeva pudesse realmente produzi-lo, a posição dos ramanandis poderia ser ameaçada. Será que deveriam conceder-lhe o tempo por ele solicitado?

Antes que pudessem dizer algo, o rei Jai Singh se interpôs. “Sim, o tempo está concedido. Prepare o seu comentário e notifique-nos quando ele estiver pronto. Você precisa saber que, a não ser que apresente um comentário apropriado, aceitaremos as críticas dos ramanandis como válidas. Eu, porém, não atenderei nenhuma exigência deles até que você tenha tido a oportunidade de apresentar seu comentário e seus argumentos”.

Govindaji Inspira Baladeva

Baladeva deixou a assembleia, seguido por Krishnadeva Sarvabhauma. Baladeva viu-se um títere nas mãos do Senhor. Ele havia falado destemidamente na assembleia, mas iria o Divino Titereiro guiar sua escrita?

Baladeva partiu para Govindapura. Colocando-se diante de Govinda, ele ajoelhou-se e orou. “Ó Govinda, Vosso devoto Visvanatha enviou-me aqui a fim de defender tanto Vós como Vossos devotos, mas não sou capaz de fazê-lo! Sou simplesmente uma alma caída em ignorância. Caso queirais, podeis dotar-me de poder para escrever um comentário ao Vedanta-sutra que Vos glorifique. Caso queirais, escreverei as verdades que aprendi com Vossos devotos e com Vossa escritura. E tenho fé de que, mediante a misericórdia que Vós podeis conceder, essas verdades se mostrarão absolutamente lógicas”.

Baladeva então começou a escrever. Fazendo raras pausas para descansar, ele escrevia e orava e então escrevia novamente. Dias se passaram, e noites, mas ele não parou. Alguns historiadores dizem que ele escreveu ao longo de um mês. Outros dizem que ele precisou de apenas sete dias.

Em todo caso, Baladeva logo retornou de Govindapura. Com o evento de sua chegada, intensa expectativa se fez presente em todos. Jai Singh, esperando ver os gaudiyas vindicados, estava especialmente ansioso por ler o comentário. Os ramanandis, por outro lado, aguardavam o comentário com certo temor, esperando que pudessem derrotá-lo prontamente.

Baladeva entrou na corte do debate convocado em Galta. Ele ficou de um lado com os mahantas gaudiyas. Diante deles, estavam os panditas ramanandis. O rei Jai Singh presidia o evento, e uma audiência de nobres e estudiosos formava a plateia.

Com a permissão do rei, Baladeva colocou-se de pé.

“Este comentário”, ele disse mostrando sua obra, “baseia-se no comentário de Madhva, mas há importantes referências. Caso seja examinado, constatar-se-á que ele defende a filosofia gaudiya, ensinada pelo Senhor Chaitanya”.

Um pandita ramanandi caminhou até Baladeva e pegou o comentário.

“Quem é o autor desta obra?”, ele perguntou.

Baladeva respondeu: “O nome do comentário é Govinda-bhasya. Govinda inspirou essa obra. Eu forneci os significados diretos dos sutras de acordo com o desejo de Sri Chaitanya Mahaprabhu. E meus comentários são baseados nos ensinamentos dos meus gurus”.

Os eruditos membros do contingente ramanandi examinaram a primeira porção do bhasya de sorte a determinar se o mesmo era como declarado por Baladeva.

Um porta-voz admitiu: “A influência de Madhva é certamente demonstrável neste comentário, mas devemos examinar algumas das diferenças”.

Baladeva então abordou cada uma das objeções dos ramanandis à adoração gaudiya.

“Eu esclareço cada aspecto da prática gaudiya no capítulo terceiro”, ele disse. “Uma vez que suas críticas referem-se ao nosso estilo de adoração, vocês deveriam consultar o capítulo terceiro a fim de verem como Vyasa, o autor do Vedanta-sutra, permite a nossa adoração. Vocês objetam a nossa adoração de Radha com Govinda por meio do argumento artificial de que Eles não são casados. Nos versos de número quarenta a quarenta e dois, apresento a verdadeira posição de Radha em relação a Krishna. Radha é a energia interna de Krishna e jamais é separada dEle. Sua relação pode ser parakiya ou svakiya, mas isso não afeta a eternidade de Sua união. A separação de Radha e Govinda efetuada por vocês é artificial e, portanto, ofensiva ao Senhor, o qual nutre profunda afeição por Sua energia feminina”.

“Vocês criticaram a nossa predileção por adorar apenas Krishna, negligenciando a adoração a Narayana, Visnu”, continuou, “o que, vocês dizem, é compulsório a todos os vaishnavas. Abordo esse ponto em meus comentários ao verso quarenta e três. Segundo o Vedanta-sutra, Narayana pode ser adorado em qualquer uma de Suas formas, inclusive Krishna. Nenhuma injunção escritural proíbe a adoração de Govinda em exclusão a Narayana”.

Baladeva prosseguiu discursando enquanto os ramanandis permaneciam parados e indefesos. Ele falou eloquente e exaustivamente. Uma refutação dos ramanandis em momento algum se desenvolveu.

Ao fim da apresentação de Baladeva, o rei Jai Singh aguardou, ponderando acerca das evidências. O silêncio dos ramanandis confirmou sua opinião pessoal.

Ele apresentou sua decisão em uma afirmativa breve, mas conclusiva: “A evidência advogando a favor da legitimidade gaudiya é incontestável. De agora em diante, os gaudiyas serão reconhecidos e respeitados como uma seita religiosa autorizada. Ordeno a reunião de Radha com Govinda”.

