quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Ciência do Ayurveda

image129481A ciência do Ayurveda, a medicina védica milenar, é o mais antigo sistema de medicina codificada que a humanidade conhece. Há e houve inúmeros intentos para estabelecer uma data de origem deste conhecimento, assim como esforços para encontrar um precursor.

Como toda ciência védica, a sua origem se perde no tempo em que a história se confunde com o mito. Na verdade, a necessidade de estabelecer um marco histórico, cronológico, é só uma necessidade acadêmica, pois para os estudiosos praticantes, essa referência é irrelevante e inexata.

O Ayurveda é aceito como uma medicina espiritual, um caminho iniciático, uma parte de acesso á alma, através da compreensão das bioenergias do corpo, e, como tal, uma revelação divina. Revelação não tem data, só descobre um véu ilusório para mostrar o que sempre existiu.

Esta ciência vê o corpo, assim como todo o Universo, como uma interação de três bioenergias. A que gera o movimento e faz que tudo funcione, se transporte, se una, se separe. A que transforma, que metaboliza, digere, destrói e mantém a temperatura. E a que armazena o metabolizado e digerido, para formar massa, estrutura. A primeira dessas bioenergias é chamada vata; a segunda, pitta; e a terceira, kapha.

 

No ser humano, encontramos a primeira no oxigênio que circula através do corpo, nos impulsos nervosos, nos neurotransmissores que levam informação sensação e consciência. A segunda, no processo digestivo encabeçado pela bile e as poderosas enzimas, suco pancreático e sistema endócrino, e também no processo racional de formação de ideias. A terceira, na ação anabólica da formação de tecidos e líquidos do corpo, encarregada da solidificação das estruturas, das formas, das paredes dos órgãos e das coberturas do corpo.

Estas bioenergias interagem constantemente possibilitando a ação de cada uma. Quando esta interação se realiza harmoniosamente, isto é chamado de equilíbrio, requisito fundamental para a saúde. Já que é ação energética, devemos observar que o movimento se efetua no plano físico e psíquico também. A informação logo é processada, digerida e forma estrutura de pensamento, opiniões e memória.

O conceito de saúde no Ayurveda se poderia resumir assim: boa digestão; boas eliminações; sentidos aguçados; mente pacífica, feliz e satisfeita. A boa digestão é ponto de partida para a saúde. Sem ela, não só não há possibilidade de um bom aproveitamento do que se come, como também não há uma boa discriminação – separação do que deve ficar no corpo por ser útil e o que deve ser expulso por ser nocivo.

A digestão se realiza primeiramente no estômago, duodeno e intestino delgado, porém, depois, ela se realiza no organismo inteiro. Tal qual a luta do bem contra o mal, o fogo sagrado da digestão, agni, combate o mal, as toxinas. Dependendo da eficiência da digestão, o sagrado ar vital ou prana, através de seus diferentes movimentos de ar, vata, se encarrega de expulsar o indesejado, na forma de excreções – fezes, urina, suor, menstruação. Um corpo sadio elimina fácil e diariamente ou regularmente. No caso da menstruação, de forma indolor e sem alterar o ânimo.

Quando a atividade física se realiza perfeitamente, a mente também fica aliviada. Pois, um corpo, com boa digestão, também terá uma boa digestão mental. Ou seja, saberá separar o que serve, o que ensina, o que acrescenta, o que dá felicidade, o que nos confunde, nos degrada e nos aflige.

Boa digestão mental também significa eliminar mágoas, rancores, traumas, apegos. Estando assim a mente limpa, ela também fica ágil, dinâmica, e os sentidos ficam claros, agudos, atuantes, ágeis. A mente é o espaço final a ser atingido. Mais do que isto, ela é o objetivo principal, pois, sem que ela esteja em paz, não há possibilidade alguma de felicidade e bem-estar.

As doenças em grande parte se originam nas emoções, por isso são chamadas dehomanasa (deho= corpo; manasa = mente), que é o mesmo que psicossomáticas (psiquis = mente ou alma: soma = corpo). A mente é tão enigmática e enganosa como um labirinto e nos faz pensar que está tudo sob controle. Poderíamos classificar as doenças em três categorias: adiatmikas – originadas pelo corpo e pela mente; adibhauticas – originadas por outras entidades; adidaiviksa – originadas pela ação dos deuses.

Doenças adiatmikas podem se considerar as próprias e as herdadas. As herdadas são aquelas que chegam pela história genética, doenças familiares quase que já instaladas nos genes da família. Em linhas gerais, os homens herdam da família da mãe, e as mulheres, da família do pai. Porém, há exceções, tais como a depressão, que vem em linha reta: mãe depressiva, filha depressiva; e o mesmo no caso de pai e filho. Também são hereditárias as adquiridas da mãe durante a gravidez. O tipo de alimentação, ou de circunstâncias especiais, durante esse período, são fatores que resultam na constituição do filho e sua consequente saúde e fortaleza.

As próprias podem ser de duas naturezas – as que se adquirem por maus hábitos alimentares ou vícios e as que se provocam por desequilíbriosemocionais. Estas últimas são as mais frequentes e são difíceis de tratar só com remédios. Os remédios aliviam, mas, como há uma questão de fundo, se não se praticam terapias desintoxicantes e rejuvenescedora, somadas a mudanças de dieta e hábitos, além de práticas espirituais, dificilmente se obterá um resultado completo.

Doenças adibhaitikas são as que se adquirem por influência de outras entidades, como, por exemplo, contágios com vírus, bactérias, picadas, mordidas, agressões físicas e coisas similares, e as provocadas por entidades em corpo sutil – fantasmas. Estes últimos se hospedam como parasitas espirituais e causam doenças em órgãos determinados, ou causam dores, ou afetam o sistema nervoso, já que eles se alojam no ar vital, e este é o alimento dos nervos.

