quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

DEUSES E DEMÔNIOS

Asuras e devas batendo o Oceano de Leite para extrair o néctar da imortalidade.

 

Por Lokasaksi Dasa

Na tradição místico-religiosa do Sanātana-dharma, que teve sua origem nos Vedas, geralmente se fala na existência de 33 milhões de “deuses” (devas), que os vaiṣṇavas chamam de “semideuses”.

Apesar dessa terminologia “semideus” ser utilizada em outros estudos mitológicos para indicar seres metade divinos e metade humanos, o seu uso recorrente no vaiṣṇavismo se deve ao fato do vaiṣṇavismo aceitar a existência de somente um Deus Supremo (parameśvara) e Original (adīśvara). Ou seja todas as outras deidades são imperfeitas, sendo, contudo, seres muitos poderosos dotados de poder por Deus e subservientes a Ele. Ficando, portanto, bem claro a diferença entre “Deus” no singular, escrito com letra maiúscula, e “deuses” no plural, escrito com letra minúscula.

Dakṣa, um dos filhos mentais de Brahmā teve duas filhas, Aditi e Diti, que se casaram ambas com o sábio Kaśyapa. Aditi “a ilimitada” tornou-se a mãe dos líderes dos devas, que receberem por isso o nome de Ādityas. Diti “a dividida”, por sua vez, tornou-se a mãe dos principais Asuras ou demônios, que ficaram conhecidos como os Daityas ou Danavas. A palavra asura “demônio” é formada do prefixo a “não” mais a palavra sura “seres da luz” (da raiz verbal sur “governar, brilhar”.) e indica a personificação das forças antagônicas da natureza.

Deve ficar bem claro, que a palavra “demônio”, como tradução para as palavras  “asura” ou “daitya“, não equivale literalmente ao conceito semita-cristão de “demônio”. Apesar de haver muitos pontos de semelhança no que se refere a eles serem invejosos de Deus (Bhagavad-gītā, capítulo 16), ainda assim, eles não são os castigadores dos pecadores no inferno, função essa reservada aos “yamadhutas”, servos de Yama, o deus da morte”. Inclusive eles não residem nos infernos (naraka-lokas), mas sim nos mundos subterrâneos (patala-lokas); bem semelhante ao conceito greco-romano de “titãs”.

Encontramos uma narrativa interessante no Śatapatha Brāhmaṇa, sobre como os devas “deuses” obtiveram a imortalidade e portanto superioridade sobre os asuras “demônios”. Todos eles, deuses e demônios indistintamente, eram mortais e iguais em poder, pois todos eram descendentes de Prajāpati (Brahmā), o criador. Desejando a imortalidade, os deuses executaram sacrifícios (yajñas) liberalmente e praticaram penitências (tapas) muito severas. Mas enquanto Brahmā não lhes ensinasse um sacrifício em particular, eles não puderam se tornar imortais. Os deuses seguiram o conselho do criador e foram bem sucedidos. Desejando tornarem-se superior aos asuras, os devas tornaram-se verazes e seguidores da verdade.

Anteriormente eles e os asuras, indistintamente, falavam a verdade e a mentira, segundo a conveniência. Mas porque os devas pararam de mentir, e servir a verdade, os asuras tornaram-se notadamente falsos por agirem caprichosamente seguindo seu próprios interesses. Consequentemente os deuses ficaram mais poderosos e puderam conquistá-los (Śatapatha Brāhmaṇa, 9.5.1.12).

Também há uma descrição no Aitareya Brāhmaṇa que afirma que os devas e os asuras eram igualmente poderosos, mas seus poderes foram divididos, portanto, os deuses exercem-no durante o dia, na luz, e os demônios durante a noite, nas trevas (Aitareya Brāhmaṇa, 4.5).

Apesar de originalmente os deuses serem iguais em poder, três deles se destacaram por terem continuado com suas austeridades e sacrifícios. Agni recebeu a benção da chama intensa (fogo na terra), Indra recebeu a benção da energia intensa (fogo na atmosfera), e Sūrya recebeu a benção do brilho intenso (fogo no céu), o que se lhes possibilitou que recebessem o poder de serem responsáveis pelos três mundos ou planos – bhūr (a terra), bhuvaḥ (a atmosfera) e svar (as regiões celestiais).

