sábado, 30 de agosto de 2008

O CÉREBRO X APRENDIZAGEM


O CÉREBRO X APRENDIZAGEM

Dulce Consuelo R. Soares

Introdução

Através da História, vários pesquisadores se perguntavam como o homem aprendia e como o cérebro funcionava para aprender. Para Aristóteles, o cérebro só servia para resfriar o sangue. Os egípcios guardavam em vasos as vísceras e jogavam o cérebro fora, pois não tinha serventia. Os assírios acreditavam que o centro do pensamento estava no fígado.

Então, Hipócrates surge com a demonstração de que o cérebro se dividia em dois hemisférios e que neles estavam todas as funções biológicas e da mente. Surge, assim a Medicina Moderna.

Mais tarde, com os experimentos de Luria e outros, chegou-se ao Paradigma do Cérebro em Ação. O ponto de mutação se encontra no fato de que, antes, os dois – Homem e Cérebro – estariam dissociados e, agora, não mais: integram-se dinamicamente, constituindo o sistema funcional do ser Humano em ação para aprender, interagir e se relacionar com o meio que o cerca.

A necessidade de conhecimento sobre o sistema nervoso cresceu fantasticamente nas últimas décadas. Esta demanda levou a OMS a eleger os anos 90 como a Década do Cérebro.

Após este breve relato histórico vou me deter, na Neurologia da Aprendizagem.

A Relação entre o Cérebro e a Aprendizagem.

Segundo Johnson & Myklebust o cérebro funciona de forma semi – autônoma, ou seja, um sistema pode funcionar sozinho; pode funcionar com dois ou mais sistemas; ou pode funcionar de forma integrada ( todos os sistemas funcionando ao mesmo tempo).

Os sistemas mais presentes a nível de distúrbios neurogênicos são: auditivo, visual e tátil.

O objetivo deste artigo é traçar uma atuação psicopedagógica preventiva por parte do professor. Se o ensinante toma conhecimento deste funcionamento cerebral, pode ressignificar sua prática docente adotando uma didática que caminhe na forma sensório-motora ao funcionamento operatório formal. (Soares, 2003).

O artigo será dividido em três etapas, facilitando a explicação. Existem três formas de aprendizagem:

1)Aprendizagem Intra – Neurosensorial

2)Aprendizagem Inter- Neurosensorial

3)Aprendizagem Integrativa.

Vale ressaltar que um tipo ou forma de aprendizagem não é exclusivamente intra-neurosensorial, o que precisa ser pontuado é que se, um sistema estiver comprometido, não necessariamente irá comprometer outros. É neste sentido que uma aprendizagem pode ser estudada como intra – neurosensorial. Já a aprendizagem inter- neurosensorial é o tipo que mais nos interessa (educadores), quando se estabelece uma atuação preventiva. Estudos mostram que certa aprendizagem ocorre quando dois ou mais sistemas funcionam de forma inter – relacionada. Fazer uso da música em atividades escolares é um recurso valioso, pois há a possibilidade de trabalhar simultaneamente os sistemas auditivos, visuais e até mesmo o sistema tátil (caso a música desencadeie uma dramatização).

A proposta é dar uma aula que “facilite” o funcionamento inter desses sistemas, sem necessariamente o professor ter que saber, se a melhor forma daquele sujeito em lidar com os objetos externos é: auditiva, visual ou tátil. Montar um planejamento com esses pré- requisitos é uma forma de atuação saudável, onde Educação e Saúde possam caminhar lado a lado.

Conseqüentemente, esta atuação sob este ponto de vista, facilitará um outro tipo de aprendizagem – Integrativa.

Se o professor tiver conhecimento da modalidade de aprendizagem do seu aluno, poderá transformar- se em um facilitador do processo ensino – aprendizagem.

Exigir uma atuação padrão dos alunos é um caminho improdutivo; cada um é um, com o seu próprio tempo lógico e psicológico e cada um tem uma maneira específica de lidar com o conhecimento. Respeitar esta “veia”, este “canal” para o ato de aprender é preservar o cérebro de uma possível sobrecarga que só contribuiria para uma desintegração total da aprendizagem.

Proporcionar uma aula trabalhando com as crianças os quatro níveis de aprendizagem: Organismo – Corpo - Desejo - Inteligência ( Fernàndez, 1991) permeado pelos princípios ligados ao ato de aprender: Atividade – Criatividade – Autoridade – Liberdade (Borges, 1994) com certeza favorecerá uma atuação psicopedagógica preventiva de forma a não construir nas crianças os problemas de aprendizagem em função do desconhecimento da relação que há entre cérebro e os modos pelos quais o homem aprende.

Níveis Hierárquicos de Experiências na Aprendizagem.

O processo de aprendizagem dá-se a partir de experiências que podem ser organizadas em cinco níveis de crescentes graus de complexidade. São eles: Sensação - Percepção - Formação de Imagens - Simbolização - Conceituação. A possibilidade da vivência de cada uma destas experiências está atrelada à pré – existência do nível anterior, revelando-se, assim, seu caráter hierárquico.

Se fizermos uma análise de evolução das espécies animais, perceberemos que, à medida em que subimos na escala evolutiva, mais complexas vão se tornando as experiências dos indivíduos com o meio onde estão inseridos, sendo exclusivamente do ser humano as capacidades de simbolização e conceituação.

Assim como na filogênese, na ontogênese humana também observaremos a aquisição paulatina destas habilidades relacionada ao desenvolvimento da aprendizagem.

Sensação=> é o nível mais primitivo do comportamento, referindo-se unicamente à ativação de estruturas sensoriais. É a partir das sensações que o indivíduo pode perceber o mundo que o cerca.

Percepção=> Constitui-se na tomada de consciência relativa a sensações em progresso. A eficiência da percepção depende de que o aparato neurológico seja capaz de converter, adequadamente, as sensações em impulsos elétricos. Apesar de ser um comportamento neurologicamente superior à sensação, do ponto de vista psicológico é, ainda, extremamente rudimentar. No entanto, é baseado na percepção que o indivíduo irá formar imagens.

Formação de Imagens=> Refere-se a sensações ou informações já recebidas e percebidas. Está relacionada aos processos de memória já que corresponde a um registro de aspectos das experiências vividas, ainda que a elas não se associem palavras (aspectos não verbais)

As imagens formadas não se restringem apenas ao nível visual; são registros de percepções oriundas de quaisquer dos órgãos dos sentidos. Incluem-se, aqui, além das imagens do cotidiano, os sons sociais não verbais (ruídos de automóveis e máquinas, vozes de animais, etc), odores característicos de diversas coisas, os sabores típicos dos diferentes alimentos, texturas de objetos, assim como também a percepção social, ou seja, expressões faciais e corporais percebidas em várias situações.

Simbolização=> Habilidade descrita como exclusiva da espécie humana e que corresponde à capacidade de representar uma experiência de forma verbal ou não verbal.

As simbolizações não verbais verificam-se através de símbolos visuais ou auditivos, em manifestações artísticas, musicais, religiosas e patrióticas. Incluem-se nesta categoria as capacidades de avaliar e recordar situações, emitindo julgamentos do tipo: perto – longe – grande – pequeno – alto – baixo – cheio – vazio - depressa – devagar, etc. As simbolizações verbais estão relacionadas a palavras.

O ser humano apresenta três sistemas verbais: falado, escrito e lido.

Tanto na história da espécie como no desenvolvimento de cada indivíduo, o primeiro destes sistemas a se instalar é o falado. Uma das prováveis razões para este fato deve ser a facilidade de aquisição deste sistema, visto que relacionado à audibilização, não podendo ser “desligado” nem necessitando uma atenção direcionada, como acontece com a visualização. Além disso, a maturidade psiconeurológica aqui exigida é menor do que nos sistemas lido e escrito. Estas considerações nos levam a compreender porque a língua falada ocupa posição de destaque em nossas vidas, predominando não apenas na infância.

Algumas modificações relativas a estes sistemas verbais podem ser observadas em circunstâncias especiais, como a linguagem de sinais utilizadas pelos surdos ou o braille, código de escrita utilizado pelos cegos.

Os sistemas verbais abrangem três aspectos. A linguagem interna, linguagem receptiva e a linguagem expressiva, que serão tratados mais adiante.

A conquista da habilidade de simbolizar abre caminho para o domínio da conceituação.

Conceituação=> Complexo processo mental que envolve capacidades de abstração, classificação e categorização.

É preciso observar que conceituar e abstrair não são sinônimos. A abstração contarpõe-se à concretização, pressupondo um maior grau de distanciamento em relação a uma circunstância observável. Ainda assim, a experiência abstraída pode ser, e em algum momento certamente foi, observada. No entanto, para conceituar, também é necessário classificar e categorizar, sendo estes fatores críticos do processo já que classes e categorias, sendo estes, fatores críticos do processo já que classes e categorias não são, em si, observáveis.

“(...)o professor precisa estar ciente de que algumas crianças formam conceitos espontaneamente quando adquirem a facilidade verbal necessária. Por outro lado, muitas precisam ser ajudadas a aprender a generalizar e categorizar. Freqüentemente, essas crianças têm dificuldades com os significados múltiplos de uma palavra, com provérbios e metáforas.” ( Johnson e Myklebust, 1987).

Convém ressaltar que as permanentes aquisições, em cada um dos níveis de experiências, passam por momentos de indiferenciação – diferenciação – separação – integração, ( Borges, 1994) da mesma forma que os sucessivos níveis representam cada um destes momentos, uns em relação aos outros. Assim, para que forme uma imagem, por exemplo, um indivíduo passará por cada um dos momentos deste movimento e, ao chegar a integrá-la, poderá encontrar-se indiferenciado em relação à simbolização desta experiência.

O desenvolvimento das habilidades do indivíduo nos diversos níveis dar-se á gradativamente e estará em dependência do desenvolvimento físico, cognitivo e afetivo do sujeito. Isto fica claro se lembrarmos a colocação de Alicia Fernàndez sobre os quatro níveis envolvidos na aprendizagem: organismo – corpo – inteligência – desejo. Ao afirmar que o corpo constitui-se pelo organismo transversalizado pela inteligência e pelo desejo e que é este corpo que se lança na tarefa de aprender, está nos dizendo, em outros termos, que para vivenciarmos cada um dos níveis hierárquicos de experiência contamos com um arcabouço físico, cognitivo e afetivo que, em última instância constituem o sujeito que aprende.

Trazendo à tona a Epsitemologia Convergente, proposta por Jorge Visca, não podemos deixar de destacar, também o aspecto social da aprendizagem. O trânsito pelos níveis de experiência estará, também, em relação ao meio sócio- cultural ao qual pertence o sujeito. Dessa forma, uma criança que seja criada em um ambiente selvagem, por exemplo, deverá apresentar problemas com a simbolização e conceituação, independentemente da existência de qualquer disfunção cerebral, já que o meio onde vive não favorece a aquisição destas habilidades.

Conforme foi dito anteriormente, estes níveis de experiências mantêm entre si uma relação hierárquica. Distúrbios existentes em qualquer destes níveis irão se refletir nos níveis subseqüentes, podendo, até mesmo bloqueá-los, dependendo do grau do distúrbio. Cabe notar que o cérebro é uma estrutura com certa plasticidade, podendo adaptar determinadas regiões a exercer funções que não lhe seriam devidas, em situações normais, em conseqüência de uma demanda provocada por disfunções em outras áreas cerebrais.

Disfunções Cerebrais – Verbais e Não Verbais.

O cérebro atua como um todo interligado, é receptor, coordenador e processador de todos os estímulos do ambiente através do Sistema Nervoso. Fazendo uma análise das variáveis envolvidas no processo de aprender, o funcionamento cerebral estaria inserido na categoria orgânica. Qualquer alteração nele observada, será refletida na corporeidade do sujeito. Segundo Fernàndez, 1991 este gráfico representa os níveis de aprendizagem:

Quatro níveis de Aprendizagem

Quatro níveis de aprendizagem

A aprendizagem baseia-se em hierarquia de experiências. Dá-se em espiral dialética, com funções superpostas e interligadas.

