sábado, 27 de fevereiro de 2021

Nārada-bhakti-sūtra: Os Segredos do Amor Transcendental

Nārada-bhakti-sūtra: Os Segredos do Amor Transcendental

25 I (obra completa - teologia) Narada-bhakti-sutra (ilustrado, bg) (4101)

Nesta obra rara, deparamo-nos com uma apresentação concisa, porém espiritualmente poderosa, da rendição amorosa ao Senhor Kṛṣṇa. Os aforismos têm grande impacto sobre o leitor e são relevantes para praticantes de bhakti-yoga em todos os estágios da prática.

Capítulo 1: O Valor da Devoção

VERSO 1

athāto bhaktiṁ vyākhyāsyāmaḥ

atha — agora; ataḥ — portanto; bhaktim — o serviço devocional; vyākhyāsyāmaḥ — tentaremos explicar.

Agora, portanto, tentarei explicar o processo do serviço devocional.

VERSO 2

sā tv asmin parama-prema-rūpā

 — ele; tu — e; asmin — por Ele (o Senhor Supremo); parama — o mais elevado; prema — amor puro; rūpā — tem por forma.

O serviço devocional manifesta-se como o mais elevado e puro amor a Deus.

VERSO 3

amṛta-svarūpā ca

amṛta — imortalidade; svarūpā — tendo como sua essência; ca — e.

Esse amor puro por Deus é eterno.

VERSO 4

yal labdhvā pumān siddho bhavaty amṛto bhavati tṛpto bhavati

yat — o que; labdhvā — uma vez alcançado; pumān — a pessoa; siddhaḥ — perfeita; bhavati — torna-se; amṛtaḥ — imortal; bhavati — torna-se; tṛptaḥ — pacífica; bhavati — torna-se.

Uma vez que tenha alcançado esse estágio de serviço devocional transcendental em amor puro por Deus, a pessoa se torna perfeita, imortal e pacífica.

VERSO 5

yat prāpya na kiñcid vāñchati na śocati na dveṣṭi na ramate notsāhī bhavati

yat — o que; prāpya — uma vez obtido; na kiñcit — nada; vāñchati — anseia por; na śocati — nem se lamenta; na dveṣṭi — não odeia; na ramate — não regozija; na — não; utsāhī — materialmente entusiástica; bhavati — torna-se.

Uma pessoa ocupada em semelhante serviço devocional puro não deseja algo para a gratificação sensorial, nem lamenta por alguma perda, nem odeia algo, nem desfruta de algo para si, tampouco encontra entusiasmo em atividades materiais.

VERSO 6

yaj jñātvā matto bhavati stabdho bhavaty ātmārāmo bhavati

yat — o que; jñātvā — uma vez compreendido; mattaḥ — intoxicado; bhavati — torna-se; stabdhaḥ — atordoado (em êxtase); bhavati — torna-se; ātma-ārāmaḥ — autossatisfeito (em decorrência de estar ocupado no serviço ao Senhor); bhavati — torna-se.

Aquele que compreende perfeitamente o processo do serviço devocional em amor ao Supremo se intoxica com sua execução. Algumas vezes, ele fica atordoado em êxtase e, destarte, desfruta de seu próprio eu, estando ocupado a serviço do Eu Supremo.

VERSO 7

sā na kāmayamānā nirodha-rūpatvāt

 — esse serviço devocional em amor puro por Deus; na — não; kāmayamānā — como luxúria ordinária; nirodha — renúncia; rūpatvāt — por ter como sua forma.

Não há questão de luxúria na execução do serviço devocional puro, pois, em tal serviço, todas as atividades materiais são renunciadas.

VERSO 8

nirodhas tu loka-veda-vyāpāra-nyāsaḥ

nirodhaḥ — renúncia; tu — ademais; loka — dos costumes sociais; veda — e das escrituras reveladas; vyāpāra — às ocupações; nyāsa — renúncia.

Tal renúncia no serviço devocional significa abandonar toda sorte de costumes sociais e rituais religiosos regidos pela injunção védica.

*Os versos de 1 a 8 são traduções de A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada.

VERSO 9

tasminn ananyatā tad-virodhiṣūdāsīnatā ca

tasmin — a Ele; ananyatā — dedicação exclusiva; tat — a Ele; virodhiṣu — a tudo o que se oponha; udāsīnatā — indiferença; ca — e.

Renúncia também significa dedicar-se exclusivamente ao Senhor e ser indiferente a tudo o que se oponha ao Seu serviço.

VERSO 10

anyāśrayāṇāṁ tyāgo ‘nanyatā

anya — outros; āśrayāṇām — de refúgios; tyāgaḥ — a rejeição; an-anyatā — exclusividade.

Dedicação exclusiva ao Senhor significa rejeitar todos os outros refúgios.

VERSO 11

loka-vedeṣu tad-anukūlācaraṇaṁ tad-virodhiṣūdāsīnatā

loka — na sociedade e nos assuntos políticos; vedeṣu — e nos rituais védicos; tat — disso; anukūla — do que é favorável; ācaraṇam — execução; tat — a isso; virodhiṣu — ao que se opõe; udāsīnatā — indiferença.

Indiferença ao que se oponha ao serviço devocional significa aceitar apenas aquelas atividades dos costumes sociais e das injunções védicas que sejam favoráveis ao serviço devocional.

VERSO 12

bhavatu niścaya-dārḍhyād ūrdhvaṁ śāstra-rakṣaṇam

bhavatu — deve haver; niścaya — na certeza; dārḍhyāt — a firme determinação; ūrdhvam — após; śāstra — das escrituras; rakṣaṇam — o cumprimento.

O indivíduo deve continuar seguindo as injunções escriturais mesmo após ter-se fixado com determinação na certeza de que o serviço devocional é o único caminho para o logramento da perfeição da vida.

VERSO 13

anyathā pātitya-śaṅkayā

anyathā — caso contrário; pātitya — de queda; śaṅkayā — possibilidade.

Caso contrário, existe grande possibilidade de queda.

VERSO 14

loke ‘pi tāvad eva bhojanādi-vyāpāras tv ā-śarīra-dhāraṇāvadhi

loke — em comportamento social; api — também; tāvat — enquanto; eva — com efeito; bhojana — alimentação; ādi — e assim por diante; vyāpāraḥ — a atividade; tu — e; ā-śarīra-dhāraṇā-avadhi — enquanto o corpo durar.

Pois, enquanto o corpo durar, a pessoa certamente precisa ocupar-se o mínimo necessário em atividades sociais e políticas, bem como em necessidades básicas, como a alimentação.

Capítulo 2: Definindo Bhakti

VERSO 15

tal-lakṣaṇāni vācyante nānā-mata-bhedāt

tat — disso (o serviço devocional); lakṣaṇāni — as características; vācyante — serão anunciadas; nānā — várias; mata — teorias; bhedāt — de acordo com diferentes.

Agora, as características do serviço devocional serão descritas de acordo com a opinião de várias autoridades.

VERSO 16

pūjādiṣv anurāga iti pārāśaryaḥ

pūjā-ādiṣu — por adorar e assim por diante; anurāgaḥ — afeição; iti — assim considera; pārāśaryaḥ — o filho de Parāśara (Vyāsadeva).

Śrīla Vyāsadeva, o filho de Parāśara Muni, diz que bhakti é o afeiçoado apego por adorar o Senhor de várias maneiras.

VERSO 17

kathādiṣv iti gargaḥ

kathā-ādiṣu — por narrações e assim por diante; iti — afirma deste modo; garga — Garga Muni.

Garga Muni afirma que bhakti é apreço por narrações acerca do Senhor, pelas palavras proferidas pelo Senhor e assim por diante.

VERSO 18

ātma-raty-avirodheneti śāṇḍilyaḥ

ātma — em relação à Superalma; rati — ao prazer; avirodhena — pela liberdade das obstruções; iti — assim declara; śāṇḍilyaḥ — Śāṇḍilya.