Os mahantas gaudiyas em Ambes, finalmente livres das condenações dos ramanandis, celebraram o evento construindo um templo da vitória sobre a colina a contemplar do alto o vale Galta. A Deidade do templo foi apropriadamente chamada de Vijaya Gopala, “o vitorioso Gopala”.

Aos Pés de Govinda

Baladeva retornou para Vrindavana, onde assumiu a liderança da comunidade gaudiya. Ele continuou a escrever. Fiel a Jiva Gosvami e devotado ao Senhor Chaitanya, ele produziu comentários às dez principais Upanisads e a nove obras dos Gosvamis de Vrindavana. Ele também escreveu obras originais sobre gramática, drama, prosódia e poesia. Ele permaneceu a inquestionável autoridade em teologia vaishnava até sua morte.

Com a vitória de Baladeva sobre os ramanandis, Jai Singh ficou satisfeito. Ele havia encontrado a síntese das religiões vaishnavas. E Radha havia sido reunida a Govinda no altar, como é na eternidade. Jai Singh dedicou-se a Govinda e viveu uma vida longa e produtiva como rei e estudioso.

Em 1714, Jai Singh mudou Govinda para os jardins Jai Nivasa e O instalou em um jardim doméstico, onde foi adorado por vinte e um anos. Em 1735, o rei construiu um templo para Govinda dentro do complexo do palácio em Jaipur. Jai Singh posteriormente instalou Govinda como o rei de Jaipur e aceitou para si a posição de ministro. Desde então, seu brasão real lê: sri govinda-deva charana savai jai singh sharana: “O Senhor Govinda, em cujos pés Jai Singh se refugia”.

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Referências

Jiva Gosvami Tattvasandarbha, Stuart Mark Elkman (O comentário de Elkman inclui os comentários de Bhaktivinoda Thakura sobre Baladeva Vidyabhusana), Motilal Benarsidass, 1986.

Sri Sri gaudiya Vaishnava Abhidana, Sri Haridas Das, Haribol Kutir, Sri Dhama Navadvipa, 1955.

History and Culture of the Indian People, Vol. VII, R. C. Majumdar e outros, Bharatiya Vidya Bhavan, Bombaim, 1974.

Mathura, A District Memoir, Frederick S. Growse, Oudh Government Press, Allahabad, 1883.

Literary Heritage of the Rulers of Amber and Jaipura, Gopal Narayana Bahura, City Palace Museum, Jaipura, 1976.

Jaipur City, A. K. Roy (editora e data desconhecidos).

.fonte: voltaaosupremo.com/artigos/artigos/baladeva-vidyabhusana-o-vedantista-gaudiya/

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Ganga Puja: Este é literalmente o “aniversário ou descendência da mãe Ganges – Ganga Ma”. Em toda a Índia, este festival dura dez dias, começando no Amavasya (noite de lua escura) e indo até o dasami tithi (décima fase da Lua, um dia antes do Pandava Nirjal Ekadasi). Hoje dia 16/06/2024 doimngo


Este é literalmente o “aniversário ou descendência da mãe Ganges – Ganga Ma”. Em toda a Índia, este festival dura dez dias, começando no Amavasya (noite de lua escura) e indo até o dasami tithi (décima fase da Lua, um dia antes do Pandava Nirjal Ekadasi)

"Os festivais ligados aos rios são essencialmente festivais de banho. Ganga Dussehra é celebrado no décimo dia de Jyeshtha. O rio Ganga é adorado como uma mãe e também como uma deusa, especialmente pelas pessoas de Uttara Pradesh, Bihar e Bengala, através das quais o rio flui Neste dia, se um devoto não puder visitar e tomar banho no rio Ganga, então Ganga jal (água) mantida na maioria das casas hindus é usada para purificação. O Ganga é reverenciado em toda a Índia, mesmo em lugares distantes de seu curso.

Inicialmente, o rio Ganga corria nos céus. Ela foi trazida à terra pelas severas penitências do sábio Bhagiratha e é por isso que ela também é chamada de Bhagirathi. De acordo com a história da descida do Ganga, certa vez vários demônios estavam assediando os eremitas, perturbando-os em seus deveres ascéticos. Durante o dia, eles seriam perseguidos até o oceano. Mas na escuridão da noite, eles emergiriam do oceano e começariam a assediar os eremitas novamente. Em desespero, os eremitas apelaram para Rishi Agastya. Agastya, conhecido por seus poderes gastronômicos, bebeu toda a água do oceano. Embora isto tenha sido feito de boa fé, resultou na privação do mundo da água necessária para o sustento e a terra tornou-se ressequida e seca. Bhagiratha pôs fim a esta seca.