Dessa forma, os distúrbios de aprendizagem conseqüentes de disfunções cerebrais também terão uma esfera de atuação relacionada ao nível hierárquico onde o distúrbio se observa.

No esquema acima, podemos observar como um distúrbio no nível da formação de imagens afetará os níveis da simbolização e da conceituação, e não influirá nos níveis mais primitivos ( sensação e percepção).

Nos deteremos, aqui, na discussão dos processos de aquisição das linguagens interna, receptiva e expressiva, pontuando alguns dos distúrbios que podem ocorrer em relação a cada uma delas.

Linguagem Interna

É o primeiro aspecto a ser adquirido, correspondendo à internalização do vivenciado com a língua materna na construção de sua própria linguagem.

A criança nasce num mundo simbólico sem saber simbolizar, portanto é a partir da organização de sua linguagem que se faz a regulação deste processo.

Vygotsky nos diz que “a palavra sem significado não é palavra”; para que tenha significado, precisa representar a experiência vivenciada, isto é, a língua com a qual se pensa.

A linguagem interna será sempre estruturada na língua nativa, mesmo que o sujeito utilize mais de um código de linguagem. Com exemplo disto, temos que no bilingüismo terá sua organização de pensamento vinculada à língua nativa; o surdo à linguagem dos sinais, etc.

Como a linguagem interna pode estar alterada?

  • Dificuldades da capacidade de adquirir conceitos – não categoriza, nem classifica, nem conceitua. ( afeta a conceituação)
  • A criança lê bem mas não consegue compreender o significado. ( afeta a simbolização)
  • Dificuldade para adquirir o significado; lê, ouve, vê e não decodifica a experiência vivida ( verbal ou não – verbal).

Exemplos:

  • Afasia Global ou central – dificuldade de organização da linguagem interna. (afeta a percepção)
  • Dislexia simbólica – dificuldades de decodificar símbolos (afeta simbolização).

Nos distúrbios da Linguagem interna, simbolização e formação de imagens deverão estar alteradas, ficando o indivíduo apenas a nível de sensação e percepção.

Por isso é considerada um dos distúrbios mais complexos, apesar de não haver, necessariamente, comprometimento mental.

Linguagem Receptiva

Segunda faceta da linguagem a ser adquirida, é responsável pela capacidade para compreender a palavra falada composta pelo feedback auditivo e visual. Existe uma relação intrínseca e recíproca entre a recepção e expressão. No que diz respeito à palavra falada, a compreensão antecede a expressão; é preciso compreender antes que a palavra possa ser usada com significado na comunicação. Da mesma forma, em termos de sistema verbal visual, a leitura antecede a escrita.

Como as capacidades receptivas são abrangentes, elas podem ser afetadas de várias formas:

  • A criança surda e cega que não recebe estímulos a nível auditivo e visual (afeta a sensação)
  • A criança percebe erroneamente o que ouve e vê em decorrência de: Disacusia – dificuldade da capacidade da audição via área – periférica (não afeta nervo auditivo)

Má discriminação auditiva e visual, não percebendo as palavras que soam de modo parecido ou têm formas semelhantes. Ex: fonemas com o mesmo ponto articulatório( /p/ e /b/ , /q/ e /g/, /f/ e /v/); fonemas com formas semelhantes ( /b/ e /d/, /q/ e /g/).

A criança não compreende ordens complexas, ficando paralisada sem saber o que fazer. Ex: “Vá lá em cima, tire seu casaco, pendure no cabide, pegue seu livro e traga para mim.”

A criança com memória em seqüência alterada no mecanismo de repetição de palavras, números e sentenças;

E com memória momentânea prejudicada. (formação de imagens).

A percepção, como processo receptivo, não subentende somente a discriminação, a capacidade de distinguir entre os sons ou estímulos visuais, mas também a capacidade de organizar a sensação num todo significativo, a capacidade de estruturar a informação que está sendo recebida. O processo global de recepção é uma faceta complexa de experiências, exigindo atenção, organização, discriminação e seleção. Neste sentido, a percepção é o que está mais alterado.

Linguagem Expressiva.

Quando a criança adquire unidades significativas de experiências e quando a compreensão encontra-se estabelecida, ela está pronta para comunicar-se com outras pessoas utilizando sua linguagem expressiva. A expressão pressupõe a recepção; portanto se a criança não conseguir discriminar as palavras que tem sons ou aparências semelhantes, sua linguagem expressiva está deficiente. Por outro lado, conforme vimos, a recepção pode estar intacta sendo deficiente apenas a expressão; já que os sistemas de expressão e recepção do cérebro são interdependentes de um modo semi- autônomo. No entanto, é raro uma criança manifestar uma condição pura.

Como pode estar alterada?

  • Apraxias – desconexão de sistemas cerebrais descoordenando a ação da criança tanto a nível verbal como não – verbal.
  • Afasia expressiva – Área de Broca lesada – área da palavra falada (afeta a simbolização)
  • Disfasia – devido a lesões no sistema nervoso central e / ou periférico; a paralisia em que os músculos têm sua ação inervadora dificultada, afetando a produção articulatória da fala.
  • taxia – devido a lesões somente no sistema nervoso central, sem paralisia, os músculos estão inervados, mas a atividade motora não pode ser coordenada normalmente.

Determinadas áreas do cérebro podem ser mais responsáveis que outras, assim como os níveis hierárquicos em questão, mas parece que qualquer disfunção cerebral que altere a aprendizagem pode destruir a capacidade de conceituar que é a realização máxima do homem, englobando todas as facetas de sua aprendizagem e experiência; é vulnerável correlacionando com as variáveis do ato de aprender a questão afetiva, cognitiva, orgânica, inconsciente, consciente e transcendental. É importante sinalizar como são interdependentes, e intrinsecamente interligadas, já que o ser humano, paradoxalmente é o que nos faz sempre estar em busca, de e sempre evoluindo, para além de nós mesmos.

Afinal, a ciência sabe muito sobre a infância, a vida adulta e sobre a velhice. Só não sabe, felizmente, ensinar a cada um a melhor receita para construir o Ser aprendente, atuante e autônomo na construção do ato de aprender e de seu conhecimento, pois é na relação do não saber x saber que se dá a beleza da vida humana.

Referências Bibliográficas:

DAMÁSIO, A R. O Erro de Descartes. São Paulo. Cia das Letras, 1996.

FERNÀNDEZ, A . A Inteligência Aprisionada – abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família. Porto Alegre. Artes Médicas, 1991.

JOHNSON, D J e MYKLEBUST, H. R. O cérebro e a aprendizagem. São Paulo. Pioneira, 1987.

VISCA, J. Clínica Psicopedagógica – Epistemologia Convergente. Porto Alegre. Artes Médicas, 1987.

SOARES, D. Os Vínculos como passaporte da Aprendizagem: Um encontro D’ EUS.. Rio de Janeiro. Caravansarai, 2003.

BORGES, A L. “ O Movimento Cognitivo – Afetivo – Social na Construção do Ser” In Sargo, Claudete. A Práxis Psicopedagógica Brasileira. São Paulo. ABPp, 1994.

VYGOTSKY, L. A Formação Social da Mente; [organizadores Michael Cole...[et all] ; tradução José Cipolla Neto, Luís Silveira Menna Barreto, Solange Castro Afeche – 5 edição] São Paulo: Martins Fontes, 1994.

Publicado em 16/03/2005 13:31:00



Dulce Consuelo R. Soares - Psicopedagoga Clínica/ Institucional/ Pedagoga/ Professora de Arte Educação da Unesa no RJ/ Professora de Filosofia da Esil Sociedade Educacional e Autora do Livro infantil: A Caixinha de Insetos de Pedro: uma leitura psicopedagógica da escola do aluno e do professor

Fonte: http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=656

Obrigado por sua visita, volte sempre.

pegue a sua no TemplatesdaLua.com

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR.


EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: DA TEORIA À RE-SIGNIFICAÇÃO DA PRÁTICA

Erica dos Santos Gonzales e José Carlos dos Santos

RESUMO

O presente estudo inicia-se com a apresentação das atuais abordagens da Educação Física esclarecendo suas principais idéias e sugerindo caminhos a fim de proporcionar um suporte teórico, além de informações a respeito de sua aplicação na prática. Em seguida expomos os conteúdos, seguindo vários autores de diferentes abordagens, mostrando sua importância em serem desenvolvidos nas aulas de Educação Física. A pesquisa de campo tem por objetivo observar e relatar uma seqüência de três aulas, verificando os procedimentos metodológicos do professor e a participação dos alunos, sem nenhuma intervenção crítica e respeitando a seqüência dos fatos. Na parte final fazemos considerações a respeito do plano de trabalho, relacionando-o com os objetivos e conteúdos nas aulas observadas, propondo uma reestruturação segundo as referências teóricas citadas ao longo deste trabalho.

ABSTRACT
This paper begins with the explanation about sports practise. It clears the main ideas and suggest how to have theoretical standarts. Besides it, contains informations about coaching practices. There is a camp research which analised three classes. The methodological procudings of the teacher and the students answers to activites are discussed on this paper. In conclusion, there are considerations about the plan of the classes and their subjects and objectives. Finaly it purpose, a reformulation of the classes according the theoretical references of the bibliography.

Palavras-chave: educação física, metodologias, conteúdos.

O que é Educação Física?
De acordo com Darido (1999), em oposição aos profissionais com uma metodologia tecnicista, esportista e biologista, surgem novas correntes e pensadores na Educação Física escolar, preocupados com a mudança do atual cenário educacional especialmente, no final da década de 70, inspirados no novo momento histórico-social pelo qual passou o país, na Educação de uma maneira geral e na Educação Física especificamente.
Atualmente existem na área da Educação Física várias concepções, todas elas tendo em comum a tentativa de romper com o modelo tecnicista, frutos de uma etapa recentes da Educação Física, são elas: abordagem desenvolvimentista, construtivista-interacionista, crítico superadora e sistêmica.
Temos a seguir um breve resumo dessas abordagens na tentativa de melhor conceituar e qualificar a Educação Física escolar.

Abordagem Desenvolvimentista
Para Darido (1999), autores como Tani et all (1988), trabalham com uma abordagem que teve a preocupação de contextualizar o desenvolvimento das crianças entre 4 a 14 anos, sobre os aspectos biológicos da atividade motora, além da progressão da aprendizagem de atividades motoras básicas e específicas, desenvolvimento motor, desenvolvimento cognitivo e afetivo-social.
De acordo com Darido (1999), o movimento do aluno e sua expressão corporal são os principais objetivos para que esse aluno possa se adaptar as dificuldades proporcionando a criança à criação de um vasto repertório motor podendo se adaptar ao meio ambiente que ela esteja inserida.
A experiência motora na infância tem que ser diversificada de movimentos respeitando os limites e construindo relações com o meio. Havendo prazer em realizá-las, tornam-se o principal objetivo da Educação Física nesta abordagem, que é oferecer um grande repertório de movimentos adequados ao seu nível de crescimento e desenvolvimento, ampliando seu acervo-motor, cognitivo e afetivo-social, na aula e também na sua vida.
Para Darido (1999) os movimentos são classificados de acordo com o desenvolvimento motor e a faixa etária das crianças, fundamentada no modelo de taxionomia do desenvolvimento motor, classificadas da seguinte forma:

• Movimentos reflexos: vida intra-uterina a 4 meses após o nascimento
• Movimentos rudimentares: de 1 a 2 anos
• Movimentos fundamentais: de 2 a 7 anos
• Combinação de movimentos fundamentais: 7 a 12 anos
• Movimentos determinados culturalmente.

Com base neste modelo de atividades motoras, que parte da idéia de que as crianças sofrem mudanças motoras observáveis visualmente, esta abordagem orienta uma seqüência para a aquisição de habilidades desportivas, sendo elas de acordo com a idade e o nível de desenvolvimento dos alunos em seu estágio, além de oferecer um suporte teórico para os professores desenvolverem aulas que proporcionem o sucesso das crianças nas aulas de Educação Física com atividades coerentes as fases de desenvolvimento dos alunos.
Este mesmo autor divide os padrões de movimentos em: locomoção, manutenção e equilíbrio.