Śāṇḍilya declara que bhakti resulta de o sujeito remover todas as obstruções para obter prazer no Eu Supremo.

VERSO 19

nāradas tu tad-arpitākhilācāratā tad-vismaraṇe parama-vyākulateti

nāradaḥ — Nārada; tu — entretanto; tat — a Ele; arpita — oferecer; akhila — todas; ācāratā — as atividades; tat — dEle; vismaraṇe — esquecer-se; parama — a suprema; vyākulatā — aflição; iti — deste modo.

Nārada, entretanto, afirma que bhakti consiste em oferecer todos os atos ao Senhor Supremo e em considerar o esquecimento do Senhor como a pior aflição.

VERSO 20

asty evam evam

asti — são acertadas; evam evam — todas essas descrições.

Todas essas descrições descrevem corretamente bhakti.

VERSO 21

yathā vraja-gopikānām

yathā — como; vraja — de Vraja; gopikānām — as pastoras de vacas.

As pastoras de vacas de Vraja exemplificam a bhakti pura.

VERSO 22

tatrāpi na māhātmya-jñāna-vismṛty-apavādaḥ

tatra — nesse caso; api — nem mesmo; na — não há; māhātmya — da grandeza; jñāna — da ciência; vismṛti — ao esquecimento; apavādaḥ — crítica.

No caso das gopīs, ninguém pode criticá-las por se esquecerem da grandeza do Senhor.

VERSO 23

tad-vihīnaṁ jārāṇām iva

tat — disso (da consciência da grandeza do Senhor); vihīnam — destituída; jārāṇām — os casos ilícitos entre amantes; iva — como.

Por outro lado, a exibição de devoção sem conhecimento da grandeza de Deus não é melhor do que os casos ilícitos entre amantes.

VERSO 24

nāsty eva tasmiṁs tat-sukha-sukhitvam

na — não há; eva — com efeito; tasmin — nisso; tat — Sua; sukha — na felicidade; sukhitvam — o encontro de felicidade.

Em semelhante devoção falsa, o indivíduo não encontra prazer exclusivamente no prazer do Senhor.

VERSO 25

sā tu karma-jñāna-yogebhyo ‘py adhikatarā

 — isso; tu — no entanto; karma — ao trabalho fruitivo; jñāna — ao conhecimento especulativo; yogebhyaḥ — e à meditação mística; api — deveras; adhikatarā — superior.

O serviço devocional puro, no entanto, é deveras superior ao trabalho fruitivo, à especulação filosófica e à meditação mística.

VERSO 26

phala-rūpatvāt

phala — do fruto; rūpatvāt — por ser a forma.

Afinal, bhakti é o fruto de todo empenho.

VERSO 27

īśvarasyāpy abhimāni-dveṣitvād dainya-priyatvāc ca

īśvarasya — do Senhor Supremo; api — também; abhimāni — àqueles que são orgulhosos; dveṣitvāt — por ser avesso; dainya — à humildade; priyatvāt — por ser afeito; ca — e.

Importante adicionar, o Senhor é avesso ao orgulho e Se apraz com a humildade.

VERSO 28

tasyā jñānam eva sādhanam ity eke

tasyāḥ — disso (bhakti); jñānam — conhecimento; eva — apenas; sādhanam — o meio; iti — dizem assim; eke — alguns.

Alguns dizem que o conhecimento é o meio para o desenvolvimento da devoção.

VERSO 29

anyonyāśrayatvam ity eke

anyonya — mútua; āśrayatvam — dependência; iti — consideram assim; eke — outros.

Outros consideram bhakti e conhecimento como sendo interdependentes.

VERSO 30

svayaṁ phala-rūpeti brahma-kumāraḥ

svayam — seu próprio; phala-rūpā — manifesta-se como o fruto; iti — assim diz; brahma-kumāraḥ — o filho de Brahmā (Nārada).

Contudo, Nārada, o filho de Brahmā, diz que bhakti é seu próprio fruto.

VERSO 31-32

rāja-gṛha-bhojanādiṣu tathaiva dṛṣṭatvāt
na tena rāja-paritoṣaḥ kṣuc-chāntir vā

rāja — régia; gṛha — em uma residência; bhojana—em uma refeição; ādiṣu — e assim por diante; tathā eva — como; dṛṣṭatvāt — por ver; na — não; tena — mediante isso; rāja — do rei; paritoṣaḥ — a satisfação; kṣut — da fome; śāntiḥ — a saciação;  — ou.

Isto é ilustrado pelos exemplos de um palácio régio, uma refeição e assim por diante. Um rei não fica realmente satisfeito simplesmente por ver um palácio, tampouco alguém pode aplacar sua fome simplesmente olhando para uma refeição.

VERSO 33

asmāt saiva grāhyā mumukṣubhiḥ

asmāt — por conseguinte;  — isso; eva — apenas; grāhyā — deve ser aceito; mumukṣubhiḥ — por pessoas que desejam a liberação.

Portanto, aqueles que buscam pela liberação devem adotar exclusivamente o serviço devocional.

Capítulo 3: Os Meios de Obtenção

VERSO 34

tasyāḥ sādhanāni gāyanty ācāryāḥ

tasyāḥ — disso; sādhanāni — os meios para desenvolvimento; gāyanti — descrevem; ācāryāḥ — os grandes instrutores.

As grandes autoridades descrevem os métodos para a obtenção do serviço devocional.

VERSO 35

tat tu viṣaya-tyāgāt saṅga-tyāgāc ca

tat — isso; tu — e; viṣaya — da gratificação dos sentidos; tyāgāt — através da rejeição; saṅga — de companhias mundanas; tyāgāt — através da rejeição; ca — e.

Obtém-se bhakti abandonando a gratificação sensorial e as companhias mundanas.

VERSO 36

avyāvṛtta-bhajanāt

 avyāvṛtta — ininterrupta; bhajanāt — pela adoração.

Obtém-se bhakti adorando o Senhor incessantemente.

VERSO 37

loke ‘pi bhagavad-guṇa-śravaṇa-kīrtanāt

loke — no mundo; api — mesmo; bhagavat — do Senhor Supremo; guṇa — sobre as qualidades; śravaṇa — ouvindo; kīrtanāt — e cantando.

Obtém-se bhakti ouvindo e cantando sobre as qualidades especiais do Senhor Supremo, mesmo enquanto ocupado nas atividades ordinárias deste mundo.

VERSO 38

mukhyatas tu mahat-kṛpayaiva bhagavat-kṛpā-leśād vā

mukhyataḥ — primariamente; tu — todavia; mahat — das grandes almas; kṛpayā — pela misericórdia; eva — com efeito; bhagavat — do Senhor Supremo; kṛpā — da misericórdia; leśāt — por um traço;  — ou.

Primariamente, todavia, desenvolve-se bhakti pela misericórdia das grandes almas, ou por uma pequena gota da misericórdia do Senhor.

VERSO 39

mahat-saṅgas tu durlabho ‘gamyo ‘moghaś ca

mahat — das grandes almas; saṅgaḥ — a companhia; tu — porém; durlabhaḥ — difícil de obter; agamyaḥ — difícil de compreender; amoghaḥ — infalível; ca — também.

A companhia de grandes almas é algo raramente obtido, difícil de entender e infalível.

VERSO 40

labhyate ‘pi tat-kṛpayaiva

labhyate — obtém-se; api — contudo; tat — dEle (do Senhor Supremo); kṛpayā — pela misericórdia; eva — unicamente.

A companhia de grandes almas pode ser obtida – mas unicamente pela misericórdia do Senhor.

VERSO 41

tasmiṁs taj-jane bhedābhāvāt

tasmin — entre Ele; tat — a Ele; jane — e aqueles associados; bheda — de diferença; abhāvāt — devido à ausência.