Segundo o Ṛg Veda (1.139.11; 1.45.2). Esses três deuses presidem sobre trinta-e-três outros deuses (devas), que se dividem igualmente pelos três mundos. Dessa forma, Agni e os  11 Rudras regem o plano terrestre (Bhūr); Vayu e os 8 Vasus regem a atmosfera (Bhuvaḥ); e Indra e os 12 Ādityas regem as regiões celestiais, ou Paraíso (Svaḥ). Todas esses planos se situam entre o céu, conhecido como a região de Dyaus (o pai cósmico) e a terra, conhecida como a região de Pṛthivī (a mãe terrestre).

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Ciência do Ayurveda

image129481A ciência do Ayurveda, a medicina védica milenar, é o mais antigo sistema de medicina codificada que a humanidade conhece. Há e houve inúmeros intentos para estabelecer uma data de origem deste conhecimento, assim como esforços para encontrar um precursor.

Como toda ciência védica, a sua origem se perde no tempo em que a história se confunde com o mito. Na verdade, a necessidade de estabelecer um marco histórico, cronológico, é só uma necessidade acadêmica, pois para os estudiosos praticantes, essa referência é irrelevante e inexata.

O Ayurveda é aceito como uma medicina espiritual, um caminho iniciático, uma parte de acesso á alma, através da compreensão das bioenergias do corpo, e, como tal, uma revelação divina. Revelação não tem data, só descobre um véu ilusório para mostrar o que sempre existiu.

Esta ciência vê o corpo, assim como todo o Universo, como uma interação de três bioenergias. A que gera o movimento e faz que tudo funcione, se transporte, se una, se separe. A que transforma, que metaboliza, digere, destrói e mantém a temperatura. E a que armazena o metabolizado e digerido, para formar massa, estrutura. A primeira dessas bioenergias é chamada vata; a segunda, pitta; e a terceira, kapha.

 

No ser humano, encontramos a primeira no oxigênio que circula através do corpo, nos impulsos nervosos, nos neurotransmissores que levam informação sensação e consciência. A segunda, no processo digestivo encabeçado pela bile e as poderosas enzimas, suco pancreático e sistema endócrino, e também no processo racional de formação de ideias. A terceira, na ação anabólica da formação de tecidos e líquidos do corpo, encarregada da solidificação das estruturas, das formas, das paredes dos órgãos e das coberturas do corpo.

Estas bioenergias interagem constantemente possibilitando a ação de cada uma. Quando esta interação se realiza harmoniosamente, isto é chamado de equilíbrio, requisito fundamental para a saúde. Já que é ação energética, devemos observar que o movimento se efetua no plano físico e psíquico também. A informação logo é processada, digerida e forma estrutura de pensamento, opiniões e memória.

O conceito de saúde no Ayurveda se poderia resumir assim: boa digestão; boas eliminações; sentidos aguçados; mente pacífica, feliz e satisfeita. A boa digestão é ponto de partida para a saúde. Sem ela, não só não há possibilidade de um bom aproveitamento do que se come, como também não há uma boa discriminação – separação do que deve ficar no corpo por ser útil e o que deve ser expulso por ser nocivo.

A digestão se realiza primeiramente no estômago, duodeno e intestino delgado, porém, depois, ela se realiza no organismo inteiro. Tal qual a luta do bem contra o mal, o fogo sagrado da digestão, agni, combate o mal, as toxinas. Dependendo da eficiência da digestão, o sagrado ar vital ou prana, através de seus diferentes movimentos de ar, vata, se encarrega de expulsar o indesejado, na forma de excreções – fezes, urina, suor, menstruação. Um corpo sadio elimina fácil e diariamente ou regularmente. No caso da menstruação, de forma indolor e sem alterar o ânimo.

Quando a atividade física se realiza perfeitamente, a mente também fica aliviada. Pois, um corpo, com boa digestão, também terá uma boa digestão mental. Ou seja, saberá separar o que serve, o que ensina, o que acrescenta, o que dá felicidade, o que nos confunde, nos degrada e nos aflige.