 

Segundo a lenda, o rei Sagara da dinastia Ikshvaku, que governava em Ayodhya, em Uttar Pradesh, teve duas rainhas, Keshani e Sumati, mas nenhuma delas teve filhos. Sagara realizou severas austeridades antes que suas esposas pudessem gerar filhos. Mas enquanto Keshani deu à luz um filho chamado Asmajas, Sumati deu à luz 60.000 filhos. Sagara realizou o sacrifício Ashwamedha para declarar sua suserania sobre os reinos vizinhos. De acordo com o costume predominante, o cavalo sacrificial era solto e permitido vagar pelos reinos vizinhos. Se o cavalo fosse capturado, uma batalha acontecia e o resultado decidia o vencedor. Os 60.000 filhos de Sagara seguiam o cavalo quando o viram entrar em uma caverna onde o sábio Kapila meditava. Não vendo o cavalo na caverna, presumiram que Kapila o havia capturado. Eles não mataram Kapila porque ele era um sábio, mas começaram a perturbar suas meditações. Irritado por ser perturbado, Kapila com uma maldição queimou os 60.000 filhos de Sagara. O tempo passou e mais tarde Bhagiratha, o bisneto de Sagara, encontrou por acaso os ossos de seus ancestrais mortos. Ele queria realizar a shraddha de seus ancestrais, mas não havia água disponível para a cerimônia. Tendo Agastya bebido todas as águas do oceano, o país passava por uma grave seca. Bhagiratha orou a Brahma, o Criador, para acabar com a seca. Brahma pediu-lhe que orasse a Vishnu, o Preservador, para permitir que o Ganga celestial, saindo de Seu dedão do pé, descesse à terra. Vishnu, quando Bhagiratha orou, concordou, mas pediu-lhe que solicitasse a Shiva, o terceiro membro da trindade hindu dos deuses, que permitisse que a chuva torrencial caísse sobre sua cabeça antes de chegar à terra, pois o rio era muito forte e se ela fossem autorizados a descer sem controle, sua queda dividiria a terra. Shiva concordou em suportar o peso gigantesco da cascata do Ganga sobre o cabelo emaranhado empilhado no alto de sua cabeça. Isso prendeu e atrasou o avanço do rio que, ao serpentear pelo labirinto de seus cabelos, perdeu a força e desceu suavemente até o Himalaia, de onde desaguava nas planícies, derramando suas águas na terra ressecada. E é por isso que a imagem antropomórfica de Ganga é mostrada nos cabelos emaranhados de Shiva, também chamado de Gangadhara. Nascida no Himalaia, Ganga é considerada a irmã mais velha de Parvati, que também é filha do Himalaia.

De acordo com o Agni Purana e o Padma Purana, o Ganga desceu à terra no dia de Ganga Dussehra e diz-se que um banho no rio sagrado neste dia purifica um de todos os pecados. Morrer nas margens do Ganges é considerado muito auspicioso. Se isso não for possível, então a imersão das cinzas após a cremação no rio Ganga é obrigatória, pois libera a pessoa dos ciclos de nascimento e renascimento.

as sete maneiras de adorar o Ganga são: chamando seu nome, 'Oh Ganga'; tendo darshan dela; endurecendo suas águas; adorando e tomando banho; ficando nas águas do rio; e carregando barro extraído do rio. Ganga em sua forma antropomórfica é mostrada como uma bela jovem de pé sobre um crocodilo e segurando um pote de água nas mãos. A sua imagem, juntamente com a da Deusa Yamuna, outra divindade sagrada do rio, é frequentemente representada nas portas de templos e palácios. Em Gujarat, há uma lenda segundo a qual Ganga desceu à terra em Rishi Panchami, o quinto dia de Bhadra (setembro) em Tarnetar. Há um tanque sagrado onde as pessoas se reúnem para um banho sagrado naquele dia (páginas 82-82.) (ver festival Tarnetar 106-107, 120-121. não tão relevante para nós - no entanto, belas fotos da feira e dos ghats de banho. ) (Shakti M. Gupta. 1991. Festivais, Feiras e Jejuns da Índia. Clarion Books)

 

Os primeiros dez dias do mês Jyeshth, conhecido como Dashahara, são dedicados a homenagear o rio Ganges, ou Mãe Ganges. Acredita-se que o Ganges flui nos três mundos: no céu é chamado de Mandakini, na terra o Ganges (ou Ganga) e na região inferior o Bhagirathi. Assim, o Ganga é conhecido como “Tripathaga”, ou “Rio dos Três Caminhos”. As pessoas acreditam que banhando-se no Ganga os pecados são lavados. Os principais centros de adoração do Ganga são Gangotri, a nascente do rio; Haridwar, de onde ela desce para as planícies; Allahabad, onde ela se junta ao Yamuna; Varanasi, a cidade santa; e a Ilha Sagara em seu estuário, onde finalmente deságua na Baía de Bengala.

 

Supõe-se que Ganga seja filha do Himalaia e da deusa Mena. De acordo com os Puranas, o Ganga celestial flui do dedo do pé de Vishnu. Ganga às vezes assumia uma forma humana. Em uma dessas aparições, ela se casou com o rei Shantanu e foi a mãe de Bhishma, avô dos clãs guerreiros Pandava e Kaurava (ver Mahabharata).

Há muito tempo, houve um rei chamado Sagar. Uma vez ele realizou o sacrifício de cavalo conhecido como Ashvamedh. Depois de muito vagar, um dia o cavalo do rei chegou ao ashram de Kapil Muni. Então sete mil rapazes do rei também chegaram lá em busca do cavalo. Eles imaginaram perversamente que Kapil Muni havia sequestrado deliberadamente o cavalo e decidiram destruir o muni. Kapil Muni ficou com raiva e os amaldiçoou. Ali todos eles foram queimados e reduzidos a cinzas.

Como nem o cavalo nem seus soldados retornaram, o Rei Sagar ficou ansioso. Ele enviou seu neto Anshuman para procurá-los. Kapil Muni contou toda a história a Anshuman. Anshuman perguntou: “Como pode o pecado dos rapazes do rei ser destruído?”

Kapil Muni respondeu: “Eles serão salvos se a água do Ganges fluir sobre esta terra.”

