A CRIAÇÃO DO UNIVERSO DEUS CRIOU O MAL?
A mais antiga tradição cristà, expressa nos símbolos do Batismo, contém uma profissão de Fé trinitária muito simples, na qual se confessa a Fé no Pai Todo-Poderoso (Pantocrator). Assim, temos a recensão etiópica da Epistola Apostolorum (160-170) e o papiro de Dêr-Balyzeh do século III, cujo símbolo é, sem dúvida, muito anterior.
Nos símbolos posteriores, explicita-se que Deus é Criador de “todas as coisas, as visíveis e as invisíveis”. Tais são o Símbolo de Eusébio, o de Epifânio e o de Cirilo de Jerusalém, que substitui “Criador de todas as coisas” por “Criador do céu e da terra”(Denzinger 41). Estes símbolos, redigidos no século IV, devem ser muito anteriores: Eusébio, por exemplo, diz que foi batizado com a fórmula que ele proprio enviou a Nicéia (325) e de que se serviu o concilio para compor a sua1¹
As infiltrações de doutrinas estranhas, que não estiveram de todo ausentes nas Igrejas foram denunciadas em documentos mais ou menos solenes do Magistério, conforme a extensão e gravidade do fenômeno:
a) Primeiro foram os priscilianistas, que assumiram teses maniqueístas sobre os “dois princípios eternos” do bem (Deus), e do mal (o diabo). Tiradas provavelmente das cosmogonias babilônicas, foram estas teses difundidas por Mani, no século III, e penetraram na Espanha com o movimento priscilianista na segunda metade do século IV. Certas práticas dos priscilianistas foram condenadas no Concilio de Saragoça (380) e no de Bordeaux (384).
Cidade em que se refugiou Prisciliano. No ano seguinte, foi o herege julgado pelo Imperador Máximo, a quem apelara, e condenado à morte com seis de seus seguidores (Treviri, 385). Morto o imperador (388), armou-se uma reação a favor de Prisciliano, e suas doutrinas continuaram dividindo o clero espanhol. O Concílio de Toledo (ano 400) conseguiu trazer à obediência alguns bispos, sem que a seita desaparecesse, como prova o opúsculo de Pastor, bispo de Palencia, contra o priscilianismo”, escrito em meados do século V.
Não é fácil discernir a posição de Prisciliano da de seus seguidores, que certamente cometeram graves erros trinitários, maniqueístas e de tendência montanista, ainda que não esteja demonstrada dependência direta de Montano ou de Mani”. O certo é que os onze opúsculos encontrados na Biblioteca da Universidade de Würzburg e atribuídos a Prisciliano têm passagens ambiguas, que atribuídos podem perfeitamente ser interpretadas em sentido sabeliano e maniqueista.²
Que a seita avançasse nesta direção, fica evidente pelo teor dos cânones condenatórios do Concílio de Braga (561 ou 563), que foram o golpe mortal contra a heresia.
Depois dos priscilianistas, foram os valdenses e albigenses — membros de movimentos espiritualistas na Idade Média — que fizeram renascer certo maniqueismo, com sua concepção pessimista da matéria, a qual diziam derivada de um princípio oposto a Deus. O Concilio de Latrão, de 1215, visa-os em sua profissão de Fé, embora sem mencioná-los. Em 1442, o Concílio de Florença ainda teve de se ocupar do maniqueísmo dos jacobitas, que faziam diferença entre o Deus do Antigo e o do Novo Testamento.
Nos tempos modernos não é mais o perigo do dualismo maniqueísta que atenta contra a pureza da doutrina católica, mas o monismo panteista (Deus é o mundo em evolução), ou materialista (a matéria é a única realidade absoluta). Em ambos os casos são negados o fato da criação e a transcendência de Deus. Muito atentos aos erros modernos, opuseram-se vigorosamente a essas teorias o Syllabus de Pio IX e o Concilio Vaticano I.
1) Carta Quam laudabiliter de S. Leão Magno (21.7.447)
E a resposta (que andou perdida) uma carta (desaparecida) de Turibio, bispo de Astorga. K. Künstle duvida da autenticidade do documento e o situa como redigido depois do Concílio de Braga, do qual utiliza os anátemas : KK 117-118.
A sexta nota mostra que eles os (priscilianistas) afirmam que o diabo nunca foi bom e que nem sua natureza é obra de Deus, mas que emergiu do caos e das trevas, ou seja, que ele não foi criado, sendo antes o principio e substância de todo mal. A verdadeira Fé, ao contrário (…), professa que é boa substância de todas as criaturas, sejam espirituais, sejam corporais, e que não existe nenhuma natureza má [mali nullam esse naturam] porque Deus, Criador de todas as coisas, nada fez que não fosse bom. Donde se conclui que o diabo seria bom se tivesse permanecido no estado em que foi criado. Mas, porque usou mal sua perfeição natural naturali excellentia], “e não permaneceu na verdade” (Jo 8,44), não é que se tenha transformado [transit] numa substância contrária, mas se afastou do Sumo Bem, ao Qual devia estar unido; o mesmo ocorre com os que afirmam tais coisas, que da verdade se precipitam no erro (…).
Continua no Sínodo de Constantinopla
1- A afirmações é feita na carta que enviou ao Concílio de Nicéia com a profissão de fé. Teodoreto, História eclesiásticas I, 12,4: p. 82-940.
2- Bibliografia: Z. GARCÍA VILLADA, Historia Eclesiástica de España.
Madrid, 1929,p.90-145 ; M. SOTOMAYOR, “El Priscilianismo”
VILLOSLADA, Historia de la Iglesia en España (BAC Maior 16).
Madrid,p.1979 233-272
COLLLANTES, Justo, A fé católic: Documentos do magistério da Igreja, Rio de Janeiro, : Lumen Christi, 2003
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