Boa digestão mental também significa eliminar mágoas, rancores, traumas, apegos. Estando assim a mente limpa, ela também fica ágil, dinâmica, e os sentidos ficam claros, agudos, atuantes, ágeis. A mente é o espaço final a ser atingido. Mais do que isto, ela é o objetivo principal, pois, sem que ela esteja em paz, não há possibilidade alguma de felicidade e bem-estar.

As doenças em grande parte se originam nas emoções, por isso são chamadas dehomanasa (deho= corpo; manasa = mente), que é o mesmo que psicossomáticas (psiquis = mente ou alma: soma = corpo). A mente é tão enigmática e enganosa como um labirinto e nos faz pensar que está tudo sob controle. Poderíamos classificar as doenças em três categorias: adiatmikas – originadas pelo corpo e pela mente; adibhauticas – originadas por outras entidades; adidaiviksa – originadas pela ação dos deuses.

Doenças adiatmikas podem se considerar as próprias e as herdadas. As herdadas são aquelas que chegam pela história genética, doenças familiares quase que já instaladas nos genes da família. Em linhas gerais, os homens herdam da família da mãe, e as mulheres, da família do pai. Porém, há exceções, tais como a depressão, que vem em linha reta: mãe depressiva, filha depressiva; e o mesmo no caso de pai e filho. Também são hereditárias as adquiridas da mãe durante a gravidez. O tipo de alimentação, ou de circunstâncias especiais, durante esse período, são fatores que resultam na constituição do filho e sua consequente saúde e fortaleza.

As próprias podem ser de duas naturezas – as que se adquirem por maus hábitos alimentares ou vícios e as que se provocam por desequilíbriosemocionais. Estas últimas são as mais frequentes e são difíceis de tratar só com remédios. Os remédios aliviam, mas, como há uma questão de fundo, se não se praticam terapias desintoxicantes e rejuvenescedora, somadas a mudanças de dieta e hábitos, além de práticas espirituais, dificilmente se obterá um resultado completo.

Doenças adibhaitikas são as que se adquirem por influência de outras entidades, como, por exemplo, contágios com vírus, bactérias, picadas, mordidas, agressões físicas e coisas similares, e as provocadas por entidades em corpo sutil – fantasmas. Estes últimos se hospedam como parasitas espirituais e causam doenças em órgãos determinados, ou causam dores, ou afetam o sistema nervoso, já que eles se alojam no ar vital, e este é o alimento dos nervos.

Quaisquer que sejam as manifestações da doença, elas são reconhecidas como influências de obsessores quando são difíceis de diagnosticar. Não se detectam nos exames técnicos, nem de análises. Nesses casos, não se obtêm resultados satisfatórios usando medicina química, o tratamento tem que ser natural. Ajuda o uso de mantras e talismãs protetores.

As doenças adidaivikas são causadas pelos controladores celestiais – os devas. Elas ocorrem, por um lado, sob influência do clima, da temperatura ambiente, das bruscas mudanças destes, das catástrofes naturais etc. E, por outro, mais profundo e misterioso, em decorrência do karma – a lei de causa e efeito, que move o Universo. É muito complexo explicar como funciona o karma, mas podemos entender que, quando cometemos alguma falta que afete a alguém, o nível de sofrimento que causamos é proporcional ao que recebemos. A doença é uma ansiedade e um sofrimento, por isso é que a padecemos.

Quando nascemos, já se mostram em nosso corpo saúde e fraqueza em certos órgãos, identificadas pelo biótipo físico ao qual pertencemos e que nos foi designado. Também podemos identificá-las astrologicamente. No horóscopo de uma pessoa, aparecem os planetas que têm muita ou boa força e aqueles que estão debilitados. Estes últimos são os que indicam onde está a fraqueza orgânica e que tecidos não são fortes e bem formados.

Cada uma das doze casas zodiacais que formam o horóscopo corresponde a alguma região do corpo. Então, se alguma delas estiver afetada pela presença de algum planeta maléfico, ou, se o planeta regente da casa se encontra desfavorável, isto indica a possibilidade de doença e de que tipo. As doenças deste tipo se apresentam geralmente devido aos trânsitos planetários, quando algum planeta se manifesta proeminente perante os outros.

A abordagem que a medicina Ayurveda faz é holística, utilizando todos os métodos e recursos que a natureza oferece. Dieta é fundamental para começar o processo. Há uma máxima Ayurveda que diz: “Sem uma boa alimentação, a medicina não funciona, e, com uma boa alimentação, a medicina não faz falta”.