[Pode-se obter bhakti quer pela companhia dos devotos puros do Senhor, quer diretamente pela misericórdia do Senhor porque] o Senhor e Seus devotos puros não são diferentes um do outro.

VERSO 42

tad eva sādhyatāṁ tad eva sādhyatām

tat — por isso; eva — somente; sādhyatām — esforcemo-nos; tat — por isso; eva — somente; sādhyatām — esforcemo-nos.

Esforcemo-nos e esforcemo-nos somente por conseguir a companhia dos devotos puros.

VERSO 43

duḥsaṅgaṁ sarvathaiva tyājyaḥ

duḥsaṅgam — de companhias degradantes; sarvathā — toda sorte; eva — em definitivo; tyājyaḥ — deve-se abandonar.

Em definitivo, deve-se abandonar toda sorte de companhia degradante.

VERSO 44

kāma-krodha-moha-smṛti-bhraṁśa-buddhi-nāśa-sarva-nāśa-kāraṇatvāt

kāma — de luxúria; krodha — de ira; moha — de confusão; smṛti-bhraṁśa — esquecimento; buddhi-nāśa — perda da determinação; sarva-nāśa — e perda de tudo; kāraṇatvāt — porque são a causa.

Companhias mundanas promovem em nós o desejo de autogratificação, ira, confusão quanto ao que deve ser feito e ao que não deve ser feito, esquecimento dos benefícios de seguirmos as instruções escriturais, a perda da determinação em seguir tais instruções e, deste modo, acarretam completa calamidade em nossas vidas.

VERSO 45

taraṅgitā apīme saṅgāt samudrāyanti

taraṅgitāḥ — formando ondas; api — com efeito; ime — esses; saṅgāt — das más companhias; samudrāyanti — criam um oceano.

Surgindo das más companhias como ondas, esses efeitos maléficos se combinam em um grande oceano de miséria.

VERSO 46

kas tarati kas tarati māyāṁ yaḥ saṅgaṁ tyajati yo mahānubhāvaṁ sevate nirmamo bhavati

kaḥ — quem; tarati — transpõe; kaḥ — quem; tarati — transpõe; māyām — toda ilusão; yaḥ — aquele que; saṅgam — más companhias; tyajati — abandona; yaḥ — aquele que; mahā-anubhāvam — os sábios; sevate — serve; nirmamaḥ — livre de egoísmo; bhavati — torna-se.

Quem é capaz de transpor toda ilusão? Quem é semelhante indivíduo? Aquele que abandona as más companhias, serve os sábios e assume uma postura de vida abnegada.

VERSO 47

yo vivikta-sthānaṁ sevate yo loka-bandham unmūlayati nistraiguṇyo bhavati yo yoga-kṣemaṁ tyajati

yaḥ — aquele que; vivikta — recluso; sthānam — fica em um local; sevate — serve; yaḥ — aquele que; loka — à sociedade mundana; bandham — o apego; unmūlayati — desarraiga; nistrai-guṇyaḥ — livre da influência dos três modos da natureza material; bhavati — torna-se; yaḥ — aquele que; yoga — desejo de obter; kṣemam — e segurança; tyajati — renuncia.

Pode superar a ilusão aquele que é reservado, corta pela raiz seu apego pela sociedade mundana, livra-se da influência dos três modos da natureza e renuncia o desejo por ganho material e segurança.

VERSO 48

yaḥ karma-phalaṁ karmāṇi sanyasyati tato nirdvandvo bhavati

yaḥ — aquele que; karma-phalam — os frutos do trabalho material; karmāṇi — suas atividades materiais; sanyasati — renuncia; tataḥ — assim; nirdvandvaḥ — inafetado pelas dualidades; bhavati — torna-se.

Pode superar a ilusão aquele que renuncia os deveres materiais e os resultados decorrentes dos mesmos, transcendendo, deste modo, as dualidades.

VERSO 49

yo vedān api sanyasyati kevalam avicchinnānurāgaṁ labhate

yaḥ — aquele que; vedān — os Vedasapi — até mesmo; sanyasyati — renuncia; kevalam — exclusiva; avicchinna — ininterrupta; anurāgam — atração amorosa; labhate — logra.

Aquela pessoa que renuncia até mesmo os Vedas logra atração exclusiva e ininterrupta por Deus.

VERSO 50

sa tarati sa tarati lokāṁs tārayati

saḥ — semelhante pessoa; tarati — transpõe; saḥ — semelhante pessoa; tarati — transpõe; lokān — as pessoas deste mundo; tārayati — faz com que transponham.

Semelhante pessoa certamente se liberta, e também liberta o restante do mundo.

Capítulo 4: Devoção Pura e Mista

VERSO 51

anirvacanīyaṁ prema-svarūpam

anirvacanīyam — indescritível; prema — do amor por Deus em seu estado maduro; svarūpam — a identidade essencial.

A verdadeira natureza do amor puro por Deus é indescritível.

VERSO 52

mūkāsvādana-vat

mūkā — de um mudo; āsvādana — a descrição do sabor; vat — como.

[Tentar descrever a experiência do amor puro por Deus] é como um mudo esforçar-se na tentativa de descrever o que saboreia.

VERSO 53

prakāśyate kvāpi pātre

prakāśyate — é revelado; kva api — de tempos em tempos; pātre — àqueles que são aptos a receber.

Não obstante, de tempos em tempos, o amor puro por Deus é revelado àqueles que são aptos a receber tal revelação.

VERSO 54

guṇa-rahitaṁ kāmanā-rahitaṁ pratikṣaṇa-vardhamānam avicchinnaṁ sūkṣma-taram anubhava-rūpam

guṇa — de qualidades materiais; rahitam — destituída; kāmanā — de desejos materiais; rahitam — destituída; prati-kṣaṇa — a todo instante; vardhamānam — crescente; avicchinnam — ininterrupto; sūkṣma-taram — mais sutil; anubhava — consciência; rūpam — como sua forma.

O amor puro por Deus se manifesta como a mais sutil consciência, destituída de qualidades materiais e desejos materiais, e tal amor, além de ininterrupto, cresce a todo instante.

VERSO 55

tat prāpya tad evāvalokayati tad eva śṛṇoti tad eva bhāṣayati tad eva cintayati

tat — isso; prāpya — uma vez que tenha auferido; tat — Deus; eva — apenas; avalokayati — vê; tat — Deus; eva — apenas; śṛṇoti — ouve sobre; tat — Deus; eva — apenas; bhāṣayati — fala sobre; tat — Deus; eva — apenas; cintayati — pensa em.

Uma vez que tenha auferido amor puro por Deus, o sujeito vê apenas Deus, ouve apenas sobre Deus, fala apenas sobre Deus e pensa apenas em Deus.

VERSO 56

gauṇī tridhā guṇa-bhedād ārtādi-bhedād vā

gauṇī — secundário; misturado com os modos materiais; tridhā — tríplices; guṇa — dos modos materiais; bhedāt — pela diferenciação; ārta — daquele que está aflito; ādi — e assim por diante; bhedāt — pela diferenciação;  — ou.

O serviço devocional secundário é de três espécies, de acordo com qual modo da natureza material predomina, ou de acordo com a motivação material – aflição e assim por diante – que conduziu o indivíduo a buscar por bhakti.

VERSO 57

uttarasmād uttarasmāt pūrva-pūrvo śreyāya bhavati

uttarasmāt uttarasmāt — do que cada seguinte; pūrva-pūrvaḥ — cada anterior; śreyāya bhavati — é considerado melhor.

Cada estágio anterior deve ser considerado melhor do que aquele que o sucede.

VERSO 58

anyasmāt saulabhyaṁ bhaktau

anyasmāt — do que mediante qualquer outro processo; saulabhyam — sucesso de fácil obtenção; bhaktau — mediante o serviço devocional.

É mais fácil alcançar o sucesso mediante o serviço devocional do que mediante qualquer outro processo.

