sábado, 8 de abril de 2023

ISRAEL SIMÕES | O maníaco de Blumenau e a engenharia diabólica


Israel Simões

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O Brasil está paralisado. Ninguém consegue entender porque Luiz Henrique Lima, de 25 anos, pulou o muro da creche Cantinho Bom Pastor, na cidade de Blumenau, para matar quatro crianças com machadadas na cabeça, ferindo outras tantas enquanto brincavam no parquinho. Horas depois da chacina, já preso na delegacia, Luiz foi filmado reclamando de um policial que o teria ameaçado, na maior cara de pau, como se o sangue inocente sobre as suas mãos inspirasse cuidados maternais no lugar da indignação. Frio, cruel, diabólico.

Tão chocante quanto o crime são as declarações de políticos e jornalistas que tentam se aproveitar da situação para associar, por meio da linguagem, as motivações do psicopata e as convicções dos seus opositores. Lula declarou que o criminoso deve ter saído de um “planeta de Ó-D-I-O”, usando da mesma palavra que a mídia brasileira, em tão larga escala, atribui a qualquer crítico do STF, qualquer comentário debochado de internet, à piada de um humorista que ainda se arrisque no “humor negro”.

(E por utilizar desta expressão popular já cancelada pela juventude-militante-analfabeta funcional, agora corro, eu mesmo, o risco de ser enquadrado no grupo dos homens odientos…).

Flávio Dino, ministro da Justiça e Segurança Pública, completou o argumento com sua costumeira eloquência: “O acervo de causas que leva à ampliação de tragédias está bem visível: proliferação de ódio na sociedade, inclusive por uma internet desregulada e com empresas irresponsáveis; incentivos ao armamentismo e à ideologia da morte; agrupamentos nazistas e neonazistas…”.

Já o comentarista da GloboNews, Octavio Guedes, foi ainda mais longe na fantasia: afirmou que o crime era um “problema de uma sociedade doente…adoecida por um discurso de ódio contra a escola, segundo o qual a escola é um partido político, as universidades são antros de maconheiros, os professores não estão ensinando coisas decentes, o bom mesmo é o homeschooling. Então temos um caldo dentro desse discurso de ódio que eu identifico a extrema direita, que levou Bolsonaro ao poder, como a grande propagadora desse discurso”.

Que bela narrativa! Inseridos no percurso escola-universidade, os psicopatas estarão salvos de sua própria alma distorcida, sob o guiamento iluminado de professores marxistas-frankfurtianos ávidos por exercer a crítica de tudo, especialmente do mercado, enquanto exigem aumentos salariais e outras regalias pagos com os impostos do proletariado. Realmente, não consigo imaginar vocação tão sacrificial, essa de resgatar as mentes confusas do seu labirinto de sombras, sendo exercida por outra entidade que não seja o santo docente assalariado. A família, a igreja, a intelectualidade e os membros da comunidade devem se curvar à superioridade do professor de geografia, história, português, educação física.

Percebe a gênese da merda toda?

Na mesma linha de Lula, Dino e Guedes, o deputado federal André Janones postou em sua conta no Twitter que o assassino “tinha como inspiração outro assassino: Jair Bolsonaro”. Pronto, agora a bula está completa: para protegermos nossos filhos da perversão patológica, basta nos convertermos em petistas, abortistas, militantes da agenda LGBT, corruptos sistêmicos, admiradores de ditaduras, defensores de guerrilheiros, amantes da cultura carnavalesca que produz mulheres traídas e filhos sem pai. E fazer o “L”.

Engrossando o côro da confusão semântica, pululam pela internet opiniões que levantam as mais diversas hipóteses sobre a educação do assassino, seu contexto familiar, seu quadro psíquico, sempre na busca por uma causa única e objetiva, como se a mente do criminoso pudesse ser colocada em um tubo de ensaio.

Por fim os líderes religiosos, como comumente fazem diante de uma tragédia, proferem palavras de perdão, justiça, juízo final, da volta de Cristo. Dizem que somos pecadores dependentes da graça divina e que poderia, perfeitamente, ser qualquer um de nós ali, com o machado na mão, rachando cabeças de criancinhas indefesas. Do alto de suas boas intenções, os dogmáticos acabam por reforçar a rigidez de pensamento que raciocina o crime hediondo como um tratado lógico, de confrontação estática, sem um esforço mínimo para desvelar o abismo existencial que reduz um indivíduo à condição tão abaixo da animalesca.

A denúncia que deveria estar na boca de todos é contra o contorcionismo dialético que transforma o natural em absurdo e o absurdo em obrigação moral na cultura ocidental moderna. Se não é capaz de produzir, por si só, a demência de uma psicopatia, o relativismo será a mentalidade dos defensores de penas brandas para criminosos, de vida mansa na cadeia, de reinserção na sociedade de quem, supostamente, dela é vítima, tão vítima quanto os corpos espalhados pelo parquinho de uma creche.

Matar crianças com golpes de machado não é simplesmente ódio, diga-se de passagem. O ódio é um sentimento que nasce da extrema aversão, mas o assassino não tinha absolutamente nada contra aqueles inocentes. A única explicação para tamanha crueldade é a não-explicação, a rejeição do sentido, a redução ao nada, a aniquilação da realidade.

A loucura de querer ser Deus e converter-se no próprio demônio.

Por trás da ousadia de um maníaco homicida de criancinhas existe uma total ausência de normalidade, uma incapacidade monstruosa para operar dentro da realidade, como Nietzsche à beira do colapso. O que emerge deste estado de espírito degradado não é um sentimento amargurado direcionado a alguém, mas a pura destruição, a violência aleatória, sem alvo específico, aquele ímpeto do pitbull de rinha que sai mordendo qualquer pedaço de carne. A engrenagem de uma mente tão doentia é a dialética da negação, uma espiral descendente que vai rebaixando o indivíduo em camadas cada vez mais distantes da humanidade.

Se o ódio é destrutível, a destruição pura e simples, não. Não há racionalidade humana que aplaque um exterminador armado e descontrolado.

O que assistimos esta semana, portanto, não foi mais um pecadinho qualquer de uma criatura vacilante. A maldade assustadora do atentado de Blumenau é o pecado original em movimento, a rebeldia diabólica encarnada, orgulhosa e ufanista, pretensamente apoteótica, que só pode cessar quando amaldiçoada e condenada à morte. Que tamanha confusão nasça de perturbações psicoquímicas, de sinapses mal ajustadas, sabemos bem, mas uma cultura que rejeita a ordem natural das coisas pode ser o adubo que a semente torta precisa para germinar.

Falo de uma cultura revolucionária que destrói tudo no lugar de nada, começando pelo sentido das palavras, depois os próprios sentidos humanos, que por uma intuição elementar percebem o toco empenado e buscam aprumar logo o seu eixo, ou arrancam-no na base quando se torna erva daninha.

De um discurso público convincente porque ecoa a voz da víbora.

fonte; https://revistaesmeril.com.br/israel-simoes-o-maniaco-de-blumenau-e-outras-confusoes-diabolicas/
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