Estratégias de leitura são técnicas ou métodos que os leitores usam para adquirir a informação, ou ainda procedimentos ou atividades escolhidas para facilitar o processo de compreensão em leitura. São planos flexíveis adaptados às diferentes situações que variam de acordo com o texto a ser lido e a abordagem elaborada previamente pelo leitor para facilitar a sua compreensão (Duffy & cols., 1987; Brown, 1994; Pellegrini, 1996; Kopke, 2001).
Duke e Pearson (2002) identificaram seis tipos de estratégias de leitura que as pesquisas realizadas têm sugerido como auxiliares no processo de compreensão, a saber: predição, pensar em voz alta, estrutura do texto, representação visual do texto, resumo e questionamento. A predição implica em antecipar, prever fatos ou conteúdos do texto utilizando o conhecimento já existente para facilitar a compreensão.
Pensar em voz alta é quando o leitor verbaliza seu pensamento enquanto lê. Tem sido demonstrado melhora na compreensão dos alunos quando eles mesmos se dedicam a esta prática durante a leitura e também quando professores usam rotineiramente esta mesma estratégia durante suas aulas.
A análise da estrutura textual auxilia os alunos a aprenderem a usar as características dos textos, como cenário, problema, meta, ação, resultados, resolução e tema, como um procedimento auxiliar para compreensão e recordação do conteúdo lido. A representação visual do texto, por sua vez, auxilia leitores a entenderem, organizarem e lembrarem algumas das muitas palavras lidas quando formam uma imagem mental do conteúdo.
Resumir as informações do texto facilita a compreensão global do texto, pois implica na seleção e destaque das informações mais relevantes do texto. Questionar o texto auxilia no entendimento do conteúdo da leitura, uma vez que permite ao leitor refletir sobre o mesmo. Pesquisas indicam também que a compreensão global da leitura é melhor quando alunos aprendem a elaborar questões sobre o texto.
Além disso, a utilização de estratégias de leitura compreende três momentos: o antes, o durante e o após a leitura. Na pré-leitura, é feita uma análise global do texto (do título, dos tópicos e das figuras/gráficos), predições e também o uso do conhecimento prévio. Durante a leitura é feita uma compreensão da mensagem passada pelo texto, uma seleção das informações relevantes, uma relação entre as informações apresentadas no texto e uma análise das predições feitas antes da leitura, para confirmá-las ou refutá-las. Depois da leitura é feita uma análise com o objetivo de rever e refletir sobre o conteúdo lido, ou seja, a importância da leitura, o significado da mensagem, a aplicação para solucionar problemas e a verificação de diferentes perspectivas apresentadas para o tema. Também é realizada uma discussão da leitura, com expressão e comunicação do conteúdo lido após análise e reflexão, seguida de um resumo e de uma releitura do texto ( Kopke, 1997 ; Duke & Pearson, 2002).
É importante lembrar que as estratégias de leitura também auxiliam no estudo, favorecendo a obtenção de um nível de compreensão melhor. Exigem participação ativa do leitor, podendo ser aplicadas a qualquer tipo de texto e em qualquer momento da leitura, com ou sem ajuda externa Oakhill e Garnham (1988).
Considerando-se esses aspectos, o ensino de estratégias de leitura abre novas perspectivas para uma potencialização da leitura, possibilitando aos alunos ultrapassarem dificuldades pessoais e ambientais de forma a conseguir obter um maior sucesso escolar. Essas podem e devem ser ensinadas nas séries iniciais do ensino fundamental.
O professor exerce um papel de grande importância ao propiciar não somente a aprendizagem em leitura, mas também ao propor modelos técnicos e procedimentos que proporcionem a compreensão em leitura. O processo de ensinar seria uma forma de possibilitar ao estudante desenvolver estruturas conceituais e procedimentais que implementem seu desempenho.
Dentre as estratégias de leitura que professores podem ensinar está focar a atenção dos alunos nas idéias principais; perguntar aos alunos questões sobre seu entendimento para ajudá-lo a monitorar sua compreensão; relacionar o conhecimento prévio dos alunos com nova informação; professores podem questionar e designar feedback para ajudar os alunos a aplicarem técnicas e estratégias de estudo apropriadas; podem treinar os alunos a usarem essas estratégias e técnicas de maneira mais efetiva; utilizar reforços positivos verbais e de escrita com os alunos que apresentam baixa compreensão; pode-se fazer questões aos alunos para ajudar a reconhecer a contradição entre o que ele realmente conhece e o que ele pensou conhecer, mas não conhece; além de considerarem a variedade dos textos estruturados na preparação dos textos para alunos e plano de aula.