VERSO 59

pramāṇāntarasyānapekṣatvāt svayaṁ pramāṇatvāt

pramāṇa — meios de conhecimento válido; antarasya — de outros; an-apekṣatvāt — por não depender; svayam — por si mesmo; pramāṇatvāt — por ser uma autoridade válida.

A razão para o serviço devocional ser o mais fácil de todos os processos espirituais é o fato de ele não depender de nenhuma outra autoridade para sua validação, porquanto ele é o padrão de autoridade.

VERSO 60

śānti-rūpāt paramānanda-rūpāc ca

śānti — a paz; rūpāt — corporifica; paramaānanda — o êxtase supremo; rūpāt — corporifica; ca — e.

Além disso, bhakti corporifica a paz e o êxtase supremo.

VERSO 61

loka-hānau cintā na kāryā niveditātma-loka-vedatvāt

loka — do mundo; hānau — em relação a perdas; cintā — preocupar-se; na kāryā — não se deve; nivedita — por ter rendido; ātma — seus; loka — afazeres mundanos; vedatvāt — e deveres védicos.

Após confiar ao Senhor todos os seus deveres mundanos e védicos, não é necessário se preocupar em relação a perdas materiais.

VERSO 62

na tatsiddhau loka-vyāvahāro heyaḥ kintu phala-tyāgas tat-sādhanaṁ ca kāryam eva

na — não; tat — disso (o serviço devocional); siddhau — na adoção; loka — ordinários; vyāvahāraḥ — afazeres; heyaḥ — deve abandonar; kintu — senão; phala — dos resultados; tyāgaḥ — o abandono; tat — disso (o serviço devocional); sādhanaṁ — conforme tenta progredir; ca — e; kāryam — deve ser feito; eva — certamente.

Mesmo após ter adotado o serviço devocional, o indivíduo não deve abandonar suas responsabilidades neste mundo, senão que deve continuar entregando os frutos de seu trabalho ao Senhor. E conforme tenta alcançar o estágio de devoção pura, certamente o indivíduo deve continuar executando os deveres prescritos.

VERSO 63

strī-dhana-nāstika-caritraṁ na śravaṇīyam

strī — referentes a sexo; dhana — referentes a dinheiro; nāstika — sem Deus; caritraṁ — descrições; na — não; śravaṇīyam — se deve ouvir.

Não se deve sentir prazer na audição de assuntos referentes a sexo, dinheiro e ateísmo.

VERSO 64

abhimāna-dambhādikaṁ tyājyam

abhimāna — vaidade; dambha — mentira; ādikam — e assim por diante; tyājyam — devem ser abandonados.

Vaidade, hipocrisia e posturas similares devem ser abandonadas.

VERSO 65

tad arpitākhilācāraḥ san kāma-krodhābhimānādikaṁ tasminn eva karaṇīyam

tat — a Ele; arpita — dedicando; akhila — todas; ācāraḥ — as ações; san — sentindo; kāma — desejos; krodha — raiva; abhimāna — orgulho; ādikam — e assim por diante; tasmin — em relação a Ele; eva — unicamente; karaṇīyam — a pessoa deve sentir.

Dedicando todas as atividades ao Senhor, a pessoa deve sentir desejo, raiva e orgulho unicamente em relação a Ele.

VERSO 66

tri-rūpa-bhaṅga-pūrvakaṁ nitya-dāsya-nitya-kāntā-bhajanātmakaṁ prema kāryaṁ premaiva kāryam

tri-rūpa — dos três modos da natureza material (as qualidades da bondade, da paixão e da ignorância); bhaṅga — rompendo; pūrvakam — já mencionados; nitya — perpétua; dāsya — postura de servo; nitya — perpétua; kāntā — como uma amante; bhajana — serviço; ātmakam — consistindo em; prema — amor puro; kāryam — deve-se manifestar; prema — amor puro; eva — unicamente; kāryam — deve-se manifestar.

Após romper a já mencionada cobertura dos três modos da natureza, deve-se agir somente em amor puro por Deus, permanecendo eternamente na disposição de um servo em relação ao seu mestre ou na disposição de uma amante em relação ao seu amado.

VERSO 67

bhaktā ekāntino mukhyāḥ

bhaktāḥ — devotos; ekāntinaḥ — unicamente; mukhyāḥ — principais.

Entre os devotos do Senhor, os mais grandiosos são aqueles que se dedicam a Ele unicamente como Seus servos íntimos.

VERSO 68

kaṇṭhāvarodha-romāśrubhiḥ parasparaṁ lapamānāḥ pāvayanti kulāni pṛthivīṁ ca

kaṇṭha — com a voz na garganta; avarodha — embargada; roma — com pelos arrepiados; aśrubhiḥ — e com lágrimas; parasparam — entre si; lapamānāḥ — conversando; pāvayanti — purificam; kulāni — suas comunidades; pṛthivīm — a Terra; ca — e.

Conversando entre si com vozes embargadas, pelos arrepiados e lágrimas a cascatearem, os servos íntimos do Senhor purificam seus seguidores e também o mundo inteiro.

VERSO 69

tīrthī-kurvanti tīrthāni su-karmī-kurvanti karmāṇi sac-chāstrī-kurvanti śāstrāṇi

tīrthī — locais sagrados; kurvanti — tornam; tīrthāni — os locais sagrados; su-karmī — atividades auspiciosas; kurvanti — tornam; karmāṇi — a atuação; sat — reais; śāstrī — as escrituras; kurvanti — tornam; śāstrāṇi — as escrituras.

Tais servos tornam sagradas as terras sagradas, tornam auspiciosas as atividades auspiciosas e evidenciam as escrituras.

VERSO 70

tan-mayāḥ

tat — dEle; mayāḥ — são cheios.

Os servos íntimos do Senhor Supremo encontram-se sempre inteiramente absortos em amor por Ele.

VERSO 71 

modante pitaro nṛtyanti devatāḥ sa-nāthā ceyaṁ bhūr bhavati

modante — regozijam-se; pitaraḥ — os antepassados; nṛtyanti — dançam; devatāḥ — os semideuses; sa-nāthā — possuidora de bons mestres; ca — e; iyam — esta; bhūḥ — Terra; bhavati — torna-se.

Assim, os antepassados dos devotos puros se regozijam, os semideuses dançam, e o mundo se sente protegido por bons mestres.

VERSO 72

nāsti teṣu jāti-vidyā-rūpa-kula-dhana-kriyādi-bhedaḥ

na asti — inexistem; teṣu — entre eles; jāti — de classe; vidyā — educação; rūpa — beleza; kula — família; dhana — riqueza; kriyā — ocupação; ādi — e assim por diante; bhedaḥ — diferenças.

Inexistem distinções entre tais devotos puros em termos de classe social, educação, beleza corpórea, status familiar, riqueza, ocupação e assim por diante.

VERSO 73

yatas tadīyāḥ

yataḥ — devido a que; tadīyāḥ — pertencem a Ele.

[Os devotos puros não se diferenciam por questões externas, como as classes sociais,] devido a que pertencem ao Senhor.

Capítulo 5: Atingindo a Perfeição

VERSO 74

vādo nāvalambyaḥ

vādaḥ — a debates; na — não; avalambyaḥ — dar-se.

O indivíduo não deve se dar a debates argumentativos.

VERSO 75

bāhulyāvakāśatvād aniyatatvāc ca

bāhulya — em excesso; avakāśatvāt — por envolver oportunidades; aniyatatvāt — por não ser decisiva; ca — e.

Semelhante discussão conduz a excessivas complicações e nunca é decisiva.

VERSO 76

bhakti-śāstrāṇi mananīyāni tad-bodhaka-karmāṇi karaṇīyāni

bhakti — atinentes ao serviço devocional; śāstrāṇi — as escrituras; mananīyāni — devem ser respeitadas; tat — por elas; bodhaka — trazidas; karmāṇi — as atividades prescritas; karaṇīyāni — devem ser executadas.

