Em: 03 Abril 2023 | Fonte: Valor Econômico
Instituição de ensino a distância fechou o ano passado com zero endividamento e crescimento de 26% no lucro líquido
Quarta maior instituição de ensino a distância do país e assediada há anos por investidores e concorrentes, a Uninter fechou o ano passado com zero endividamento e crescimento de 26% no lucro líquido. Trata-se um perfil raro entre os grupos educacionais, em que boa parte está alavancada, principalmente para financiar aquisições - operação que a Uninter nunca fez em seus 23 anos de atividades.
“Pagamos há cerca de um ano uma dívida de R$ 50 milhões. Hoje, não temos nada de passivo, muito diferente das companhias de capital aberto que compraram, compraram e agora estão cheias de dívida. Os bancos ficam nos procurando, oferecendo para pegar crédito, mas não quero”, disse Wilson Picler, fundador e chanceler da Uninter.
Em 2016, o grupo educacional detinha uma dívida equivalente ao seu lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda). Na época, a Kinea, gestora do Itaú, adquiriu debêntures da Uninter equivalentes a cerca de 10% do capital do grupo educacional. Os recursos foram usados para alongar dívida, mas a transação não evoluiu para uma venda de fatia da faculdade para o fundo.
Vários bancos, fundos, advogados e concorrentes já bateram a sua porta nos últimos anos, mas nenhuma operação chegou a um estágio avançado. Das sete instituições pioneiras no mercado de ensino a distância no país - Unopar, Uniasselvi, UniCesumar, Uninter, Fael e Unisul - a Uninter é a única que resiste à consolidação. A operação mais recente nesse mercado foi a venda da UniCesumar para a Uniasselvi por R$ 3,4 bilhões.
Picler diz que está sempre disposto a negociar, mas que o interessado precisa pagar o que considera um preço justo. “Um banco esteve recentemente aqui e avaliou a Uninter em R$ 2 bilhões, mas não considerou alguns pontos. Acho que vale uns R$ 2,5 bilhões. Estudei ‘valuation’ e ‘cash flow’. Sei o valor do negócio”, disse. “Estou aberto a conversar, eventualmente, fazer parte de algumas negociações. Acredito que a Uninter pode ser a cabeça de chave para uma consolidação”, acrescentou.
Com 470 mil alunos, a Uninter fechou o ano passado com receita de R$ 593,8 milhões - uma alta de 9,3% sobre 2021. O lucro líquido subiu 26%, para R$ 86,6 milhões, favorecido pela alta do faturamento e das receitas financeiras, uma vez que o grupo apura ganho nessa linha do balanço.
Segundo fontes do setor, apesar de Picler dizer publicamente que está disposto a conversar com investidores, viabilizar uma transação não é simples porque o fundador sempre pediu valores elevados e ainda tem apego à instituição que fundou em 2000 - um caso semelhante à da família Mattos, fundadora da UniCesumar, vendida em 2021.
A Uninter surgiu como uma escola de pós-graduação que levava professores renomados da PUC-PR e Universidade Federal do Paraná (UFPR) para ministrar cursos em cidades do interior do país, nos fins de semana - um modelo criado pela FGV na área de administração que fez grande sucesso.
Quando o ensino a distância surgiu e esse formato perdeu relevância, a Uninter foi a primeira instituição a obter credenciamento para oferta de cursos de graduação por EAD com mais de 20 mil vagas autorizadas pelo MEC. Dez anos depois, também foi a primeira a trocar os satélites pela internet, um canal de comunicação que se mostrou mais eficiente.
Há alguns anos, a instituição passou a importar da China kits de aulas práticas (instrumentos usados em determinados cursos) que são enviados, juntamente com os livros, para a casa dos alunos, que podem usá-los nas aulas a distância. “Essa estratégia cria um vínculo com o aluno, há uma alta fidelidade e o próprio estudante indica o curso para seus colegas. Isso reduz custo de marketing e captação”, disse uma fonte do setor.
Todas essas estratégias foram lideradas por Benhur Gaio, reitor da Uninter desde 2005. Benhur é da turma de profissionais formados pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que criou os primeiros cursos a distância no Brasil.
Postado em: Notícias do Setor | Autor: Beth Koike
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