quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

DARSHANAS: FILOSOFIAS DA ÍNDIA

Por Lokasaksi Dasa

Muitas foram as realizações da antiga civilização da Índia na esfera da cultura, arte, arquitetura, matemática, astronomia e ciência. Mas o feito mais importante deu-se no campo do pensamento, onde, numa síntese harmoniosa, se conciliava as atividades práticas da existência com a filosofia, o misticismo e a religião. Esses aspectos da existência não se colocavam numa hierarquia excludente, mas sim como estágios necessários no progresso e evolução do ātmā, o “si mesmo” em direção à sua autorrealização, no mundo, no ser, ou em Deus.

A filosofia da Índia não seria apenas um exercício da razão. Ela, ao contrário do ocidente, que tem uma abordagem teórica de discussão infinita, a filosofia, deve ser “vivida”, “praticada” e não meramente “discutida” ou “teorizada”. O fim do conhecimento não é o próprio conhecimento, mas sim a transformação que ele traz e produz no ser.

A palavra em sânscrito utilizado para “filosofia” é darśana, que vem da raiz verbal dṛś “ver” ou “observar”, significa literalmente “ponto de vista”. Assim, darśana é um modo de ver, uma percepção, um modo epistemológico de conhecer a natureza das coisas. Os sábios hindus tinham discernimento para observar as coisas com seu olho interno, com sua visão intuitiva. Não se tratava meramente de um exercício intelectual, mas de procurar sempre uma visão da verdade. Mesmo a religião inseria-se nesse contexto. Filosofia sem devoção seria mera especulação mental que leva ao ceticismo. Já a religião sem filosofia seria mero sentimentalismo que leva ao fanatismo.

Para que o espírito pudesse elevar-se para além das tendências condicionantes da ilusão e realizar a sua natureza intima e última, as tradições místico filosóficas da Índia utilizavam sistemas práticos de disciplina, que teria como resultado “a evolução”, “o equilíbrio”, “a concentração”, “a meditação”, “a beatitude” ou “a devoção amorosa”. A Realidade última ou a Verdade absoluta, dependendo da técnica ou prática (sādhana) utilizada, poderia ser interpretada ou realizada de diferentes maneiras.

vadanti tat tattva-vidas tattvaṁ yaj jñānam advayam
brahmeti paramātmeti bhagavān iti śabdyate

“Os videntes que realizaram a Verdade chamam essa substância não-dual de Brahman ‘o Ser Absoluto’, Paramātman ‘a Alma Suprema’ ou Bhagavān a ‘a Personalidade todo Opulenta” (Śrīmad-Bhāgavatam, 1.1.12).

O conceito da unidade na diversidade pode ser considerado o maior empreendimento filosófico da tradição védica, nas suas vertentes ária (nigamas ou vedas) e drávida (āgamas ou tantras); bem das outras tradições que ali se desenvolveram paralelamente.

À luz das “histórias da filosofia”, escritas por ocidentais, pouco destaque é dado ao pensamento do Oriente. Como enfatiza E. Dussell, na sua crítica ao pensamento filosófico europeu, a Índia não passa de uma colônia e uma cultura de periferia para o nobre pensador ocidental.

Fazer uma história da filosofia indiana não é algo tão fácil como foi com a história das filosofias europeias. Nunca foi uma das características do povo oriental a preocupação com datas históricas. Durante milhares de anos, os indianos não registraram os primórdios de sua história, e, conforme Aghilar: “É difícil encontrar um povo que tenha menos laços históricos”. A falta de interesse da Índia antiga pela história não se deve a uma incapacidade primitiva de manter os registros; em vez disso, ela aceitou a versão das escrituras védicas como suficiente. Sua visão histórica era mítica.

A grande maioria dos chamados orientalistas, escritores do final do século XIX e início do século XX eram alemães, ingleses e franceses e tiveram grande influência na formação do quadro histórico da Índia. Estes orientalistas, como H.H. Wilson, Max Muller, P. Deussen e outros, induziram os autores hindus a equívocos, na medida em que estes se apoiavam em seus textos em suas referências cronológicas.