Como exemplo de um modelo de instrução que consiste em 4 etapas. Na primeira – O quê – o professor informa os tipos de estratégia de leitura que podem ser usadas. Na segunda etapa – Por quê – o professor diz ao aluno porquê a estratégia de compreensão é importante e como a aquisição pode ajudar a tornar-se um leitor melhor. A terceira etapa – Como – envolve a instrução direta da estratégia. Ela pode envolver explanação verbal, modelo ou pensar em voz alta. E a quarta etapa - Quando – envolve a comunicação de quando a estratégia deve ser usada ou não, e como evoluir e corrigir seu uso.
Outra forma é ensinar estratégias específicas, como fez Song (1998) em seu estudo. O professor de uma classe de leitura de língua estrangeira de uma universidade ensinava a resumir, questionar, esclarecer e predizer. Os estudantes, por sua vez, recebiam um guia prático no qual pontuavam quando eram capazes de utilizá-las sozinhos. O resultado desse trabalho indicou que o treino de estratégias foi eficaz para o aprimoramento da leitura, e que a eficácia variou com a proficiência em leitura inicial do sujeito. Além disso, foi possível identificar melhora no desempenho geral em leitura dos alunos.
Várias pesquisas sobre o ensino das estratégias de leitura têm constatado que essa é uma ação eficaz para não somente para alunos com dificuldade em compreensão, mas também para os leitores hábeis (Song, 1998; Magliano, Trabasso & Graesser,1999; Rhoder, 2002; Ferreira & Dias; 2002). Cabe destacar que o psicólogo escolar pode ser responsável por avaliar e assessorar os professores para a realização dessa atividade de ensino.
Referências
Brown, D. (1994). Principles of language learning and teaching. Prentice – Hall Anglewood Cliffs.
Duffy, G. G., Roehler, L. R., Sivan, E., Rackliffe, G., Book, C., Meloth, M., Vavrus, L., Wesselman, R., Putnam, J. & Bassiri, D. (1987). The effects of explaining the reasoning associated with using reading strategies. Reading Research Quarterly , 22, 347-368.
Duke, N. K. & Pearson, P. D. (2002). Effective practices for developing reading comprehension. Em A. E. Farstrup & S. J. Samuels (Orgs.), What Research Has to Say About Reading Instruction (3ª ed. p.205-242). Newark: Insternacional Reading Association.
Ferreira, S.P.A. & Dias, M. G. B. B. (2002). Compreensão de leitura: estratégias de tomar notas e da imagem mental. Psicologia Teoria e Pesquisa, 18(1), 51-62.
Kopke, H. F. (1997). Estratégias para desenvolver a metacognição e a compreensão de textos teóricos na universidade. Psicologia Escolar e Educacional,1 (2 e 3), 59-67.
Kopke, H. F. (2001). Estratégias em compreensão da leitura: conhecimento e uso por professores de língua portuguesa. Tese de doutorado em lingüística. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo.
Magliano, J. P., Graesser, A., & Trabasso, T. (1999). Strategic processing during comprehension. Journal of Educacional Psychology, 9 (4), 615-629.
Oakhill, J. & Garnham, A. (1988). Becoming a skilled Reader. NY: Basil Blackwell Ltd.
Pellegrini, M. C. K. (1996). Avaliação dos níveis de compreensão e atitudes frente à leitura em universitários . Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Humanas, Universidade São Francisco, Bragança Paulista.
Rhoder, C. (2002). Mindful reading: strategy training that facilitates transfer. Journal of Adolescent & Adult Literacy, 45 (6), 498-512.
Song, M. (1998). Teaching reading strategies in ongoing . EFL University Reading Classroom. Journal of English language Teaching. Seoul National University, 8, 41-54.
1 Mestre em Psicologia pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia da Universidade São Francisco. Instrutora do Núcleo de Psicologia Aplicada da Universidade São Francisco e docente do curso de psicologia da universidade.
