sexta-feira, 4 de julho de 2008

RESENHA : A Importância do Ato de Ler.


Introdução

O livro “A Importância do Ato de Ler” de Paulo Freire, relata os aspectos da biblioteca popular e a relação com a alfabetização de adultos desenvolvida na República Democrática de São Tomé e Príncipe.

Ao mesmo tempo, nos esclarece que a leitura da palavra é precedida da leitura do mundo e também enfatiza a importância crítica da leitura na alfabetização, colocando o papel do educador dentro de uma educação, onde o seu fazer deve ser vivenciado, dentro de uma prática concreta de libertação e construção da história, inserindo o alfabetizando num processo criador, de que ele é também um sujeito.

1 - a importância do ato de ler

Segundo Paulo Freire a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra. O ato de ler se veio dando na sua experiência existencial. Primeiro, a “leitura” do mundo do pequeno mundo em que se movia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao longo da sua escolarização, foi a leitura da “palavra mundo”. Na verdade, aquele mundo especial se dava a ele como o mundo de sua atividade perspectiva, por isso, mesmo como o mundo de suas primeiras leituras. Os “textos”, as “palavras”, as “letras” daquele contexto em cuja percepção experimentava e, quando mais o fazia, mais aumentava a capacidade de perceber se encarnavam numa série de coisas, de objetos, de sinais, cuja compreensão ia aprendendo no seu trato com eles, na sua relação com seus irmãos mais velhos e com seus pais.

A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensão da importância do ato de ler, de escrever ou de reescrevê-lo, e transformá-lo através de uma prática consciente.

Esse movimento dinâmico é um dos aspectos centrais do processo de alfabetização que deveriam vir do universo vocabular dos grupos populares, expressando a sua real linguagem, carregadas da significação de sua experiência existencial e não da experiência do educador.

A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral. Assim as palavras do povo, vinham através da leitura do mundo. Depois voltavam a eles, inseridas no que se chamou de codificações, que são representações da realidade. No fundo esse conjunto de representações de situações concretas possibilitava aos grupos populares uma “leitura da leitura” anterior do mundo, antes da leitura da palavra. O ato de ler implica na percepção crítica, interpretação e “re-escrita” do lido.

1.1 - Alfabetização de Adultos e Biblioteca Populares: Uma introdução

Para Paulo Freire falar de alfabetização de adultos e de biblioteca populares é falar, entre muitos outros, do problema da leitura e da escrita. Não da leitura de palavras e de sua escrita em si próprias, como se lê-las e escrevê-las, não implicasse uma outra leitura da realidade mesma, para aclarar o que chama de prática e compreensão crítica da alfabetização.

Do ponto de vista crítico é tão impossível negar a natureza política do processo educativo quanto negar o caráter educativo do ato político. Quanto mais ganhamos esta clareza através da prática, mais percebemos a impossibilidade de separar a educação da política e do poder.

A relação entre a educação enquanto subsistema e o sistema maior são relações dinâmicas contraditórias. As contradições que caracterizam a sociedade como está sendo, penetram a intimidade das instituições pedagógica em que a educação sistemática se está dando e alterando o seu papel ou o seu esforço reprodutor da ideologia dominante.

O que temos de fazer então, enquanto educadoras ou educadores, é aclarar assumindo a nossa opção que é política, e ser coerentes com ela na prática.

A questão da coerência entre a opção proclamada e a prática é uma das exigências que educadores críticos se fazem a si mesmos. É que sabem muito bem que não é o discurso o que ajuíza a prática, mas a prática que ajuíza o discurso. Quem apenas fala e jamais ouve; quem “imobiliza” o conhecimento e o transfere a estudantes, quem ouve o eco, apenas de suas próprias palavras, quem considera petulância a classe trabalhadora reivindicar seus direitos, não tem realmente nada que ver com a libertação nem democracia.

Pelo contrário, quem assim atua e assim pensa, consciente ou inconsciente, ajuda a preservação das estruturas autoritárias.

Só educadoras e educadores autoritários negam a solidariedade entre o ato de educar e o ato de ser educado pelos educandos.

Uma visão da educação é na intimidade das consciências, movida pela bondade dos corações, que o mundo se refaz. É, já que a educação modela as almas e recria corações ela é a alavanca das mudanças sociais.

Se antes a transformação social era entendida de forma simplista, fazendo-se com a mudança, primeiro das consciências, como se fosse a consciência de fato, a transformadora do real, agora a transformação social é percebida como um processo histórico.

Se antes a alfabetização de adultos era tratada e realizada de forma autoritária, centrada na compreensão mágica da palavra doada pelo educador aos analfabetos; se antes os textos geralmente oferecidos como leitura aos alunos escondiam a realidade, agora pelo contrário, alfabetização como ato de conhecimento, como um ato criador e como ato político é um esforço de leitura do mundo e da palavra. Agora já não é possível textos sem contexto.