Contudo, considerando a própria tradição védica, podemos classificar os darśanas ou sistemas filosóficos oriundos da Índia em dois grupos bem distintos:

1) Nāstika (na āsti “isto não é”) – Sistemas heterodoxos, que, negando a inefabilidade e autoridade dos Vedas, como escrituras reveladas, não se preocupam em estabelecer-se com base na autoridade dos Vedas.

2) Āstika sti “isto é”) – Sistemas ortodoxos, que se procuram em harmonizar suas doutrinas filosóficas com a dos Vedas e dos Upaniṣads.

Do ponto de vista histórico, com exceção da escola ortodoxa (āstikaPūrva-mīmāṁsā, os darśanas representam, cada um de sua forma, a transição de uma visão dogmática das fontes de conhecimentos para um exame do próprio conhecimento. A tradição védica ária do bramanismo ritualístico e sacrifical, sendo contestado pelas heterodoxias do Charvakismo, Jainismo e budismo, seria levada, com o auxílio da tradição védica drávida, a resgatar e aprimorar ao máximo sua tradição mística filosófica. A partir de então a Índia presenciaria um autêntico renascimento, onde a tradição védica, com seus respectivos darśanas, consolidaria o que é hoje conhecido por Sanātana Dharma, ou seja, o hinduísmo.

Darśaṇas Heterodoxos

As escolas materialistas de Cārvaka e Jaina e a niilista de Buddha foram os darśanas heterodoxos, que, apesar de, com suas respectivas teorias, negarem a existência de Deus e a integridade espiritual da alma eterna, contribuíram para a agitação e renovação intelectual e espiritual que floresceu na Índia na mesma época em que surgia Sócrates (469-300 a.C.) na Grécia, Confúcio (551-479 a.C.) na China e Zoroastro (618-541 a.C.) na Pérsia.

Darśanas Ortodoxos (ṣaḍ-Darśanas)

Os seis darśanas ortodoxos constituem os sistemas clássicos da filosofia da Índia. Eles possuem características em comum. Todos surgiram das Upaniṣads, a parte filosófica dos Vedas cuja sua autoridade é inquestionável. Como os próprios Vedas as Upaniṣads são consideradas apauruṣeya, ou seja, não sendo o produto da mente humana, mas recebidas intuitivamente pelos ṛṣis (sábios videntes). Seu estilo é na forma de sūtras, ou aforismos, que são extremamente concisos e evitando repetição desnecessária e com uma economia rígida de palavras e são:

1) Nyāya – Lógica e teoria do conhecimento, sistematizada por Gautama;

2) Vaiśeṣika – Atomística, sistematizada por Kaṇāda;

3) Sāṅkhya – Enumeração cosmologia, sistematizada por Kapila;

4) Yoga – Psicologia mística, sistematizada por Patañjali;

5) Pūrva Mīmāṁsā – Hermenêutica do karma, sistematizada por Jaimini; e

6) Vedānta (Uttara Mīmāṁsā) – Metafísica, sistematizada por Vyāsa.

O estudo dos seis darśanas  geralmente e feito em grupos de dois sistemas. Primeiro temos os sistemas do Nyāya e do Vaiśeṣika que apresentam uma atitude mais cientifica e filosófica que os outros. Depois temos o Saṁkhya e o Yoga, que possuem uma filosofia evolucionista eminentemente mística, e são antes de tudo doutrinas de liberação, cujas origens remontam as Upanisads mais antigas. E por fim encontramos os dois Mīmāṁsās, baseados na revelação dos Vedas, um explicando os rituais dos Brāhmaṇas e o outro sistematizando a teologia das Upaniṣads. Segundo Halbfass, de acordo com suas diferentes genealogias, o Nyāya e o Vaiśeṣika estão preocupados principalmente com a apologética [justificação], enquanto que o Mīmāṁsā e o Vedānta são tradições genuinamente exegéticas [de interpretação].

Lokasāki Dāsa (Lúcio Valera)
Educador, filósofo, cientista da religião e sacerdote vaishnava.


fonte: https://culturavedica.com.br/darshanas-filosofias-da-india/

Obrigado pela visita, volte sempre.