Quaisquer que sejam as manifestações da doença, elas são reconhecidas como influências de obsessores quando são difíceis de diagnosticar. Não se detectam nos exames técnicos, nem de análises. Nesses casos, não se obtêm resultados satisfatórios usando medicina química, o tratamento tem que ser natural. Ajuda o uso de mantras e talismãs protetores.

As doenças adidaivikas são causadas pelos controladores celestiais – os devas. Elas ocorrem, por um lado, sob influência do clima, da temperatura ambiente, das bruscas mudanças destes, das catástrofes naturais etc. E, por outro, mais profundo e misterioso, em decorrência do karma – a lei de causa e efeito, que move o Universo. É muito complexo explicar como funciona o karma, mas podemos entender que, quando cometemos alguma falta que afete a alguém, o nível de sofrimento que causamos é proporcional ao que recebemos. A doença é uma ansiedade e um sofrimento, por isso é que a padecemos.

Quando nascemos, já se mostram em nosso corpo saúde e fraqueza em certos órgãos, identificadas pelo biótipo físico ao qual pertencemos e que nos foi designado. Também podemos identificá-las astrologicamente. No horóscopo de uma pessoa, aparecem os planetas que têm muita ou boa força e aqueles que estão debilitados. Estes últimos são os que indicam onde está a fraqueza orgânica e que tecidos não são fortes e bem formados.

Cada uma das doze casas zodiacais que formam o horóscopo corresponde a alguma região do corpo. Então, se alguma delas estiver afetada pela presença de algum planeta maléfico, ou, se o planeta regente da casa se encontra desfavorável, isto indica a possibilidade de doença e de que tipo. As doenças deste tipo se apresentam geralmente devido aos trânsitos planetários, quando algum planeta se manifesta proeminente perante os outros.

A abordagem que a medicina Ayurveda faz é holística, utilizando todos os métodos e recursos que a natureza oferece. Dieta é fundamental para começar o processo. Há uma máxima Ayurveda que diz: “Sem uma boa alimentação, a medicina não funciona, e, com uma boa alimentação, a medicina não faz falta”.

E uma boa alimentação significa uma dieta apropriada ao biótipo da pessoa. Porque saudável não é só o alimento que é natural, e sim o alimento que é apropriado para a pessoa em questão. Pois o que é comida para um pode ser veneno para outro.

Além da correta dieta, deve-se observar bons hábitos, em todos os sentidos – bons hábitos de higiene, boa conduta social e principalmente hábitos espirituais, meditação, oração, Yoga e atividades devocionais para incrementar a fé. Charaka, o pai do Ayurveda moderno, sentenciou no seu famoso tratado Charaka Samhita que “o princípio da doença é falta de fé em Deus”.

(*) Krishna Kishora Dasa, falecido em 2012, foi um dos melhores terapeutas de Ayurveda do Brasil, pesquisador da cultura védica e discípulo de A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada.


fonte; https://culturavedica.com.br/ciencia-do-ayurveda/

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quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

DARSHANAS: FILOSOFIAS DA ÍNDIA

Por Lokasaksi Dasa

Muitas foram as realizações da antiga civilização da Índia na esfera da cultura, arte, arquitetura, matemática, astronomia e ciência. Mas o feito mais importante deu-se no campo do pensamento, onde, numa síntese harmoniosa, se conciliava as atividades práticas da existência com a filosofia, o misticismo e a religião. Esses aspectos da existência não se colocavam numa hierarquia excludente, mas sim como estágios necessários no progresso e evolução do ātmā, o “si mesmo” em direção à sua autorrealização, no mundo, no ser, ou em Deus.

A filosofia da Índia não seria apenas um exercício da razão. Ela, ao contrário do ocidente, que tem uma abordagem teórica de discussão infinita, a filosofia, deve ser “vivida”, “praticada” e não meramente “discutida” ou “teorizada”. O fim do conhecimento não é o próprio conhecimento, mas sim a transformação que ele traz e produz no ser.

A palavra em sânscrito utilizado para “filosofia” é darśana, que vem da raiz verbal dṛś “ver” ou “observar”, significa literalmente “ponto de vista”. Assim, darśana é um modo de ver, uma percepção, um modo epistemológico de conhecer a natureza das coisas. Os sábios hindus tinham discernimento para observar as coisas com seu olho interno, com sua visão intuitiva. Não se tratava meramente de um exercício intelectual, mas de procurar sempre uma visão da verdade. Mesmo a religião inseria-se nesse contexto. Filosofia sem devoção seria mera especulação mental que leva ao ceticismo. Já a religião sem filosofia seria mero sentimentalismo que leva ao fanatismo.

Para que o espírito pudesse elevar-se para além das tendências condicionantes da ilusão e realizar a sua natureza intima e última, as tradições místico filosóficas da Índia utilizavam sistemas práticos de disciplina, que teria como resultado “a evolução”, “o equilíbrio”, “a concentração”, “a meditação”, “a beatitude” ou “a devoção amorosa”. A Realidade última ou a Verdade absoluta, dependendo da técnica ou prática (sādhana) utilizada, poderia ser interpretada ou realizada de diferentes maneiras.

vadanti tat tattva-vidas tattvaṁ yaj jñānam advayam
brahmeti paramātmeti bhagavān iti śabdyate

“Os videntes que realizaram a Verdade chamam essa substância não-dual de Brahman ‘o Ser Absoluto’, Paramātman ‘a Alma Suprema’ ou Bhagavān a ‘a Personalidade todo Opulenta” (Śrīmad-Bhāgavatam, 1.1.12).