 

Anshuman tentou, mas não conseguiu, derrubar o Ganga na terra. Depois seu filho Dilip também tentou, mas sem sucesso. Finalmente seu filho Bhagirath, após realizar austeridades terríveis, conseguiu trazer o Ganga a esta terra. Mãe Ganga ficou satisfeita com Bhagirath, mas pediu-lhe que obtivesse também o prazer de Shankar (Senhor Shiva). Shankar concordou em assumir o fardo de trazer o Ganga à terra. Assim, no décimo dia da metade brilhante de Jyeshth, Mãe Ganga começou a fluir do céu para o cabelo emaranhado de Shankar, e do cabelo de Shankar ela começou a fluir nesta terra. Desta forma os filhos de Sagar foram salvos. Por esta razão o Ganges também é conhecido como Bhagirathi. FIM.

 

Se você tiver a sorte de estar em um lugar em Bharat Bhumi onde o sagrado Ganges flui ou em um dos lugares mágicos místicos onde Ela aparece contrária à ciência material, como Mana Sarovara, Manasi Ganga (Bhubaneshwar), Madhwa Sarova (Udupi) , etc., então você poderá descer até suas águas e prestar suas reverências, fazer suas orações e levar essa água sobre sua cabeça. Então, por favor, faça uma oração para invocar as bênçãos do Senhor sobre todos nós que não temos a sorte de estar aí com você.

 

Para a maioria de nós que estamos lendo isto, isso não será fisicamente possível, embora certamente através de Manasa puja – meditação, ainda possamos realizar essa adoração.

 

Esteja você em Gangotri (o lugar onde ela se manifesta primeiro neste reino) ou se você estiver em (H)Rishikesha ou Haridwar, Benares (Varanarsi), Allahabad (Prayag) ou em Mayapur, Bengala Ocidental, ou como estou escrevendo aqui lembrando-se daqueles lugares maravilhosos, a associação purificadora da Mãe Ganga permanece a mesma.

 

Os cientistas ainda não conseguem entender como, ao contrário da água comum, quando você pega uma garrafa dela e a guarda por ANOS, ela nunca fica verde e viscosa. Permanece sempre em seu estado puro.

 

Minhas lembranças dos mergulhos matinais (03h30) em Haridwar (Vishnupadi) ainda me deixam quase sem fôlego ao entrar em suas águas geladas como fizemos em janeiro (inverno no Hemisfério Norte) de 1980. À noite, a floatila de milhares de barcos de folhas carregados de chamas, flores e doces, balançando suavemente enquanto fluem com a corrente ao som retumbante dos sinos e canções arati, e desaparecendo bruxuleando na distância. Uma visão que vale a pena ver.

 

 

 

A descida do rio Ganges

 

Srimad Bhagavatam 5º Canto 17 Resumo do Capítulo

por HDG Srila AC Bhaktivedanta Swami Prabhupad.

 

O Décimo Sétimo Capítulo descreve a origem do Rio Ganges e como ele flui dentro e ao redor de Ilavrita-varsha. Há também uma descrição das orações que o Senhor Siva oferece ao Senhor Sankarshana, parte das expansões quádruplas da Suprema Personalidade de Deus. Certa vez, o Senhor Vishnu se aproximou de Bali Maharaja enquanto o rei realizava um sacrifício. O Senhor apareceu diante dele como Trivikrama, ou Vamana, e implorou esmolas ao Rei na forma de três degraus de terra. Com dois passos, o Senhor Vamana cobriu todos os três sistemas planetários e perfurou a cobertura do universo com os dedos do pé esquerdo. Algumas gotas de água do Oceano Causal vazaram por esse buraco e caíram na cabeça do Senhor Siva, onde permaneceram por mil milênios. Essas gotas de água são o sagrado rio Ganges. Ele flui primeiro para os planetas celestiais, que estão localizados nas solas dos pés do Senhor Vishnu. O rio Ganges é conhecido por muitos nomes, como Bhagirathi e Jahnavi. Purifica Dhruvaloka e os planetas dos sete sábios porque tanto Dhruva quanto os sábios não têm outro desejo senão servir os pés de lótus do Senhor.

O Rio Ganges, que emana dos pés de lótus do Senhor, inunda os planetas celestiais, especialmente a Lua, e então flui através de Brahmapuri no topo do Monte Meru. Aqui o rio se divide em quatro braços (conhecidos como Sita, Alakananda, Cakshu e Bhadra), que então descem para o oceano de água salgada. O ramo conhecido como Sita flui através de Sekhara-parvata e Gandhamadana-parvata e depois desce para Bhadrasva-varsha, onde se mistura com o oceano de água salgada no Ocidente. O ramal Cakshu flui através de Malyavan-giri e, após chegar a Ketumala-varsha, mistura-se com o oceano de água salgada no Ocidente. O ramo conhecido como Bhadra flui para o Monte Meru, Monte Kumuda e as montanhas Nila, Sveta e Sringavan antes de chegar a Kuru-desa, onde deságua no oceano de água salgada no norte. O ramo Alakananda flui através de Brahmalaya, atravessa muitas montanhas, incluindo Hemakuta e Himakuta, e então chega a Bharata-varsha, onde deságua no lado sul do oceano de água salgada. Muitos outros rios e seus afluentes fluem através dos nove varshas.