A alfabetização de adultos e pós-alfabetização implicam esforços no sentido de uma correta compreensão do que é a palavra escrita, a linguagem, as relações com o contexto de quem fala, de quem lê e escreve, compressão, portanto da relação entre “leitura” do mundo e leitura da palavra. Daí a necessidade que tem uma de biblioteca popular, buscando o adentramento crítico no texto, procurando aprender a sua significação mais profunda, propondo aos leitores uma experiência estética, de que a linguagem popular é inteiramente rica.

A forma com que atua uma biblioteca popular, a constituição do seu acervo, as atividades que podem ser desenvolvidas no seu interior, tudo isso tem que ser como uma certa política cultural.

Se antes raramente os grupos populares eram estimulados a escrever seus textos, agora é fundamental fazê-lo, desde o começo da alfabetização para que, na pós-alfabetização, se vá tentando a formação do que poderá vir a ser uma pequena biblioteca popular com a inclusão de páginas escritas pelos próprios educandos.

1.2 - O Povo diz a sua Palavra ou a Alfabetização em São Tomé e Príncipe

Segundo Freire com a alfabetização de adultos no contexto da República Democrática de São Tomé e Príncipe, a cujo governo vem dando juntamente com Elza Freire, uma contribuição no campo da educação de adultos como assessor, se torna indispensável uma concordância em torno de aspectos fundamentais entre o assessor e o governo assessorado. Seria impossível, por exemplo, dar uma colaboração, por mínima que fosse a uma campanha de alfabetização de adultos promovido por um governo antipopular. Não poderia assessorar um governo que em nome da primazia da “aquisição” de técnicas de ler e escrever palavras por parte dos alfabetizando, exigi-se, ou simplesmente sugerisse que fizesse a dicotomia entre a leitura do texto e a leitura do contexto. Um governo para quem a leitura do concreto, o desenvolvimento do mundo não são um direito do povo, que, por isso mesmo, deve ficar reduzido à leitura mecânica da palavra.

É exatamente este aspecto importante — o da relação dinâmica entre a leitura da palavra e a leitura da realidade em que nós encontramos coincidentes os governos de São Tomé e Príncipes e nós.

Todo esforço que vem sendo feito em São Tomé e Príncipe na prática da alfabetização de adultos como na da pós-alfabetização se orienta neste sentido. Os cadernos de cultura popular vêm sendo usados pelos educandos como livros básicos, com exercícios chamados Praticar para o Aprender. A linguagem dos textos é desafiadora e não sloganizado. O que se quer é a participação efetiva do povo enquanto sujeito, na reconstrução do país, a serviço de que a alfabetização e a pós-alfabetização se acham. Por isso mesmo os cadernos não são nem poderiam ser livros neutros, é a participação crítica e democrática dos educandos no ato de conhecimento de que são também sujeitos. É a participação do povo no processo de reinvenção de sua sociedade, no caso a sociedade são tomense, recém-independente do jugo colonial, que há tanto tempo a submetia.

É preciso, na verdade, que a alfabetização de adultos e a pós-alfabetização, a serviço da reconstrução nacional, contribuam para que o povo, tomando mais e mais a sua História nas mãos, se refaça na leitura da História, estando presente nela e não simplesmente nela estar representado.

No fundo o ato de estudar, enquanto ato curioso do sujeito diante do mundo é expressão da forma de estar sendo dos seres humanos, como seres sociais, históricos, seres fazedores, transformadores, que não apenas sabem, mas sabem que sabem.

O povo tem de conhecer melhor, o que já conhece em razão da sua prática e de conhecer o que ainda não conhece.

Nesse processo, não se trata propriamente de entregar ou de transferir às massas populares a explicação mais rigorosa dos fatos como algo acabado, paralisado, pronto, mas contar, estimulando e desafiando, com a capacidade de fazer, de pensar, de saber e de criar das massas populares.

Na alfabetização pós-alfabetização não nos interessa transferir ao Povo frases e textos para ele ir lendo sem entender. A reconstrução nacional, exigem de todos nós uma participação consciente em qualquer nível, exige ação e pensamento, exige prática e teoria, procurar descobrir de entender o que se acha mais escondido nas coisas e aos fatos que nós observamos e analisando.

A reconstrução nacional precisa de que o nosso Povo conheça mais e melhor a nossa realidade.

2 - análise das idéias do autor

Ao elaborar uma síntese das reflexões sobre o livro “A Importância do Ato de Ler” e as relações da biblioteca popular com a alfabetização de adulto de Paulo Freire, leva-nos a compreensão da prática democrática e crítica da leitura do mundo e da palavra, onde a leitura não deve ser memorizada mecanicamente, mas ser desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos. “É preciso que quem sabe, saiba sobre tudo que ninguém sabe tudo e que ninguém tudo ignora” (FREIRE, p.32).

É essencial que saibamos valorizar a cultura popular em que nosso aluno está inserido, partindo desta cultura, e procurando aprofundar seus conhecimentos, para que participe do processo permanente da sua libertação.