E uma boa alimentação significa uma dieta apropriada ao biótipo da pessoa. Porque saudável não é só o alimento que é natural, e sim o alimento que é apropriado para a pessoa em questão. Pois o que é comida para um pode ser veneno para outro.

Além da correta dieta, deve-se observar bons hábitos, em todos os sentidos – bons hábitos de higiene, boa conduta social e principalmente hábitos espirituais, meditação, oração, Yoga e atividades devocionais para incrementar a fé. Charaka, o pai do Ayurveda moderno, sentenciou no seu famoso tratado Charaka Samhita que “o princípio da doença é falta de fé em Deus”.

(*) Krishna Kishora Dasa, falecido em 2012, foi um dos melhores terapeutas de Ayurveda do Brasil, pesquisador da cultura védica e discípulo de A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada.


fonte; https://culturavedica.com.br/ciencia-do-ayurveda/

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quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

DARSHANAS: FILOSOFIAS DA ÍNDIA

Por Lokasaksi Dasa

Muitas foram as realizações da antiga civilização da Índia na esfera da cultura, arte, arquitetura, matemática, astronomia e ciência. Mas o feito mais importante deu-se no campo do pensamento, onde, numa síntese harmoniosa, se conciliava as atividades práticas da existência com a filosofia, o misticismo e a religião. Esses aspectos da existência não se colocavam numa hierarquia excludente, mas sim como estágios necessários no progresso e evolução do ātmā, o “si mesmo” em direção à sua autorrealização, no mundo, no ser, ou em Deus.

A filosofia da Índia não seria apenas um exercício da razão. Ela, ao contrário do ocidente, que tem uma abordagem teórica de discussão infinita, a filosofia, deve ser “vivida”, “praticada” e não meramente “discutida” ou “teorizada”. O fim do conhecimento não é o próprio conhecimento, mas sim a transformação que ele traz e produz no ser.

A palavra em sânscrito utilizado para “filosofia” é darśana, que vem da raiz verbal dṛś “ver” ou “observar”, significa literalmente “ponto de vista”. Assim, darśana é um modo de ver, uma percepção, um modo epistemológico de conhecer a natureza das coisas. Os sábios hindus tinham discernimento para observar as coisas com seu olho interno, com sua visão intuitiva. Não se tratava meramente de um exercício intelectual, mas de procurar sempre uma visão da verdade. Mesmo a religião inseria-se nesse contexto. Filosofia sem devoção seria mera especulação mental que leva ao ceticismo. Já a religião sem filosofia seria mero sentimentalismo que leva ao fanatismo.

Para que o espírito pudesse elevar-se para além das tendências condicionantes da ilusão e realizar a sua natureza intima e última, as tradições místico filosóficas da Índia utilizavam sistemas práticos de disciplina, que teria como resultado “a evolução”, “o equilíbrio”, “a concentração”, “a meditação”, “a beatitude” ou “a devoção amorosa”. A Realidade última ou a Verdade absoluta, dependendo da técnica ou prática (sādhana) utilizada, poderia ser interpretada ou realizada de diferentes maneiras.

vadanti tat tattva-vidas tattvaṁ yaj jñānam advayam
brahmeti paramātmeti bhagavān iti śabdyate

“Os videntes que realizaram a Verdade chamam essa substância não-dual de Brahman ‘o Ser Absoluto’, Paramātman ‘a Alma Suprema’ ou Bhagavān a ‘a Personalidade todo Opulenta” (Śrīmad-Bhāgavatam, 1.1.12).

O conceito da unidade na diversidade pode ser considerado o maior empreendimento filosófico da tradição védica, nas suas vertentes ária (nigamas ou vedas) e drávida (āgamas ou tantras); bem das outras tradições que ali se desenvolveram paralelamente.

À luz das “histórias da filosofia”, escritas por ocidentais, pouco destaque é dado ao pensamento do Oriente. Como enfatiza E. Dussell, na sua crítica ao pensamento filosófico europeu, a Índia não passa de uma colônia e uma cultura de periferia para o nobre pensador ocidental.