A extensão de terra conhecida como Bharata-varsha é o campo de atividades, e os outros oito varshas são para pessoas que devem desfrutar do conforto celestial. Em cada uma dessas oito belas províncias, os habitantes celestiais desfrutam de vários padrões de conforto material e prazer. Uma encarnação diferente da Suprema Personalidade de Deus distribui Sua misericórdia em cada um dos nove varshas de Jambudvipa.

No Ilavrita-varsha, o Senhor Siva é o único homem. Lá ele mora com sua esposa, Bhavani, que é atendida por muitas criadas. Se qualquer outro homem entrar naquela província, Bhavani o amaldiçoa para se tornar uma mulher. O Senhor Siva adora o Senhor Sankarshana oferecendo várias orações, uma das quais é a seguinte: “Meu querido Senhor, por favor, liberte todos os Seus devotos da vida material e prenda todos os não-devotos ao mundo material. Sem a Tua misericórdia, ninguém pode ser libertado da escravidão da existência material.”

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SB 5.17.1

sri-suka uvaca

tatra bhagavatah sakshad yajna-lingasya vishnor vikramato vama-padangushtha-nakha-nirbhinnordhvanda-kataha-vivarenantah-pravishta ya bahya-jala-dhara tac-carana-pankajavanejanaruna-kinjalkoparanjitakhila-jagad-agha-malapahopasparsanamala sakshad -padity anupalakshita-vaco 'bhidhiyamanati- mahata kalena yuga-sahasropalakshanena divo murdhany avatatara yat tad vishnu-padam ahuh.

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TRADUÇÃO

Sukadeva Gosvami disse: Meu querido rei, o Senhor Vishnu, o desfrutador de todos os sacrifícios, apareceu como Vamanadeva na arena sacrificial de Bali Maharaja. Então Ele estendeu Seu pé esquerdo até o fim do universo e fez um buraco em sua cobertura com a unha do dedão do pé. Através do buraco, a água pura do Oceano Causal entrou neste universo como o Rio Ganges. Tendo lavado os pés de lótus do Senhor, que estão cobertos com um pó avermelhado, a água do Ganges adquiriu uma linda cor rosa. Todo ser vivo pode purificar imediatamente sua mente da contaminação material ao tocar a água transcendental do Ganges, mas suas águas permanecem sempre puras. Como o Ganges toca diretamente os pés de lótus do Senhor antes de descer neste universo, ele é conhecido como Vishnupadi. Mais tarde ela recebeu outros nomes como Jahnavi e Bhagirathi. Depois de mil milênios, a água do Ganges desceu sobre Dhruvaloka, o planeta mais elevado deste universo. Portanto, todos os sábios e eruditos proclamam que Dhruvaloka é Vishnupada [“situado nos pés de lótus do Senhor Vishnu”].

SIGNIFICADO

Neste verso, Sukadeva Gosvami descreve as glórias do rio Ganges. A água do Ganges é chamada patita-pavani, a libertadora de todos os seres vivos pecaminosos. É um fato comprovado que uma pessoa que se banha regularmente no Ganges é purificada tanto externa quanto internamente. Externamente, seu corpo torna-se imune a todos os tipos de doenças, e internamente ele gradualmente desenvolve uma atitude devocional para com a Suprema Personalidade de Deus. Em toda a Índia, muitos milhares de pessoas vivem nas margens do Ganges e, ao banharem-se regularmente nas suas águas, estão sem dúvida a ser purificadas tanto espiritual como materialmente. Muitos sábios, incluindo Sankaracarya, compuseram orações em louvor ao Ganges, e a própria terra da Índia tornou-se gloriosa porque rios como o Ganges, Yamuna, Godavari, Kaveri, Krishna e Narmada correm para lá. Qualquer pessoa que viva nas terras adjacentes a esses rios é naturalmente avançada em consciência espiritual. Srila Madhvacharya diz:

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varahe vama-padam tu

tad-anyeshu tu dakshinam

Padam Kalpeshu Bhagavan

ujjahara trivikramah

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Posicionando-se sobre Seu pé direito e estendendo Seu pé esquerdo até os confins do universo, o Senhor Vamana ficou conhecido como Trivikrama, a encarnação que realizou três feitos heróicos.

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SB 5.17.2

yatra ha vava vira-vrata auttanapadih parama-bhagavato 'smat-kula-devata-caranaravindodakam iti yam anusavanam utkrishyamana-bhagavad-bhakti-yogena dridham klidyamanantar-hridaya autkanthya-vivasamilita-locana-yugala-kudmala-vigalitamala-bashpa-kalayabhivyaj yamana-roma- pulaka-kulako 'dhunapi paramadarena sirasa bibharti.

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TRADUÇÃO

Dhruva Maharaja, o famoso filho de Maharaja Uttanapada, é conhecido como o devoto mais exaltado do Senhor Supremo devido à sua firme determinação em executar o serviço devocional. Sabendo que a água sagrada do Ganges lava os pés de lótus do Senhor Vishnu, Dhruva Maharaja, situado em seu próprio planeta, até hoje aceita aquela água em sua cabeça com grande devoção. Como ele pensa constantemente em Krishna com muita devoção no âmago de seu coração, ele é dominado por uma ansiedade extática. Lágrimas escorrem de seus olhos entreabertos e erupções aparecem por todo o seu corpo.

SIGNIFICADO

Quando uma pessoa está firmemente fixada no serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus, ela é descrita como vira-vrata, totalmente determinada. Tal devoto aumenta cada vez mais seu êxtase no serviço devocional. Assim, assim que ele se lembra do Senhor Vishnu, seus olhos se enchem de lágrimas. Este é um sintoma de um maha-bhagavata. Dhruva Maharaja manteve-se nesse êxtase devocional, e Sri Caitanya Mahaprabhu também nos deu um exemplo prático de êxtase transcendental quando viveu em Jagannatha Puri. Seus passatempos ali são totalmente narrados no Caitanya-caritamrita.