A biblioteca popular como centro cultural e não como um depósito silencioso de livros, é vista como um fator fundamental para o aperfeiçoamento e a intensificação de uma forma correta de ler o texto em relação com o contexto” (FREIRE, p.38).

Nesse sentido a atuação da biblioteca popular, tem algo a ver com uma política cultural, pois incentiva a compressão crítica do que é a palavra escrita, a linguagem, as suas relações com o contexto, para que o povo participe ativamente das mudanças constantes da sociedade.

O processo de aprendizagem na alfabetização de adultos está envolvida na prática de ler, de interpretar o que lêem, de escrever, de contar, de aumentar os conhecimentos que já têm e de conhecer o que ainda não conhecem, para melhor interpretar o que acontece na nossa realidade” (FREIRE, p. 48).

Isso só conseguimos através de uma educação que estimule a colaboração, que dê valor à ajuda mútua, que desenvolva o espírito crítico e a criatividade: uma educação que incentive o educando unindo a prática e a teoria, com uma política educacional condizente com os interesses do nosso Povo.

Conclusão

Concluímos com a leitura desse livro, nós educadores e educandos para melhorarmos nossa prática devemos começar a avalizar que, a importância do ato de ler, não está na compreensão errônea de que ler é devorar de bibliografias, sem realmente serem lidas ou estudadas. Devemos ler sempre e seriamente livros que nos interessem, que favoreçam a mudança da nossa prática, procurando nos adentrarmos nos textos, criando aos poucos uma disciplina intelectual que nos levará enquanto professores e estudantes não somente fazermos uma leitura do mundo, mas escrevê-lo o reescrevê-lo, ou seja, transformá-lo através de nossa prática consciente.

Sabemos que, se mudarmos nossa disciplina sobre o ato de ler, teremos condições de formar as nossas bibliotecas populares, incentivando os grupos populares e a escrever seus textos desde o início da alfabetização; assim iríamos aos poucos formando acervos históricos escritos pelos próprios educandos.

E através da cultura popular o que se quer é a afetiva participação do povo enquanto sujeito na construção do país, pois quanto mais consciente o povo faça sua história, tanto mais que o povo perceberá, com lucidez as dificuldades que tem a enfrentar, no domínio econômico, social e cultural, no processo permanente de sua libertação.

Referência bibliográfica

Freire, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 22 ed. São Paulo: Cortez, 1988. 80 p.

http://www.sul-sc.com.br/afolha/monografia/resenha_ato_ler.htm#rese

Abaixo uma entrevista com professor sobre a leitura.
Está em duas partes, que você acessa através do menu desta tela virtual.
WeltonFortes


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Comportamento Humano


Norbert Elias examina a questão do controle dos afetos


O sociólogo alemão Norbert Elias (1897-1990) interessou-se pela transformação peculiar do comportamento humano e na compreensão de suas causas. O autor procurou evidenciar, em seus trabalhos, a existência de uma relação entre as alterações na estrutura social e as mudanças no comportamento e nas emoções dos indivíduos.

A constituição psíquica do homem seria determinada pelas alterações na estrutura social por meio de um processo civilizador. Elias atribui isso à influência e à intervenção modeladora a que todo ser humano está exposto na socialização.

Transformação constante
Duas características fundamentais da contribuição teórica desse sociólogo são a apreensão das relações sociais em movimento e a incorporação de diferentes condicionantes do comportamento individual e coletivo.

Para Elias, a mudança é uma característica normal da sociedade. Tanto, que prefere falar em socialização. Ele reconhece que esse termo representa melhor o caráter das relações sociais, já que pressupõe um processo de constante transformação.

Um processo permanente
Leopoldo Waizbort, estudioso de Elias, destaca: "o que o constitui (constitui o todo relacional) é o conjunto das relações que se estabelecem, a cada momento, entre o conjunto dos elementos que o compõem".

Tais relações são sempre relações em processo. Elas se fazem e se desfazem, se constroem, se destroem, se reconstroem, são e deixam de ser, podem se refazer, se rearticular, ou não, afirma Waizbort.

As relações nunca são sólidas e petrificadas; a cada instante ou elas se atualizam, ou se esgarçam, ou se fortificam, ou se mantêm ou se enfraquecem. Mas, como quer que seja, há a cada instante algo vivo, em processo.

Mais autocontrole no ocidente
No que se refere ao controle dos afetos, o argumento de Elias se constrói com base na observação de como o crescente autocontrole do homem não acontece numa ordem social particular. É fruto de um processo histórico lento. Seus estudos demonstram como os povos ocidentais têm sido mais submetidos que os demais ao autocontrole no comportamento e na vida afetiva.

Os sistemas de pensamento "isolam os fenômenos de seu fluxo natural, histórico, privam-nos de seu caráter de movimento e processo, e tentam compreendê-los como se fossem formações estáticas, sem considerar como surgiram e como mudam".