Guaçatonga: para que serve e como usar

A Guaçatonga (Casearia sylvestris Sw.), também conhecida como erva do bugre, é uma planta medicinal indicada para o tratamento de diversas doenças como herpes labial, sapinho, gastrite e problemas intestinais; podendo ser utilizada como uso externo e ingerido na forma de chá. 

Por possuir propriedades cicatrizante, anti-séptica, imunoestimulante, a guaçatonga combate também úlceras, reumatismo, inflamações e picadas de inseto e aftas.  

Formas de uso: 

-chá: 

Adicionar 10 g (equivalente à um punhado) em 200 ml de água fervente e beber 2 xícaras ao longo do dia. 

-banhos de acento 

De 5 à 8 colheres de sopa em 1l de água fervente. Esperar amornar para fazer o banho. 

-compressas de uso tópico. 

A guaçatonga pode ser encontrada em todo o brasil, em lojas de produtos naturais por preços acessíveis, tornando ela uma ótima alternativa como remédio natural. 
 


Obrigado pela visita, volte sempre.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Gustavo Lins - Pra ser Feliz

História de quinze séculos #olavotemrazao à 17 anos o professor previu o que acontece hoje nas redes sociais que censuram.







Olavo de Carvalho

Jornal da Tarde, 17 de junho de 2004

Desmantelado o Império, as igrejas disseminadas pelo território tornaram-se os sucedâneos da esfrangalhada administração romana. Na confusão geral, enquanto as formas de uma nova época mal se deixavam vislumbrar entre as névoas do provisório, os padres tornaram-se cartorários, ouvidores e alcaides. As sementes da futura aristocracia européia germinaram no campo de batalha, na luta contra o invasor bárbaro. Em cada vila e paróquia, os líderes comunitários que se destacaram no esforço de defesa foram premiados pelo povo com terras, animais e moedas, pela Igreja com títulos de nobreza e a unção legitimadora da sua autoridade. Tornaram-se grandes fazendeiros, e condes, e duques, e príncipes, e reis.

A propriedade agrária não foi nunca o fundamento nem a origem, mas o fruto do seu poder. Poder militar. Poder de uma casta feroz e altiva, enriquecida pela espada e não pelo arado, ciosa de não se misturar às outras, de não se dedicar portanto nem ao cultivo da inteligência, bom somente para padres e mulheres, nem ao da terra, incumbência de servos e arrendatários, nem ao dos negócios, ocupação de burgueses e judeus.

Durante mais de um milênio governou a Europa pela força das armas, apoiada no tripé da legitimação eclesiástica e cultural, da obediência popular traduzida em trabalho e impostos, do suporte financeiro obtido ou extorquido aos comerciantes e banqueiros nas horas de crise e guerra.

Sua ascensão culmina e seu declínio começa com a fundação das monarquias absolutistas e o advento do Estado nacional. Culmina porque essas novas formações encarnam o poder da casta guerreira em estado puro, fonte de si mesmo por delegação direta de Deus, sem a intermediação do sacerdócio, reduzido à condição subalterna de cúmplice forçado e recalcitrante. Mas já é o começo do declínio, porque o monarca absoluto, vindo da aristocracia, dela se destaca e tem de buscar contra ela — e contra a Igreja — o apoio do Terceiro Estado, o qual com isso acaba por tornar-se força política independente, capaz de intimidar juntos o rei, o clero e a nobreza.

Se o sistema medieval havia durado dez séculos, o absolutismo não durou mais de três. Menos ainda durará o reinado da burguesia liberal. Um século de liberdade econômica e política é suficiente para tornar alguns capitalistas tão formidavelmente ricos que eles já não querem submeter-se às veleidades do mercado que os enriqueceu. Querem controlá-lo, e os instrumentos para isso são três: o domínio do Estado, para a implantação das políticas estatistas necessárias à eternização do oligopólio; o estímulo aos movimentos socialistas e comunistas que invariavelmente favorecem o crescimento do poder estatal; e a arregimentação de um exército de intelectuais que preparem a opinião pública para dizer adeus às liberdades burguesas e entrar alegremente num mundo de repressão onipresente e obsediante (estendendo-se até aos últimos detalhe da vida privada e da linguagem cotidiana), apresentado como um paraíso adornado ao mesmo tempo com a abundância do capitalismo e a “justiça social” do comunismo. Nesse novo mundo, a liberdade econômica indispensável ao funcionamento do sistema é preservada na estrita medida necessária para que possa subsidiar a extinção da liberdade nos domínios político, social, moral, educacional, cultural e religioso.