A pessoa deve respeitar as escrituras reveladas atinentes ao serviço devocional e deve cumprir os deveres que elas prescrevem.

VERSO 77

sukha-duḥkhecchā-lābhādi-tyakte kāle pratīkṣamāṇe kṣaṇārdham api vyarthaṁ na neyam

sukha — felicidade; duḥkha — infelicidade; icchā — desejo; lābha — exploração; ādi — e assim por diante; tyakte — abandonar; kāle — o momento; pratīkṣamāṇe — aguardando; kṣaṇa — de um momento; ardham — a metade; api — nem mesmo; vyartham — caprichosamente; na neyam — não deve ser desperdiçado.

Pacientemente perseverando até o momento em que possa deixar de lado a felicidade material, a aflição, o desejo e o falso ganho, não se deve desperdiçar sequer uma fração de segundo.

VERSO 78

ahiṁsā-satya-śauca-dayāstikyādi-cāritryāṇi paripālanīyāni

ahiṁsā — de não-violência; satya — veracidade; śauca — limpeza; dayā — compaixão; āstikya — fé; ādi — e assim por diante; cāritryāṇi — as qualidades; paripālanīyāni — devem ser cultivadas.

Boas qualidades como não-violência, veracidade, limpeza, compaixão e fé devem ser cultivadas.

VERSO 79

sarvadā sarva-bhāvena niścintair bhagavān eva bhajanīyaḥ

sarvadā — sempre; sarva-bhāvena — com todos os sentimentos; niścintaiḥ — por aqueles que estão livres de dúvidas; bhagavān — o Senhor Supremo; eva — com efeito; bhajanīyaḥ — deve ser adorado.

Aqueles que se encontram livres de dúvidas devem adorar constantemente o Senhor Supremo de todo o seu coração.

VERSO 80

sa kīrtyamānaḥ śīghram evāvirbhavaty anubhāvayati bhaktān

saḥ — Ele; kīrtyamānaḥ — sendo glorificado; śīghram — rapidamente; eva — com efeito; avirbhavati — aparece; anubhāvayati — permite o conhecimento; bhaktān — aos devotos.

Quando é glorificado, o Senhor rapidamente Se revela aos Seus devotos e permite que estes O conheçam como Ele é.

VERSO 81

tri-satyasya bhaktir eva garīyasī bhaktir eva garīyasī

tri — de três maneiras (através de sua mente, de seu corpo e de suas palavras); satyasya — para quem é honesto; bhaktiḥ — o serviço devocional; eva — somente; garīyasī — mais precioso; bhaktiḥ — o serviço devocional; eva — somente; garīyasī — o mais precioso.

O serviço devocional é a posse mais preciosa de uma pessoa que honestamente utiliza sua mente, seu corpo e suas palavras.

VERSO 82

guṇa-māhātmyāsakti-rūpāsakti-pūjāsakti-smaraṇāsak ti-dāsyāsakti-sakhyāsakti-vātsalyāsakti-kāntāsakty-ā tma-nivedanāsakti-tan-mayāsakti-parama-virahāsakti-rūpai kadhāpy ekādaśadhā bhavati

guṇa — das qualidades (do Senhor); māhātmya — à grandeza; āsakti — apego; rūpa — à Sua beleza; āsakti — apego; pūjā — à adoração; āsakti — apego; smaraṇa — à lembrança; āsakti — apego; dāsya — ao serviço; āsakti — apego; sakhya — à amizade; āsakti — apego; vātsalya — à afinidade parental; āsakti — apego; kāntā — como um amante conjugal; āsakti — apego; ātma — do próprio eu; nivedana — à oferenda; āsakti — apego; tat-maya — a estar absorto em pensar nEle; āsakti — apego; parama — supremo; viraha — à saudade; āsakti — apego; rūpā — tendo como suas formas; ekadhā — em número de um; api — embora; ekādaśakhā — onze; bhavati — se torna.

Embora o serviço devocional seja um, ele se manifesta em onze formas de apego: apego às gloriosas qualidades do Senhor, à Sua beleza, à adoração a Ele, à lembrança dEle, a servi-lO, a ser Seu amigo, a cuidar dEle como cuida um pai ou uma mãe, a lidar com Ele como um amante, a render inteiramente o próprio eu a Ele, a absorver-se em pensar nEle, e a sentir saudades dEle. O último é o apego supremo.

VERSO 83

ity evaṁ vadanti jana-jalpa-nirbhayā eka-matāḥ kumāra-vyāsa-śuka-śāṇḍilya-garga-viṣṇu-kauṇḍilya-śeṣoddhavāruṇi-bali-hanūmad-vibhīṣaṇādayo bhakty-ācāryāḥ

iti — então; evam — desta maneira; vadanti — dizem; jana — das pessoas comuns; jalpa — da conversa mundana; nirbhayāḥ — sem medo; eka — de uma; matāḥ — opinião; kumāra-vyāsa-śuka-śāṇḍilya-garga-viṣṇu-kauṇḍilya-śeṣa-uddhava-aruṇi-bali-hanūmat-vibhīṣaṇa-ādayaḥ — os Kumāras, Vyāsa, Śuka, Śāṇḍilya, Garga, Viṣṇu, Kauṇḍilya, Śeṣa, Uddhava, Aruṇi, Bali, Hanumān, Vibhīṣaṇa e outros; bhakti — do serviço devocional; ācāryāḥ — as autoridades.

Assim dizem as autoridades do serviço devocional – os Kumāras, Vyāsa, Śuka, Śāṇḍilya, Garga, Viṣṇu, Kauṇḍilya, Śeṣa, Uddhava, Aruṇi, Bali, Hanumān, Vibhīṣaṇa e outros –, o que dizem sem medo das conversas mundanas das pessoas ordinárias e compartilhando entre si a mesma opinião.

VERSO 84

ya idaṁ nārada-proktaṁ śivānuśāsanaṁ viśvasiti śraddhate sa bhaktimān bhavati sa preṣṭhaṁ labhate sa preṣṭhaṁ labhata iti

yaḥ — quem; idam — este; nārada-proktam — falado por Nārada; śiva — auspicioso; anuśāsanam — instrução; viśvasiti — confia; śraddhate — é convencido por; saḥ — ele; bhakti-mān — possuidor de devoção; bhavati — torna-se; saḥ — ele; preṣṭham — o mais querido (o Senhor Supremo); labhate — alcança; saḥ — ele; preṣṭham — o mais querido; labhate — alcança; iti — assim.

Qualquer um que confie nestas instruções dadas por Nārada e sinta-se convencido por elas será abençoado com devoção e alcançará o mais querido Senhor. Sim, ele alcançará o mais querido Senhor.

Neste ponto, encerra-se a obra Narada-bhakti-sutra

Fonte: https://voltaaosupremo.com/artigos/obras-completas/narada-bhakti-sutra-os-segredos-do-amor-transcendental/

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Respondendo perguntas e fazendo alguns comentários gerais.

Hoje é dia do sagrado jejum de Sri Ekadasi Bhaimi ou Jaya Ekadasi dia 23/02/2021 Lendo a História . Podcast conservador sobre: política , filosofia, arte, cultura, educação, pedagogia , religião



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Hoje é dia do sagrado Sri Ekadasi Bhaimi ou Jaya Ekadasi, 23/02/2021 A história deste jejum



A História do Bhaimi Ekadashi

Extraído do livro Ekadashi, o dia do Senhor Hari, de S.S. Krishna Balarama Swami.