O conceito da unidade na diversidade pode ser considerado o maior empreendimento filosófico da tradição védica, nas suas vertentes ária (nigamas ou vedas) e drávida (āgamas ou tantras); bem das outras tradições que ali se desenvolveram paralelamente.

À luz das “histórias da filosofia”, escritas por ocidentais, pouco destaque é dado ao pensamento do Oriente. Como enfatiza E. Dussell, na sua crítica ao pensamento filosófico europeu, a Índia não passa de uma colônia e uma cultura de periferia para o nobre pensador ocidental.

Fazer uma história da filosofia indiana não é algo tão fácil como foi com a história das filosofias europeias. Nunca foi uma das características do povo oriental a preocupação com datas históricas. Durante milhares de anos, os indianos não registraram os primórdios de sua história, e, conforme Aghilar: “É difícil encontrar um povo que tenha menos laços históricos”. A falta de interesse da Índia antiga pela história não se deve a uma incapacidade primitiva de manter os registros; em vez disso, ela aceitou a versão das escrituras védicas como suficiente. Sua visão histórica era mítica.

A grande maioria dos chamados orientalistas, escritores do final do século XIX e início do século XX eram alemães, ingleses e franceses e tiveram grande influência na formação do quadro histórico da Índia. Estes orientalistas, como H.H. Wilson, Max Muller, P. Deussen e outros, induziram os autores hindus a equívocos, na medida em que estes se apoiavam em seus textos em suas referências cronológicas.

Contudo, considerando a própria tradição védica, podemos classificar os darśanas ou sistemas filosóficos oriundos da Índia em dois grupos bem distintos:

1) Nāstika (na āsti “isto não é”) – Sistemas heterodoxos, que, negando a inefabilidade e autoridade dos Vedas, como escrituras reveladas, não se preocupam em estabelecer-se com base na autoridade dos Vedas.

2) Āstika sti “isto é”) – Sistemas ortodoxos, que se procuram em harmonizar suas doutrinas filosóficas com a dos Vedas e dos Upaniṣads.

Do ponto de vista histórico, com exceção da escola ortodoxa (āstikaPūrva-mīmāṁsā, os darśanas representam, cada um de sua forma, a transição de uma visão dogmática das fontes de conhecimentos para um exame do próprio conhecimento. A tradição védica ária do bramanismo ritualístico e sacrifical, sendo contestado pelas heterodoxias do Charvakismo, Jainismo e budismo, seria levada, com o auxílio da tradição védica drávida, a resgatar e aprimorar ao máximo sua tradição mística filosófica. A partir de então a Índia presenciaria um autêntico renascimento, onde a tradição védica, com seus respectivos darśanas, consolidaria o que é hoje conhecido por Sanātana Dharma, ou seja, o hinduísmo.

Darśaṇas Heterodoxos

As escolas materialistas de Cārvaka e Jaina e a niilista de Buddha foram os darśanas heterodoxos, que, apesar de, com suas respectivas teorias, negarem a existência de Deus e a integridade espiritual da alma eterna, contribuíram para a agitação e renovação intelectual e espiritual que floresceu na Índia na mesma época em que surgia Sócrates (469-300 a.C.) na Grécia, Confúcio (551-479 a.C.) na China e Zoroastro (618-541 a.C.) na Pérsia.

Darśanas Ortodoxos (ṣaḍ-Darśanas)

Os seis darśanas ortodoxos constituem os sistemas clássicos da filosofia da Índia. Eles possuem características em comum. Todos surgiram das Upaniṣads, a parte filosófica dos Vedas cuja sua autoridade é inquestionável. Como os próprios Vedas as Upaniṣads são consideradas apauruṣeya, ou seja, não sendo o produto da mente humana, mas recebidas intuitivamente pelos ṛṣis (sábios videntes). Seu estilo é na forma de sūtras, ou aforismos, que são extremamente concisos e evitando repetição desnecessária e com uma economia rígida de palavras e são:

1) Nyāya – Lógica e teoria do conhecimento, sistematizada por Gautama;

2) Vaiśeṣika – Atomística, sistematizada por Kaṇāda;

3) Sāṅkhya – Enumeração cosmologia, sistematizada por Kapila;

4) Yoga – Psicologia mística, sistematizada por Patañjali;

5) Pūrva Mīmāṁsā – Hermenêutica do karma, sistematizada por Jaimini; e

6) Vedānta (Uttara Mīmāṁsā) – Metafísica, sistematizada por Vyāsa.

O estudo dos seis darśanas  geralmente e feito em grupos de dois sistemas. Primeiro temos os sistemas do Nyāya e do Vaiśeṣika que apresentam uma atitude mais cientifica e filosófica que os outros. Depois temos o Saṁkhya e o Yoga, que possuem uma filosofia evolucionista eminentemente mística, e são antes de tudo doutrinas de liberação, cujas origens remontam as Upanisads mais antigas. E por fim encontramos os dois Mīmāṁsās, baseados na revelação dos Vedas, um explicando os rituais dos Brāhmaṇas e o outro sistematizando a teologia das Upaniṣads. Segundo Halbfass, de acordo com suas diferentes genealogias, o Nyāya e o Vaiśeṣika estão preocupados principalmente com a apologética [justificação], enquanto que o Mīmāṁsā e o Vedānta são tradições genuinamente exegéticas [de interpretação].

Lokasāki Dāsa (Lúcio Valera)
Educador, filósofo, cientista da religião e sacerdote vaishnava.


fonte: https://culturavedica.com.br/darshanas-filosofias-da-india/

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Guaçatonga: para que serve e como usar

A Guaçatonga (Casearia sylvestris Sw.), também conhecida como erva do bugre, é uma planta medicinal indicada para o tratamento de diversas doenças como herpes labial, sapinho, gastrite e problemas intestinais; podendo ser utilizada como uso externo e ingerido na forma de chá. 