• Locomoção: andar, saltar, correr e saltitar.
• Manipulação: arremesso, rebater, lançar, receber e chutar.
• Equilíbrio: Girar, flexionar e posições invertidas.

Nesta proposta as habilidades motoras têm um grande enfoque, servindo de base para a solução de problemas de seu cotidiano e até mesmo para se adaptar a novas situações ao ambiente que ele esteja inserido.
Segundo Darido (1999), fica limitado o contexto sócio cultural, tendo somente como objetivo as habilidades motoras, deixando de lado a questão da influência do meio social e sua contribuição para a construção da sua cultura e de outras pessoas.

Abordagem Construtivista-interacionista
Para Darido (1999), no Brasil e mais especificamente no Estado de São Paulo, a proposta construtivista-interacionista vem ganhando espaço. O professor João Batista Freire, com o seu livro “Educação de corpo inteiro” (1997), teve papel determinante na divulgação das idéias construtivistas na Educação Física.
De acordo com Darido (1999), esta proposta é denominada interacionista-construtivista e é uma das opções metodológicas, oposta às linhas anteriores da Educação Física na escola, mais especificamente a proposta mecanicista, caracterizada pela busca do desempenho máximo, por meio de seleção dos melhores excluindo e não respeitando as diferenças individuais.
Os alunos possuem além de diferenças individuais, histórias de vidas e toda uma bagagem cultural dos diferentes grupos que eles estejam inseridos, contribuindo para a construção de novos conhecimentos junto com o professor na aula.
Segundo Freire (1997), em relação ao papel pedagógico, a Educação Física deve atuar como qualquer outra disciplina da escola, e não desintegrada dela. As habilidades motoras precisam ser desenvolvidas, sem dúvida, mas deve estar claro quais serão as conseqüências do ponto de vista cognitivo, social e afetivo.
As habilidades motoras podem e devem ser desenvolvidas num contexto de jogos e brincadeiras, respeitando a fase de desenvolvimento da criança e de seu conhecimento e não seguindo um roteiro de situações motoras pré-estabelecidas por alguns autores.
Freire (1989), mostra a importância do conhecimento que a criança possui, para ele a criança é um especialista de brinquedo. Com isso devemos fazer o resgate da cultura de jogos e brincadeiras e outras atividades que compõe o universo cultural dos alunos.
Desta forma, o aluno irá construir seu conhecimento, junto com os seus colegas, a partir da interação como o meio social, e através das resoluções de problemas, dentro do jogo, pois enquanto joga ou brinca as crianças aprendem e esse aprendizado deve ocorrer num ambiente lúdico e prazeroso.
Segundo Vygotsky (1994), as crianças aprendem na brincadeira e de uma forma mais significativa com ajuda de outros colegas. Este aprendizado é explicado em seus estudos como a zona de desenvolvimento proximal, ou seja, a distância entre o nível de desenvolvimento real (que ela consegue fazer sozinha) e o potencial (ajuda de um colega ou adulto).
Assim, o professor neste processo ensino-aprendizagem, não dará as respostas para seus alunos, mas terá um papel importante neste contexto que é mediar os conhecimentos que seus alunos possuem na medida em que vão solucionando os seus problemas e saindo das aulas mais inteligentes.
Recorremos as palavras da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas para compreender melhor esta abordagem construtivista, baseada principalmente nos trabalhos de Jean Piaget:
No construtivismo, a interação é a construção do conhecimento a partir da interação do sujeito com o mundo, numa relação que extrapola o simples exercício de ensinar e aprender (...). Conhecer é sempre uma ação que implica em esquemas de assimilação e acomodação num processo de constante reorganização. (DARIDO, 1999, p.21).

Freire (1989, p.84), contribui com a seguinte definição:

A Educação Física não é apenas educação do ou pelo movimento: é educação de corpo inteiro, entendendo-se, por isso, um corpo em relação a outros corpos e objetos, no espaço. Educar corporalmente uma pessoa não significa provê-la de movimentos qualitativamente melhores, apenas significa também educá-la para não se movimentar, sendo necessário para isso promover-se tensões e relaxamentos, fazer e não fazer.

Desta forma, a Educação Física não é mais vista de forma fragmentada, mas de uma forma global, permitindo que os alunos compreendam suas ações, discutam e também discordem, promovendo uma nova re-significação dos conhecimentos e ampliando sua cultura lúdica e corporal de uma forma significativa.

Abordagem Crítico-superadora
De acordo com Darido (1999), a abordagem crítico-superadora é uma das propostas de maior significância no país, que também se contrapõe ao modelo mecanicista, apresentando um discurso de justiça social e tendo como apoio o marxismo e neo-marxismo. Esta pedagogia levanta questões de poder, interesse, esforço e contestação.
Esta corrente nos faz perceber a importância de se fazer um resgate histórico e contextualizar em cada época os fatos desta cultura corporal, não somente fazendo a prática por fazer, negando os fatos de um sistema capitalista que nos sufoca todos os dias.
Para o Coletivo de autores (1992), a educação deve desafiar os alunos a uma reflexão sobre as mudanças que o homem tem produzido e modificado no decorrer de sua história e exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, ginástica e esportes, que podem ser identificados como formas de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas.
Desta forma, o homem dentro de cada contexto histórico foi construindo sua corporeidade, de forma adaptada a sua sobrevivência e assim transformando a natureza por meio do seu trabalho, conseqüentemente construindo uma cultura e se auto-construindo.
Para Darido (1999), a compreensão e a reflexão dos alunos sobre os acontecimentos históricos que originou as mudanças em cada fase da história e que há todo momento vem mudando, torna-se um dos pontos fundamentais para que esta proposta tenha sua significância e sucesso em sua prática; assim, o aluno sai do âmbito da reprodução de uma cultura dominante, onde ele apenas reproduz e acaba se alienando para tornar-se um sujeito histórico capaz de intervir e construir sua própria história, aceitando suas origens e importância para a mudança e ascensão de sua classe.
Para o Coletivo de autores (1992, in DARIDO 1999), esta reflexão pedagógica é compreendida como sendo um projeto político-pedagógico. Político porque encaminha propostas de intervenção em determinada direção e pedagógico no sentido de que possibilita uma reflexão sobre a ação dos homens na realidade, explicitando suas determinações.
Para a abordagem crítico-superadora, é preciso que as pessoas tomem consciência de sua classe e que lutem de forma organizada contra as estruturas dominantes, possibilitando valores tão distantes de nossa realidade como a solidariedade, substituindo individualismo, cooperação, confrontando a disputa, distribuição em confronto com apropriação, sobretudo enfatizando a liberdade de expressão dos movimentos a emancipação, negando a dominação e submissão do homem pelo homem (COLETIVO DE AUTORES, 1992 in DARIDO, 1999).

Abordagem Sistêmica
Segundo Darido (1999), a abordagem sistêmica tem grande influência de outras áreas, como a da sociologia, filosofia e com uma pequena contribuição da psicologia. Esta proposta tem como referencial o autor Mauro Betti, que publicou uma obra com o título de Educação Física e sociedade (1991).
Para Betti (1992), é preciso que haja uma especificidade da Educação Física, não uma educação do movimento ou pelo movimento, mas uma discussão destes assuntos de uma forma mais global.
Nesta perspectiva não seria apenas uma educação buscando uma melhora ou aquisição de mais habilidades motoras ou se buscar algum aprimoramento por meio do movimento ou, por exemplo, na lógica matemática e sim uma discussão mais ampla.
A cultura física seria, portanto, um conjunto de valores relacionados ao corpo, envoltos em cultura física pessoas, comunidade cultural e correlatos materiais dessa cultura.
Segundo Betti (1992 in DARIDO, 1999), a educação física é como um conjunto de sistemas e dentro dele apresenta sub-divisões, como uma hierarquia; o autor cita um exemplo de sistema: a secretária da educação que atua no gerenciamento dos níveis mais abaixo como a escola, professores e outros.
Para Betti (1992), o papel da Educação Física é de integrar e introduzir os alunos de 1º e 2º graus no mundo da cultura física, formando o cidadão que vai usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da atividade física (o jogo, o esporte, a dança, a ginástica).
Segundo Betti (1992), é instrumentalizando o aluno para reconhecer e analisar as teorias de diferentes modalidades ou simplesmente distinguir o lançamento do disco do lançamento do martelo é formando o aluno para apreciar a beleza estética do movimento numa coreografia de ginástica artística ou numa bela jogada de gol no futebol e fornecendo ao aluno as informações políticas, históricas e sociais para que ele possa analisar criticamente os boicotes, o chauvinismo, a violência nos campos e o doping.
O aluno sai do âmbito de mero reprodutor e alienado para um participante, observador e crítico com uma visão de todo o sistema que envolve o esporte, o jogo, etc; possibilitando a ele um nível de discussão e interpretação dos problemas, e tendo suas próprias soluções e opiniões a respeito dos diversos assuntos.
Para Betti (1991), não basta o aluno só participar das aulas práticas, é preciso que ele compreenda o porquê de estar participando, quais são os benefícios de, por exemplo, quando correr qual a contribuição para sua saúde e uma melhor qualidade de vida; questões como horários e todas as orientações para a prática desta atividade física.
A abordagem sistêmica exige que os alunos vão para as aulas não somente para uma prática ou lazer, mas que aprendam com estas atividades e as compreendam, relacionando sua importância e benefícios para utilizarem no seu dia a dia.
Para Darido (1999), os conteúdos são tratados nesta abordagem de uma forma a oportunizar aos alunos a explorarem suas vivências e experiências dentro das manifestações e da cultura corporal como o jogo, dança, esportes, lutas e ginásticas não deixando de lado as questões cognitivas e afetivas de suas práticas.
A bagagem cultural dos alunos terá grande importância para que esses possam trocar informações e construírem atividades que possam despertar o interesse, prazer e a participação de todos nas atividades.
Betti (1991), apresenta alguns princípios como o de não exclusão que permite que todos tenham a oportunidade de participar nas aulas e não somente os mais habilidosos; outro principio é a diversidade dos conteúdos promovendo uma amplitude dos conteúdos diferente das atuais aulas que trabalham apenas com algumas modalidades esportivas.
O professor neste processo tem o papel de proporcionar jogos adaptados que permita esta inclusão de todos e não somente de alguns mais aptos e, além disso, possuir uma diversificação de seus conteúdos com planejamentos coerentes para cada fase de desenvolvimento, assim como objetivos e procedimentos metodológicos adequados.

Quais são os conteúdos da Educação Física?
Para o Coletivo de autores (1992), na perspectiva da reflexão sobre a cultura corporal, a dinâmica curricular, no âmbito da Educação Física, tem características bem diferenciadas das tendências anteriores. Busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos e o esporte.
É preciso que o aluno reflita sobre a historicidade, e toda esta produção humana decorrentes das adaptações que o homem teve que superar para sobreviver, é temporária e passíveis de mudanças, com o aluno tendo total liberdade para contribuir no desenvolvimento de novas atividades dentro dos conteúdos da Educação Física.
Segundo o Coletivo de autores (1992), o conteúdo do ensino, obviamente, é configurado pelas atividades corporais institucionalizadas. No entanto, essa visão de historicidade tem um objetivo: a compreensão de que a produção humana é histórica, inesgotável e provisória. Essa compreensão deve instigar o aluno a assumir a postura de produto de outras atividades corporais que, no decorrer da história, poderão ser institucionalizadas.