Para não incorrer no mesmo erro, Elias analisa mudanças ocorridas entre os séculos 13 e 16. Aposta que a perspectiva histórica seria a única capaz de revelar como o controle externo do comportamento e dos afetos do homem é substituído pelo controle interno.

Além de observar as mudanças nas estruturas sociais ao longo do tempo, Elias acredita que, para compreender os fenômenos sociais, também é fundamental levar em conta as características específicas de uma configuração particular e suas mudanças internas.

Dependentes uns dos outros
O que chamamos de sociedade não expressa claramente o que verificamos no âmbito das relações sociais. O autor construiu a noção de configuração para tentar abarcar a rede de interdependências que liga os seres humanos.

Uma configuração seria uma estrutura de pessoas mutuamente orientadas e dependentes. Nela, todas as dimensões da vida individual e coletiva se articulam. As pesquisas sociológicas devem, então, reconstruir essa articulação, para evidenciar os vários condicionantes dos fenômenos sociais estudados.



Celina Fernandes Gonçalves Bruniera
É mestre em sociologia da educação
pela Universidade de São Paulo e assessora educacional.


Fonte: http://www.portalensinando.com.br/ensinando/principal/conteudo.asp?id=2693
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Um piloto confiável? Mago da Luz.



Um piloto confiável?

Enquanto aguardava seu avião, ele observava um menino que estava sozinho, na sala de espera do aeroporto.

Quando o embarque começou, o menino foi colocado na frente da fila para entrar e encontrar seu assento antes dos adultos. Ele entrou no avião e viu que o menino, estava sentado ao lado de sua poltrona.


O menino foi cortês, quando ele puxou conversa e em seguida, começou a passar o tempo colorindo um livrinho. Ele não demonstrava ansiedade ou preocupação com o avião, enquanto os preparativos para a decolagem estavam sendo feitos.

Durante o vôo, o avião entrou numa tempestade muito forte, o que fez com que a aeronave balançasse como uma pena ao vento. A turbulência e as sacudidas bruscas assustaram alguns dos passageiros, mas o menino parecia encarar tudo com a maior naturalidade.

Uma das passageiras, sentada do outro lado do corredor, ficou preocupada com aquilo tudo e perguntou ao menino:

- Você não está com medo?

O menino respondeu com um sorriso no rosto:

- Não senhora, não tenho medo, porque o meu pai é o piloto.


Existem situações na vida que lembram um avião, passando por uma forte tempestade. Se por acaso você tenta e mesmo assim não consegue se sentir seguro, se você está com a sensação de estar pendurado no ar, sem nada para lhe sustentar, se você está se sentindo sem apoio, se você sentir que está passando por situações de perigo, por piores que elas pareçam, lembre-se de que o criador do céu e da terra é quem está no controle de tudo, exatamente por isso não há porque temer, afinal....

O seu pai é o piloto.

Um bom dia aos amigos e visitantes,

MAGO da LUZ
É participante do yahoo!respostas.


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Psicomotricidade.


Psicomotricidade

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

“É a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.” (Sociedade Brasileira de Psicomotricidade)

A psicomotricidade pode tambem ser definida como o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências recíprocas e sistémicas entre o psiquismo e a motricidade.

Baseada numa visão holística do ser humano, a psicomotricidade encara de forma integrada as funções cognitivas, sócio-emocionais, simbólicas, psicolinguísticas e motoras, promovendo a capacidade de ser e agir num contexto psicossocial. A psicomotricidade possui as linhas de actuação educativa, reeducativa, terapêutica e relacional.

Indicações

Quanto à incidência

Psicomotricidade em Portugal

As linhas reeducativa e terapêutica, que nem sempre se distinguem facilmente, têm constituído, entre nós, as mais relevantes aplicações dos princípios psicomotores, particularmente através da licenciatura própria criada na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa.

A linha educativa foi a primeira direcção histórica do método Psico-Cinético de Educação pelo Movimento, de Jean Le Boulch, constituindo a génese da psicomotricidade, e tem sido menosprezada mesmo na sua dimensão de propedêutica das primeiras aprendizagens escolares, apesar de ter sido consagrada no ensino primário em Portugal, como disciplina curricular, entre 1974 e 1980, com as designações, primeiro, de Trabalhos Preparatórios Iniciais e, depois, de Actividades Iniciais.

Ligações externas

--Alfredo Goetten (discussão) 05h02min de 4 de Junho de 2008 (UTC)

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quinta-feira, 3 de julho de 2008

VISÃO HISTÓRICA DO ENSINO-APRENDIZAGEM DA LECTO ESCRITA.


UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
DEPARTAMENTO DE PEDAGOGIA – CAMPUS/ URUSSANGA

DISCIPLINA: FUNDAMENTOS DA ALFABETIZAÇÃO I

DOCENTE: INÊZ CESCA

VISÃO HISTÓRICA DO ENSINO-APRENDIZAGEM DA LECTO ESCRITA.