Por possuir propriedades cicatrizante, anti-séptica, imunoestimulante, a guaçatonga combate também úlceras, reumatismo, inflamações e picadas de inseto e aftas.  

Formas de uso: 

-chá: 

Adicionar 10 g (equivalente à um punhado) em 200 ml de água fervente e beber 2 xícaras ao longo do dia. 

-banhos de acento 

De 5 à 8 colheres de sopa em 1l de água fervente. Esperar amornar para fazer o banho. 

-compressas de uso tópico. 

A guaçatonga pode ser encontrada em todo o brasil, em lojas de produtos naturais por preços acessíveis, tornando ela uma ótima alternativa como remédio natural. 
 


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terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Gustavo Lins - Pra ser Feliz

História de quinze séculos #olavotemrazao à 17 anos o professor previu o que acontece hoje nas redes sociais que censuram.







Olavo de Carvalho

Jornal da Tarde, 17 de junho de 2004

Desmantelado o Império, as igrejas disseminadas pelo território tornaram-se os sucedâneos da esfrangalhada administração romana. Na confusão geral, enquanto as formas de uma nova época mal se deixavam vislumbrar entre as névoas do provisório, os padres tornaram-se cartorários, ouvidores e alcaides. As sementes da futura aristocracia européia germinaram no campo de batalha, na luta contra o invasor bárbaro. Em cada vila e paróquia, os líderes comunitários que se destacaram no esforço de defesa foram premiados pelo povo com terras, animais e moedas, pela Igreja com títulos de nobreza e a unção legitimadora da sua autoridade. Tornaram-se grandes fazendeiros, e condes, e duques, e príncipes, e reis.

A propriedade agrária não foi nunca o fundamento nem a origem, mas o fruto do seu poder. Poder militar. Poder de uma casta feroz e altiva, enriquecida pela espada e não pelo arado, ciosa de não se misturar às outras, de não se dedicar portanto nem ao cultivo da inteligência, bom somente para padres e mulheres, nem ao da terra, incumbência de servos e arrendatários, nem ao dos negócios, ocupação de burgueses e judeus.

Durante mais de um milênio governou a Europa pela força das armas, apoiada no tripé da legitimação eclesiástica e cultural, da obediência popular traduzida em trabalho e impostos, do suporte financeiro obtido ou extorquido aos comerciantes e banqueiros nas horas de crise e guerra.

Sua ascensão culmina e seu declínio começa com a fundação das monarquias absolutistas e o advento do Estado nacional. Culmina porque essas novas formações encarnam o poder da casta guerreira em estado puro, fonte de si mesmo por delegação direta de Deus, sem a intermediação do sacerdócio, reduzido à condição subalterna de cúmplice forçado e recalcitrante. Mas já é o começo do declínio, porque o monarca absoluto, vindo da aristocracia, dela se destaca e tem de buscar contra ela — e contra a Igreja — o apoio do Terceiro Estado, o qual com isso acaba por tornar-se força política independente, capaz de intimidar juntos o rei, o clero e a nobreza.

Se o sistema medieval havia durado dez séculos, o absolutismo não durou mais de três. Menos ainda durará o reinado da burguesia liberal. Um século de liberdade econômica e política é suficiente para tornar alguns capitalistas tão formidavelmente ricos que eles já não querem submeter-se às veleidades do mercado que os enriqueceu. Querem controlá-lo, e os instrumentos para isso são três: o domínio do Estado, para a implantação das políticas estatistas necessárias à eternização do oligopólio; o estímulo aos movimentos socialistas e comunistas que invariavelmente favorecem o crescimento do poder estatal; e a arregimentação de um exército de intelectuais que preparem a opinião pública para dizer adeus às liberdades burguesas e entrar alegremente num mundo de repressão onipresente e obsediante (estendendo-se até aos últimos detalhe da vida privada e da linguagem cotidiana), apresentado como um paraíso adornado ao mesmo tempo com a abundância do capitalismo e a “justiça social” do comunismo. Nesse novo mundo, a liberdade econômica indispensável ao funcionamento do sistema é preservada na estrita medida necessária para que possa subsidiar a extinção da liberdade nos domínios político, social, moral, educacional, cultural e religioso.

Com isso, os megacapitalistas mudam a base mesma do seu poder. Já não se apóiam na riqueza enquanto tal, mas no controle do processo político-social. Controle que, libertando-os da exposição aventurosa às flutuações do mercado, faz deles um poder dinástico durável, uma neo-aristocracia capaz de atravessar incólume as variações da fortuna e a sucessão das gerações, abrigada no castelo-forte do Estado e dos organismos internacionais. Já não são megacapitalistas: são metacapitalistas – a classe que transcendeu o capitalismo e o transformou no único socialismo que algum dia existiu ou existirá: o socialismo dos grão-senhores e dos engenheiros sociais a seu serviço.

Essa nova aristocracia não nasce, como a anterior, do heroísmo militar premiado pelo povo e abençoado pela Igreja. Nasce da premeditação maquiavélica fundada no interesse próprio e, através de um clero postiço de intelectuais subsidiados, se abençoa a si mesma.

Resta saber que tipo de sociedade essa aristocracia auto-inventada poderá criar – e quanto tempo uma estrutura tão obviamente baseada na mentira poderá durar.


fonte:  https://olavodecarvalho.org/historia-de-quinze-seculos/

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Paolo Zanotto: “Vírus com reproduções rápidas podem favorecer cargas vir...

domingo, 17 de janeiro de 2021

O PLURALISMO SINGULAR DA UFPEL

Licenciados em filosofia e sociologia impedidos. Bacharel em química co...