Jogo e Brincadeira
Todos os dias, quando saímos de casa, encontramos crianças brincando em diferentes locais, ruas, campinhos, terrenos baldios, morros, etc, a brincadeira é o mundo das crianças e não podemos deixar esta riqueza ser deixada de lado, temos que entender o mundo com os olhos das crianças.
Segundo Kishimoto (1997), a brincadeira ou jogo é a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do jogo, ao mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que é o lúdico em ação. Desta forma, brinquedo e brincadeira relacionam-se diretamente com a criança e não se confundem com o jogo. A criança e o brinquedo se relacionam em seu momento sublime, no caso do jogo é preciso que haja algumas considerações, “regras”, impostas pelas próprias crianças para que ela seja absorvida pelo mundo do jogo.
Segundo Freire (1997), entre as múltiplas funções cumpridas pelo jogo, destaque-se uma muito especial. Diante de uma situação nova, para adaptar-se o sujeito exercita aquilo que já aprendeu. Na prática, todavia, não é possível separar adaptação de jogo, pois enquanto brinca a criança aprende incessantemente.
Nesta mesma linha de pensamento deste autor, a criança em seu aprendizado repete muitas vezes a mesma ação, esta etapa se chama de assimilação, após esta etapa é preciso que o professor proporcione situações desafiantes, permitindo que as crianças resolvam problemas e estas respostas são o que chamamos de acomodação aumentando suas fichas ou esquemas motores, cognitivos, afetivos e sociais.
Segundo Scaglia (1999), uma criança rica em seu aspecto motor pode vir a se adaptar mais facilmente a prática de muitas atividades esportivas. Durante todo esse processo, deve-se estar atento para as fases de desenvolvimento e crescimento das crianças, não as expondo a esforços acima de suas potencialidades físicas e psíquicas e não criando recordistas infantis.
Os educadores também precisam preocupar-se em promover o sucesso das crianças nas suas aulas, de uma forma adaptada através de jogos e brincadeiras permitindo a elas descobertas e criações dentro das atividades propostas.
Para Freire (1997), no que se refere mais especificamente a este nosso trabalho, os jogos simbólicos e aqueles com regras compreendem os de nossa maior preocupação, por se constituírem nas formas mais avançadas de jogo, as mais tipicamente humanas e as que mais acompanham as crianças desde a pré-escola.
As crianças no final da pré-escola já começam a ter seus primeiros contatos na questão da socialização com os outros coleguinhas saindo de seu mundo egocêntrico, para brincar com o outro, esta fase é importantíssima para o desenvolvimento das crianças na questão das trocas de experiências e na construção de seu conhecimento.
Para Vygotsky (1994), as diferenças de idade e desenvolvimento podem ser explicados pelo que chamamos de zona de desenvolvimento proximal, que é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais experientes.
Desta forma alunos mais experientes com toda sua bagagem cultural nos diferentes contextos sociais, contribuem para a construção e a re-significação dos conhecimentos que os alunos com uma menor experiência apresentam, dando novos caminhos para as soluções dos problemas.
Freire nos alerta quanto ao valor do jogo na escola:
Portanto, não esperemos que a escola, em sua estrutura atual, contemple com boa vontade a idéia de acolher o jogo, ou como conteúdo de ensino, ou como recurso pedagógico educacional. Talvez não haja uma consciência clara por parte da escola quanto ao caráter prático do jogo, mas, certamente há uma intuição, pelo menos, baseada na observação pura e simples de crianças ou adolescentes brincando, quanto aos risos implicados no ato de jogar. (Freire, 2002, p.77).
A cultura lúdica das crianças, apesar de tantos obstáculos como os avanços tecnológicos (videogames, computadores, brinquedos industrializados, etc) e problemas sociais (confinamento, violência, drogas, etc), ainda continua viva, porém vem ganhando novas formas e re-significações, além de também vir desaparecendo.
Um dos objetivos de nossa área é fazer este resgate dos jogos, brinquedos e brincadeiras permitindo que os alunos explorem, criem, mudem e re-signifiquem este conhecimento trazendo alegria e prazer para os alunos. É importante que o professor tenha compreensão do equilíbrio do conhecimento e o prazer das crianças nas aulas não sendo somente um trabalho imposto.
Para Kishimoto (1994), o jogo educativo apresenta duas funções, sendo elas lúdica (diversão, prazer) e educativa (ensino), sendo que o equilíbrio entre elas é o objetivo do jogo educativo.
O jogo sendo utilizado de forma coerente pode se tornar uma ferramenta eficaz para o professor na construção do conhecimento dos seus alunos, desde que ele coloque situações desafiantes (problemas) para seus alunos resolverem e que conversem com eles sobre as dificuldades e possíveis soluções e mudanças.
Para Freire (2002), o jogo tem a propriedade de trazer as experiências do mundo exterior para o espírito humano, de maneira que jogando com elas, a cultura possa ser criada, revista, corrigida e ampliada, garantindo o ambiente de nossa existência.
Partindo deste pressuposto as crianças constroem sua cultura corporal contribuindo para que estas crianças construam sua autonomia dentro de cada contexto, sendo o jogo um meio no qual permite estas relações.
Para o Coletivo de autores (1992), quando a criança joga, ela opera com o significado das suas ações, o que a faz desenvolver sua vontade e ao mesmo tempo tornar-se consciente das suas escolhas e decisões. Por isso, o jogo apresenta-se como elemento básico para a mudança das necessidades e da consciência.
A compreensão dos jogos pelas crianças torna-se fundamental, sendo significativo e interessante, diferente de atividades com regras muito complexas ou desconhecidas por elas, que deixam a aula sem motivação para a criança.
Segundo Kishimoto (1994), o jogo por ser livre de pressões e avaliações, cria um clima adequado para a investigação e a busca de soluções. O benefício do jogo está nessa possibilidade de estimular a exploração em busca de respostas evitando o constrangimento quando se erra.
Segundo Schwarts (1998), a criança leva muito a sério sua brincadeira, no sentido de que os trabalhos de reflexão e de criação são elementos constantes no ato de brincar.
Para os olhares dos adultos as brincadeiras das crianças parecem uma grande desorganização, mas para elas tudo está acontecendo numa grande harmonia sendo que cada uma tem seu papel e função, sendo determinado pela cultura lúdica de cada grupo.

Esportes
Para Kunz (2001), a concepção técnico-esportiva, é sem duvida a concepção hegemônica atualmente no contexto escolar. Esta busca contribui com o sistema esportivo num sentido mais geral, ou seja na descoberta e no fomento de talento esportivo através da introdução e da adaptação de todos a cultura esportiva.
O esporte rendimento é reproduzido nas aulas de Educação Física sem respeitar a bagagem cultural dos alunos e excluindo os que não apresentam as técnicas necessárias para participar em determinada modalidade, a história nos mostra como este fenômeno cultural foi utilizado pelo governo como forma de alienação da população.
Segundo Tubino (1992), o principal equívoco histórico do entendimento do esporte-educação é a sua percepção como um ramo do esporte-performance, ou de rendimento. Nesta percepção equivocada, as competições escolares, que deveriam ter um sentido educativo, ao invés disso, simplesmente reproduzem as competições de alto nível, com todas as suas características, inclusive com seus vícios, deformando qualquer conceito de educação.
Não podemos negar a competição em nossas aulas, porém com mudanças em sua estrutura, possibilitando que todos participem, tenham premiações para todos, as regras sejam adaptadas, pontuações, inúmeros jogos, jogar com o colega e não contra, a questão do fair play (respeito às regras, colegas, árbitro e professor) e o principal que os alunos joguem e aprendam com essa competição.
Para o Coletivo de autores (1992), o esporte como prática social que institucionaliza temas lúdicos da cultura corporal, se projeta numa dimensão complexa de fenômeno que envolve códigos, sentidos e significados da sociedade que o cria e o pratica.
Por isso deve ser analisado nos seus variados aspectos, para determinar a forma em que deve ser abordado pedagogicamente no sentido de esporte da escola e não como o esporte na escola.
O esporte na escola, não da margem para as discussões, idéias, contribuições ou mudanças, seguem um determinismo, com o professor ditando todas as regras, ou seja, transferem as regras institucionalizadas para suas aulas. No esporte da escola os alunos contribuem para as mudanças, criações, idéias e adaptações destas atividades em suas regras, permitindo que mais alunos participem e contribuam para novas re-significações de jogos.
É preciso também que o professor possa fazer discussões a respeito das competições que ocorrem a todo o momento no jogo, porém temos que ensinar para os alunos que a vitória é um meio e não um fim, que podemos ser vencedores mesmo com um número menor de pontos, pois o importante é a participação, e o adversário não deve ser visto mais como um inimigo e sim colegas que irão colaborar para que o jogo ocorra, pois sem eles não aconteceria.
Segundo o Coletivo de autores (1992), na escola é preciso resgatar os valores que privilegiam o coletivo sobre o individual, defendem o compromisso da solidariedade e respeito humano, a compreensão de que o jogo se faz a dois e de que é diferente jogar com o companheiro e jogar contra o adversário.
Com esta consciência os alunos poderão dar um novo sentido a seus jogos, não buscando o resultado, mas algo intrínseco do jogo, a emoção a auto-superação, a liberdade e o prazer em participar das atividades.
Segundo Piccolo (1999), ensinar a praticar esporte é preparar o aluno para executar determinadas habilidades por meio da descoberta do prazer de se exercitar. É conscientizá-lo de suas capacidades e limitações. É mostrar diferentes maneiras de aprender um movimento. A ludicidade da proposta pode ser o caminho dessa conscientização.
A iniciação dos esportes deve ser bem orientada pelos professores sempre respeitando as fazes de desenvolvimento das crianças de forma adequada e coerente com jogos adaptados permitindo que todos joguem e se descubram na grande diversidade de atividades, especializando-se no futuro em uma ou várias modalidades, não somente em uma delas.
Para Escobar (1993), para ensinar o esporte não podemos abrir mão das ciências físicas e biológicas, das ciências sociais ou da cultura. Isso porque ensinar esportes enquanto conteúdo escolar implica considerar desde os seus fundamentos básicos, até os seus métodos de treinamento; o seu jogar propriamente dito, até o seu enraizamento social e histórico, passando é claro pela sua significação cultural enquanto fenômeno de massas em nossos dias.
Saber o contexto que se originou o esporte, os fatos da sociedade na época são pontos para se entender as mudanças desta cultura corporal, possibilitando que os alunos construam uma nova cultura com base nestas questões, com uma visão crítica agindo como criadores de sua história e não meros espectadores. O esporte pode ser utilizado de várias formas para alienar e também como um conhecimento com propósitos pedagógicos.
O desporto é pedagógico e por conseqüência educativo quando:
Proporcionar obstáculos, exigências, desafios a serem experimentados, observando-se regras e lidando corretamente com os outros;
Cada um rende mais, esforçando-se muito, sem nunca sentir isso como uma obrigação imposta exteriormente;
Socializa crianças e jovens num modelo de pensamento e vida;
Ensina que o sucesso não é um objetivo, mas apenas um meio que visa além. (SCAGLIA, 1999, p.59).

Dança
O Coletivo de autores (1992), considera a dança uma expressão representativa de diversos aspectos da vida do homem. Pode ser considerada como linguagem social que permite a transmissão de sentimentos, emoções da afetividade vivida nas esferas da religiosidade, do trabalho, dos costumes, hábitos, da saúde, da guerra etc.
A criança, através da dança, pode expressar ações que contemplem seus repertórios de movimentos, sendo eles em ocasiões felizes, tristes ou agitados expondo toda sua criatividade nos diferentes ritmos, sons, e nos diferentes contextos culturais ganhando formas, sentidos e novos significados.
Segundo o Coletivo de autores (1992), a capacidade da expressão corporal desenvolve-se num contínuo de experiências que se iniciam na interpretação espontânea ou livre, evoluindo para a interpretação de temas da dança formalizada, onde conscientemente o corpo é o suporte da comunicação. A escola também pode oferecer outras formas de prática da expressão corporal, paralelamente à dança, como, por exemplo, a mímica ou pantomima, contribuindo para o desenvolvimento da expressão comunicativa nos alunos.

Lutas
Para o Coletivo de autores (1992), a capoeira encerra em seus movimentos a luta de emancipação do negro no Brasil escravocrata. Em seu conjunto de gestos, a capoeira expressa de forma explícita, a “voz” do oprimido na sua relação com o opressor.
Entendendo o contexto histórico da época fica fácil entender como uma revolta virou uma luta para se defender dos opressores e que hoje vem ganhando ares de esporte, descaracterizando completamente esta manifestação cultural que vem perdendo suas raízes e tradições.
Segundo o Coletivo de autores (1992), a Educação Física Brasileira precisa, resgatar a capoeira enquanto manifestação cultural, ou seja, trabalhar com a sua historicidade, não desencarná-la do movimento cultural e político que a gerou. Esse alerta vale nos meios da Educação Física, inclusive para o judô que foi, ente nós, totalmente despojado de seus significados culturais, recebendo um tratamento exclusivamente técnico.