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SB 5.17.3

tatah sapta rishayas tat prabhavabhijna yam nanu tapasa atyantiki siddhir etavati bhagavati sarvatmani vasudeve 'nuparata-bhakti-yoga-labhenaivopekshitanyarthatma-gatayo muktim ivagatam mumukshava iva sabahu-manam adyapi jata-jutair udvahanti.

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TRADUÇÃO

Os sete grandes sábios [Marici, Vasishtha, Atri e assim por diante] residem em planetas abaixo de Dhruvaloka. Bem conscientes da influência da água do Ganges, até hoje eles mantêm a água do Ganges nos tufos de cabelo de suas cabeças. Eles concluíram que esta é a riqueza suprema, a perfeição de todas as austeridades e o melhor meio de levar a cabo a vida transcendental. Tendo obtido serviço devocional ininterrupto à Suprema Personalidade de Deus, eles negligenciam todos os outros processos benéficos, como religião, desenvolvimento econômico, gozo dos sentidos e até mesmo a fusão com o Supremo. Assim como os jnanis pensam que a fusão na existência do Senhor é a verdade mais elevada, essas sete personalidades exaltadas aceitam o serviço devocional como a perfeição da vida.

SIGNIFICADO

Os transcendentalistas estão divididos em dois grupos principais: os nirvisesha-vadis, ou impersonalistas, e os bhaktas, ou devotos. Os impersonalistas não aceitam variedades espirituais de vida. Eles querem fundir-se na existência do Senhor Supremo em Seu aspecto Brahman (o brahmajyoti). Os devotos, porém, desejam participar das atividades transcendentais do Senhor Supremo. No sistema planetário superior, o planeta mais elevado é Dhruvaloka, e abaixo de Dhruvaloka estão os sete planetas ocupados pelos grandes sábios, começando com Marici, Vasishtha e Atri. Todos esses sábios consideram o serviço devocional a mais elevada perfeição da vida. Portanto, todos eles carregam a água benta do Ganges sobre suas cabeças. Este versículo prova que para quem alcançou a plataforma do serviço devocional puro, nada mais é importante, até mesmo a chamada liberação (kaivalya). Srila Sridhara Svami afirma que somente alcançando o serviço devocional puro ao Senhor é que alguém pode abandonar todos os outros compromissos por considerá-los insignificantes. Prabodhananda Sarasvati confirma sua declaração da seguinte forma:

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kaivalyam narakayate tri-dasa-pur akasa-pushpayate

durdantendriya-kala-sarpa-patali protkhata-damshtrayate

visvam purna-sukhayate vidhi-mahendradis ca kitayate

yat karunya-kataksha-vaibhavavatam tam gauram eva stumah

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Sri Chaitanya Mahaprabhu enunciou e transmitiu perfeitamente o processo de bhakti-yoga. Conseqüentemente, para quem se abrigou aos pés de lótus de Sri Caitanya Mahaprabhu, a perfeição mais elevada dos Mayavadis, kaivalya, ou tornar-se um com o Supremo, é considerada infernal, para não falar da aspiração dos karmis de serem promovidos ao nível superior. planetas celestiais. Os devotos consideram tais objetivos uma fantasmagoria inútil. Existem também iogues que tentam controlar os seus sentidos, mas nunca conseguem ter sucesso sem chegar ao estágio do serviço devocional. Os sentidos são comparados a cobras venenosas, mas os sentidos de um bhakta ocupado no serviço ao Senhor são como cobras cujas presas venenosas foram removidas. O iogue tenta suprimir seus sentidos, mas mesmo grandes místicos como Visvamitra falham na tentativa. Visvamitra foi conquistado pelos seus sentidos quando foi cativado por Menaka durante sua meditação. Mais tarde, ela deu à luz Sakuntala. As pessoas mais sábias do mundo, portanto, são os bhakti-yogis, como o Senhor Krishna confirma no Bhagavad-gita (6.47):

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Yoginam API Sarvesham

mad-gatenantaratmana

sraddhavan bhajate yo mam

sa me yuktatamo matah

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“De todos os iogues, aquele que sempre permanece em Mim com grande fé, adorando-Me em serviço amoroso transcendental, é o mais intimamente unido a Mim no yoga e é o mais elevado de todos.”

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SB 5.17.4

tato 'neka-sahasra-koti-vimananika-sankula-deva-yanenavatar-antindu mandalam avarya brahma-sadane nipatati.

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TRADUÇÃO

Depois de purificar os sete planetas próximos a Dhruvaloka [a estrela polar], a água do Ganges é transportada pelas vias espaciais dos semideuses em bilhões de aviões celestiais. Então inunda a lua [Candraloka] e finalmente chega à morada do Senhor Brahma no topo do Monte Meru.