Filosofia e Sociologia no Ensino Médio A Lei nº 9.394/96 dispõe: Art. 36. O currículo do ensino médio observará o disposto na Seção I deste Capítulo e as seguintes diretrizes: (...) § 1º Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre: (...) III - domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania. A Lei nº 11.684/08 altera o art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio. A Camâra de Educação Básica aprovou parecer e resolução que tratam da inclusão obrigatória das disciplinas de Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio: Parecer CNE/CEB nº 38/2006, aprovado em 7 de julho de 2006 - Inclusão obrigatória das disciplinas de Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio. Resolução CNE/CEB nº 4, de 16 de agosto de 2006 - Altera o artigo 10 da Resolução CNE/CEB nº 3/98, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Parecer CNE/CEB nº 22/2008, aprovado em 8 de outubro de 2008 - Consulta sobre a implementação das disciplinas Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio. Resolução CNE/CEB nº 1, de 18 de maio de 2009 - Dispõe sobre a implementação da Filosofia e da Sociologia no currículo do Ensino Médio, a partir da edição da Lei nº 11.684/2008, que alterou a Lei nº 9.394/1996, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). http://portal.mec.gov.br/pnaes/323-secretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/12768-filosofia-e-sociologia-no-ensino-medio-sp-1870990710#:~:text=A%20Lei%20nº%2011.684%2F08,nos%20curríc

PROFESSOR OLAVO DE CARVALHO FALA SOBRE IMAGINÁRIO & ARTES VISUAIS. APRES...

Resposta para Ana sobre a crise do Covid 19 e mortes em Manaus a corrupção mata. Podcast conservador sobre: política , filosofia, arte, cultura, educação, pedagogia , religião etc




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sábado, 9 de janeiro de 2021

Afro-brasileiro ? brasileiro deixe de vitimismo.

Donald Trump suspenso do Twitter. Um ataque contra a democracia a liberdade



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Hoje 09/01/2021 é dia sagrado de jejum de sri saphala ekadasi. Lendo a história e os benefícios ma Podcast conservador






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Hoje é dia do sagrado jejum de Sri Saphala Ekadasi. dia 09/01/2021. Sábado. História abaixo das bênçãos. matérias e espirituais do jejum.

   
Yudhishthira Maharaja disse:  "ó Sri Krishna, qual o nome do Ekadashi que ocorre durante a quinzena obscura do mês de Pausha (dez/jan)?  Como é observado, e qual Deidade é adorada nesse dia?  Por favor narra-me isso plenamente, ó Janardana."
 
   A Suprema Personalidade de Deus respondeu:  "ó melhor dos reis, porque desejas ouvir, descreverei plenamente para ti as glórias do Pausha-krishna Ekadashi.
 
   Não fico tão satisfeito pelo sacrifício ou caridade, como fico quando Meus devotos observam um jejum total no Ekadashi.  Conforme sua melhor possibilidade, portanto, a pessoa deve jejuar no Ekadashi, o dia do Senhor Hari.
 
   ó Yudhishthira, urge que ouças com atenção indesviável as glórias do Pausha-krishna Ekadashi, que cai no Dvadasi.  Conforme expliquei anteriormente, não se deve diferenciar entre os muitos Ekadashis.  ó rei, para beneficiar a humanidade em geral agora descrever-te-ei o processo de observar Pausha-krishna Ekadashi.
 
   Pausha-krishna Ekadashi também é conhecido como Saphala Ekadashi.  Neste dia sagrado se deve adorar o Senhor Narayana, pois Ele é sua Deidade governante.  Deve-se seguir o método anteriormente descrito de jejuar.  Assim como entre as serpentes Shesha-naga é a melhor, entre as aves Garuda é o melhor, entre os sacrifícios Ashvamedha-yajna é o melhor, entre os rios a Mãe Ganga é a melhor, entre os deuses o Senhor Vishnu é o melhor, e entre os seres  bípedes os brahmanas são os melhores, assim também entre todos dias de jejum, Ekadashi é o melhor.  ó principal dos reis nascidos na dinastia Bharata, quem quer que observe estritamente Ekadashi se torna muito querido por Mim e verdadeiramente adorável para Mim de qualquer maneira.  Agora ouça enquanto descrevo o processo para observar Saphala Ekadashi.
 
   No Saphala Ekadashi Meu devoto deve adorar-Me oferecendo-Me frutas frescas segundo o tempo, lugar e circunstância, e por meditar em Mim como a completamente auspiciosa Personalidade Suprema.  Ele deve oferecer-Me frutas jambira, romãs, betel, côco, goiaba, nozes, cravos, mangas, e diferentes tipos de especiarias aromáticas.  Também deve oferecer-Me incenso e luminosas lamparinas de ghee, pois tal oferenda de lamparinas no Saphala Ekadashi é especialmente gloriosa.  O devoto deve tentar ficar acordado a noite toda. Agora por favor ouça com a atenção indesviável enquanto te conto quanto mérito se obtém se jejuar e permanecer acordado durante a noite inteira.  ó melhor dos reis, não existe sacrifício ou peregrinação que confira mérito equivalente ou maior que o mérito que se obtém por jejuar no Saphala Ekadashi.  Tal jejum - particularmente se a pessoa puder permanecer acordada a noite toda - confere o mesmo mérito ao fiel devoto como se realizasse austeridade durante cinco mil anos.  ó leão entre os reis, por favor ouça a gloriosa história deste Ekadashi.
 