Ginástica
Para o Coletivo de autores (1992), pode se entender a ginástica como forma particular de exercitação onde, com ou sem uso de aparelhos, abre-se a possibilidade de atividades que provocam valiosas experiências corporais, enriquecedoras da cultura corporal das crianças, em particular, e do homem, em geral.
Em todos os momentos se prestarmos atenção numa criança ela esta rolando, dando cambalhotas, estrelas, saltos, paradas de mão e muito mais, basta os professores saberem adequar um ambiente propício para as atividades sem esquecer de se respeitar ás fases de desenvolvimento das crianças e seus conhecimentos, ganhando novas formas de explorar seu corpo e seus movimentos.
Para Velardi (1999), ao se pensar na elaboração de um programa de Educação Física infantil que possa atender as características especificas da idade, deve-se levar em consideração as expectativas que as crianças trazem e as potencialidades que apresentam respeitando suas limitações.
Estruturar um programa “adequado” ao desenvolvimento do aluno requer, portanto um certo cuidado na determinação dos objetos, pois eles devem estar centrados nas necessidades básicas da criança.
Para o Coletivo de autores (1992), sua prática é necessária na medida em que a tradição histórica do mundo ginástico é uma oferta de ações com significado cultural para os praticantes, onde as novas formas de exercitação em confronto com as tradicionais possibilitam uma prática corporal que permite aos alunos darem sentido próprio as suas exercitações ginásticas.
Os alunos não irá precisar saber fazer movimentos técnicos referentes há um aparelho ou saída parecida, as crianças terão toda liberdade de criarem seus próprios movimentos, meninos e meninas juntos construindo movimentos juntos ou separados, proporcionando uma aprendizagem mais alegre e prazerosa.
Segundo Velardi (1999), as estratégias utilizadas visavam a criatividade, possibilitando as crianças a troca de idéias entre, si sempre em busca de um outro jeito de fazer. As tarefas tinham como objetivo a estimulação do raciocínio a solução de problemas cada vez mais complexos.
De acordo com o Coletivo de autores (1992), assim a presença da ginástica no programa se faz legítima na medida em que permite ao aluno a interpretação subjetiva das atividades ginásticas, através de um espaço amplo de liberdade para vivenciar as próprias ações corporais. No sentido da compreensão das relações sociais, a ginástica promove a prática das ações em grupo onde, nas exercitações como “balançar juntos” ou “saltar com os companheiros”, concretiza-se a “co-educação”, entendida como forma particular de elaborar/praticar formas de ação comuns para os dois sexos, criando um espaço aberto a colaboração entre eles para a crítica ao “sexismo” socialmente imposto.
Para Velardi (1999), ela reestrutura suas aulas de Ginástica Rítmica em três partes.
Na primeira, a exploração do ambiente e dos materiais deveria acontecer de forma livre, com base em uma única orientação do professor. O tempo de exploração não se desenrolava de maneira muito extensa, mas em um tempo que parecesse suficiente ao olhara do professor para a familiarização com os materiais, a música e o espaço.
Na segunda parte, a intervenção do professor ocorria com um objetivo concreto, como, por exemplo, tentar lançar e recuperar de diversas formas, individualmente, aos pares, em grupos. Essa intervenção se dava em três níveis: a) proposta de tarefas do tipo solução de problemas, sem elucidar como fazer, mas fornecendo algumas pistas; b)demonstração dos elementos explorados e sugestões sobre outras possibilidades de exploração (por parte de professores e alunos); c) reelaboração dos elementos explorados e demonstrados com base na reflexão sobre a melhor forma de executá-los (introdução da técnica de execução).
Na terceira parte, com base nos elementos explorados anteriormente, a proposta da aula era interpretar o que havia acontecido: tentar diferenciar níveis de dificuldades entre os elementos e baseado neles estabelecer critérios para a elaboração de seqüências de movimentos. As séries deveriam conter diversos níveis de dificuldade e contemplar os elementos explorados nas partes anteriores e nas aulas precedentes.

Pesquisa de Campo
Primeiramente, antes de ir a campo, traçamos os caminhos desta pesquisa qualitativa e a escolha de um profissional diferente que saiba o seu papel como educador com perguntas a respeito do seu plano de trabalho e aulas. Escolhemos 1 (uma) escola do município de São Sebastião/SP e decidimos que a série observada seria a 5ª série com o objetivo de observar 3 (três) aulas consecutivas para, posteriormente, se fazer as considerações relevantes ás suas atuações e sugestões de mudanças, seguindo esta ordem na análise da pesquisa:

Síntese do plano de trabalho do professor analisado
O plano de trabalho do professor não apresenta as referências bibliográficas, possuindo a seguinte estrutura:
A Educação Física proporcionará ao educando multiplicidades de experiências que somadas a sua vivência pessoal e ao meio social ao qual está inserido, possibilita atender, apreciar e gerenciar as atividades do cotidiano, bem como da cultura do movimento.
Conhecendo seu corpo, suas capacidades e limitações, pretende-se uma melhora na qualidade de vida, contribuindo para inserção social, cidadania e criticidade.

Metas

• Gerenciamento da própria atividade motora;
• Atender adequadamente os movimentos do cotidiano;
• Apreciar e usufruir da cultura do movimento;
• Conhecer as regras dos jogos.

Objetivos

• Participar de atividades corporais;
• Adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade;
• Conhecer os limites e as possibilidades do próprio corpo;
• Conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações da cultura corporal;
• Organizar jogos, brincadeiras ou outras atividades corporais;
• Analisar alguns dos padrões de estética, beleza e a saúde presentes no cotidiano.

Estratégias
Os métodos procuram atender as necessidades e características de cada classe. As aulas utilizarão estilos diretos e indiretos de Ensino. O estilo direto se redime ao professor como centro das decisões. O estilo indireto dá ao aluno certa liberdade em criar metas.

Conteúdos do 1º e 2º ciclo
Conhecimento do Corpo, jogos de exercício, simbólico, populares, pré-desportivos, atividades Rítmicas, Esportes, o aprimoramento das capacidades físicas, conceitos de movimento, locomoção, manipulação, estabilização, Percepções sensoriais e outras Atividades: passeios, gincanas, caminhadas, torneios.

Observações das aulas
As aulas deste professor foram observadas sem nenhuma análise crítica neste primeiro momento somente com o intuito de verificar uma continuidade em seus conteúdos propostos, além do modo como estavam sendo aplicados, diagnosticando conteúdos, objetivos e procedimentos metodológicos, assim como a participação dos alunos nestas atividades.
A primeira aula foi no dia 13 de outubro de 2003, uma 5ª série, com 32 (trinta e dois) alunos matriculados. Neste dia estavam presentes 24 (vinte e quatro) alunos, consideravelmente uma sala bem homogênea com 18 (dezoito) meninas e 14 (quatorze) meninos. Esta aula iniciou-se atrasada, posto que devido à falta de professores a sala teve que realizar atividades propostas pela coordenadora da escola para que não ficassem ociosos todo este tempo. O professor, pacientemente aguardou que os alunos se organizassem, limpassem toda sujeira e arrumassem a sala.
Após esta etapa, passou-se quinze a vinte minutos aproximadamente para que houvesse silêncio e desse início à chamada. O professor comentou comigo que, freqüentemente, as professoras faltam, atrapalhando o seu trabalho e restringindo o seu tempo de aula. Após a chamada foram à quadra para jogarem o handebol divididos em duas turmas mistas.
Antes de iniciar o jogo, o professor explicou as regras básicas deste esporte, como arremesso, as marcações na quadra, questões de faltas e setores (defensivo e ofensivo), com os alunos estando livres para escolher o espaço que eles queriam ficar. No setor defensivo o professor comentou sobre marcação individual e por zona dificultando o passe da outra turma, impondo a antecipação e diminuição dos espaços. Já no setor ofensivo, o professor pediu para que os alunos que estivessem de posse da bola efetuassem mais passes e descobrissem o melhor momento para um arremesso com sucesso ao gol, além da questão da cooperação dos alunos.
O jogo inicia com a participação do professor incentivando os alunos, alguns estavam muito empolgados com a atividade, outros não. Esses alunos mais empolgados eram aqueles que tinham a maior facilidade (habilidosos), ou seja, se adaptaram mais rápido aos problemas do jogo estando sempre de posse da bola. A maioria das meninas só pegava na bola quando o jogo se iniciava após um gol ou quando saía da área de jogo ou escapava de alguém e caía no chão, ou até mesmo quando o professor a recebia e passava para elas.
Os alunos até chegaram a compreender a proposta do professor e sua metodologia nesta atividade com a participação de todos, mas com alguns pequenos problemas que iremos relatar após as 3 (três) aulas, junto com idéias para reestruturar estas atividades a fim de ganharem uma nova dinâmica, melhorando o jogo dos alunos que sabem jogar muito bem e também daqueles que não sabem jogar.
A segunda aula foi no dia 16 de outubro, uma outra sala de 5ª série, uma sala de 30 (trinta) alunos matriculados, com 12 (doze) meninos e 18 (dezoito) meninas; neste dia estavam presentes 24 (vinte e quatro) alunos. Nesta aula o professor não teve problemas em relação ao tempo de organização dos alunos para o início da aula, com a realização da chamada na sala de aula. O professor dividiu a sala em duas turmas, os meninos foram jogar o futsal na quadra, sendo que eles próprios organizaram-se na formação dos times, em seguida o professor me explica que esta conduta é devido a preparação para o interclasses, na semana seguinte. As meninas e mais alguns meninos ficaram no pátio para participar da segunda atividade. O professor explicou a brincadeira do bobinho para os alunos, com as seguintes regras: formação de um círculo, vários toques livres, a bola não poderia sair do círculo, caso saísse o aluno iria para o centro da roda.
O professor participou da atividade, promovendo mudanças e desafios para os alunos como a restrição de toques na bola, primeiro livre, depois 3 (três) toques, 2 (dois) toques e 1 (um) toque; no círculo haviam 12 (doze) alunos. As explicações aconteciam para os alunos com maiores dificuldades para jogar, todos participaram desta atividade, uns mais e outros menos.
Nesta atividade, nossos olhos se encheram de alegria vendo uma brincadeira de rua dentro da escola com a quebra de paradigmas tradicionais, além da mistura de meninos e meninas na participação das atividades.
A terceira aula foi no dia 17 de outubro de 2003, a mesma turma da primeira aula registrada. Nesta aula estavam presentes 26 (vinte e seis) alunos. O professor fez a chamada na sala de aula e dividiu a sala em 2 (duas) turmas:
A primeira turma, somente de meninos, foi para a quadra dividindo os times e dando uma continuidade à preparação para o interclasses. A segunda turma era de 14 (quatorze) meninas que ficaram no pátio com o professor, para jogarem o bobinho. Antes de começar a atividade foram explicadas algumas regras básicas para o início do jogo; uma delas teria que impedir que a bola saísse do círculo, conseqüentemente quem deixasse isso acontecer iria para o centro da roda.
O professor participou do jogo e incentivou bastante as meninas, porém mesmo com a participação de todas somente algumas alunas atingiram os objetivos. Problemas da aula anterior voltaram a acontecer, como a motivação do jogo somente para algumas meninas, aquelas mais habilidosas que tocavam mais vezes na bola, a maioria jogava somente quando ocorriam um acaso de a bola sair do espaço determinado.
Preocupamo-nos em escolher um professor que fosse diferente em suas condutas pedagógicas, ou seja, professor que apenas entrega a bola aos seus alunos e os deixam simplesmente jogar, privando-os das mudanças, criações de novas regras e re-significações de novos jogos, mas sim, o professor que sabe do seu papel como educador, promovendo a participação de todos, oferecendo desafios, permitindo idéias, construções e mudanças nos jogos.
Os dados coletados desta pesquisa retrataram como os professores estão trabalhando, a utilização de um referencial teórico atualizado e se há uma ligação deles com seus planos de trabalho. O professor, como ele mesmo comentou, por ter se formado em uma instituição com grade curricular influenciada pelas ciências biológicas, contempla em suas aulas um enfoque na aptidão física, aperfeiçoando as técnicas nas modalidades utilizadas nos conteúdos propostos, buscando a formação de equipes que ocasionam uma valorização dos mais habilidosos e exclusão daqueles que não se enquadram nesta metodologia. Estarei fazendo considerações sobre estas informações e dando algumas sugestões construtivas segundo algumas tendências da Educação Física citadas no início deste estudo. Com estas informações, podemos verificar se o professor segue alguma tendência da Educação Física para embasar seu trabalho havendo coerência em sua prática, além de fornecer um material aos demais professores para consulta e reestruturamento de seus planejamentos e aulas, permitindo aos alunos uma reflexão sobre a cultura corporal.