O cristianismo é uma religiãomonoteísta baseada na vida e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré, tais como estes se encontram recolhidos nos Evangelhos, parte integrante do Novo Testamento. Os cristãos acreditam que Jesus é o Messias e como tal referem-se a ele como Jesus Cristo. Com cerca de 2,13 bilhões de adeptos, o cristianismo é hoje a maior religião mundial[1], adotada por cerca de 33% da população do mundo[2]. É a religião predominante na Europa, América, Oceania e em grande parte de África e partes da Ásia.
O cristianismo começou no século I como uma seita do judaísmo, partilhando por isso textos sagrados com esta religião, em concreto o Tanakh, que os cristãos denominam de Antigo Testamento. À semelhança do judaísmo e do Islão, o cristianismo é considerado como uma religião abraâmica.
Segundo o Novo Testamento, os seguidores de Jesus foram chamados pela primeira vez "cristãos" em Antioquia (Actos 11:26).
Principais crenças
Embora existam diferenças entre os cristãos sobre a forma como interpretam certos aspectos da sua religião, é também possível apresentar um conjunto de crenças que são partilhadas pela maioria deles.
Os ensinamentos de Jesus de Nazaré influenciaram o surgimento do cristianismo e de várias outras religiões.
Monoteísmo
O cristianismo herdou do judaísmo a crença na existência de um único Deus, criador do universo e que pode intervir sobre ele. Os seus atributos mais importantes são por isso a onipotência, a onipresença e onisciência.
Outro dos atributos mais importantes de Deus, referido várias vezes ao longo do Novo Testamento, é o amor: Deus ama todas as pessoas e estas podem estabelecer uma relação pessoal com ele através da oração.
A maioria das denominações cristãs professa crer na Santíssima Trindade, isto é, que Deus é um ser eterno que existe como três pessoas eternas, distintas e indivisíveis: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
A doutrina das denominações cristãs difere do monoteísmo judaico visto que no judaísmo não existem três pessoas da Divindade, há apenas um único Deus, e o Messias que virá será um homem, descendente do rei David. Algumas denominações professam crer na Santíssima Trindade, isto é, que Deus é um ser eterno que existe como três pessoas eternas, distintas e indivisíveis: o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. Essa doutrina foi criada no Concílio de Nicéia no ano de 325 D.C pelas Igreja Católica Apostólica Ortodoxa e Igreja Católica Apostólica RomanaConcílios ecumênicos"). Existem ainda outras denominações que crêem em duas pessoas da Divindade o Pai que deve ser adorado e o Filho que não tem nenhum direito na Divindade em adoração. (Ver:"
Jesus
Outro ponto crucial para os cristãos é o da centralidade da figura de Jesus Cristo. Os cristãos reconhecem a importância dos ensinamentos morais de Jesus, entre os quais salientam o amor a Deus e o amor ao próximo, e consideram a sua vida como um exemplo a seguir. O cristianismo reconhece Jesus como o Filho de Deus que veio à Terra libertar os seres humanos do pecado através da sua morte na cruz e da sua ressurreição, embora variem entre si quanto ao significado desta salvação e como ela se dará. Para a maioria dos cristãos, Jesus é completamente divino e completamente humano. Há no entanto, uma recorrente discussão sobre a divindade de Jesus. Aqueles que questionam a divindade de Cristo argumentam que ele jamais teria afirmado isso expressamente. Os que defendem a divindade de Cristo, por sua vez, valem-se de versículos que, através da postura de Jesus e dentro do próprio contexto cultural judaico da época, deixariam clara sua condição divina[3][4].
A salvação
O cristianismo acredita que a fé em Jesus Cristo proporciona aos seres humanos a salvação e a vida eterna.[5], mas vale lembrar que biblicamente, as obras não são capazes de dar a uma pessoa a Vida Eterna, a única maneira de alcançar a Salvação é dando crédito à obra da cruz realizada pelo que os cristãos acreditam ser o filho de Deus, a saber Jesus Cristo.
A vida depois da morte
A visão de determinadas religiões cristãs sobre a vida depois da morte envolve, de uma maneira geral, a crença no céu e no inferno. A Igreja Católica considera que para além destas duas realidades existe o purgatório, um local de purificação onde ficam as almas que morreram em estado de graça, mas que cometeram pecados.