Fazer uma história da filosofia indiana não é algo tão fácil como foi com a história das filosofias europeias. Nunca foi uma das características do povo oriental a preocupação com datas históricas. Durante milhares de anos, os indianos não registraram os primórdios de sua história, e, conforme Aghilar: “É difícil encontrar um povo que tenha menos laços históricos”. A falta de interesse da Índia antiga pela história não se deve a uma incapacidade primitiva de manter os registros; em vez disso, ela aceitou a versão das escrituras védicas como suficiente. Sua visão histórica era mítica.

A grande maioria dos chamados orientalistas, escritores do final do século XIX e início do século XX eram alemães, ingleses e franceses e tiveram grande influência na formação do quadro histórico da Índia. Estes orientalistas, como H.H. Wilson, Max Muller, P. Deussen e outros, induziram os autores hindus a equívocos, na medida em que estes se apoiavam em seus textos em suas referências cronológicas.

Contudo, considerando a própria tradição védica, podemos classificar os darśanas ou sistemas filosóficos oriundos da Índia em dois grupos bem distintos:

1) Nāstika (na āsti “isto não é”) – Sistemas heterodoxos, que, negando a inefabilidade e autoridade dos Vedas, como escrituras reveladas, não se preocupam em estabelecer-se com base na autoridade dos Vedas.

2) Āstika sti “isto é”) – Sistemas ortodoxos, que se procuram em harmonizar suas doutrinas filosóficas com a dos Vedas e dos Upaniṣads.

Do ponto de vista histórico, com exceção da escola ortodoxa (āstikaPūrva-mīmāṁsā, os darśanas representam, cada um de sua forma, a transição de uma visão dogmática das fontes de conhecimentos para um exame do próprio conhecimento. A tradição védica ária do bramanismo ritualístico e sacrifical, sendo contestado pelas heterodoxias do Charvakismo, Jainismo e budismo, seria levada, com o auxílio da tradição védica drávida, a resgatar e aprimorar ao máximo sua tradição mística filosófica. A partir de então a Índia presenciaria um autêntico renascimento, onde a tradição védica, com seus respectivos darśanas, consolidaria o que é hoje conhecido por Sanātana Dharma, ou seja, o hinduísmo.

Darśaṇas Heterodoxos

As escolas materialistas de Cārvaka e Jaina e a niilista de Buddha foram os darśanas heterodoxos, que, apesar de, com suas respectivas teorias, negarem a existência de Deus e a integridade espiritual da alma eterna, contribuíram para a agitação e renovação intelectual e espiritual que floresceu na Índia na mesma época em que surgia Sócrates (469-300 a.C.) na Grécia, Confúcio (551-479 a.C.) na China e Zoroastro (618-541 a.C.) na Pérsia.

Darśanas Ortodoxos (ṣaḍ-Darśanas)

Os seis darśanas ortodoxos constituem os sistemas clássicos da filosofia da Índia. Eles possuem características em comum. Todos surgiram das Upaniṣads, a parte filosófica dos Vedas cuja sua autoridade é inquestionável. Como os próprios Vedas as Upaniṣads são consideradas apauruṣeya, ou seja, não sendo o produto da mente humana, mas recebidas intuitivamente pelos ṛṣis (sábios videntes). Seu estilo é na forma de sūtras, ou aforismos, que são extremamente concisos e evitando repetição desnecessária e com uma economia rígida de palavras e são:

1) Nyāya – Lógica e teoria do conhecimento, sistematizada por Gautama;

2) Vaiśeṣika – Atomística, sistematizada por Kaṇāda;

3) Sāṅkhya – Enumeração cosmologia, sistematizada por Kapila;

4) Yoga – Psicologia mística, sistematizada por Patañjali;

5) Pūrva Mīmāṁsā – Hermenêutica do karma, sistematizada por Jaimini; e

6) Vedānta (Uttara Mīmāṁsā) – Metafísica, sistematizada por Vyāsa.