SIGNIFICADO

Devemos sempre lembrar que o Rio Ganges vem do Oceano Causal, além da cobertura do universo. Depois que a água do Oceano Causal vaza através do buraco criado pelo Senhor Vamanadeva, ela flui para Dhruvaloka (a estrela polar) e depois para os sete planetas abaixo de Dhruvaloka. Depois é levado à Lua por inúmeros aviões celestes e depois cai no topo do Monte Meru, conhecido como Sumeru-parvata. Desta forma, a água do Ganges finalmente chega aos planetas inferiores e aos picos do Himalaia, e de lá flui através de Hardwar e pelas planícies da Índia, purificando toda a terra. Aqui é explicado como a água do Ganges chega aos vários planetas do topo do universo. Aviões celestiais transportam a água dos planetas dos sábios para outros planetas. Os chamados cientistas avançados da era moderna estão tentando ir para os planetas superiores, mas ao mesmo tempo estão enfrentando uma escassez de energia na Terra. Se fossem realmente cientistas capazes, poderiam ir pessoalmente de avião para outros planetas, mas não conseguem fazer isso. Tendo desistido de suas excursões lunares, eles estão tentando ir para outros planetas, mas sem sucesso.

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SB 5.17.5

tatra caturdha bhidyamana caturbhir namabhis catur-disam abhispandanti nada-nadi-patim evabhinivisati sitalakananda cakshur bhadreti.

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TRADUÇÃO

No topo do Monte Meru, o Ganges se divide em quatro braços, cada um dos quais jorra em uma direção diferente [leste, oeste, norte e sul]. Esses ramos, conhecidos pelos nomes Sita, Alakananda, Cakshu e Bhadra, descem para o oceano.

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SB 5.17.6

sita tu brahma-sadanat kesaracaladi-giri-sikharebhyo 'dho 'dhah prasravanti gandhamadana-murdhasu patitvantarena bhadrasva-varsham pracyam disi kshara-samudram abhipravisati.

.TRADUÇÃO

O braço do Ganges conhecido como Sita flui através de Brahmapuri no topo do Monte Meru e de lá desce até os picos próximos das Montanhas Kesaracala, que são quase tão altos quanto o próprio Monte Meru. Estas montanhas são como um monte de filamentos ao redor do Monte Meru. Das montanhas Kesaracala, o Ganges desce até o pico da montanha Gandhamadana e então deságua na terra de Bhadrasva-varsha. Finalmente chega ao oceano de água salgada no oeste.

.SB 5.17.7

evam malyavac-chikharan nishpatanti tato 'nuparata-vega ketumalam abhi cakshuh praticyam disi sarit-patim pravisati.

.TRADUÇÃO

O braço do Ganges conhecido como Cakshu cai no cume da montanha Malyavan e de lá desce em cascata para a terra de Ketumala-varsha. O Ganges flui incessantemente através de Ketumala-varsha e desta forma também atinge o oceano de água salgada no Ocidente.

.SB 5.17.8

bhadra cottarato meru-siraso nipatita giri-sikharad giri-sikharam atihaya sringavatah sringad avasyandamana uttarams tu kurun abhita udicyam disi jaladhim abhipravisati.

.TRADUÇÃO

O braço do Ganges conhecido como Bhadra flui do lado norte do Monte Meru. Suas águas caem sucessivamente nos picos da Montanha Kumuda, Monte Nila, Montanha Sveta e Montanha Sringavan. Depois desce para a província de Kuru e, depois de atravessar aquela terra, deságua no oceano de água salgada ao norte.

.SB 5.17.9

tathaivalakananda dakshinena brahma-sadanad bahuni giri-kutany atikramya hemakutad dhaimakutany ati-rabhasatara-ramhasa luthayanti bharatam abhivarsham dakshinasyam disi jaladhim abhipravisati yasyam snanartham cagacchatah pumsah pade pade 'svamedha-rajasuyadinam phalam na durlabham iti.

.TRADUÇÃO

Da mesma forma, o braço do Ganges conhecido como Alakananda flui do lado sul de Brahmapuri [Brahma-sadana]. Passando pelos topos das montanhas em várias terras, cai com força feroz sobre os picos das montanhas Hemakuta e Himakuta. Depois de inundar os topos dessas montanhas, o Ganges cai na extensão de terra conhecida como Bharata-varsha, que ela também inunda. Então o Ganges deságua no oceano de água salgada no sul. Quem vem tomar banho neste rio tem sorte. Não é muito difícil para eles alcançarem a cada passo os resultados da realização de grandes sacrifícios como os yajnas Rajasuya e Asvamedha.

SIGNIFICADO

O local onde o Ganges deságua na água salgada da Baía de Bengala ainda é conhecido como Ganga-sagara, ou o ponto de encontro do Ganges e da Baía de Bengala. Em Makara-sankranti, no mês de janeiro-fevereiro, milhares de pessoas ainda vão lá para tomar banho, na esperança de serem libertadas. Que eles podem realmente ser libertados desta forma é confirmado aqui. Para aqueles que se banham no Ganges a qualquer hora, os resultados de grandes sacrifícios como o Asvamedha e o Rajasuya yajnas não são nada difíceis de alcançar. A maioria das pessoas na Índia ainda gosta de tomar banho no Ganges, e há muitos lugares onde isso pode ser feito. Em Prayaga (Allahabad), muitos milhares de pessoas se reúnem durante o mês de janeiro para se banhar na confluência do Ganges e do Yamuna. Depois, muitos deles vão até a confluência da Baía de Bengala e do Ganges para ali tomar banho. Portanto, é uma facilidade especial para todo o povo da Índia poder banhar-se nas águas do Ganges em tantos locais de peregrinação.

.SB 5.17.10

anye ca nada nadyas ca varshe varshe santi bahuso merv-adi-giri-duhitarah satasah.