Com origens na pré-história, a escrita e conseqüentemente a leitura passaram por uma longa evolução e fizeram com que a humanidade organizasse símbolos gráficos, que passaram a ser uma necessidade em quase todas as culturas. Historicamente, a invenção da escrita, foi um dos momentos mais importantes da história da humanidade data de cerca de 5.000 anos antes de Cristo; entretanto, seu processo de difusão e adoção pelas sociedades foi lento e sujeito a vários fatores sócio – econômicos.

Segundo Tfouni, (apud Azevedo e Marques, 1997:53):

“A escrita, a mais perfeita criação humana é, portanto, relativamente recente, e é somente a partir do seu aparecimento que a história do homem pôde começar a ser contada e recuperada”.

Ao longo do tempo, o conceito de alfabetização mudou, para responder às necessidades da sociedade, muitos métodos e processos de alfabetização foram criados, modificados e adaptados tentando aperfeiçoar ao máximo o processo de ensino da escrita e leitura.

Enquanto necessidade a alfabetização é um ponto indiscutível, porém, a utilização do método e da cartilha no processo é um tema que gera polêmica por parte dos professores alfabetizadores.

“A Alfabetização tem sido uma questão bastante discutida pelos que se preocupam com a educação, já que há muitas décadas se observam as mesmas dificuldades de aprendizagem, as inúmeras reprovações e a evasão escolar. Atualmente, essa questão vem recebendo uma atenção especial da parte dos órgãos oficiais, os quais, entretanto, não têm obtido resultado expressivos em suas tentativas de solucionar os problemas citados”.( Cagliari, 1991:08)

São alarmantes os índices de reprovação e evasão nas primeiras séries do Ensino Fundamental, pois os professores envolvidos não conseguem romper com os velhos paradigmas educacionais, que norteiam o Currículo, a Direção da Escola, os Professores, os Pais e os próprios Alunos.

Em Azevedo, (apud Azevedo e Marques, 1997:32), encontramos:

“Apesar de a década de 90 ter sido proclamada como a Década Mundial da Alfabetização, a previsão é de que a marca dessa desigualdade em termos de alfabetização pesará duramente sobre nossa infância e adolescência. Estima - se que no “ano 2000, uma em cada quatro crianças fará parte desta estatística sombria”. E isso porque já agora a taxa de analfabetismo de crianças e adolescentes é bastante elevada entre nós”. (7)

Uma das formas para alterar o quadro da situação atual da Alfabetização é que as escolas de formação para o Magistério e os órgãos responsáveis pela educação invistam massissamente na capacitação dos atuais e na formação dos futuros professores.

Na década de 80, a ONU, através da UNESCO, lançou bases de um grande projeto educacional, denominado Projeto Principal de Educação para a América Latina e Caribe, na 21ª Reunião da Conferência Geral, realizada em Belgrado, Iugoslávia. O projeto teve como meta oferecer soluções para os problemas do desenvolvimento da educação, no intuito de buscar maior democratização social. Para tanto, estabelece-se quatro grandes objetivos específicos:

1. Assegurar a escolarização a toda criança em idade escolar, oferecendo-lhe uma educação geral mínima de 8 a 10 anos, antes do ano de 1999;

2. Eliminar o analfabetismo, promover o alfabetismo funcional e aumentar os serviço de educação de adulto;

3. Melhorar a cobertura, a qualidade e a eficiência dos sistemas educativos;

4. Modernizar os estilos de planificação e de gestão para uma educação de qualidade.

A população a ser atingida pelo Projeto Principal é a de crianças de zonas urbanas marginalizadas. Segundo dados da UNESCO, as maiores taxas de repetência se encontram entre essas crianças e especialmente na passagem do primeiro para o segundo ano de escolarização. No Brasil, há repetência de cerca de 60% dos alunos na passagem dessas séries.

O número de analfabetos no Brasil, nas últimas décadas, tem colocado este país em lugar de destaque. Ocupa, segundo a UNESCO, o sétimo lugar em números absolutos, cerca de 19 milhões de pessoas. A Fundação para o desenvolvimento da Educação ( FDE) do Estado de São Paulo elaborou em 1990 um amplo painel estatístico sobre a posição do analfabetismo no país e concluiu que a previsão de analfabetos para o ano 2000, no país, é de 2.900.000, de 7 a 9 anos, e 900.000,de 10 a 14 anos. Constata-se que as metas propostas no Projeto Principla não obtiveram avanço.

Precisa-se conscientizar a nação, os governantes, professores... de que é urgentemente necessária a renovação dos sistemas educativos: redefinição dos fins e funções, profissionalização da educação visando a qualidade educativa e a busca de caminhos novos para o processo de alfabetização. É uma tomada de decisão que reencaminhará o cidadão a integrar-se consciente e culto no 3º milênio !

O modo de compreender o processo de Alfabetização não foi sempre o mesmo, principalmente no que se refere a aplicação metodológica (anexo 1).

Neste sentido, é conveniente apontar os principais métodos de Alfabetização utilizados históricamente para ensinar a ler e escrever.