   Uma vez havia uma cidade chamada Campavati, que era governada pelo santo Rei Mahishmata.  Tinha ele quatro filhos, o mais velho dos quais, Lumpaka, sempre estava ocupado em atividades muito pecaminosas - sexo ilícito com as esposas de outros, jogatina, e contínua associação com conhecidas prostitutas.  Seus maus atos gradualmente reduziram a fortuna de seu pai, o Rei Mahishmata.  Lumpaka também se tornou muito crítico para com os semideuses e brahmanas, e a cada dia blasfemava Vaisnavas.  Afinal o Rei Mahishmata, vendo a condição de seu filho, exilou-o na floresta.  Por medo do rei, até mesmo parentes compadecidos não acorreram em defesa de Lumpaka, tão zangado estava o rei e tão pecaminoso era Lumpaka.
 
   Desnorteado em seu exílio, Lumpaka pensava consigo mesmo:  "Meu pai me mandou embora, e até meus familiares não levantaram nenhuma objeção.  Que devo fazer agora?"  Ele tramava pecaminosamente e pensava:  "Vou voltar furtivamente para a cidade, oculto nas trevas e roubar todas riquezas.  Durante o dia ficarei de longe na floresta, e à noite retornarei para a cidade."  Pensando assim, Lumpaka entrou na escura floresta.  Matava muitos animais durante o dia, e de noite roubava artigos valiosos da cidade.  Os habitantes da cidade pegaram-no diversas vezes, porém por temor ao rei deixaram-no sozinho.  Pensavam que devia ser devido aos pecados de seus nascimentos pretéritos que perdera suas facilidades reais e que agia tão pecaminosamente.
 
   Embora um carnívoro, Lumpaka também comia frutas todo dia.  Residia sob uma velha árvore banyan que por acaso era muito querida pelo Senhor Vasudeva.  De fato, muitos adoravam-na como o deus de todas árvores da floresta.  No devido decorrer do tempo, enquanto Lumpaka estava realizando tantas atividades pecaminosas e condenáveis, chegou Saphala Ekadashi.  Na véspera de Ekadashi, Lumpaka teve que passar a noite inteira sem dormir devido ao frio severo e sua pouca roupa de cama.  O frio não só roubou-lhe toda tranquilidade mas também quase o matou.  Quando o sol se levantou, seus dentes batiam e ele estava em coma, e durante toda manhã daquele dia, Ekadashi, ele não conseguia acordar de seu estupor.
 
Árvore Sagrada Banyan Figueira da Bengala. É a árvore nacional da Índia
   Quando o meio-dia do Saphala Ekadashi chegou, o pecaminoso Lumpaka finalmente voltou a si e conseguiu levantar de seu lugar sob a árvore banyan.  Mas a cada passo tropeçava e caía no chão.  Como um coxo, andava lenta e hesitantemente, sofrendo grandemente pela fome e sede em meio à selva.  Tão fraco estava Lumpaka que nem sequer conseguiu matar um só animal naquele dia.  Em vez disso, viu-se reduzido a coletar quaisquer frutas que tivessem caído ao solo.  Na hora em que retornou para a árvore banyan, o sol se pusera.
 
   Colocando as frutas no chão perto dele, Lumpaka começou a berrar:  "Oh, que infelicidade!  Que devo fazer?  Querido pai, a que ponto cheguei?  ó Sri Hari, por favor seja misericordioso para comigo e aceite estas frutas!"  Novamente foi forçado a ficar acordado a noite toda sem dormir, mas nesse meio tempo a Suprema Personalidade de Deus, Madhusudana, ficara satisfeito com a oferenda de Lumpaka das frutas silvestres, e Ele as aceitou.  Lumpaka sem querer observara um jejum completo de Ekadashi, e assim pelo mérito que angariou naquele dia, recuperou seu reino sem maiores obstáculos.
 
   Ouça, ó Yudhishthira, o que aconteceu com o filho do Rei Mahishmata quando apenas um fragmento de mérito brotou dentro de seu coração.
 
   Enquanto o sol nascia belamente na manhã seguinte ao Ekadashi, um lindo cavalo aproximou-se de Lumpaka e postou-se perto dele.  Ao mesmo tempo, uma voz repentinamente falou do céu claro e azul:  "Este cavalo é para ti, Lumpaka!  Monta nele e rapidamente cavalga para saudar tua família!  ó filho do Rei Mahishmata, pela misericórdia do Senhor Vasudeva e a força de mérito que adquiriste por observar Saphala Ekadashi, teu reino lhe foi devolvido sem quaisquer empecilhos maiores.  Tal é o benefício que adquiriste por jejuar neste dia auspicioso. Agora vai até teu pai e desfruta de teu devido lugar nesta dinastia."
 
   Ao ouvir estas palavras celestiais, Lumpaka montou no cavalo e cavalgou de volta para a cidade de Campavati.  Pelo mérito que acumulara por jejuar no Saphala Ekadashi, ele se tornara um belo príncipe novamente e pode absorver sua mente nos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus, Hari.  Em outras palavras, ele se tornara Meu devoto puro.
 