O estudo dos seis darśanas  geralmente e feito em grupos de dois sistemas. Primeiro temos os sistemas do Nyāya e do Vaiśeṣika que apresentam uma atitude mais cientifica e filosófica que os outros. Depois temos o Saṁkhya e o Yoga, que possuem uma filosofia evolucionista eminentemente mística, e são antes de tudo doutrinas de liberação, cujas origens remontam as Upanisads mais antigas. E por fim encontramos os dois Mīmāṁsās, baseados na revelação dos Vedas, um explicando os rituais dos Brāhmaṇas e o outro sistematizando a teologia das Upaniṣads. Segundo Halbfass, de acordo com suas diferentes genealogias, o Nyāya e o Vaiśeṣika estão preocupados principalmente com a apologética [justificação], enquanto que o Mīmāṁsā e o Vedānta são tradições genuinamente exegéticas [de interpretação].

Lokasāki Dāsa (Lúcio Valera)
Educador, filósofo, cientista da religião e sacerdote vaishnava.


fonte: https://culturavedica.com.br/darshanas-filosofias-da-india/

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Guaçatonga: para que serve e como usar

A Guaçatonga (Casearia sylvestris Sw.), também conhecida como erva do bugre, é uma planta medicinal indicada para o tratamento de diversas doenças como herpes labial, sapinho, gastrite e problemas intestinais; podendo ser utilizada como uso externo e ingerido na forma de chá. 

Por possuir propriedades cicatrizante, anti-séptica, imunoestimulante, a guaçatonga combate também úlceras, reumatismo, inflamações e picadas de inseto e aftas.  

Formas de uso: 

-chá: 

Adicionar 10 g (equivalente à um punhado) em 200 ml de água fervente e beber 2 xícaras ao longo do dia. 

-banhos de acento 

De 5 à 8 colheres de sopa em 1l de água fervente. Esperar amornar para fazer o banho. 

-compressas de uso tópico. 

A guaçatonga pode ser encontrada em todo o brasil, em lojas de produtos naturais por preços acessíveis, tornando ela uma ótima alternativa como remédio natural. 
 


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terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Gustavo Lins - Pra ser Feliz

História de quinze séculos #olavotemrazao à 17 anos o professor previu o que acontece hoje nas redes sociais que censuram.







Olavo de Carvalho

Jornal da Tarde, 17 de junho de 2004

Desmantelado o Império, as igrejas disseminadas pelo território tornaram-se os sucedâneos da esfrangalhada administração romana. Na confusão geral, enquanto as formas de uma nova época mal se deixavam vislumbrar entre as névoas do provisório, os padres tornaram-se cartorários, ouvidores e alcaides. As sementes da futura aristocracia européia germinaram no campo de batalha, na luta contra o invasor bárbaro. Em cada vila e paróquia, os líderes comunitários que se destacaram no esforço de defesa foram premiados pelo povo com terras, animais e moedas, pela Igreja com títulos de nobreza e a unção legitimadora da sua autoridade. Tornaram-se grandes fazendeiros, e condes, e duques, e príncipes, e reis.

A propriedade agrária não foi nunca o fundamento nem a origem, mas o fruto do seu poder. Poder militar. Poder de uma casta feroz e altiva, enriquecida pela espada e não pelo arado, ciosa de não se misturar às outras, de não se dedicar portanto nem ao cultivo da inteligência, bom somente para padres e mulheres, nem ao da terra, incumbência de servos e arrendatários, nem ao dos negócios, ocupação de burgueses e judeus.

Durante mais de um milênio governou a Europa pela força das armas, apoiada no tripé da legitimação eclesiástica e cultural, da obediência popular traduzida em trabalho e impostos, do suporte financeiro obtido ou extorquido aos comerciantes e banqueiros nas horas de crise e guerra.

Sua ascensão culmina e seu declínio começa com a fundação das monarquias absolutistas e o advento do Estado nacional. Culmina porque essas novas formações encarnam o poder da casta guerreira em estado puro, fonte de si mesmo por delegação direta de Deus, sem a intermediação do sacerdócio, reduzido à condição subalterna de cúmplice forçado e recalcitrante. Mas já é o começo do declínio, porque o monarca absoluto, vindo da aristocracia, dela se destaca e tem de buscar contra ela — e contra a Igreja — o apoio do Terceiro Estado, o qual com isso acaba por tornar-se força política independente, capaz de intimidar juntos o rei, o clero e a nobreza.