¨ Os Métodos tradicionais

A etimologia da palavra métodos é de origem grega ( methodos) que designa o mesmo que caminho; o modo sistemático de aplicar o método contitui o processo.

Pode-se classificar os métodos de alfabetização em dois grandes grupos: Sintéticos e Analíticos. O primeiro grupo vai da Antigüidade até os primórdios do século XIX, sua utilização é quase universal e o segundo à partir do século XVIII inicia-se um processo de oposição teórica ao método sintético pelos precursores do chamado método global, oposição esta que se efetiva realmente no início do século XX, com Decroly.

· Método Sintético

O método de marcha sintética é o mais antigo; usado na Grécia e Roma Antiga tem mais de 2.000 anos. Parte do elemento para o todo, isto é, da letra, para a sílaba e da sílaba para a palavra, propõe partir dos elementos mais simples para chegar aos mais complexos. Deste método decorrem cinco processos:

Processo Alfabético ou ABC, de Dionísio de Halicarnasso

( século XV).

Consistia na memorização dos nomes das letras do alfabeto, depois unia-se às mesmas para formar sílabas e palavras. Partia do abstrato sem haver relação com coisas concretas, foi o primeiro processo empregado universalmente na aprendizagem da leitura, já era usado no ano 68 a. C em Roma e na Grécia antiga.

Exemplo: b (bê) + a = ba.

Processo Iconográfico, de Johnn Amós Comênius (1657) .

Propunha o ensino de um alfabeto vivo, cujos elementos correspondessem de maneira onomatopaica.

O Processo consistia em usar uma letra acompanhada de uma figura de um animal cuja voz se assemelhasse ao som da respectiva letra.

Exemplo: O som da letra M seria representado tendo ao lado a figura de um boi mugindo (MUUU!).

Processo de Letras Móveis de João Bernard Basedow (1774).

Basedow, inventou um jogo de letras móveis de várias cores e dimensões que, às vezes, eram feitas de substâncias comestíveis. As crianças deveriam procurar as letras no meio de outras e desenhá-las e, em seguida, formavam sílabas e palavras que eram depois escritas. Como prêmio, aquelas que eram de massa podiam ser guardadas ou comidas.

O processo de Basedow foi aperfeiçoado por Pestalozzi no ano de 1774, quando criou um orfanato para crianças pobres e adaptado por Maria Montessori em 1907 quando fundou em Roma a primeira “Casa das Crianças”, para trabalhar com crianças excepcionais.

Processo fônico de Valentin Ickelsammer ( século XVI).

O processo consiste no ensino da leitura partindo-se do som da letra; o criador, Ickelsammer, encontrou muita dificuldade na época da implantação mas, aos poucos, foi conseguindo adeptos e logo foram criadas cartilhas cheias de explicações.

O professor, antes de ensinar as consoantes, devia preparar os alunos ensinando-lhes as vogais; ao escolher as consoantes, o professor devia iniciar com as que tinham representações onomatopaicas. Fazia o ruído imitando a consoante e eles ouviam e repetiam som. Depois fazia a sua ligação com cada vogal, representando-as graficamente.

Exemplo: O vento faz vvvvvvvv, no caminho encontra o “a” e faz va...

Com as sílabas os alunos formavam palavras e frases que eram escritas na lousa: Vi a vovó, Ivo vê o ovo...

Processo silábico ou silabação de Samuel de Heinicke ( século XVIII).

A fase mais avançada dos métodos sintéticos, para o pedagogo alemão, a aprendizagem partia da sílaba e não da letra.

Heinicke era professor de surdos-mudos e procurava ensinar a leitura labial. Chegou à conclusão de que aprendiam mais depressa quando mostrava as sílabas escritas e ao mesmo tempo as pronunciava, para poderem lê-las nos lábios.

O processo foi aprovado para todas as crianças, notando-se que havia aprendizagem através da repetição.

Nesse processo, empregam-se as unidades-chaves: as sílabas que depois se condicionam em palavras e frases.

Ensinam-se as vogais que se juntam à gravura do nome.

Exemplos: A letra U com o desenho da uva.

A sílaba ca de casa - ba de bala - ca de caju

No processo silábico é utilizado um número elevado de monossílabos da língua para treino mecânico da leitura, que é a maior preocupação nesse processo. A escrita é secundária, pois é usada para fixação de vocabulários.

As limitações apresentadas pelo método sintético:

Ø Impõe à criança o conhecimento e reconhecimento de signos isolados ou agrupados em sílabas que carecem de sentido, incompreensíveis para ela;

Ø Obrigam a criança, uma vez reconhecida a sílaba, usá-la em palavras e frases que não pertencem ao seu vocabulário;

Ø Ensinam a leitura de forma mecânica, sem comprensão. Essa falta de sentido no que lêem mata o interesse da criança pela leitura.

Muitos autores, definem esse método como uma tortura para o aluno, principalmente no que se refere ao processo alfabético.