Análise e re-construção de uma nova proposta de ensino
Ao analisar o planejamento deste professor, percebemos, como comentado pelo mesmo, um enfoque nas ciências biológicas. Muitas instituições ainda trabalham com uma grade-curricular ultrapassada, deixando de lado a literatura atualizada e diversificada de tendências como a Crítico-Superadora e a Construtivista-interacionista, utilizadas para a modificação desta Educação Física Tradicional.
O professor não apresentou um plano de trabalho adequado a 5º série e nos entregou um trabalho de 1ª a 4ª, alegando que a instituição é de 1ª a 5ª série. O professor cometeu alguns equívocos em adotar este plano. Os pontos positivos deste planejamento foram os comentários a respeito do fair play, além de seus objetivos e algumas questões que podemos encontrar nos PCNs (1997) do ensino fundamental, como: “Adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade em situações lúdicas e esportivas, buscando solucionar os conflitos de forma não-violenta”.
Algumas questões importantes para se trabalhar nas aulas de Educação Física seriam conscientizar os alunos que eles não devem jogam contra, mas sim com os seus colegas, pois sem eles o jogo não aconteceria; o árbitro deixa de ser alvo de reclamações por haver uma compreensão quanto aos erros de arbitragem e o respeito com o mesmo; não burlar as regras e sim criar ações inteligentes para resolverem seus problemas, diferente de alguns que se utilizam da trapaça para conseguir a vitória.
Mais um ponto a ser muito bem comentado neste trabalho é sobre a reflexão dos alunos a respeito do seu próprio corpo: “Analisar alguns dos padrões de estética, beleza e saúde presentes no cotidiano, e criticando aqueles que incentivam o consumismo”. Ótimo comentário do professor encontrado em seu trabalho, sendo coerente para se trabalhar com seus alunos de 5ª série dando a eles argumentos para uma reflexão sobre estes assuntos tão importantes para sua fase de desenvolvimento, início da adolescência. A mídia utiliza muito bem esta questão com sua programação, passando uma imagem de padronização de um modelo de beleza em que as meninas para serem bonitas devem possuir um corpo perfeito, aumentando assim, o consumo de produtos relacionados com a estética. Os alunos têm a possibilidade de se conscientizarem construindo uma visão crítica a respeito destes assuntos, acrescentando novos valores e significados sobre a sua felicidade pessoal em relação a sua imagem, qualidade de vida e como cidadão. Seria uma ótima proposta, porém se realmente aplicada em suas aulas.
Quanto aos pontos abertos a questionamento, inicio pelo professor não possuir um plano de 5.ª série, utilizando um de 1º a 4º, ou seja, com conteúdos totalmente inadequados às fases de desenvolvimento destes alunos, como por exemplo jogos de exercício e simbólico não integrando teoria a prática de seu trabalho.
Para este professor a Educação Física tem uma especificidade segundo suas palavras, que também podemos encontrar nos PCNs (1997), do ensino fundamental “A Educação Física proporciona ao educando multiplicidades de experiências, que somadas a sua vivência pessoal e ao meio social ao qual está inserido, possibilita atender, apreciar e gerenciar as atividades do cotidiano, bem como da cultura do movimento”.
Consideremos este comentário pensando em todas as definições que temos nas diversas referências bibliográficas disponíveis no cenário educacional da Educação Física, sendo que muitos profissionais caem todos os dias nos modismos das suas respostas, como por exemplo, quando perguntamos sobre o que se está trabalhando numa aula de futebol obtemos sempre a mesma resposta, coordenação motora dos alunos. A Educação Física proporciona muito mais que experiências motoras aos alunos, ela extrapola o simples fazer por fazer vista por muitas professoras na escola como lazer e uma forma de preencher o tempo livre. Uma tendência como a crítico-superadora tem bem definido sua especificidade de ensino:
Na perspectiva da reflexão sobre a cultura corporal, a dinâmica curricular, no âmbito da Educação Física, tem características bem diferenciadas da tendência anterior (tecnicista). Busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esportes, que podem ser identificados como formas de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.38).
A humanidade vem produzindo e evoluindo com o seu conhecimento no decorrer da história, deste modo os alunos precisam compreender os contextos históricos dessa cultura corporal expressada nos jogos e esportes, refletindo estas mudanças e interpretá-los de modo que possam ser re-significados, descobrindo que o homem não nasceu sabendo correr ou nadar, mas foram situações do meio hostil que tiveram que se adaptar para sobreviverem. Desta forma os alunos terão informações que poderão compreender de acordo com o seu contexto social, não reproduzindo apenas um modelo de classe dominante nestes esportes e todas as suas regras sistematizadas, mas dando liberdade aos alunos para exporem mudanças, criações e críticas sobre suas práticas. As conversas sobre estas experiências irão estimular os alunos a serem os sujeitos históricos de sua própria história e também do meio em que está inserido, se tornando mais participativo, crítico e autônomo.
Um outro ponto a ser comentado neste planejamento do professor é quanto a seguinte frase: “conhecendo seu corpo, suas capacidades e limitações, pretende-se uma melhora na qualidade de vida, contribuindo para a inserção social, cidadania e criticidade”. Podemos considerar esta uma leitura muito confusa, sendo interpretada de diversas formas pelos professores, além de não contribuir com uma proposta clara e concreta. Assim, analisando este comentário percebemos uma Educação do Movimento apenas, obtendo como objetivos o aperfeiçoamento das técnicas, ou seja, ações motoras. Nesta mesma frase é comentado sobre a melhora da qualidade de vida; imaginem os gordinhos que não conseguem realizar um passe ou domínio no futebol, terão qualidade de vida? Pensando em sua auto-estima, não seria um estímulo a serem futuros sedentários? Ou melhor, a não gostarem de atividades físicas? Que inserção social? Se até no seu mundo infantil das brincadeiras nas aulas de Educação Física eles não têm a liberdade de jogar do seu jeito e até mesmo de dar novas idéias de brincadeiras que conhecem. Criticidade? É dada aos alunos a oportunidade para exporem seus pensamentos, ou querem alunos como marionetes, robozinhos que fazem tudo que mandam?
A abordagem construtivista-interacionista tem uma definição de Educação Física contrária:
A Educação Física não é apenas educação do ou pelo movimento: é a educação de corpo inteiro, entendendo-se, por isso, um corpo em relação com os outros corpos e objetos, no espaço. Educar corporalmente uma pessoa não significa provê-la de movimentos qualitativamente melhores (FREIRE, 1997, p.84).
Nesta mesma linha nossas aulas podem ser um brinquedo nas mãos das crianças sendo explorado a todo o momento, descobrindo, criando, mudando e conversando sobre suas idéias. O professor tem um papel importantíssimo de mediador neste processo, auxiliando todas estas novas informações que os alunos estão vivenciando e colocando problemas para eles resolverem, a fim de saírem de suas aulas inteligentes de corpo inteiro.
Outro ponto que chamou minha atenção foi a respeito dos objetivos deste plano de trabalho: “organizar jogos, brincadeiras ou outras atividades corporais, valorizando-as como recurso para o usufruto do tempo disponível”. Nestas palavras podemos ver claramente como tratam os jogos e as brincadeiras nas aulas de Educação Física, não com uma atenção necessária, mas apenas como uma forma de passar o tempo, ou seja, se distrair depois das aulas de matemática ou português que são conteúdos que se enquadram nas coisas exatas e padronizadas desta sociedade capitalista. Para Freire (2003, p.166), “o jogo constitui, de uma certa maneira, uma ameaça, pois aparentemente se opõe ao trabalho, as coisas sérias, sistematizadas, responsáveis, ou seja, a tudo aquilo que a sociedade mais valoriza”. Um outro autor faz um comentário cauteloso sobre o jogo:
Quem brinca pode sempre evitar aquilo que lhe desagrada. Se a liberdade valoriza as aprendizagens na brincadeira, ela produz também uma incerteza quanto aos resultados. Daí a impossibilidade de assegurar aprendizagens, de um modo preciso, na brincadeira. É o paradoxo da brincadeira, espaço de aprendizagem cultural fabuloso e incerto. (BROUGÈRE, 1998 in FREIRE, 2003, p.165).
Esta discussão do jogo é extensa e tratada de diferentes formas por muitos autores, difíceis de serem comentadas em poucos parágrafos. Mas o que se torna mais significativo para a criança: o aprendizado imposto e sistematizado ou aquele que é realizado com amor, alegria e satisfação? Certamente este último nunca mais será esquecido.
Outra questão quanto a este plano de trabalho se deve aos conteúdos serem inadequados para a 5ª série, o professor faz uma mistura de conteúdos de uma Educação Física preocupada com a aptidão física e o corpo, “conhecimentos do corpo: anatômico, fisiológico, biomecânico, postural e higiene”. Uma sugestão seria trabalhar conhecimentos básicos anatômicos e fisiológicos a fim de compreenderem a importância de determinadas atividades físicas para uma melhoria da qualidade de vida, porém que este conhecimento não termine nesta série, mas que seja continuado nas demais, a fim de construir uma consciência preventiva quanto a sua saúde. Um exemplo seria o professor propor uma caminhada para esta turma dando a eles informações básicas sobre o por que fazer alguns alongamentos, aferir a freqüência cardíaca, além de compreender todas estas alterações que ocorrem com o seu organismo, por meio de discussões de forma crítica a respeito de suas ações, e é claro, tudo diante de uma conversa adequada ao seu nível de compreensão.
Quanto ao desenvolvimento dos alunos e as fases de jogos correspondentes foram citadas em seu planejamento: “simbólico, exercício, construção, regras, populares e pré-desportivos”; destes conteúdos sugeridos somente os de regras, populares e os pré-desportivos estão corretos para trabalhar com esta turma de 5ª série. Os jogos de regras serão bem aplicados quando respeitarem a bagagem cultural das crianças nas aulas, permitindo explorá-la com re-significações e compreendendo as suas ações, mudando e criando novas situações problemas (desafios), com o professor somente mediando estas resoluções, nunca dando as respostas, mas caminhos para se adaptarem a novas situações do jogo.
Na iniciação esportiva é preciso trabalhar atividades adaptadas, respeitando os níveis de habilidades, os limites e a potencialidade de cada um nas resoluções de problemas, não existindo um gesto técnico padronizado para todos, mas um jeito particular de cada um em suas ações motoras. Além disso, nas aulas de Educação Física é preciso que o professor faça um resgate dos jogos populares que vêm se modificando no decorrer da história, devido a várias influências tecnológicas (televisão, vídeo-games e computadores) ficando a maior parte de seu tempo livre entretido com estas novidades que não possibilitam a criação e reflexão de suas ações e também influências sociais (violência e drogas) ficando confinados em suas casas e não explorando esta cultura lúdica que é passada de geração em geração.
Alguns autores pelo professor citados na entrevista que fundamenta o seu planejamento não mostram em suas obras uma proposta clara de Educação Física a não ser a do professor João Batista Freire, estudioso da tendência construtivista-interacionista na qual utiliza-se dos jogos para dividir as fases de desenvolvimento das crianças, porém algumas destas vivências não são apropriadas para este plano de trabalho (5ª série) apresentado pelo professor em questão.
No planejamento do professor é relatado o Professor João Batista Freire com uma proposta de resgate da cultura popular dos jogos e a formação de um aluno inteligente de corpo inteiro, porém, pudemos perceber que o professor não soube adequar a prática dos jogos pré desportivos e populares em suas aulas de acordo com a teoria relatada por Freire, como exemplo, a atividade do handebol, onde suas condutas pedagógicas são de professores que pensam que o conhecimento deve ser transmitido e não construído. Ele reproduziu o esporte performance dentro da sua aula em que foram ditadas as regras, formas de arremessos, setores defensivo e ofensivo ficando confuso para a compreensão dos alunos, o que foi agravado pela quantidade de alunos em jogo, ocasionando a participação somente dos alunos mais habilidosos e excluindo o restante que não encontravam motivação em participar da aula.
No entanto, os objetivos destas atividades, citados na entrevista, cooperação, respeito mútuo, participação e sociabilização, foram muito bem trabalhados, ficamos impressionados com a colaboração dos alunos nas atividades, mesmo que o professor se utilize dos PCNs (1997) e autores que fundamentam uma Educação Física tradicional tendo como respostas a coordenação psicomotora e as qualidades física.
Pensando numa abordagem construtivista, uma sugestão para o professor reconstruir suas atividades, seria explorar os jogos da cultura lúdica das crianças como a queimada, pique-bandeira, passa 10, bola torre e outras, pensando em adaptações nas situações do jogo do handebol. Após vivenciarem todos estes jogos, o passe e os setores defensivo e ofensivo serão compreendidos com mais facilidade pelos alunos. As brincadeiras criadas por eles possibilitam a construção de várias habilidades, resolução de problemas como (espaços, bolas, objetos a serem atingidos e as regras), fazendo com que os alunos se adaptem a uma nova situação de jogo, porém estes acontecimentos têm que ser discutidos com os alunos e não impostos pelo professor, seria uma discussão quanto à tomada de consciência.
Essa medida pode constituir um importante momento de tomada de consciência dos alunos a respeito de suas próprias atividades. Devemos nos lembrar de que, no momento dessa conversa, as práticas não estarão acontecendo realmente, apenas no plano da representação mental. Ou seja, os alunos, conversando com o professor, podem visualizar as práticas futuras. Este estado de “ver para dentro”, de avaliar acontecimentos (no caso, futuros) garante importantes momentos de reflexão, dos quais decorrem as tomadas de consciência. (FREIRE e SCAGLIA, 2003, p.100)
Pensando em sugestões de reconstrução do handebol proposto pelo professor, após vivenciarem diversas brincadeiras é chegado o momento de iniciarmos o ensino do handebol, não com suas regras sistematizadas dentro da escola, mas como esporte da escola um handebol adaptado. Segundo a abordagem crítico-superadora:
Na escola é preciso resgatar os valores que privilegiam o coletivo sobre o individual, defendem o compromisso da solidariedade e respeito humano, a compreensão de que jogo se faz “a dois”, e que é diferente jogar “com” o companheiro e jogar “contra” o adversário. Nesta perspectiva a vitória torna-se um meio e não um fim, com os alunos buscando sempre se superar respeitando os colegas e as regras da brincadeira. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.71).
Freire (2003 p.100), nos dá uma sugestão de como podemos dividir as aulas: “Primeira parte: roda de conversa sobre o que será feito na aula; Segunda parte: Práticas: atividade com tema (ou subtemas) da aula anterior, atividade com um novo tema (ou subtemas) e Terceira parte: Roda de conversa sobre o que foi feito na aula”. Esta divisão fica bastante clara para organização das aulas, tendo como primeira parte o professor explicando para os alunos sentados a atividade a ser realizada; na segunda parte o professor pode fazer uma revisão dos acontecimentos da aula anterior com uma brincadeira e logo em seguida entrando em um novo tema da aula do dia, nestes acontecimentos ele pode estar parando o jogo e pedindo sugestões para seus alunos mudarem as regras a fim de uma compreensão de suas ações.
Outra sugestão seria quanto ao professor pedir idéias e sugestões aos alunos para criação de um novo jogo do Handebol, adaptando os gols com a utilização de materiais pedagógicos como bambolês fixados em certa altura, cones, cordas e pontuações diferenciadas em cada um dos materiais, além da divisão da quadra em 3 (três) espaços, ocorrendo 3 (três) jogos simultaneamente. Com esse procedimento o professor resolve o problema do número excessivo de alunos em um único jogo que originou a desmotivação por parte dos alunos que não compreenderam as regras e também aqueles que não tinham habilidades. Os jogos em pequenos grupos oportunizam que os alunos peguem mais vezes na bola, realizem mais passes, arremessem mais ao gol, além de permitir ao professor a colocação de desafios nesta atividade, como diminuir ou aumentar o espaço de jogo, o tamanho do gol, os tipos de bolas e um local de arremesso.
Na atividade de futebol consideramos interessante uma brincadeira praticada na rua ter sido utilizada para a aprendizagem do futebol na escola e muitas outras que as crianças brincam em terrenos baldios e campos de várzea como bobinho, rebatida, controle e o gol caixote.
Foi assim que os brasileiros aprenderam futebol. Aprenderam brincando, o que virou um estilo de Futebol, apesar da sisudez de alguns técnicos, e as tais Escolinhas não vão ensinar ninguém a jogar futebol direito, se não deixarem as crianças brincarem, começando por essas quatro brincadeiras que eu descrevi aqui. A partir daí, qualquer joguinho serve; qualquer um que possa ser brincado com a bola nos pés (FREIRE, 1998, p.146).
Porém com muitos problemas como uma única roda de bobinho contendo muitos alunos, deste modo poucos tinham contato com a bola reduzindo o número de passes para cada um. Uma sugestão seria o professor estar trabalhando esta atividade em pequenos grupos permitindo que cada aluno possa realizar mais passes oferecendo ao professor a oportunidade de problematizar esses passes quanto a seus números restritos, criando inúmeras formas de realizações, o aumento e a diminuição de espaços, a quantidade de alunos no centro do círculo para tentar pegar a bola, o tipo de bola (leve, pesada e tamanho variados) aumentando o seu acervo motor além do cognitivo, afetivo e social, melhores explorados quando se trabalha em pequenos grupos. Neste jogo o professor deveria redirecionar seus objetivos para que haja uma adequação quanto ao fundamento proposto por ele na atividade, o passe, além de não se utilizar os mesmos em todas as suas aulas.
Pudemos verificar que o professor na terceira atividade, um bobinho que jogou apenas as meninas sendo estas com um nível iniciante de habilidade no futebol, cometeu os mesmos erros quanto ao número de alunos, além de um outro problema que seria justamente o fato de serem iniciantes e não possuírem o controle da bola para depois efetuarem o passe, dificultando o sucesso e a motivação para esta atividade, que acabou sendo inadequada para este grupo de meninas por privilegiar o erro, pois ao errar as meninas acabavam indo para o centro, onde não tinham oportunidade de melhorar sua deficiência quanto ao passe.
Uma sugestão seria o professor adequar um jogo que ao invés de privilegiar o erro valorizasse o sucesso tornando-se motivacional para a conquista de novos desafios, um jogo que não contenha a pressão da competitividade e a punição pelo erro, mas sim a oportunidade de realizações de um maior número de passes possíveis, além de interagir com aqueles que possuem uma melhor percepção do jogo, havendo a construção do conhecimento por meio das trocas de experiências e situações problemas decorrentes do jogo.
Em seu planejamento a metodologia de ensino é muito confusa existindo uma pequena liberdade para os alunos criarem segundo seus comentários “O estilo indireto dá ao aluno certa liberdade em criar metas e com estas metas as crianças se tornam mais envolvidas no processo ensino aprendizado, pois são dadas a elas oportunidades de explorarem e experimentarem o movimento de várias maneiras”. Aqui, fica claro a importância dos alunos estarem ajudando o professor na elaboração de suas aulas, com sua história de vida e cultura lúdica diferenciada, não existindo um padrão determinado de movimento, mas sim diferentes formas de se atingir um objetivo, como por exemplo, o arremesso no basquetebol com o aluno criando a sua forma de arremessar.
Porém, ao mesmo tempo em que o professor cita uma certa liberdade do aluno em criar metas e explorar o jogo, contradiz com uma outra metodologia o que ele chama de estilo direto: “o estilo direto se redime ao professor como centro das decisões, ou seja, o professor demonstra e controla quando começar e terminar, auxilia o aluno individualmente ou em grupo quando aparecerem dificuldades.”
A liberdade das crianças expressarem seus sentimentos, vontades, idéias e criações serão importantíssimas para elas em seu desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo, moral e social. As atividades que os alunos criam são significativas para eles, além da participação e do prazer que ficam guardados para sempre, ocorre à construção de um aluno mais participativo, criativo e autônomo.