A Igreja
O cristianismo acredita na Igreja (ekklesia), palavra de origem grega que significa "assembléia", entendida como a comunidade de todos os cristãos e como corpo místico de Cristo presente na Terra e sua continuidade. As principais igrejas ligadas ao cristianismo são: a Igreja Católica, as Igrejas Protestantes e a Igreja Ortodoxa.
A salvação é possível através da pessoa, vida e obra de Jesus;
Jesus Cristo foi concebido de forma virginal, foi crucificado, ressuscitou, ascendeu ao céu e virá de novo à Terra;
A remissão dos pecados é possível através do baptismo (br-batismo);
Os mortos ressuscitarão.
Na altura em que foi formulado, o Credo de Niceia procurou lidar directamente com crenças que seriam consideradas heréticas, como o arianismo, que negava que o Pai e Filho eram da mesma substância, ou o gnosticismo.
A maior parte das igrejas protestantes partilham com a Igreja Católica a crença no Credo de Nicéia.
Outros textos considerados sagrados
Alguns cristãos consideram que determinados escritos, para além dos que fazem parte da Bíblia, foram divinamente inspirados. Os membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias atribuem a três livros a qualidade de terem sido inspirados por Deus; esses livros são o Livro de Mórmon, a Doutrina e Convénios e a Pérola de Grande Valor. Para os Adventistas do Sétimo Dia os escritos de Ellen G. White são uma manifestação profética que, contudo, não se encontra ao mesmo nível que a Bíblia.
Segundo a religião judaica, o Messias, um descendente do Rei Davi, iria um dia aparecer e restaurar o Reino de Israel. Na Palestina, por volta de 26 d.C., Jesus Cristo, nascido na cidade de Belém na Galileia começou a pregar uma nova doutrina e atrair seguidores, sendo aclamado por alguns como o Messias. Jesus foi rejeitado, tido por apóstata pelas autoridades judaicas. Foi condenado por blasfémia e executado pelos romanos como um líder rebelde. Seus seguidores enfrentaram dura oposição político-religiosa, tendo sido perseguidos e martirizados, pelos líderes religiosos judeus, e, mais tarde, pelo Estado Romano.
Com a morte e ressurreição de Jesus, os apóstolos, principais testemunhas da sua vida, reúnem-se numa comunidade religiosa composta essencialmente por judeus e centrada na cidade de Jerusalém. Esta comunidade praticava a comunhão dos bens, celebrava a "partilha do pão" em memória da última refeição tomada por Jesus e administrava o baptismo aos novos convertidos. A partir de Jerusalém, os apóstolos partiram para pregar a nova mensagem, anunciando a nova religião inclusive aos que eram rejeitados pelo judaísmo oficial. Assim, Filipe prega aos Samaritanos, o eunuco da rainha da Etiópia é baptizado, bem como o centurião Cornélio. Em Antioquia, os discípulos abordam pela primeira vez os pagãos e passam a ser conhecidos como cristãos.
Paulo de Tarso não se contava entre os apóstolos originais, ele era um judeu fariseu que perseguiu inicialmente os primeiros cristãos. No entanto, ele tornou-se depois um cristão e um dos seus maiores, senão o maior missionário depois de Jesus Cristo. Boa parte do Novo Testamento foi escrito ou por ele (as epístolas) ou por seus cooperadores (o evangelho de Lucas e os actos dos apóstolos). Paulo afirmou que a salvação dependia da fé em Cristo. Entre 44 e 58 ele fez três grandes viagens missionárias que levaram a nova doutrina aos gentios e judeus da Ásia Menor e de vários pontos da Europa, entre eles Roma.
Nas primeiras comunidades cristãs a coabitação entre os cristãos oriundos do paganismo e os oriundos do judaísmo gerava por vezes conflitos. Alguns dos últimos permaneciam fiéis às restrições alimentares e recusavam-se a sentar-se à mesa com os primeiros. Na Assembleia de Jerusalém, em 48, decide-se que os cristãos ex-pagãos não serão sujeitos à circuncisão, mas para se sentarem à mesa com os cristãos de origem judaica devem abster-se de comer carne com sangue ou carne sacrificada aos ídolos. Consagra-se assim a primeira ruptura com o judaísmo.