Com isso, os megacapitalistas mudam a base mesma do seu poder. Já não se apóiam na riqueza enquanto tal, mas no controle do processo político-social. Controle que, libertando-os da exposição aventurosa às flutuações do mercado, faz deles um poder dinástico durável, uma neo-aristocracia capaz de atravessar incólume as variações da fortuna e a sucessão das gerações, abrigada no castelo-forte do Estado e dos organismos internacionais. Já não são megacapitalistas: são metacapitalistas – a classe que transcendeu o capitalismo e o transformou no único socialismo que algum dia existiu ou existirá: o socialismo dos grão-senhores e dos engenheiros sociais a seu serviço.

Essa nova aristocracia não nasce, como a anterior, do heroísmo militar premiado pelo povo e abençoado pela Igreja. Nasce da premeditação maquiavélica fundada no interesse próprio e, através de um clero postiço de intelectuais subsidiados, se abençoa a si mesma.

Resta saber que tipo de sociedade essa aristocracia auto-inventada poderá criar – e quanto tempo uma estrutura tão obviamente baseada na mentira poderá durar.


fonte:  https://olavodecarvalho.org/historia-de-quinze-seculos/

Obrigado pela visita, volte sempre.

Paolo Zanotto: “Vírus com reproduções rápidas podem favorecer cargas vir...

domingo, 17 de janeiro de 2021

O PLURALISMO SINGULAR DA UFPEL

Licenciados em filosofia e sociologia impedidos. Bacharel em química co...


Filosofia e Sociologia no Ensino Médio A Lei nº 9.394/96 dispõe: Art. 36. O currículo do ensino médio observará o disposto na Seção I deste Capítulo e as seguintes diretrizes: (...) § 1º Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre: (...) III - domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania. A Lei nº 11.684/08 altera o art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio. A Camâra de Educação Básica aprovou parecer e resolução que tratam da inclusão obrigatória das disciplinas de Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio: Parecer CNE/CEB nº 38/2006, aprovado em 7 de julho de 2006 - Inclusão obrigatória das disciplinas de Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio. Resolução CNE/CEB nº 4, de 16 de agosto de 2006 - Altera o artigo 10 da Resolução CNE/CEB nº 3/98, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Parecer CNE/CEB nº 22/2008, aprovado em 8 de outubro de 2008 - Consulta sobre a implementação das disciplinas Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio. Resolução CNE/CEB nº 1, de 18 de maio de 2009 - Dispõe sobre a implementação da Filosofia e da Sociologia no currículo do Ensino Médio, a partir da edição da Lei nº 11.684/2008, que alterou a Lei nº 9.394/1996, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). http://portal.mec.gov.br/pnaes/323-secretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/12768-filosofia-e-sociologia-no-ensino-medio-sp-1870990710#:~:text=A%20Lei%20nº%2011.684%2F08,nos%20curríc

PROFESSOR OLAVO DE CARVALHO FALA SOBRE IMAGINÁRIO & ARTES VISUAIS. APRES...

Resposta para Ana sobre a crise do Covid 19 e mortes em Manaus a corrupção mata. Podcast conservador sobre: política , filosofia, arte, cultura, educação, pedagogia , religião etc




Obrigado pela visita, volte sempre.

Hoje é dia do Sagrado Jejum de Sri Utpanna Ekadasi dia 26/11/2024 terça-feira origem do ekadasi #2

Tilaka: A Marca de Deus Rohininandana Dasa O que é tilaka? Por que decorar o corpo? Quem pode usar? Quando usar? Por que existem diferentes ...