Considerações finais
Com base nos dados coletados nesta pesquisa de campo verificamos uma grande dificuldade deste profissional em aplicar as propostas atuais da Educação Física que ele vem adquirindo em cursos de capacitação que a Prefeitura lhe oferece, sendo refletidas em suas aulas, não utilizando um planejamento coerente a série em que trabalha conseqüentemente não seguindo a ideologia dos autores que ele relata em suas respostas obtidas pelo questionário.
Pelas respostas obtidas sobre a leitura de livros de Educação Física e em observações de suas aulas pude inferir que em sua formação o professor não foi estimulado a fazer interpretações e compreensões de suas práticas, mas apenas executar e reproduzir as técnicas de movimentos de forma correta.
Ainda existem milhares de professores de Educação Física que continuam ensinando do jeito que aprenderam nas Faculdades, ou seja, uma educação tradicional ultrapassada que segue receitas prontas. Este trabalho teve a preocupação de propor sugestões construtivas para que estas práticas viessem a ser mais bem elaboradas e fundamentadas de forma adequada e coerente segundo as várias tendências de ensino.
Chegamos ao final deste trabalho com sugestões de uma reestruturação do planejamento a fim de que suas aulas ganhassem uma fundamentação teórica não seguindo apenas uma fonte de pesquisa, mas várias idéias citadas neste trabalho, fornecendo uma continuidade dos conteúdos propostos em suas aulas com mudanças nas estratégias de ensino e organização das mesmas, havendo objetivos claros a serem alcançados, ou seja, buscando a formação consciente dos alunos sobre suas ações de forma critica e autônoma.

Referência Bibliográfica
BETTI. M. Educação Física e sociedade. São Paulo: Movimento, 1991.
_____________. Ensino de primeiro e segundo graus: Educação Física para quê? Revista Brasileira de Ciências do Esporte, editora: Unijuí v.13, n.2- janeiro. 1992.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.
DARIDO, Suraya Cristina. Educação Física na Escola: Questões e reflexões. Rio de Janeiro: Lazer& Sport, 1999.
ESCOBAR, Micheli Ortega, et al. A Educação Física escolar na perspectiva do século XXI. In: MOREIRA, W.W.(org). Educação Física e Esportes. Perspectivas para o século XXI. Campinas: Papirus. 1993.
FREIRE, João Batista; SCAGLIA, José Alcides. Educação como prática corporal. São Paulo: Scipione, 2003.
FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: Teoria e Prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1997.
_____________. O jogo: entre o riso e o choro. Campinas: Autores associados, 2002.
_____________. Educação de corpo inteiro. São Paulo: Scipione, 1989.
_____________. Pedagogia do Futebol. Londrina: Midiograf, 1998.
GO TANI (et al.). Educação Física escolar: Fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo:EPU: Editora da Universidade de São Paulo, 1998.
KISHIMOTO, T.M (org). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação 2. ed.São Paulo: Cortez, 1997.
KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógico do esporte. 4 ed. Ijuí: Unijuí. 2001.
Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física. Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.
SCAGLIA, A. J. Escola de futebol: uma prática pedagógica. In NISTA PICCOLO, V. Pedagogia dos esportes. Campinas: Papirus, 1999.
SCHWARTZ, Gisele Maria. O Processo Educacional em jogo: Algumas reflexões sobre a sublimação do lúdico. Belo Horizonte: Licere, v. l, m.l. 1998.
TUBINO, Manoel José Gomes. As dimensões sociais do esporte. São Paulo, Cortez: Autores Associados, 1992.
VELARDI, M. Ginástica Rítmica: A necessidade de novos modelos Pedagógicos. In: NISTA PICCOLO, V. Pedagogia dos esportes. Campinas: Papirus, 1999.
VIGOTSKY, L.S. A formação social da mente: O desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

Publicado em 21/06/2006 14:22:00


Erica dos Santos Gonzales e José Carlos dos Santos - Erica dos Santos Gonzales: Professora licenciada em Educação Física pelas Faculdades Integradas Módulo de Caraguatatuba/SP.
José Carlos dos Santos: Professor licenciado em Educação Física e especialista em Fisiologia do Exercício e Treinamento Desportivo pelas Faculdades Integradas Módulo de Caraguatatuba/SP.
jotac.r@bol.com.br


Obrigado por sua visita, volte sempre.

pegue a sua no TemplatesdaLua.com

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Campinas, algumas fotos.Meu cantinho.