Maharaja Yudisthira disse: Ó Senhor dos senhores, Sri Krishna, todas as glórias a Você! Ó mestre do universo, unicamente Você é a causa do aparecimento dos quatros tipos de entidades vivas – Aquelas que nascem de ovos, aquelas que nascem da transpiração, aquelas que nascem de sementes e aquelas que nascem de embriões, – Somente Você é a causa básica de todos, e, portanto, Você é o criador, mantenedor e o destruidor. Meu Senhor, Você explicou tão bondosamente para mim o dia auspicioso do Sat Tila Ekadashi, o qual ocorre durante o quarto minguante do mês Magha (Janeiro/Fevereiro), agora, por favor, explique sobre o Ekadashi que ocorre durante o quarto crescente deste mês. Com que nome é conhecido? Qual o processo para observá-lo? Qual é a deidade que deve ser adorada neste dia sublime? O qual é muito querido para Você.

O Senhor Sri Krishna respondeu: Ó Yudhisthira, Eu falarei com alegria para você, sobre o Ekadashi que ocorre durante o quarto crescente do mês Magha. Este Ekadashi destrói todos os tipos de reações pecaminosas, e influências demoníacas que afetam a alma espiritual. Ele também é conhecido como Jaya Ekadashi e a alma afortunada que observa o jejum nesse dia alivia-se do grande peso de existência fantasmagórica. Desta maneira, não há Ekadashi melhor do que este, pois ele concede a liberação do ciclo de nascimentos e mortes. Ele deve ser honrado muito cuidadosamente.

Assim, Eu lhe peço que Me ouça muito atentamente enquanto explico o maravilhoso episódio histórico relativo a este Ekadashi, o qual Eu já narrei anteriormente no Padma Purana, ó Pandava! Muito, muito tempo atrás nos planetas celestiais, o senhor Indra governava o seu reino mui tranquilamente e todos os semideuses, viviam ali muito felizes e contentes.

Na floresta Nandana, a qual estava belamente decorada com flores parijata, Indra bebia Ambrósia a vontade e desfrutava do serviço de cinquenta milhões de apsaras (donzelas celestiais), as quais dançavam para o seu bel prazer. Muitos gandhavas (cantores e músicos celestiais), liderados por Puspadanta, cantavam a doce voz além de comparação. Citrasena, o líder dos músicos de Indra, estava ali na companhia de sua esposa Malini, e de seu filho Malyavam. Uma apsara de nome Puspavati encantou muito Malyavam; realmente, as flechas afiadas de cupido (nota 1) perfuraram o âmago do seu coração.

O belo corpo e compleição, junto com os movimentos encantadores das sobrancelhas de Puspavati, cativaram Malyavam.
Ó rei, ouça enquanto descrevo a beleza esplêndida de Puspavati: Ela tinha braços graciosos e incomparáveis, os quais podiam abraçar um homem como um fino laço de seda; sua face assemelhava-se à lua cheia; seus olhos de lótus chegavam quase até as orelhas, as quais estavam adornadas com maravilhosos brincos; seu pescoço ornamentado era fino e assemelhava-se a um búzio. Sua cintura era muito esguia e da largura de um punho; seus quadris eram largos e suas coxas eram como troncos de bananeiras; seus aspectos naturalmente belos estavam complementados pelos magníficos ornamentos e roupas; seus seios eram arrebitados e olhar seus pés, era como contemplar lótus vermelhos recém-desabrochados. Vendo Puspavati em toda sua beleza celestial, Malyavam logo se apaixonou. Eles tinham vindo com outros músicos e dançarinos, para agradar o senhor Indra por meio do canto e da dança envolvente. Mas, devido a eles terem se enamorado um pelo outro, com o coração trespassado pelas flechas do cupido, a luxúria personificada, eles estavam completamente incapazes de cantar e dançar apropriadamente, perante o senhor e mestre dos reinos celestiais.

A pronúncia deles e o ritmo descompassado fizeram o senhor Indra compreender a causa dos erros de imediato. Ofendido pela execução musical desafinada, Indra ficou muito irado e gritou bem alto: Seus tolos inúteis! Vocês pretendem cantar para mim estando na letargia da paixão um pelo outro? Vocês me ridicularizaram! Eu amaldiçoo vocês dois a sofrerem a partir de agora como pisaca (duende do mal).

Como marido e mulher vão para as regiões terrestres e colham as reações de suas ofensas. Emudecidos por essas palavras ásperas, Malyavam e Puspavati logo ficaram tristes e caíram da bela floresta Nandana no reino celestial, para um pico dos Himalaia aqui no planeta terra. Imensuravelmente tristes e com suas inteligências celestiais vastamente diminuídas pelos efeitos da poderosa maldição de Indra, eles perderam todo senso de paladar e olfato e até mesmo o sentido do tato. Estava tão frio naquele deserto de neve e gelo nos Himalaia, que eles nem podiam desfrutar do alívio do sono. Perambulando desamparadamente de lá para cá e de cá para lá naquela altitude desagradável, Malyavam e Puspavati sofriam mais e mais a cada momento.

Embora eles estivessem abrigados em uma caverna, devido à nevasca incessante e ao frio seus dentes batiam sem parar, e seus cabelos estavam arrepiados devido ao medo e espanto. 

Nesta situação totalmente desesperadora, Malyavam disse para Puspavati: Que pecados abomináveis nós cometemos para ter que sofrer nesses corpos de pisaca e neste ambiente hostil e inabitável? Isto é absolutamente infernal! Embora o inferno seja muito feroz, o sofrimento que estamos passando aqui é ainda mais severo. Portanto fica bem claro que ninguém deve cometer qualquer pecado.
E então os amantes desamparados arrastaram-se progredindo na neve e gelo. Entretanto, devido à boa-fortuna deles, aconteceu de que aquele mesmo dia era o Jaya Ekadashi, o Ekadashi do quarto crescente do mês Magha. Devido à miséria por que passavam, eles negligenciaram de beber água, matar alguma caça e até mesmo de comer as frutas e folhas disponíveis naquela altitude, eles observaram inconscientemente o Ekadashi jejuando completamente de todo tipo de alimento e bebida. Absortos na miséria Malyavam e Puspavati desmaiaram sob uma árvore pipal, conhecida como figueira dos pagodes, e nem sequer tentaram se levantar.  O sol tinha se posto naquela mesma hora. A noite foi ainda mais fria do que o dia. Eles tremiam na gélida nevasca e seus dentes batiam em uníssono e quando ficaram entorpecidos, eles se abraçaram mutuamente para manterem-se aquecidos. Preso um pelo braço do outro, eles não puderam gozar do sono nem do sexo. Assim eles sofreram durante toda noite devido à poderosa maldição de Indra.

Mesmo assim, ó Yudhisthira, pelos méritos alcançados com o jejum que eles tinham observado por acaso no Bhaimi Ekadashi, e devido a que eles permaneceram despertos por toda noite, eles foram maravilhosamente abençoados.

Ouça por favor, o que aconteceu no dia seguinte; assim que amanheceu no Dvadasi, Malyavam e Puspavati tinham abandonado suas formas demoníacas e eram novamente belos seres celestiais, usando ornamentos brilhantes e roupas exóticas. Enquanto eles se olhavam mutuamente surpresos, um aeroplano celestial (vimana) chegou ao local. Um coro de habitantes celestiais cantava suas glórias, enquanto o casal subia na bela aeronave e seguiam diretamente para as regiões celestiais, saudados pelas boas vindas de todos. Rapidamente Malyavam e Puspavati chegaram a Amaravati, a capital do senhor Indra. Eles imediatamente se apresentaram a seu senhor e ofereceram a ele com alegria suas reverências.

O senhor Indra ficou atônito, ao ver que eles tinham sido restaurados a suas formas e status originais, tão logo após terem sido amaldiçoados a sofrer como demônios, muito, muito abaixo do reino celestial. Indra então perguntou a eles: Que feitos extraordinariamente meritórios vocês executaram para que pudessem abandonar seus corpos de pisara tão rapidamente após eu ter amaldiçoados vocês?