Sua divulgação ganhou o mundo rapidamente e passou a ser adotado pelos professores adiantados da época. Até os nossos dias a silabação é o processo mais usado, principalmente no Brasil.

  • Os Métodos Analíticos.

O Método de marcha Analítica, surgiu em oposição ao método Sintético e concebe a leitura como um ato global e ideovisual, parte das unidades maiores para as menores, através da análise e decomposição.

Consiste no ensino da leitura e escrita segundo a ordem de decomposição progressiva do material, a partir, portanto, de “todos” gráficos, isto é, sentenças ou palavras, Os passos do processo devem percorrer em sentido contrário.

Desse método decorrem os seguintes processos:

Processo de Palavração ou de Palavras Normais foi criado pelos professores de Kramer e Vogel em 1843.

A aprendizagem parte do todo, com palavras concretas e significativas, retiradas de uma história, conversa, desenhos, cantigas, dramatização, hora da novidade. Decroly aperfeiçou o processo associando a palavra à gravura correspondente.

Processo Ideovisual, Ideográfico ou de Palavras-tipo, criado por Decroly, em 1936 , na Bélgica.

Parte de uma motivação (desenho, história, verso, etc.) e apresenta a palavra ligada ao desenho. Este processo evoluiu para a palavração e palavras progressivas.

Processo de Sentenciação, liderado por Randovilliers (1768) , Nicolas Adam (1787) e Jacotot ( 1843)

O ensino desse processo teve início na Europa e nos Estados Unidos, porém as idéias desses precursores não vingam no seu tempo, somente no início do século XX ficou definitivamente comprovada a eficiência da aprendizagem da leitura por meio da globalização, pois nesta época houve o incremento da Psicologia Experimental.

Esse processo parte do todo para as partes atendendo a Psicologia da criança, que é mais globalizadora: frase – palavra – sílaba – letra.

Embora fazendo o aluno receber porções de sentido mais completo das palavras, o processo ainda não é satisfatório sob este aspecto, pois a sentença isolada é parte de uma idéia que só a história apresenta de maneira completa.

Processo do Conto: Criado pela Educadora Margarida Mc Closkey ( século XX).

É uma decorrência natural do processo de Sentenciação.

As sentenças são as partes de um todo maior, mais interessante e significativo. Apresentam-se, gradativamente, partes de uma história completa que a criança irá memorizar.

O professor conta a história e faz com que os alunos a reproduzam. O professor lê o texto e as crianças repetem; posteriormente, faz-se o reconhecimento das frases dentro e fora de ordem.

A seguir acontece a decomposição do texto em frases, depois em palavras, em sílabas e finalmente em letras ou sons.

No convívio com este material, a criança deveria reconhecer as palavras individualmente.

O resultado dessas medidas extremistas era o número sempre crescente de crianças e jovens que não sabiam ler, o método analítico apresentou avanços em relação ao sintético; porém, possui desvantagens como:

Ø Exploração de palavras e frases totalmente fora da realidade e do contexto social do aluno;

Ø As palavras e frases fazem parte de uma idéia que, se trabalhadas isoladamente, não têm sentido para a criança;

Ø Desvincula a criança do seu meio, da sua realidade;

Ø Afetam o interesse da criança pela leitura.

· O Método Eclético.

O método Eclético, foi considerado a grande descoberta no campo metodológico, utiliza análise e síntese, ao contrário dos outros que são analítico ou sintético, o método é considerado global, porque parte de um todo, mas segue os passos do método sintético: som, sílabas, palavras, frases.

Manisfestou-se no Brasil, em 1920, uma verdadeira batalha entre os defensores do método Sintético e dos partidários do método Analítico, provocando acirrados debates e, para agradar a gregos e troianos, uniram as orientações dos dois métodos para a criação do Método Eclético que contempla o método Sintético e Analítico, no qual se conciliam todos os processos estabelecendo a liberdade de escolha do método de ensino de leitura e escrita.

Por ser o método eclético a junção do método sintético e analítico e seguir os mesmos passos, continuam a aprensentar limitações como:

Ø Histórias desvinculadas do conhecimento real da criança, os textos não possuem estrutura lingüística, apresentam diálogo artificial;

Ø As atividades são baseadas em leitura e interpretação de textos, exploração de palavras e decomposição das famílias silábicas;

Ø A criança não tem oportunidade de produzir o seu próprio texto, partindo de suas experiências e vivências sociais.

A Sistematização dos Métodos Tradicionais: As Cartilhas de Alfabetização.

Pode-se constatar que a concretização dos métodos tradicionais de alfabetização se encontram, mais ou menos, sistematizados nas cartilhas em uso, sendo: as cartilhas sintéticas, analíticas e mistas. As mesmas foram se multiplicando no tempo, solidificando e propagando o modelo de leitura idealizado pelas metodologias tradicionais, fundamentadas nas concepções Inatista e Empirista, às quais nos reportaremos mais adiante.