Peixe - Símbolo Cristão Primitivo, 2.º Século d.C. - Hoje símbolo principal das denominações da Igreja Evangélica
Na época, a visão de mundo monoteísta do judaísmo era atrativa para alguns dos cidadãos do mundo romano, mas costumes como a circuncisão, as regras de alimentação incômodas, e a forte identificação dos judeus como um grupo étnico (e não apenas religioso) funcionavam como barreiras dificultando a conversão dos homens. Através da influência de Paulo, o Cristianismo simplificou os costumes judaicos aos quais os gentios não se habituavam enquanto manteve os motivos de atração. Alguns autores defendem que essa mudança pode ter sido um dos grandes motivos da rápida expansão do cristianismo.
Outros autores entendem a ruptura com os ritos judaicos mais como uma conseqüência da expansão do cristianismo entre os não-judeus do que como sua causa. Estes invocam outros fatores e características como causa da expansão cristã, por exemplo: a natureza da fé cristã que propõe que a mensagem de Deus destina-se a toda a humanidade e não apenas ao seu povo escolhido; a fuga da perseguição religiosa empreendida inicialmente por judeus conservadores, e posteriormente pelo Estado Romano; o espírito missionário dos primeiros cristãos com sua determinação em divulgar o que Cristo havia ensinado a tantas pessoas quantas conseguissem.
A narrativa da perseguição religiosa, da dispersão dela decorrente, da expansão do cristianismo entre não-judeus e da subsequente abolição da obrigatoriedade dos ritos judaicos pode ser lida no livro de Atos dos Apóstolos. De resto, os cristãos adotam as regras e os princípios do Antigo Testamento, livro sagrado dos Judeus.
Em Junho do ano 66 inicia-se a revolta judaica. Em Setembro do mesmo ano a comunidade cristã de Jerusalém decide separar-se dos judeus insurrectos, seguindo a advertência dada por Jesus de que quando Jerusalém fosse cercada por exércitos a desolação dela estaria próxima, e exila-se em Pela, na Transjordânia, o que representa o segundo momento de ruptura com o judaísmo.
Após a derrota dos judeus em 70, cristãos e outros grupos judeus trilham caminhos cada vez mais separados. Para o Cristianismo o período que se abre em 70 e que segue até aproximadamente 135 caracteriza-se pela definição da moral e fé cristã, bem como de organização da hierarquia e da liturgia. No Oriente, estabelece-se o episcopado monárquico: a comunidade é chefiada por um bispo, rodeado pelo seu presbitério e assistido por diáconos.
Gradualmente, o sucesso do Cristianismo junto das elites romanas fez deste um rival da religião estabelecida. Embora desde 64, quando Nero mandou supliciar os cristãos de Roma, se tivessem verificado perseguições ao Cristianismo, estas eram irregulares. As perseguições organizadas contra os cristãos surgem a partir do século II: em 112Trajano fixa o procedimento contra os cristãos. Para além de Trajano, as principais perseguições foram ordenadas pelos imperadores Marco Aurélio, Décio, Valeriano e Diocleciano. Os cristãos eram acusados de superstição e de ódio ao género humano. Se fossem cidadãos romanos eram decapitados; se não, podiam ser atirados às feras ou enviados para trabalhar nas minas.
Durante a segunda metade do século II assiste-se também ao desenvolvimento das primeiras heresias. Tatiano, um cristão de origem síria convertido em Roma, cria uma seita gnóstica que reprova o casamento e que celebrava a eucaristia com água em vez de vinho. Marcião rejeitava o Antigo Testamento, opondo o Deus vingador dos judeus, ao Deus bondoso do Novo Testamento, apresentado por Cristo; ele elaborou um Livro Sagrado feito a partir de passagens retiradas do Evangelho de Lucas e das epístolas de Paulo. À medida que o Cristianismo criava raízes mais fortes na parte ocidental do Império Romano, o latim passa a ser usado como língua sagrada (nas comunidades do Oriente usava-se o grego).
A ascensão do imperador romano Constantino representou um ponto de virada para o Cristianismo. Em 313 ele publica o Édito de Tolerância (ou Édito de Milão) através do qual o Cristianismo é reconhecido como uma religião do Império, e concede a liberdade religiosa aos cristãos. A Igreja pode possuir bens e receber donativos e legados. É também reconhecida a jurisdição dos bispos.