Malyavam respondeu: Ó senhor, foi pela misericórdia da Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Vasudeva, e também pela influência poderosa do Jaya Ekadashi, que fomos aliviados da nossa condição sofredora como pisaca. Esta é a verdade, ó mestre; porque nós executamos serviço devocional ao Senhor Vishnu, jejuando no Ekadashi, o dia mais querido para Ele, nós recuperamos alegremente nosso status anterior.

Indra disse: Porque vocês serviram ao Supremo Senhor Kesava, através de seguir o Ekadashi, vocês tornaram-se adoráveis até mesmo por mim e eu posso ver que agora, vocês estão completamente purificados do pecado. Quem quer que se ocupe em serviço devocional ao Senhor Sri Hari, ou ao senhor Shiva, torna-se digno de ser adorado até mesmo por mim. Quanto a isto não há dúvida. O senhor Indra então deu a Malyavam e a Puspavati, toda liberdade de desfrutarem um do outro e a movimentarem-se em seu planeta celestial.

Ó Yudhisthira, portanto deve-se observar estritamente o jejum do dia do Senhor Hari, especialmente no Bhaimi Ekadashi, o qual liberta a pessoa até mesmo do pecado de matar um brahmana duas vezes nascido. A grande alma que observa este jejum com toda fé e devoção, já deu todos os tipos de caridades; executou todos os tipos de sacrifícios e de peregrinação. Banhou-se em todos os lugares santos. Jejuar no Jaya Ekadashi qualifica a pessoa a residir em Vaikunta e gozar de felicidade sem fim por bilhões de yugas, de fato, para sempre. Ó grande rei, até mesmo aquele que ouve ou lê estas glórias do Bhaimi Ekadashi, alcança o mérito que é obtido pela execução de um sacrifício Agnistoma, durante o qual os hinos do Sama Veda são recitados.

Assim termina a narração das glórias do Magha sukla Ekadashi, Bhaimi Ekadashi, também conhecido como Jaya Ekadashi, do Bhavisya Uttara Purana.

Nota 1 – Kamadeva, a luxúria personificada, tem cinco nomes de acordo com o dicionário Amara kosa:


Nome 1 – Kandarpa ou cupido, no Bhagavad Gita (10.28) Sri Krishna diz: “Dentre as causas da procriação, Eu sou Kandarpa.” A palavra Kandaroa também significa “muito belo.” Kandarpa apareceu como um dos filhos de Krishna em Dvaraka chamado Pradyunma.

Nome  2  – Darpaka, aquele que pode prever o futuro – Este nome indica que cupido pode saber o que acontecerá e prevenir este acontecimento. Especificamente, ele tenta impedir a atividade espiritual pura, por controlar a mente de alguém o forçando a ocupar-se no gozo dos sentidos.

Nome 3 – Ananga, que não tem corpo físico. Certa vez, quando cupido perturbou a meditação do senhor Shiva, este poderoso semideus reduziu cupido a cinzas. Mesmo assim, Shiva deu ao cupido a benção de que ele poderia agir no mundo, mesmo sem um corpo físico.

Nome 4 – Kama, a luxúria personificada, no Bhagavad Gita (7.11). O Senhor Sri Krishna diz: “Eu sou a vida sexual que não é contrária aos princípios religiosos”.

Nome 5 – Panca Saralh, aquele que porta cinco tipos de flechas. As cinco flechas com as quais o cupido perfura a mente das entidades vivas são: o sabor. o tato; o som; o olfato e a visão. Estes são os cinco nomes de cupido, o qual encanta todas as entidades vivas e faz com que elas executem o que ele quer. Sem a misericórdia do Guru autêntico e de Krishna, a pessoa não pode resistir ao seu poder.

Fim



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domingo, 21 de fevereiro de 2021

Democracia em perigo. Por João Maria Andarilho Utópico.


Obras de Raymundo Faoro

Sua primeira obra foi também a mais importante, Os donos do poder, lançada em 1958. Outras publicações importantes ao longo de sua trajetória foram Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio (1974), A Assembleia Nacional Constituinte: a legitimidade recuperada (1981) e Existe um pensamento político brasileiro? (1994)|2|.

Algumas coletâneas de textos ou entrevistas foram lançadas após a sua morterepública inacabada (org. Fábio Konder Comparato), 2007; A democracia traída (org. Mauricio Dias), 2008; república em transição (org. Joaquim Falcão & Paulo Augusto Franco), 2018.

Frases

“Aqui a história, pelo menos a história da democracia, ainda não começou.”

“Sobre a sociedade, acima das classes, o aparelhamento político — uma camada social, comunitária embora nem sempre articulada, amorfa muitas vezes — impera, rege e governa, em nome próprio, num círculo impermeável de comando.”

“Deitou-se remendo de pano novo em vestido velho, vinho novo em odres velhos, sem que o vestido se rompesse nem o odre rebentasse.”

“Sempre achei que o trabalhador devia ter um partido, uma representação. Era necessário à democracia.”

Notas

|1| Academia Brasileira de Letras. Raymundo Faoro: Biografia.

|2| Intérpretes do Brasil. Raymundo Faoro. Para acessar, clique aqui.

|3| COMPARATO, Fábio Konder. Raymundo Faoro historiador. São Paulo: Estudos Avançados, vol.17 n. 48, 2003.

Crédito da imagem

[1] Biblioteca Azul (Reprodução)

Publicado por: Milka de Oliveira Rezende
Leia o livro 


https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4254333/mod_resource/content/1/Raymundo%20Faoro%20-%20Os%20Donos%20do%20Poder.pdf

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Oratória: dez dicas para dar um show na sua próxima apresentação

Toda apresentação deve ter início, meio e fim

Erik Penna (*)

Já encontrei muitas pessoas apavoradas por terem que se apresentar em público ou até mesmo numa pequena reunião de empresa. Algumas pesquisas apontam que o medo de falar em público é tão significativo que chega até a superar o medo da morte.

Insegurança, calafrio, dor de cabeça e desespero, tudo por causa da apresentação na faculdade ou na reunião da empresa. Seguindo as dicas abaixo, você fará bonito e surpreenderá positivamente seus expectadores:

1) Domine o assunto. Conhecer profundamente o tema que será apresentado é fundamental para o sucesso. Isso trará a confiança necessária para você discursar. Lembre-se: inicie a fala pelo que é mais fácil para você. Isso serve como um aquecimento e será vital para você se acalmar, ganhar confiança e, em seguida, deslanchar, sem se lembrar do calafrio inicial.

2) Fale com naturalidade. Não caia na tentação de querer imitar alguém. Cada pessoa tem seu estilo e você deve enaltecer o seu. O ideal é falar em público com a mesma naturalidade com que se conversa entre os amigos e familiares.

3) Varie o tom de voz. Ora mais baixo, ora mais alto, mais rápido ou pausadamente, assim, as pessoas não se cansarão e permanecerão prestando atenção na sua fala e no conteúdo. E, sobretudo, fale com emoção e paixão. Assim, você contagiará os expectadores com sua vibração.

4) Não fique parado atrás do púlpito ou no mesmo local o tempo todo. Movimente-se pelo local e aproxime-se das pessoas mais interessadas, para que elas se sintam enaltecidas, e também das pessoas desinteressadas ou sonolentas, pois assim as manterá atentas.

5) Faça perguntas durante a apresentação. Mesmo que você mesmo as responda. Questionamentos geram maior atenção e interação dos participantes.

6) Use recursos audiovisuais. A tecnologia pode lhe propiciar uma didática moderna, mas não abuse, pois as pessoas estão ali para assistir você e não para ver vídeos longos e cansativos. E não caia na armadilha de escrever todo o conteúdo nos slides, pois a apresentação vai virar uma leitura cansativa e pode passar a impressão que você não conhece o assunto.