.TRADUÇÃO

Muitos outros rios, grandes e pequenos, fluem do topo do Monte Meru. Esses rios são como filhos da montanha e fluem para as diversas extensões de terra em centenas de braços.

.SB 5.17.11

tatrapi bharatam eva varsham karma-kshetram anyany ashta varshani svarginam punya-seshopabhoga-sthanani bhaumani svarga-padani vyapadisanti.

.TRADUÇÃO

Entre os nove varshas, ​​a extensão de terra conhecida como Bharata-varsha é considerada o campo de atividades lucrativas. Estudiosos eruditos e pessoas santas declaram que os outros oito varshas são destinados a pessoas piedosas altamente elevadas. Depois de retornar dos planetas celestiais, eles desfrutam dos resultados restantes de suas atividades piedosas nestes oito varshas terrestres.

SIGNIFICADO

Os locais celestiais de desfrute são divididos em três grupos: os planetas celestiais celestiais, os locais celestiais na terra e os locais celestiais bila, que são encontrados nas regiões inferiores. Entre essas três classes de lugares celestiais (bhauma-svarga-pada-ni), os lugares celestiais na terra são os oito varshas além de Bharata-varsha. No Bhagavad-gita (9.21) Krishna diz, kshine punye martya-lokam visanti: quando as pessoas que vivem nos planetas celestiais esgotam os resultados de suas atividades piedosas, elas retornam a esta terra. Dessa forma, eles são elevados aos planetas celestiais e depois caem novamente para os planetas terrestres. Este processo é conhecido como brahmanda bhramana, vagando para cima e para baixo pelos universos. Aqueles que são inteligentes – em outras palavras, aqueles que não perderam a inteligência – não se envolvem neste processo de subir e descer. Eles adotam o serviço devocional ao Senhor para que possam finalmente penetrar na cobertura deste universo e entrar no reino espiritual. Então eles estão situados em um dos planetas conhecidos como Vaikunthaloka ou, ainda mais elevado. Krishnaloka (Goloka Vrindavana). Um devoto nunca é pego no processo de ser promovido aos planetas celestiais e descer novamente. Portanto Sri Chaitanya Mahaprabhu diz:

 

ei rupe brahmanda bhramite kona bhagyavan jiva

guru-krishna-prasade paya bhakti-lata-bija

 

Entre todas as entidades vivas que vagam pelo universo, aquela que é mais afortunada entra em contato com um representante da Suprema Personalidade de Deus e assim tem a oportunidade de executar serviço devocional. Aqueles que buscam sinceramente o favor de Krishna entram em contato com um guru, um representante genuíno de Krishna. Os Mayavadis que se entregam à especulação mental e os karmis que desejam os resultados de suas ações não podem se tornar gurus. Um guru deve ser um representante direto de Krishna que distribui as instruções de Krishna sem qualquer alteração. Assim, apenas as pessoas mais afortunadas entram em contato com o guru. Conforme confirmado nas literaturas védicas, tad-vijnanartham sa gurum evabhigacchet: é preciso procurar um guru para compreender os assuntos do mundo espiritual. O Srimad-Bhagavatam também confirma este ponto. Tasmad gurum prapadyeta jijnasuh sreya uttamam: quem está muito interessado em compreender as atividades no mundo espiritual deve procurar um guru – um representante genuíno de Krishna. De todos os ângulos de visão, portanto, a palavra guru destina-se especialmente ao representante genuíno de Krishna e a mais ninguém. Padma Purana afirma, avaishnavo gurur na syat: aquele que não é um Vaishnava, ou que não é um representante de Krishna, não pode ser um guru. Mesmo o brahmana mais qualificado não pode se tornar um guru se não for um representante de Krishna. Supõe-se que os Brahmanas adquiram seis tipos de qualificações auspiciosas: tornam-se eruditos muito eruditos (pathana) e professores muito qualificados (pathana); tornam-se especialistas em adorar o Senhor ou os semideuses (yajana) e ensinam aos outros como executar essa adoração (yajana); qualificam-se como pessoas de boa-fé para receber esmolas de outros (pratigraha) e distribuem a riqueza em caridade (dana). Contudo, mesmo um brahmana que possua essas qualificações não pode se tornar um guru a menos que seja o representante de Krishna (gurur na syat). Vaishnavah sva-paco guruh: mas um Vaishnava, um representante genuíno da Suprema Personalidade de Deus, Vishnu, pode se tornar um guru, mesmo que seja sva-paca, membro de uma família de comedores de cachorro. Das três divisões dos planetas celestiais (svarga-loka), bhauma-svarga é às vezes aceito como a extensão de terra em Bharata-varsha conhecida como Caxemira. Nesta região há certamente boas instalações para o desfrute dos sentidos materiais, mas este não é o negócio de um transcendentalista puro. Rupa Gosvami descreve o envolvimento de um transcendentalista puro da seguinte forma:

 

anyabhilashita-sunyam

jnana-karmady-anavritam

anukulyena krishnanu-

silanam bhaktir uttama

 

“Deve-se prestar serviço amoroso transcendental ao Supremo Senhor Krishna de maneira favorável e sem desejo de lucro material ou ganho através de atividades lucrativas ou especulação filosófica. Isso se chama serviço devocional puro.” Aqueles que se dedicam plenamente ao serviço devocional a Krishna apenas para agradá-Lo não estão interessados ​​nas três divisões dos lugares celestiais, a saber, divya-svarga, bhauma-svarga e bila-svarga.

 

 fonte; https://iskcondesiretree-com.translate.goog/page/ganga-puja?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=sc



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