terça-feira, 12 de agosto de 2008

A diferença de inclusão e integração.


Em defesa da inclusão : ampla, geral e irrestrita.


O que é inclusão ?

Incluir

do Lat. includere verbo transitivo direto compreender, abranger; conter em si, envolver, implicar; inserir, intercalar, introduzir fazer parte, figurar entre outros; pertencer juntamente com outros.


No bom e velho “Aurélio” , o verbo incluir apresenta vários significados, todos eles com o sentido de algo ou alguém inserido entre outras coisas ou pessoas. Em nenhum momento essa definição pressupõe que o ser incluído precisa ser igual ou semelhante aos demais aos quais se agregou.

Quando falamos de uma sociedade inclusiva, pensamos naquela que valoriza a diversidade humana e fortalece a aceitação das diferenças individuais. É dentro dela que aprendemos a conviver, contribuir e construir juntos um mundo de oportunidades reais (não obrigatoriamente iguais) para todos.

Isso implica numa sociedade onde cada um é responsável pela qualidade de vida do outro, mesmo quando esse outro é muito diferente de nós.

Inclusão ou integração ?

Semanticamente incluir e integrar têm significados muito parecidos, o que faz com que muitas pessoas utilizem esses verbos indistintamente. No entanto, nos movimentos sociais inclusão e integração representam filosofias totalmente diferentes, ainda que tenham objetivos aparentemente iguais , ou seja, a inserção de pessoas com deficiência na sociedade.

Os mal-entendidos sobre o tema começam justamente aí. As pessoas usam o termo inclusão quando, na verdade, estão pensando em integração.

Quais são as principais diferenças entre inclusão e integração ? O conteúdo das definições do quadro abaixo é de autoria de Claudia Werneck, extraído do primeiro volume do Manual do Mídia Legal :

Inclusão: a inserção é total e incondicional (crianças com deficiência não precisam "se preparar" para ir à escola regular) Integração: a inserção é parcial e condicional (crianças "se preparam" em escolas ou classes especiais para estar em escolas ou classes regulares)
Inclusão: exige rupturas nos sistemas Integração: Pede concessões aos sistemas
Inclusão: mudanças que beneficiam toda e qualquer pessoa (não se sabe quem "ganha" mais; TODAS ganham); Integração: Mudanças visando prioritariamente a pessoas com deficiência (consolida a idéia de que elas "ganham" mais)
Inclusão: exige transformações profundas Integração: contenta-se com transformações superficiais
Inclusão: sociedade se adapta para atender às necessidades das pessoas com deficiência e, com isso, se torna mais atenta às necessidades de TODOS Integração: pessoas com deficiência se adaptam às necessidades dos modelos que já existem na sociedade, que faz apenas ajustes
Inclusão: defende o direito de TODAS as pessoas, com e sem deficiência Integração: Defende o direito de pessoas com deficiência
Inclusão: traz para dentro dos sistemas os grupos de "excluídos" e, paralelamente, transforma esses sistemas para que se tornem de qualidade para TODOS Integração: Insere nos sistemas os grupos de "excluídos que provarem estar aptos" (sob este aspecto, as cotas podem ser questionadas como promotoras da inclusão)
Inclusão : o adjetivo inclusivo é usado quando se busca qualidade para TODAS as pessoas com e sem deficiência (escola inclusiva, trabalho inclusivo, lazer inclusivo etc) Integração : O adjetivo integrador é usado quando se busca qualidade nas estruturas que atendem apenas as pessoas com deficiência consideradas aptas (escola integradora, empresa integradora etc)
Inclusão: valoriza a individualidade de pessoas com deficiência (pessoas com deficiência podem ou não ser bons funcionários; podem ou não ser carinhosos etc); Integração: Como reflexo de um pensamento integrador podemos citar a tendência a tratar pessoas com deficiência como um bloco homogêneo (exemplos: surdos se concentram melhor; cegos são excelentes massagistas)
Inclusão: Não quer disfarçar as limitações, porque elas são reais Integração: Tende a disfarçar as limitações para aumentar a possibilidade de inserção
Inclusão: Não se caracteriza apenas pela presença de pessoas com e sem deficiência em um mesmo ambiente Integração: A presença de pessoas com e sem deficiência no mesmo ambiente tende a ser suficiente para o uso do adjetivo integrador


A escola e a inclusão

Os objetivos tradicionais na educação de pessoas com necessidades educativas específicas, ainda se orientam por conseguir alcançar comportamentos sociais controlados, quando deveriam ter como objetivo que essas pessoas adquirissem cultura suficiente para que pudessem conduzir sua própria vida. Ainda vivemos em um modelo assistencial e dependente quando a meta da inclusão é o modelo competencial e autônomo.