   Lumpaka ofereceu a seu pai, o Rei Mahishmata, suas humildes reverências e uma vez mais aceitou suas responsabilidades de príncipe.  Vendo seu filho decorado com ornamentos Vaisnavas e tilaka, o Rei Mahishmata deu-lhe o reino, e Lumpaka governou sem oposição por muitos e muitos anos.  Sempre que ocorria Ekadashi, ele adorava o Senhor Supremo com grande devoção.  E pela misericórdia de Sri Krishna ele obteve uma bela esposa e bom filho.  Na velhice Lumpaka entregou seu reino a seu filho - assim como seu pai, o Rei Mahishmata, havia feito com ele - e então foi para a floresta servir o Senhor Supremo com a mente e sentidos controlados.  Purificado de todo desejo material, abandonou seu corpo e retornou ao lar, de volta para Deus, obtendo um local próximo aos pés de lótus do Senhor Sri Krishna. ó Yudhishthira, quem se aproxima de Mim como Lumpaka fez será completamente liberto da lamentação e ansiedade.  Na verdade, qualquer pessoa que observe corretamente este glorioso Saphala Ekadashi - mesmo que seja sem saber, tal como Lumpaka - se tornará famosa neste mundo.  Tornar-se-á perfeitamente liberada na morte e retornará para Vaikuntha.  Quanto a isso não há dúvida.  Além do mais, quem quer que simplesmente ouça as glórias do Saphala Ekadashi, obtém o mesmo mérito derivado por quem realiza um Rajasuya-yajna, e no mínimo vai para o céu em seu próximo nascimento."
 
   Assim termina a narrativa das glórias do Pausha-krishna Ekadashi ou Saphala Ekadashi, do Bhavishya-uttara Purana.


domingo, 27 de dezembro de 2020

Olavo de Carvalho: Os componentes essenciais da técnica...

Os componentes essenciais da técnica filosófica são:

1. A anamnese pela qual o filósofo rastreia a origem das suas idéias e assume a responsabilidade por elas.

2. A meditação pela qual ele busca transcender o círculo das suas idéias e permitir que a própria realidade lhe fale numa experiência cognitiva originária.

3. O exame dialético pelo qual ele integra a sua experiência cognitiva na tradição filosófica, e esta naquela.

4. A pesquisa erudita pela qual ele se apossa da tradição.

5. A hermenêutica pela qual ele torna transparentes para o exame dialético as sentenças dos filósofos do passado e todos os demais elementos da herança cultural que sejam necessários para a sua atividade filosófica.

6. O exame de consciência pelo qual ele integra na sua personalidade total as aquisições da sua investigação filosófica.

7. A técnica expressiva pela qual ele torna a sua experiência cognitiva reprodutível por outras pessoas.
Todos os grandes filósofos do passado praticaram esse conjunto de técnicas e muitos se referiram a elas em suas obras, mas nenhum se ocupou em fazer delas uma exposição abrangente e sistemática. [...]



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Não confunda Bacharelado em Filosofia com Filósofo - Olavo De Carvalho

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Hoje é dia Sagrado de Jejum De Sri Mokshada Ekadasi Dia 25/12/2020




2 MOKSHADA EKADASHI

 

Yudhishthira Maharaja disse: "ó Vishnu, controlador de todos, ó deleite dos três mundos, ó Senhor do universo, ó criador do mundo, ó personalidade mais antiga, ó melhor de todos seres, ofereço minhas respeitosas reverências a Ti. ó Senhor dos senhores, para benefício de todas entidades vivas, tenha a bondade de responder algumas perguntas que tenho. Qual o nome do Ekadashi que ocorre durante a quinzena clara do mês de Margashirsha e que remove todos pecados? Como é observado corretamente, e qual Deidade é adorada nesse dia sagrado? ó Senhor, por favor explique isto plenamente para mim."

 

O Senhor Krishna respondeu: "ó Yudhishthira, tua indagação é muito auspiciosa e te trará fama. Assim como anteriormente expliquei-te o mui querido Utpanna Maha-dvadashi (1) - que ocorre durante a parte obscura do mês de Margashirsha, que é o dia quando Ekadashi-devi apareceu de Meu corpo para matar o demônio Mura, e que beneficia tudo que é animado e inanimado nos três mundos - assim te explicarei agora o Ekadashi que ocorre durante a parte clara de Margashirsha. Este Ekadashi é famoso como Mokshada porque purifica o devoto fiel de todas reaçöes pecaminosas e lhe confere a liberação. A Deidade adorável deste dia é o Senhor Damodara. Com plena atenção se deve adorá-Lo com incenso, uma lamparina de ghee, flores, e tulasi manjaris (florescências).

 

ó melhor dos reis, por favor ouça enquanto narro para ti a velha e auspiciosa história deste Ekadashi. Simplesmente por ouvir esta história se pode obter o mérito acumulado por realizar um sacrifício de cavalo. Por influência deste mérito, nossos antepassados, mães, filhos e outros parentes que foram para o inferno podem ir para o céu. Apenas por esta razão, ó rei, deves ouvir cuidadosamente esta narrativa.

 

Uma vez havia uma linda cidade chamada Champaka-nagara, decorada com devotados Vaisnavas. Ali o melhor dos reis santos, Maharaja Vaikhanasa, governava seus súditos como se fossem seus filhos e filhas. Os brahmanas naquela capital eram todos peritos em quatro tipos de conhecimento védico. O rei, enquanto governava corretamente, teve um sonho em certa noite no qual seu pai estava sofrendo os golpes da tortura num planeta infernal. O rei foi tomado de compaixão e derramou lágrimas. Na manhã seguinte, Maharaja Vaikhanasa descreveu seu sonho para seu conselho de brahmanas duas-vezes nascidos.

 

"ó brahmanas," disse o rei, "num sonho na noite passada vi meu pai sofrendo num planeta infernal. Ele estava gritando: "ó filho, por favor salva-me do tormento deste inferno!Agora não tenho nenhuma paz, e até mesmo esse belo reino se tornou insuportável para mim. Nem mesmo meus cavalos, elefantes, e quadrigas me dão qualquer alegria, e meu vasto tesouro não me dá nenhum prazer.