A questão da conversão de Constantino ao Cristianismo é um tema de profundo debate entre os historiadores, mas em geral aceita-se que a sua conversão ocorreu gradualmente. Constantino estipula o descanso dominical, proíbe a feitiçaria e limita as manifestações do culto imperial. Ele também mandou construir em Roma uma basílica no local onde, supostamente, o apóstolo Pedro estava sepultado e, influenciado pela sua mãe, a imperatriz Helena, ordena a construção em Jerusalém da Basílica do Santo Sepulcro e da Igreja da Natividade em Belém.
Constantino quis também intervir nas querelas teológicas que na altura marcavam o Cristianismo. Luta contra o arianismo, uma doutrina que negava a divindade de Cristo, oficialmente condenada no Concílio de Niceia (325), onde também se definiu o Credo cristão.
Mais tarde, nos anos de 391 e 392, o imperador Teodósio I combate o paganismo, proibindo o seu culto e proclamando o Cristianismo religião oficial do Império Romano.
O lado ocidental do Império cairia em 476, ano da deposição do último imperador romano pelo "bárbaro" germânico Odoacro, mas o Cristianismo permaneceria triunfante em grande parte da Europa, até porque alguns bárbaros já estavam convertidos ao Cristianismo ou viriam a converter-se nas décadas seguintes. O Império Romano teve desta forma um papel instrumental na expansão do Cristianismo.
Do mesmo modo, o cristianismo teve um papel proeminente na manutenção da civilização européia. A Igreja, única organização que não se desintegrou no processo de dissolução da parte ocidental do império, começou lentamente a tomar o lugar das instituições romanas ocidentais, chegando mesmo a negociar a segurança de Roma durante as invasões do século V. A Igreja também manteve o que restou de força intelectual, especialmente através da vida monástica.
Embora fosse unida lingüisticamente, a parte ocidental do Império Romano jamais obtivera a mesma coesão da parte oriental (grega). Havia nele um grande número de culturas diferentes que haviam sido assimiladas apenas de maneira incompleta pela cultura romana. Mas enquanto os bárbaros invadiam, muitos passaram a comungar da fé cristã. Por volta dos séculos IV e X, todo o território que antes pertencera ao ocidente romano havia se convertido ao cristianismo e era liderado pelo Papa. Missionários cristãos avançaram ainda mais ao norte da Europa, chegando a terras jamais conquistadas por Roma, obtendo a integração definitiva dos povos germânicos e eslavos.
No cristianismo existem numerosas tradições e denominações, que reflectem diferenças doutrinais por vezes relacionadas com a cultura e os diferentes contextos locais em que estas se desenvolveram. Segundo a edição de 2001 da World Christian Encyclopedia existem 33 830 denominações cristãs. Desde a Reforma o cristianismo é dividido em três grandes ramos:
Ortodoxia: originária da primeira grande cisma cristã é constituída por duas grandes igrejas ortodoxas - a grega e a russa - que apresentam algumas diferenças entre si, nomeadamente a língua usada na liturgia. Há ainda um terceiro ramo, a igreja de rito Copta, que surgiu no Norte de África;
Além desses três ramos majoritários, ainda existem outros segmentos minoritários do Cristianismo. Em geral se enquadram em uma das seguintes categorias:
Restauracionismo: são doutrinas surgidas após a Reforma Protestante cujas bases derrogam as de todas as outras tradições cristãs, basicamente tendo como ponto em comum apenas a crença em Jesus Cristo. A maioria deles não se considera propriamente "protestante" ou "evangélico" por possuirem grandes divergências teológicas. Nesta categoria estão enquadradas a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, a Igreja Adventista do Sétimo Dia e as Testemunhas de Jeová, entre outras denominações. Quanto às Testemunhas de Jeová, embora afirmem ser cristãs, também não se consideram parte do protestantismo. Os testemunhas aceitam a Jesus como criatura, de natureza divina, seu líder e resgatador, rejeitando, no entanto a crença na Trindade e ensinando que Cristo é o filho do único Deus, Jeová, não crendo que Jesus é Deus.