A cartilha preenche os requisitos necessários para ser um instrumento pedagógico dentro de uma prática pedagógica e concepção tradicionais. Os textos de cartilha prendem-se aos sons e às marcas gráficas, duvidando da inteligência da criança, de seus conhecimentos cotidianos.

A suavidade do Reino da Alegria, nem sempre é comum para todas as crianças que, empurradas para o mundo das Letrinhas Mágicas, devem Ler a Jato a cartilha no Recreio.

(...) serão as cartilhas o grande mal de nossa alfabetização?

Para quem falam as cartilhas? Que sentido tem o que dizem as crianças que “suave” ou “amargamente”, são impelidas a seguirem seus caminhos, ou melhor, a se pautarem por suas linhas?(Dietzsch, 1999:36)

O caminho suave percorrido pela criança até encontrar alegria de saber, ler e escrever é, muitas vezes, atrapalhado pela cartilha.

O recurso didático mais utilizado nas escolas, em termos de alfabetização, é a cartilha. Contudo, a grande maioria dos professores não conhece a sua influência em cada época da sua evolução histórica.

A origem e o desenvolvimento da literatura didática no Brasil dispõe de poucas informações devido ao desinteresse de pesquisadores e também por causa de um grande número de livros didáticos se mostrarem efêmeros no tempo.

A cartilha tem sua origem ligada aos silabários do século XIX. As cartilhas brasileiras têm suas origens históricas em Portugal e foram trazidas através dos jesuítas nos primórdios da educação.

Por volta do final do século XV, Portugal utilizava nas escolas cartinhas que, posteriormente, foram chamadas de cartilhas. Eram pequenos livros que reuniam o abecedário, o silabário e rudimentos de catecismo.

As décadas de 10, 20 e 30 trazem ao cenário educacional várias cartilhas fundamentadas pelos métodos sintético e analítico.

A adoção de cartilhas tem sido vista, ano após ano, como “salvadoras da pátria“, apresentam-se quase como máquinas-de-alfabetizar, capazes de realizar sua tarefa em semanas, dias e horas.

“Os textos das cartilhas adotadas nas escolas brasileiras, desde a década de 20 até nossos dias, orientam-se por uma ideologia conservadora e não direcionada para o desenvolvimento da criatividade e criticidade. Pautam-se pela filosofia da gramática tradicional articulada ao ensino tradicional da escola brasileira. Excluindo-se alguns textos de manuais que aparentemente tentam avançar em busca da criatividade, ainda vivem cerceadas pelos limites do regime político e consequentemente, da pesquisa na área educacional. (Cesca, 1995:13)

Os valores ideológicos contidos nas cartilhas estão distantes da realidade vivida por inúmeras crianças brasileiras. A visão apresentada pelos textos das cartilhas é de um mundo maravilhoso, feliz e sem problemas sociais.

Ao lado desta visão aparecem também os valores machistas, racistas e conservadores, pois em seus textos, as famílias vivem em perfeita harmonia formadas por pai, mãe, irmãos, avós, tios e residem sempre próximo a “lindos” bosques e lagos. As mães cuidam das tarefas domésticas enquanto os pais vão para o trabalho, as empregadas são negras e as crianças estudiosas têm o privilégio de passar as férias na fazenda do vovô. Ignorando todo o contexto que envolve a criança e o conhecimento já construído pelo aluno, a sua realidade, a cartilha parte do pressuposto de que todas as crianças são iguais, por conseqüência têm as mesmas condições de aprendizado e o mesmo nível sócio-econômico.

Pode-se constatar que nestes termos, os personagens apresentados pelas cartilhas vivem numa época indefinida, num país sem nome, sem classes sociais e sem diversidades culturais ou lingüísticas.

A cartilha não oferece espaço, espontaneidade e imaginação para a criança, pois traz prontas as lições e as gravuras. Suas histórias estão longe de atrair a criança para a leitura. Seus textos limitados, sem estrutura lingüística adequada à construção da criança, com um diálogo artificial. Apresentam um número reduzido de palavras e estas são, na sua maioria, monossílabos e dissílabos e os nomes que são apresentados de norte a sul abundam em sílabas dobradas chamados. “Lili”, “Dudu”, “Lala”, “Fafá”, “Gigi”, “Zazá”, amam, mimam, babam ou bebem, sem se preocupar com os nomes das crianças do grupo escolar e, sem dúvida, isso é importante: nenhum nome é tão significativo quanto o seu próprio nome.

A justificativa de tais práticas ancestrais: pretende-se que a criança compreenda a mecânica da decodificação; depois – e somente depois – poderá fazer algo inteligente. (Ferreiro, 1993:34)

Frente a cartilha a criança sente-se confusa, pois já possui um conhecimento construído, além de não contemplar, ainda não respeita.

FONTE: Extraído da Dissertação de Mestrado da Profª. Maria Inêz

Salvador Cesca- IPLAC –Cuba / UNESC - Criciúma, julho-2000.

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