Se o sistema medieval havia durado dez séculos, o absolutismo não durou mais de três. Menos ainda durará o reinado da burguesia liberal. Um século de liberdade econômica e política é suficiente para tornar alguns capitalistas tão formidavelmente ricos que eles já não querem submeter-se às veleidades do mercado que os enriqueceu. Querem controlá-lo, e os instrumentos para isso são três: o domínio do Estado, para a implantação das políticas estatistas necessárias à eternização do oligopólio; o estímulo aos movimentos socialistas e comunistas que invariavelmente favorecem o crescimento do poder estatal; e a arregimentação de um exército de intelectuais que preparem a opinião pública para dizer adeus às liberdades burguesas e entrar alegremente num mundo de repressão onipresente e obsediante (estendendo-se até aos últimos detalhe da vida privada e da linguagem cotidiana), apresentado como um paraíso adornado ao mesmo tempo com a abundância do capitalismo e a “justiça social” do comunismo. Nesse novo mundo, a liberdade econômica indispensável ao funcionamento do sistema é preservada na estrita medida necessária para que possa subsidiar a extinção da liberdade nos domínios político, social, moral, educacional, cultural e religioso.

Com isso, os megacapitalistas mudam a base mesma do seu poder. Já não se apóiam na riqueza enquanto tal, mas no controle do processo político-social. Controle que, libertando-os da exposição aventurosa às flutuações do mercado, faz deles um poder dinástico durável, uma neo-aristocracia capaz de atravessar incólume as variações da fortuna e a sucessão das gerações, abrigada no castelo-forte do Estado e dos organismos internacionais. Já não são megacapitalistas: são metacapitalistas – a classe que transcendeu o capitalismo e o transformou no único socialismo que algum dia existiu ou existirá: o socialismo dos grão-senhores e dos engenheiros sociais a seu serviço.

Essa nova aristocracia não nasce, como a anterior, do heroísmo militar premiado pelo povo e abençoado pela Igreja. Nasce da premeditação maquiavélica fundada no interesse próprio e, através de um clero postiço de intelectuais subsidiados, se abençoa a si mesma.

Resta saber que tipo de sociedade essa aristocracia auto-inventada poderá criar – e quanto tempo uma estrutura tão obviamente baseada na mentira poderá durar.


fonte:  https://olavodecarvalho.org/historia-de-quinze-seculos/

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Paolo Zanotto: “Vírus com reproduções rápidas podem favorecer cargas vir...

domingo, 17 de janeiro de 2021

O PLURALISMO SINGULAR DA UFPEL

Licenciados em filosofia e sociologia impedidos. Bacharel em química co...


Filosofia e Sociologia no Ensino Médio A Lei nº 9.394/96 dispõe: Art. 36. O currículo do ensino médio observará o disposto na Seção I deste Capítulo e as seguintes diretrizes: (...) § 1º Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre: (...) III - domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania. A Lei nº 11.684/08 altera o art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio. A Camâra de Educação Básica aprovou parecer e resolução que tratam da inclusão obrigatória das disciplinas de Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio: Parecer CNE/CEB nº 38/2006, aprovado em 7 de julho de 2006 - Inclusão obrigatória das disciplinas de Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio. Resolução CNE/CEB nº 4, de 16 de agosto de 2006 - Altera o artigo 10 da Resolução CNE/CEB nº 3/98, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Parecer CNE/CEB nº 22/2008, aprovado em 8 de outubro de 2008 - Consulta sobre a implementação das disciplinas Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio. Resolução CNE/CEB nº 1, de 18 de maio de 2009 - Dispõe sobre a implementação da Filosofia e da Sociologia no currículo do Ensino Médio, a partir da edição da Lei nº 11.684/2008, que alterou a Lei nº 9.394/1996, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). http://portal.mec.gov.br/pnaes/323-secretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/12768-filosofia-e-sociologia-no-ensino-medio-sp-1870990710#:~:text=A%20Lei%20nº%2011.684%2F08,nos%20curríc

PROFESSOR OLAVO DE CARVALHO FALA SOBRE IMAGINÁRIO & ARTES VISUAIS. APRES...

Resposta para Ana sobre a crise do Covid 19 e mortes em Manaus a corrupção mata. Podcast conservador sobre: política , filosofia, arte, cultura, educação, pedagogia , religião etc




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Como tirar parafuso quebrado - Dica Jogo Rápido

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