Campinas, algumas fotos.

Campinas surgiu como parada para os bandeirantes que saiam de São Paulo para desbravar o interior e logo começou a crescer. Os barões de café perceberam o ótimo clima da região, e instalaram aqui suas grandes e charmosas fazendas ricas de café. Devido ao café, foi surgindo as grandes ferrovias. A partir daí, aquele pequeno distrito de Jundiaí começou a crescer. O crescimento aumentou principalmente devido a primeira instalação de um telefone ligando Campinas/São Paulo na América Latina. Bom, nessa época Campinas e São Paulo disputavam quem seria a capital do estado de SP. Campinas perdeu, porque foi atingida em cheia por uma grande epidemia de febre amarela que matou 1/3 da população que vivia na cidade e outros 1/3 fugiram da cidade. Na época, Campinas tinha o mesmo nº de habitantes de SP, mas perdeu 2/3 deles. Mas se pensaram que Campinas iria desaparecer, se enganaram! A cidade-fênix se reergueu, passando a abrigar as grandes indústrias multinacionais que começaram a se instalar na região. Na década de 1930 Campinas possuía 100 mil habitantes . O grande urbanista Prestes Maia percebeu o grande potencial da cidade e traçou aqui um excelente plano de urbanismo criando novas grandes avenidas. E a cidade foi crescendo... Anos depois, com o surgimento das grandes rodovias a cidade "explodiu"! Entre as décadas de 1950 e 1980 Campinas aumentou 5 vezes o tamanho, na época Campinas era considerada a melhor cidade do Brasil, atraindo imigrantes, o que fez com que a pobreza começasse a surgir na cidade, que na época já tinha 600 mil hab. Campinas continuou a crescer e atualmente passou a barreira dos 1 milhão de hab..
Podem dizer mal de Campinas, mas é uma cidade vital para o crescimento do Brasil: Campinas é o 3º pólo industrial do país , a 4º maior praça bancária do país (Ganhando de capitais maiores), tem o 2º maior aeroporto do país , e a cidade mais americanizada no país no sentido rodovias possuindo o 2º maior entroncamento viário com todas as rodovias de grande porte (Entre 2 e 5 faixas) - que já viraram vias expressas da cidade, é a 4º cidade em nº de restaurantes , tem um dos melhores tecnopolos do mundo, sede de uma região metropolitana que produz 9% do PIB brasileiro, além de coisas que eu poderia citar como a Unicamp, CPQD, Lab. Síncotron, a 3º maior mata urbana do país, etc...
A você que visita meu Blog obrigado, esta é a Cidade em que moro. Se você quer ver sua cidade neste Blog, faça uma matéria com sua cidade, e mande pra gente. joaomariaandarilhoutopico@gmail.com

Obrigado por sua visita, volte sempre.

pegue a sua no <span class=

Curso para professores de 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Matemática 2 (multiplicação).


O raciocínio combinatório

  • "Os sanduíches da padaria Regência são famosos no bairro. O freguês pode escolher entre 3 tipos de pão: pão de forma, pão francês ou pão italiano. Para o recheio há 4 opções: salame, queijo, presunto ou mortadela. Quantos tipos de sanduíche a padaria oferece?"


Figura 17 Quem encontra pela primeira vez esse tipo de problema pode não perceber que se trata de uma situação que envolve a multiplicação. É comum, nas primeiras tentativas, somar 3 com 4 ou listar de forma desorganizada algumas combinações de pão com recheio.

Vejamos como o problema pode ser resolvido. Para todas as combinações possíveis, precisamos pensar de maneira organizada. Isto pode ser conseguido, por exemplo, com a ajuda de uma tabela retangular.


salame queijo presunto mortadela
pão de forma pão de forma com salame pão de forma com queijo pão de forma com presunto pão de forma com mortadela
pão francês pão francês com salame pão francês com queijo pão francês com presunto pão francês com mortadela
pão italiano pão italiano com salame pão italiano com queijo pão italiano com presunto pão italiano com mortadela

Também podemos organizar a solução do problema deste outro modo:

Figura 19

Este último esquema, que lembra os galhos de uma árvore (deitada), é conhecido como árvore das possibilidades.
Tanto com a tabela retangular como com a árvore das possibilidades, podemos obter a solução do problema: contamos os tipos de sanduíche e chegamos a 12 tipos. O que não se percebe ainda é o que o problema tem a ver com a multiplicação.
Isso pode ser percebido com este raciocínio: para cada um dos tipos de pão temos 4 tipos de recheio e, portanto, 4 sanduíches diferentes; como são 3 tipos de pão, os sanduíches são 4 + 4 + 4, ou seja, 3 x 4 = 12.
Nesse raciocínio, procuramos combinar os tipos de pão com os tipos de recheio para obter todos os tipos de sanduíche. É um exemplo de racicínio combinatório, o qual leva á multiplicação.
Você pode notar que a árvore de possibilidades é uma espécie de "desenho" do raciocínio que fizemos: de cada um dos seus 3 "galhos" iniciais saem outros 4 "galhos", dando um total de 12.
Quando podemos desenhar a árvore de possibilidades ou fazer uma tabela, como no caso do problema dos sanduíches, o problema pode ser resolvido sem a multiplicação. Mas, quando as possibilidades são muitas, a multiplicação facilita os cálculos. Já imaginou desenhar a árvore se fossem 6 os tipos de pão e 12 os recheios?


Vejamos outro problema envolvendo o raciocínio combinatório.
  • "Usando somente os algarismos 1, 2 e 3 queremos escrever números de três algarismos. Vamos combinar que, num mesmo número, não pode haver repetição de algarismo. Com outras palavras, cada número deve ter três algarismos diferentes. Quantos números podem ser escritos nestas condições?"

Observe que os números 213 e 312 satisfazem as condições do problema, mas os números 311, 413 e 1123 não servem. Para resolver o problema vamos nos imaginar escrevendo um número de três algarismos, obedecendo as restrições mencionadas no problema. Ao escrever o algarismo das centenas temos 3 possibilidades.

Figura 20

Ao escrever o algarismo das dezenas não podemos usar aquele que já foi usado nas centenas. Portanto, para cada uma das maneiras de escolher o dígito das centenas temos duas maneiras de escolher o das dezenas.

Figura 21

Ao escrever o algarismo das unidades não podemos repetir nenhum dos dois que já foram usados nas centenas e dezenas. Logo, para cada uma das maneiras de escrever os dois primeiros algarismos temos uma só escolha para o último dígito.
Portanto, nas condições do problema, é possível escrever 3 x 2 x 1 = 6 números: 123, 132, 213, 231, 312 e 321.

Figura 22

No módulo 1 propusemos alguns problemas parecidos com este que acabamos de resolver. Naquela ocasião, ao resolver os problemas, não exploramos o raciocínio combinatório.

O problema seguinte é parecido com o anterior. Mas há uma diferença entre eles!
  • "Usando somente os algarismos 1, 2 e 3 queremos escrever números de três algarismos. Vamos combinar que, num mesmo número, pode haver repetição de algarismos. Quantos e quais números podem ser escritos nestas condições?"

Vamos construir a árvore das possibilidades para este problema:

Temos 3 possibilidades para escolher o algarismo das centenas. Para cada uma delas, há 3 maneiras de escolher o dígito das dezenas. Portanto há 3 x 3 = 9 modos de escolher aqueles dois dígitos. Para cada uma destas 9 maneiras há 3 possibilidades de escolha para o algarismo das unidades. Portanto, nas condições do problema, é possível escrever 3 x 3 x 3 = 27 números. Na árvore das possibilidades podemos ver quais são estes números.

Figura 24

No aprendizado da multiplicação, os problemas combinatórios são um ítem importante. No entanto, em muitos desses problemas é difícil perceber a presença da multiplicação, até para nós, professores. Sugerimos então que, primeiramente, os alunos usem tabelas ou árvore de possibilidades, até descobrirem que podem resolvê-los utilizando a multiplicação.

A variedade de situações relacionadas com a multiplicação

Vimos até aqui duas situações básicas em que a multiplicação é empregada:

  • para substituir uma adição de parcelas iguais;
  • para obter o total de possibilidades no raciocínio combinatório.

No entanto, essas situações não esgotam as diversas maneiras de se explorar o uso da multiplicação. Essa operação aparece em outras situações que, embora relacionadas com as já vistas, podem parecer novas para os alunos. Vamos ver alguns exemplos:

  • Às vezes a multiplicação está "escondida". Ao ler o número 460, dizemos quatrocentos e sessenta. Você percebeu a multiplicação que está ai?

Quatrocentos significa quatro vezes o cem; sessentacorresponde a seis grupos de dez, isto é, seis vezes o dez. A multiplicação está presente na nossa maneira de escrever e de ler os números, embora nem sempre nós lembremos disso. É o princípio multiplicativo da numeração indo-arábica, que vimos no módulo 1, lembra-se?

  • "Na auto-estrada BR-pi há um posto de pedágio a cada 40 quilômetros. Um motorista sai de Triângulo Citi, localizada logo após um pedágio, em direção a Hexagolândia, também localizada logo após um outro pedágio. Neste percurso, o automóvel passou por 5 postos de pedágio. Qual é a distância entre as duas cidades?"
Figura 26

O problema é bastante simples. Uma adição de parcelas iguais conduz á multiplicação:

40 + 40 + 40 + 40 + 40 = 5 x 40

Bem, até aqui nada de novo. Entretanto, neste problema podemos explorar o aspecto aditivo da multiplicação, trabalhando sobre a reta numérica. Sabemos bem como esta idéia é importante na matemática.

Figura 27
  • "Quantas caixas de refrigerante o caminhão carrega?"
Figura 29

Para encontrar a resposta a este problema, devemos perceber que as caixas estão organizadas em 4 camadas, sendo que, em cada camada, há 6 x 5 caixas.
Portanto, o número de caixas é igual a 4 x 6 x 5 = 120.
Problemas deste tipo facilitarão, posteriormente, o cálculo de volumes. Para compreender que 1 m³ é igual a 1000 litros é necessário o mesmo raciocínio usado para calcular o número de caixas transportadas pelo caminhão.
Repare ainda que este problema usa a idéia da organização retangular de maneira ampliada.


Os exemplos aqui apresentados mostram que há diferentes situações envolvendo a multiplicação. Para nós que já estamos acostumados com esta operação, ás vezes é difícil perceber as diferenças entre elas. Entretanto, para o aluno, estas diferenças constituem, muitas vezes, dificuldades a serem superadas. Para esta superação, a atuação do professor é fundamental.

Além de identificar e respeitar estas dificuldades do aluno, precisamos compreender que esta enorme variedade de situações relacionadas com a multiplicação contitui-se uma riqueza que não pode ser desprezada no processo de ensino-aprendizagem da matemática. Por isso é fundamental, no trabalho com a multiplicação, explorar todas elas.


Obrigado pela visita, e no próximo matemática das séries iniciais 3 vamos postar sobre,
Quando multiplicar nas expressões numéricas, te espero até lá.

Fonte: http://educar.sc.usp.br/matematica/m3p1t5.htm

Obrigado por sua visita, volte sempre.

pegue a sua no TemplatesdaLua.com

Turma da Mônica - Chico Bento no Shopping.

nineevon


Obrigado por sua visita, volte sempre.

pegue a sua no TemplatesdaLua.com

Como tirar parafuso quebrado - Dica Jogo Rápido

Obrigado pela visita, volte sempre. Se você observar que a postagem, vídeo ou Slideshare está com erro entre em contato.