Em 1963, Robert Rosenthal e Lenore Jacobson conduziram um interessante e ousado experimento em uma escola de ensino fundamental na Califórnia, EUA, que ficou conhecido como “efeito Pigmaleão na sala de aula” ou “efeito Rosenthal” (descrito no livro da ilustração abaixo).
Segundo a mitologia grega, Pigmaleão, o rei da ilha de Chipre, não encontrava, em toda a ilha, uma mulher com quem quisesse se casar. O rei condenava o comportamento das mulheres da ilha, por ser inadequado e desonroso, e nenhuma delas era digna do seu amor e admiração.. Por isso, Pigmaleão optou pelo celibato. O rei era um exímio escultor e, segundo ele próprio, sua mais bela obra foi Galatéia, uma mulher lindíssima, esculpida em marfim. A estátua era tão bela que Pigmaleão se apaixonou por ela e passava seus dias a admirá-la, vesti-la com lindas roupas, adorná-la com joias caras, beijá-la e acariciá-la como se fosse a mulher ideal, a quem chamava de adorada esposa. Tão grande era a admiração e o amor do rei pela estátua que Afrodite, a deusa do amor, a transformou em uma mulher de verdade. Ao abrir os olhos pela primeira vez após ser beijada pelo seu criador, Galatéia apaixonou-se por ele. Viveram um grande amor e tiveram duas filhas.
O mito do Pigmaleão é ainda utilizado nos dias de hoje para ilustrar o efeito que a expectativa do outro tem sobre uma pessoa. Mesmo antes de nascer somos alvo de expectativas alheias, não apenas em relacionamentos amorosos, e estas expectativas são poderosas na modelagem no nosso comportamento. Pois bem, Robert Rosenthal e Lenore Jacobson demonstraram que o efeito Pigmaleão na sala de aula pode determinar o desempenho acadêmico dos alunos!
Como foi realizado o experimento?
Os pesquisadores aplicaram um teste fictício em uma sala de aula e disseram à professora da turma que se tratava de um experimento para medir as chances de sucesso acadêmico daquelas crianças. Aleatoriamente, algumas crianças foram apontadas por eles como as mais promissoras. Somente a professora teve a informação, nenhum dos alunos teve conhecimento do teste ou do seu “resultado”. Ao final do ano letivo, quando retornaram à escola para avaliar o desempenho dos alunos da turma, constataram que aqueles escolhidos randomicamente como mais promissores apresentaram, realmente, os melhores resultados, e desta vez reais, em termos de desempenho escolar.
O experimento foi replicado inúmeras vezes, em outros tempos e lugares, e os resultados confirmaram os achados de Rosenthal e Jacobson. Ou seja, esses pesquisadores demonstraram o que ocorre subliminarmente no cotidiano: a expectativa do professor sobre o potencial de seus alunos tem papel fundamental no desempenho acadêmico desses estudantes.
Penso ser desnecessário me estender analisando as implicações do experimento. Fica a reflexão sobre o cuidado que devemos ter na sala de aula quando damos atenção a certos alunos mais bem comportados, mais caprichosos com seus afazeres e materiais, mais inteligentes e promissores, no nosso entender. Estamos reforçando a profecia sobre as chances desses alunos serem maiores do que as daqueles que não atendem nossos ideais.
Fica a dica: aprecie as qualidades daqueles alunos menos promissores, que não atingem, seja lá por que motivo for, o ideal de aluno que você tem na cabeça ou que a escola constrói nas suas reuniões de Conselho de Classe. Ninguém é perfeito e, igualmente, ninguém é desprovido de qualidades e potencialidades.
Vamos esculpir "Galatéias" na sala de aula! Acredite nas potencialidades dos seus alunos. Um elogio honesto na hora certa, dedicação, carinho, empatia e cuidado podem transformar uma estátua petrificada pela nossa crença de insucesso em um aluno interessado, motivado, capaz e apaixonado pelo que queremos lhe ensinar.
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Link para um resumo, do próprio Rosenthal, sobre o experimento citado:
Imagem retirada do site:
http://www.garfield.library.upenn.edu/classics1980/A1980JD87300001.pdf?fbclid=IwAR34LxLL7Wv4Sd-3Vy_AoGgEgLx00XfZTL-26mH16Z-AQzp9BejTu9OwEtw
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