 

Tudo, ó melhores dos brahmanas, até minha própria esposa e filhos, se tornou uma fonte de infelicidade desde que vi meu querido pai sofrendo as torturas do inferno. Onde posso ir, e que posso fazer, ó brahmanas, para aliviar esta miséria? Meu corpo está queimando de temor e tristeza! Por favor digam-me que tipo de caridade, que modalidade de jejum, qual austeridade, ou que profunda meditação poderei realizar para salvar meu pai de sua agonia e conceder liberação à meus antepassados. ó melhores dos brahmanas, qual o sentido de ser um filho poderoso se nosso pai deve sofrer num planeta infernal? Realmente, a vida de tal filho é totalmente inútil!"

 

Os brahmanas duas vezes nascidos replicaram: "ó rei, na floresta montanhosa não longe daqui fica o ashrama onde o grande santo Parvata Muni reside. Por favor vá até ele, pois conhece o passado, presente e futuro de tudo e certamente pode ajudar-te em tua miséria."

 

Ao ouvir este conselho, o pesaroso rei imediatamente partiu numa jornada rumo ao ashrama do famoso sábio Parvata Muni. O ashrama era muito grande e abrigava muitos sábios eruditos peritos em cantar os hinos sagrados dos quatro Vedas. (2) Aproximando-se do sagrado ashrama, o rei contemplou Parvata Muni sentado entre os sábios como um outro Senhor Brahma, o criador não-nascido.

 

Maharaja Vaikhanasa ofereceu suas humildes reverências ao muni, curvando sua cabeça e então prostrando-se de corpo inteiro. Depois que o rei se sentara, Parvata Muni perguntou-lhe sobre o bem estar das sete partes de seu extenso reino. (3) O muni também perguntou-lhe se seu reino estava livre de problemas e se todos estavam tranquilos e felizes. A estas indagaçöes o rei respondeu: "Por sua misericórdia, ó glorioso sábio, todas sete partes de meu reino estão passando bem. Contudo existe um problema que surgiu recentemente, e para resolvê-lo vim lhe procurar, ó brahmana, para sua orientação perita."

 

Então Parvata Muni, o melhor dos sábios, fechou seus olhos e meditou no passado, presente e futuro do rei. Após alguns momentos abriu seus olhos e disse: "Teu pai está sofrendo os resultados de cometer um grande pecado, e descobri o que é. Em sua vida pretérita ele brigou com a esposa quando desfrutou dela sexualmente durante seu período menstrual. Ela tentou resistir seus avanços e gritou: "Alguém por favor salve-me! Por favor, ó marido, não interrompa meu período mensal!Ainda assim ele não a deixou em paz. É devido a este pecado atroz que seu pai caiu em tal condição infernal."

 

O Rei Vaikhanasa então disse: "ó melhor dos sábios, por qual processo de jejum ou caridade posso liberar meu querido pai de tal condição? Por favor diga-me como posso remover o fardo de suas reaçöes pecaminosas, que são um grande obstáculo a seu progresso para a liberação final."

 

Parvata Muni replicou: "Durante a quinzena clara do mês de Margashirsha ocorre um Ekadashi chamado Mokshada. Se observares este sagrado Ekadashi estritamente, com um jejum completo, e deres diretamente a teu pai sofredor o mérito que assim obtiveres, ele será libertado de sua dor e instantaneamente liberado."

 

Ouvindo isso, Maharaja Vaikhanasa agradeceu profusamente o grande sábio e então retornou a seu palácio. ó Yudhishthira, quando a parte clara do mês de Margashirsha afinal chegou, Maharaja Vaikhanasa fiel e perfeitamente observou o jejum de Ekadashi com sua esposa, filhos e outros parentes. Ele zelosamente entregou o mérito de seu jejum a seu pai, e enquanto fazia a oferenda, lindas flores choviam do céu. O pai do rei então foi louvado por mensageiros dos semideuses e escoltado até as regiöes celestiais. Enquanto passava por seu filho, o pai disse para o rei: "Meu querido filho, toda auspiciosidade para ti!" Afinal ele alcançou o reino celestial. (4)

 

ó Filho de Pandu, quem quer que observe estritamente o sagrado Mokshada Ekadashi, seguindo as regras e regulaçöes estabelecidas, alcança a liberação total e perfeita após a morte. Não  melhor dia de jejum que este Ekadashi da quinzena clara do mês de Margashirsha, ó Yudhishthira, pois é um dia claro como o cristal e sem pecado. Quem quer que observe fielmente este jejum de Ekadashi, que é como cintamani (uma jóia que realiza todos desejos), obtém mérito especial que é muito difícil de calcular, pois este dia pode elevar-nos aos planetas celestiais e mais além - à liberação perfeita."

 

Assim termina a narrativa das glórias do Margashirsha Ekadashi ou Mokshada Ekadashi, do Brahmanda Purana.

 

Notas:

 

(1) Quando Ekadashi cai num Dvadashi, devotos ainda assim chamam-no de Ekadashi.

 

(2) Os quatro Vedas são o Sama, Yajur, Rg e Atharva.

 

(3) As sete partes do domínio de um rei são o próprio rei, seus ministros, seu tesouro, suas forças armadas, seus aliados, os brahmanas, os sacrifícios realizados em seu reino, e as necessidades de seus súditos.

 

(4) Se uma pessoa observa um jejum de Ekadashi para um antepassado falecido que está sofrendo no inferno, então o mérito assim obtido capacita o antepassado a deixar o inferno e entrar no reino celestial, onde poderá então praticar serviço devocional a Krishna ou Vishnu e retornar a Deus. Porém quem observa Ekadashi para sua própria elevação espiritual regressa ele mesmo para Deus, para nunca mais retornar a esse mundo material.



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Um voto de observar austeridades para agradar Katyayani Devi, ou Yogamaya Devi, a energia espiritual do Senhor Krsna.     Krishna rouba as v...