O pensamento pedagógico dos profissionais, é que “as crianças com necessidades educativas específicas são os únicos responsáveis (culpados) por seus problemas de aprendizagem (às vezes esse sentimento se estende aos pais), mas raras vezes questionam o sistema escolar e a sociedade...o fracasso na aprendizagem deve-se às próprias crianças com deficiência e não ao sistema, pensa-se que são eles e não a escola quem tem que mudar.”*

É um modelo baseado no déficit, que destaca mais o que a criança não sabe fazer do que aquilo que ela pode realmente fazer. Assim, esse modelo se centra na necessidade do especialista, e se busca um modo terapêutico de intervir, como se a resolução dos problemas da diversidade estivesse sujeita à formação de especialistas que se fazem profissionais da deficiência.

Essa escola seletiva valoriza mais a capacidade dos que os processos; os agrupamentos homogêneos do que os heterogêneos; a competitividade do que a cooperação; o individualismo do que a aprendizagem solidária; os modelos fechados, rígidos e inflexíveis do que os projetos educativos abertos, compreensivos e transformadores; apóia-se em desenvolver habilidades e destrezas e não conteúdos culturais e vivenciais como instrumentos para adquirir e desenvolver estratégias que lhes permitam resolver os problemas da vida cotidiana.

Essa postura é um problema ideológico, por que o que se esconde atrás dessa atitude é a não-aceitação da diversidade como valor humano e a perpetuação das diferenças entre os alunos, ressaltando que essas diferenças são insuperáveis.

A escola inclusiva é aquela onde o modelo educativo subverte essa lógica e pretende, em primeiro lugar, estabelecer ligações cognitivas entre os alunos e o currículo, para que adquiram e desenvolvam estratégias que lhes permitam resolver problemas da vida cotidiana e que lhes preparem para aproveitar as oportunidades que a vida lhes ofereça. Às vezes, essas oportunidades lhes serão dadas mas, na maioria das vezes, terão que ser construídas e, nessa construção, as pessoas com deficiência têm que participar ativamente.

Esta incompreensão da cultura da diversidade implica em que os profissionais pensem que os processos de integração estavam destinados a melhorar a “educação especial” e não a educação em geral. Encontramo-nos em um momento de crise, por que os velhos parâmetros estão agonizando e os novos ainda não terminaram de emergir. Penso que a cultura da diversidade está colocando contra a parede o fim de uma época (o ocaso da modernidade?) educativa.

A cultura da diversidade vai nos permitir construir uma escola de qualidade, uma didática de qualidade e profissionais de qualidade. Todos teremos de aprender a “ensinar a aprender”. A cultura da diversidade é um processo de aprendizagem permanente, onde TODOS devemos aprender a compartilhar novos significados e novos comportamentos de relações entre as pessoas. A cultura da diversidade é uma nova maneira de educar que parte do respeito à diversidade como valor.

*Melero, Miguel Lopez - Diversidade e Cultura: uma escola sem exclusões. Universidade de Málaga. Espanha.2002

Leitura recomendada

Acesso de Humor - cartilha de acessibilidade
Barreiras Atitudinais- Obstáculos à pessoa com deficiência na escola - Francisco J. Lima e Fabiana Tavares dos Santos Silva
Cartilha da Inclusão
Como chamar as pessoas que têm deficiência - Romeu Kazumi Sassaki
Construindo escolas inclusivas - MEC
Declaração de Salamanca
Deficiência através da história – Maria Salete Fábio Aranha
Fórum Permanente de Educação Inclusiva - Carta de Princípios
Inclusão Escolar – Maria Tereza Égler Mantoan
Inclusão é o privilégio de conviver com as diferenças - Maria Tereza Égler Mantoan
Inclusão : o que o professor tem a ver com isso ? - Rede SACI
Mitos e preconceitos em torno do aluno com deficiência na Escola Regular e na Escola Especial - Francisco Lima
Normose - Pierre Weil
Paradigmas da deficiência – Maria Salete Fábio Aranha
¡Pregúntame sobre accesibilidad y ayudas técnicas! - OS Solidariedad
Síndrome de Down não é doença - Grupo Síndrome de Down

Artigos do Prof Miguel López Melero
O projeto Roma - em alguns lugares denominado Projeto Málaga
O que eu aprendi ?
Diversidade e cultura : uma escola sem exclusões
Educação Intercultural : a diferença como valor

Artigos de Fábio Adiron na página de artigos sob o sub-título Inclusão

Inclusão: ampla, geral e irrestrita - Blog sobre inclusão

Links Importantes

Inclusão e direitos da pessoas com deficiência

A Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência - Edição Comentada

Acesso de Humor - Uma Campanha para Incorporar a Acessibilidade ao Cotidiano
Aprender com as diferenças - artigos do Planeta Educação
Forum Permanente de Educação Inclusiva
CORDE - Coordenadoria para a Integração da Pessoa com Deficiência
CONADE - Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência
Rede SACI - Rede de apoio e informações

Síndrome de Down

Grupo de discussão sobre Síndrome de Down
Síndrome de Down na Internet - recomendações e lista de sites úteis

De: windsondwsk8
Igualdade de direitos


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