7) Preste atenção na linguagem não-verbal. O sucesso da comunicação interpessoal não está somente naquilo que você diz, mas em como diz. Segundo a teoria 7-38-55, de Albert Mehrabian, professor emérito de psicologia da Universidade da Califórnia (UCLA), somente 7% do impacto da mensagem decorre de seu conteúdo, 38% da comunicação verbal (intensidade e velocidade da voz) e 55% da linguagem não verbal (gestos, postura, contato visual). Portanto, durante a apresentação, evite permanecer com a mão no bolso ou encostado em alguma coisa, pois isso pode transmitir insegurança ou indiferença. Também evite ficar segurando algum papel ou objeto, pois, se estiver nervoso, sua mão estará trêmula e o objeto irá balançar, expondo, assim, sua ansiedade.

8) Domine o espaço físico. Se puder, vá ao local onde se apresentará, com antecedência, e treine por alguns minutos. E, durante a apresentação, procure olhar para as pessoas. Não precisa ficar encarando ninguém, pois os deixará encabulados, mas também não fique olhando para o chão. Olhe na linha dos olhos das pessoas e lembre-se de passar os olhos por toda sala para que todos se sintam prestigiados e percebam que estão sendo vistos e notados.

9) Encerre com chave de ouro. Toda apresentação deve ter início, meio e fim. O encerramento deve ser a parte mais impactante, conquistando, assim, a aprovação desejada e deixando um gostinho de quero mais.

10) Praticar, persistir e treinar continuamente. E, por último, esses procedimentos são o grande segredo. Lembre-se que o ser humano aprende por repetição e que excelência é conquistada com muito treinamento.

(*) Erik Penna é especialista em vendas, consultor, palestrante e autor dos livros “A Divertida Arte de Vender” e “Motivação Nota 10”. Site: www.erikpenna.com.br. Este artigo foi publicado originalmente em 23-10-2014.


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O verdadeiro sentido de ser mestre



Profissão mestre, por que não?

Marcos Pereira dos Santos (*)

professora infantilEtimologicamente, a palavra “mestre”, segundo Closs (1977), deriva do latim magister, que significa professor, ou seja, aquele que professa algo, que se dedica à arte de ensinar.

Todavia, nos dias atuais, esse vocábulo tem apresentado outros inúmeros sentidos, tais como: alguém que concluiu um curso de mestrado em alguma área do saber e/ou que exerce a profissão de: mestre-escola, mestre de obras, mestre-cuca, mestre-sala, mestre de cerimônias etc.

Em termos educacionais, ser mestre não se restringe apenas a possuir um título/grau acadêmico de mestrado concedido por uma instituição de Educação Superior (VELLOSO e VELHO, 2001). Ser mestre não é apenas lecionar, transmitir aos alunos determinados conteúdos curriculares programáticos. É também saber caminhar com os educandos passo a passo, desvelando aos mesmos os segredos e percalços da caminhada da escola da vida e da vida na escola.

Ser mestre é ser ‘perito’ em determinado campo do conhecimento, instrutor, orientador, guia, conselheiro, mediador, pacificador, amigo e companheiro. É sonhar o sonho dos aprendizes e ser exemplo de dedicação, respeito, doação, ética, moral, humildade, paciência, justiça, amor ao próximo, dignidade etc. É ser um pouco de profeta, poeta, pai, mãe, irmão, terapeuta, psicólogo entre tantas outras coisas (...).

Ser mestre é ser muito mais do que apenas bacharel, licenciado, professor, docente ou educador. Ser mestre é saber compartilhar experiências e saberes, alegrar-se com as conquistas dos alunos e apoiá-los em seus momentos difíceis. É ser ensinante-e-aprendente, isto é, dodiscente (PIENTA et al, 2005). Mas, é também ser apóstolo, discípulo, missionário; e usar de autoridade quando necessário, sem autoritarismo.

Nesse contexto, o mestre que caminha à sombra do templo rodeado de discípulos não dá somente de sua sabedoria (conhecimento teórico e prático), mas também de sua fé e ternura. Se ele for verdadeiramente sábio, não os convidará a entrar na mansão de seu saber; mas, antes, os conduzirá ao limiar de suas próprias mentes. Sendo assim, pode-se dizer que mestre não é aquele que simplesmente apresenta um caminho novo, mas aquele que mostra como algo novo o jeito de caminhar.

Dizemos isso, porque há mestres de todo tipo: uns que nos falam e nós não ouvimos; alguns que nos tocam e não sentimos; outros que nos “ferem” e nem cicatrizes deixam. Mas, há também aqueles que marcam profundamente, com palavras e ações, a vida de seus alunos. Ser mestre é coisa séria! Uns são apenas homens; outros, professores; poucos são verdadeiramente mestres. Aos primeiros, escuta-se; aos segundos, respeita-se; aos últimos, segue-se.

De uma forma ou de outra, é necessário agradecer a todos: aos que se limitam a ser apenas professores ou somente mestres, nosso respeito; àqueles que simplesmente passam pela vida de seus alunos, nossa compreensão; e àqueles que são mestres por excelência, que dedicam parte de seu precioso tempo e contribuem com sua experiência de vida pessoal, acadêmica e profissional para a formação de cidadãos críticos, reflexivos, criativos, conscientes, responsáveis e comprometidos com a construção de uma sociedade cada vez mais justa, fraterna, equânime e democrática; nosso afeto.

Que possamos, pois, assumir com amor e afinco o grande desafio que constitui o ato de educar, de tudo contribuir no sentido da humanização da Ciência e de fazer dos educandos o centro de nossa missão como mestres, respeitando-os como seres únicos e ajudando-os a caminhar de modo independente pelas estradas da vida.

Face ao exposto, vê-se quão difícil e gratificante é a tarefa de ser mestre. É uma profissão de extrema importância. Ser mestre é fazer parte da história de ontem, de hoje e do amanhã. Enfim, ser mestre é ser um pouco de tudo isso e muito além disso (...). “É ser o início, o meio e nunca o fim” (SANTOS, 2012, p.92). Eis, portanto, o verdadeiro sentido de ser mestre.

A todos os mestres, educadores, docentes e professores do Brasil e do mundo, nossa solene e sincera homenagem. Que todos os profissionais da educação possam ser devidamente respeitados e valorizados, tanto pelas autoridades governamentais quanto pela própria sociedade em geral. Que o DIA DO PROFESSOR não fique restrito apenas à data de 15 de outubro. Trata-se apenas de um dia ‘comemorativo’ previsto em calendário escolar, e nada mais. Pensemos nisso!    

 

Referências

CLOSS, D. Os graus de mestre e doutor nas instituições de ensino norte-americanas. Brasília: Editora da UnB, 1977.

PIENTA, A. C. G. et al. Educação, formação profissional docente e os paradigmas da ciência. In: Revista Olhar de Professor. Ponta Grossa: Editora da UEPG, v.8, n.2, p.93-106, jul./dez., 2005.

SANTOS, M. P. Operação docente. In: VÁRIOS AUTORES. Antologia de poesias, contos e crônicas. São Paulo: All Print Editora, p.91-92, 2012.

VELLOSO, J.; VELHO, L. Mestrandos e doutorandos no país: trajetórias de formação. Brasília: Fundação CAPES/Editora da UnB, 2001.

 

prof-marcos-pereira web(*) Marcos Pereira dos Santos é doutorando e mestre em Educação, especialista em Educação Matemática, especialista em Gestão Escolar e licenciado em Matemática pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Licenciado em Pedagogia pelo Centro Universitário Campos de Andrade (UNIANDRADE). Escritor, poeta, cronista, articulista e pesquisador da área educacional (Formação de Professores, Tecnologias Educacionais e Educação Matemática). Professor adjunto da Faculdade Sagrada Família (FASF), junto a cursos de graduação (bacharelado/licenciatura) e pós-graduação lato sensu, em Ponta Grossa – Paraná. Endereço eletrônico: mestrepedago@yahoo.com.br    



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