Cristianismo esotérico: é a parte mística do Cristianismo, e compreende as escolas cristãs de mistérios e sincretismo religioso. A este ramo pertence o Gnosticismo que é uma crença com raízes antecedentes ao próprio cristianismo e que tem características da ciência egípcia e da filosofia grega. O Rosacrucianismo também se enquadra nessa vertente sendo uma ciência oculta cristã que ressalta as boas ações por meio da fraternidade.
Espiritismo: algumas vezes é contestado como sendo uma vertente do Cristianismo. Os simplesmente espíritas não acreditam que uma pessoa ou ser, como Jesus Cristo, pode redimir "os pecados" de uma outra, contudo para a maior parte dos adeptos do espiritismo a obra de Allan Kardec constitui uma nova forma de cristianismo, ou então um resgate do cristianismo primitivo, que não inclui os dogmas adicionados pela Igreja Católica em seus diversos Concílios. Inclusive, um dos seus livros fundantes é denominado de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Esse livro apresenta uma reinterpretação de aspectos da filosofia e moral cristã, crendo em parte na Bíblia Sagrada.
Concepções religiosas e filosóficas
O Cristianismo prega o amor a Deus e ao próximo como o seu fundamento espiritual. De facto estas atitudes não constituem dois mandamentos separados (1º a Deus e 2º ao próximo), mas sim um só em que nenhuma das partes pode ser excluída. A salvação espiritual é oferecida gratuitamente a quem deseja aceitá-la buscando a Deus na figura de seu filho Jesus e que a busca de Deus é uma experiência transformadora da natureza humana.
Podemos considerar três períodos que definem a concepção e filosofia do Cristianismo:
Cristianismo primitivo: caracterizado por uma heterogeneidade de concepções;
Patrística: ocorrida no período entre os séculos II e VIII, com a transformação da nova religião em uma Igreja oficial do Império Romano fundada por Constantino e a formação de um clero institucionalizado, e cujo doutrinário expoente foi Santo Agostinho;
Escolástica: a partir do século VIII e cujo expoente foi São Tomás de Aquino, que afirmou que fé e razão podem ser conciliadas, sendo a razão um meio de entender a fé.
A partir do protestantismo, é necessário fazer uma diferenciação entre a história e concepção da Igreja Católica e das diversas denominações evangélicas que se formaram.
Formas de culto
As formas de culto do cristianismo envolvem a oração, a leitura de passagens da Bíblia, o canto de hinos, a cerimónia da eucaristia (católicos e ordodoxos) e a audição de um sermão dito pelo sacerdote ou ministro. A maioria das denominações cristãs considera o Domingo como dia dedicado ao culto (há minorias que consideram o Sábado). É um dia dedicado ao descanso, no qual os cristãos reúnem-se para o culto, embora a devoção e oração individual em qualquer outro dia da semana sejam também valorizadas no cristianismo.
Os católicos e os ortodoxos interpretam as formas de culto (ou missa, para o catolicismo) cristãs em termos de sete sacramentos, considerados como graças divinas:
Os protestantes não têm os sacramentos pelo catolicismo, mas eles utilizam de passagens bíblicas para os cultos, como:
Batismo (para a maioria das denominações, apenas em adultos);
Santa Ceia (não aceitando a eucaristia, voltando ao padrão bíblico "PÃO" E "VINHO", ambos aceitos apenas como símbolos).
etc
Símbolos
O Bom Pastor, mausoléu de Galla Placidia, Ravena, Itália. Início do século V d.C..
O símbolo mais reconhecido do cristianismo é sem dúvida a cruz, que pode apresentar uma grande variedade de formas de acordo com a denominação: crucifixo para os católicos, a cruz de oito braços para os ortodoxos e uma simples cruz para os protestantes evangélicos.
Outro símbolo cristão, que remonta aos começos da religião. é o Ichthys ou peixe estilizado (a palavra Ichthys significa peixe em grego, sendo também um acrónimo de Iesus Christus Theou Yicus Soter, "Jesus Cristo filho de Deus Salvador"), hoje sempre visto no protestantismo. Outros símbolos do cristianismo primitivo, por vezes ainda utilizados, eram o Alfa e o Ómega (primeira e última letras do alfabeto grego, em referência ao facto de Cristo ser o princípio e o fim de todas as coisas), a âncora (representando a salvação da alma chegada ao bom porto) e o "Bom Pastor", a representação de Cristo como um pastor com as suas ovelhas.
Calendário litúrgico e festividades
Os cristãos atribuem a determinado dias do calendário uma importância religiosa. Estes dias estão ligados à vida de Jesus Cristo ou à história dos primórdios do movimento cristão.
O calendário litúrgico cristão inclui as seguintes festas:
Advento: período constituído pelas quatro semanas antes do Natal, entendidas como época de preparação para a celebração do nascimento de Jesus Cristo;
Epifania: para os católicos, celebra a adoração de Jesus Cristo pelos Reis Magos, enquanto que para os cristãos ortodoxos o seu baptismo. Acontece doze dias após o Natal;
Ascensão: ascensão de Jesus ao céu. Acontece quarenta dias após o Domingo de Páscoa;
Pentecostes: celebração do aparecimento do Espírito Santo aos cristãos. Ocorre cinquenta dias após o Domingo de Páscoa.
Alguns dias têm uma data fixa no calendário (como o Natal, celebrado a 25 de Dezembro), enquanto que outros se movem ao longo de várias datas. O período mais importante do calendário litúrgico é a Páscoa, que é uma festa móvel. Nem todas denominações cristãs concordam em relação a que datas atribuir importância. Por exemplo, o Dia de Todos-os-SantosIgreja Católica e pela Igreja Anglicana a 1 de Novembro, enquanto que para a Igreja Ortodoxa a data é celebrada no primeiro Domingo depois do Pentecostes; outras denominações cristãs não celebram sequer este dia. De igual forma, alguns grupos cristãos recusam celebrar o Natal uma vez que consideram ter origens pagãs. é celebrado pela
O cristianismo no mundo de hoje
O cristianismo é atualmente a religião com maior número de adeptos, seguida do islão[1]. Presente em todos os continentes, apresenta tendências de desenvolvimento diferente em cada um deles.
No início do século XX, a maioria dos cristãos estava concentrada na Europa; por volta da década de setenta do século XX, tinha diminuído consideravelmente o número de cristãos na Europa, sendo actualmente a América Latina e África os dois centros mundiais do cristianismo.
O cristianismo chegou ao continente americano com as conquistas espanholas e portuguesas do século XVI. Os primeiros missionários católicos na América, preocupados com a conversão das populações, não se importaram com as culturas locais indígenas, que foram devastadas. No século XIX a independência dos países latino-americanos em relação a Espanha e Portugal, foi acompanhada de uma redução gradual da influência da Igreja Católica. Contudo, durante o século XX o catolicismo desempenhou um papel político na América Latina, detectável em movimentos como a Teologia da Libertação. Actualmente, o catolicismo perde terreno na América Latina a favor de movimentos protestantes de carácter pentecostalista.
Na África o cristianismo tem raízes mais antigas. Antes do surgimento do islão no século VII, o norte de África estava religiosamente integrado na esfera cristã. O islão e o cristianismo tiveram dificuldades em penetrar completamente na África Negra. Foi, sobretudo no século XIX, com o estabelecimento de missões protestantes (anglicanas e metodistas) em África, que o cristianismo penetrou no continente. Na segunda metade do século XX seria a vez do catolicismo. Hoje em dia, o catolicismo é a denominação com maior número de adeptos na maioria dos países africanos, com uma população de mais de 150 milhões de pessoas. No continente africano também surgiram igrejas cristãs independentes das tradições européias, que misturam elementos do cristianismo com elementos da cultura local, como o culto dos antepassados, a feitiçaria e a poligamia.
Bibliografia
CAIRNS Earle E., O Cristianismo através dos séculos: Uma história da Igreja Cristã, Edições Vida Nova, São Paulo, ISBN 8527503853
GONZALES Justo L., Uma História ilustrada do Cristianismo, coleção em 10 volumes, Edições Vida Nova, São Paulo - ISBN 8527500395 (Volume 1)
LEBRUN, François (dir.), As Grandes Datas do Cristianismo. Lisboa: Editorial Notícias, 1990.
↑«Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.»(João 3:16) (Versão bíblica "Ferreira de Almeida Atualizada").